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Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 39 - A Chegada
Saímos de Porto Alegre as 06:00 horas para cumprirmos com o ultimo trecho de nossa viagem.
Ao fazer a minha ultima oração junto à moto como fazia em todas as manhãs, um sentimento de tristeza, misturada com alegria pela ultima etapa que se iniciava.
Estávamos há 21 dias na estrada e longe de casa.
Era inegável que uma ansiedade muito grande tomava conta de todos nós, mesmo nos mais experientes do grupo e mais acostumados com este tipo de acontecimento.
Já sentado na moto, liguei o GPS.
Ao terminar o “boot” inicial do aparelho, este mostrou-me na tela:
- PARA ONDE?
E eu, com toda alegria do mundo, toquei na tela com o indicador:
- SIGA PARA CASA.
Rapidamente, o GPS calculou o trajeto, e até a voz gravada no aparelho, me parecia das mais simpáticas:
- Por favor, seguir para a rota em destaque.
Que alegria!
Poder estar junto com aquelas pessoas tão especiais ali comigo, ouvir a voz do GPS e ver a rota pronta, com aquela bandeirinha quadriculada ao final, indicando o fim do trajeto, indicando que ali é minha casa!
O Joaquim, firme no posto de Road Captain e o Chico como Cerra Fila neste primeiro trecho.
- Pessoal, toda atenção neste ultimo trecho, foi tudo bem ate agora e não vamos deixar que nada aconteça.
- E não vai acontecer nada, disso tenho certeza.
- Lembrem-se, nada de pressa, temos todo tempo do mundo para chegar.
- Não vamos nos apressar, agora é hora de curtir.
- E será assim que conduziremos neste ultimo trecho.
As palavras sábias do Lele selaram a ansiedade da partida e nos trouxeram à razão.
Era hora de concentração, hora de colocar toda atenção na pilotagem, e seguir em frente com segurança e sem pressa alguma.
O fato é que em uma viagem de moto, seja ela mais curta ou mais longa, há uma tendência natural em ir relaxando a atenção á medida em que nos aproximamos de casa, e temos comprovação de que, a maioria dos acidentes acontecem justamente quando estamos próximos de casa.
Comboio formado, e demos a partida.
Na porta do hotel, alguns hóspedes que também tinham seus compromissos logo cedo, olhavam o comboio partindo e acenando, nos desejaram uma boa viagem.
Logo na saída de Porto Alegre, ainda escuro, um erro na interpretação do mapa no GPS e uma placa indicativa de entrada não vista, e passamos a entrada da saída para a rodovia principal.
Fizemos o retorno logo a frente e em poucos minutos, estávamos todos, em formação, pilotando na excelente Free-Way, que liga Porto Alegre a Torres.
Uma regra geral no grupo PHD é relativa aos erros ou enganos que o Road Captain pode cometer.
Quem não os comete?
A regra é seguir atrás do Road Captain, mesmo que este esteja indo para o lado errado, não importa, jamais abandoná-lo.
Não é fácil ser Road Captain e estar na frente de um grupo, conduzindo a todos para o percurso definido e muitas vezes, desconhecido de todos.
Erros acontecem, enganos acontecem e só comete erro ou engano, quem está na frente, pois ficar no meio do comboio é muito mais cômodo.
Se o grupo não o segue, mesmo estando errado, perde-se muito, mas muito mais tempo depois para recompor o grupo.
Geralmente um erro cometido no percurso, e ainda mais hoje em dia com a ajuda do GPS, se conserta em poucas quadras, ou as vezes, menos que isso.
Não deve reclamar jamais e procurar incentivá-lo de que o pequeno erro cometido, não comprometeu em nada a viagem.
Ninguém gosta de errar, muito menos um Road Captain, então, temos que preservá-lo e não puni-lo, pois tenha certeza de que ele, sozinho, já está se punindo pelo erro cometido.
Esta regra, se seguida por todos que viajam em grupo, evitariam muitos desgastes bobos que acontecem em viagens, onde o Road Captain erra, e todos seguem por outro caminho, abandonando o mesmo a sua própria sorte.
Isto não se faz, e não faríamos isto jamais em nosso grupo.
Então, entrada errada do Joaquim, sem stress.
Todo mundo atrás dele, mesmo vendo que a placa indicava outra direção, outro sentido, isto não tinha a menor importância.
Nós só vimos a placa correta porque estávamos lá atrás, pois se estivéssemos lá na frente, preocupados em ler o GPS, ver o mapa, ver se o grupo estava junto, tomar cuidado com os carros passando ao lado, semáforos etc., com certeza erraríamos também.
Então, antes de reclamar com o Road Captain, pense duas vezes e lembre-se que um dia você vai estar lá na frente.
E quer saber?
Você pode errar também.
A nossa frente, um lindo nascer do sol, com toda as sua plenitude de beleza. Nada e mais lindo do que o nascer do sol visto de cima de uma moto.

continua....
Última edição por sergio pires; 02-01-13 às 17:49.
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Meus amigos,
Termina aqui o nosso livro.
Primeiramente, muito obrigado ao Dolor por abrir o espaco para a publicacao neste site.
De outro lado, uma vez publicado, ele pertence agora a todos os FC e a todos os amantes da liberdade, que tem em comum o prazer de pilotar em direcao ao por do sol.
Que a leitura inspire outros Fazedores a escrever suas aventuras tambem.
Um abraco.
FC Sergio Pires
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Já que fui citado no seu relato, me permito uma pergunta: você parou? Então, porque achou que nós deveríamos ter parado?
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Querido Osmar,
Voce tem toda razão, de fato deveríamos ter parado, só não o fizemos pois não tínhamos certeza que eram mesmo vocês, já que poucos km antes, outro casal havia passado por nós e também havíamos ficamos na dúvida, fazia muito vento, lembro-me bem deste dia.
Mas, tenha certeza de que os abraçamos em pensamento e todos nós naquele instante, lhes desejamos uma ótima viagem e que Deus os acompanhasse durante todo o trajeto.
Um abraço e obrigado pela leitura do nosso livro.
FC PHD Sergio Pires.
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Engraçado como uma narrativa pode alterar percursos, ou ao menos alterar as ideias que fazemos sobre algumas coisas.......Explico... Nunca gostei muito de motos, mas um dia escolhendo algo para presentear um amigo, que adora motos......... me deparei pela internet de cara com um livro chamado “Ushuaia: duas rodas e um sonho”.
Comprei e antes de enviar acabei “folheando” e por fim tinha lido o livro todo. E para minha total surpresa, eu tinha adorado a narrativa do “PHD Pires”, e achei engraçado pq nem imaginava o que significava PHD, no meu mundo (sou professora universitária) PHD é o cara que conquistou o titulo de “Doctor of Philosophy”.....
A partir daí passei a acompanhar mais essas pessoas maravilhosas e a entender um pouco mais essa sua opção e pq amam tanto andar por ai. E achei ótimo quando vi a publicação compartilhada com todos aqui no site dos FC.
Outro dia paramos em um posto e um grande grupo de motociclistas estava La em uma parada tbm, provavelmente vindo ou indo pra algum evento. Meu filho com 3 anos na época ficou doido quando ouviu o barulho das motos e viu todas elas reunidas....
Bom, quanto ao livro, adorei poder acompanhar esse interessante grupo desde os preparativos, ri muito com o email de resposta do PHD Chico ao “último elemento”, pq é óbvio e todos sabem que pra cortar uma conversa ou se não quer levar assunto adiante basta NÃO RESPONDER os emails, mas ele todo educado...”Qual a sua ideia?” kssss.
Imaginei eu tendo de arrumar minhas coisinhas pra viagem......... e realmente percebi que quem quer se aventurar por essas estradas tem de ter enorme amor pela aventura, pela liberdade, e um total desapego (aqui as meninas me entenderão perfeitamente mais que os homens, já que alguns luxos e supérfluos nos acompanham quando viajamos de carro, ou avião – secador, chapinha, sapatos, sapatos e sapatos....), mas parei e pensei bem e sim acho que eu conseguiria me “desapegar” pra fazer uma aventura dessas. Mas de início, melhor ir só de carona no texto do Pires e dos demais viajantes.
O que mais me agradou, foi que não é uma simples narrativa, se olharmos mais aprofundadamente da pra ver a grande lição de “trabalho em equipe” da necessidade de que pra se alcançar o objetivo, todos tem de trabalhar pensando nele e de forma sincronizada. E esses conceitos, eu tento passar sempre aos meus alunos na faculdade. Não basta saber sozinho, se o grupo não está sincronizado e se vc não sabe trabalhar em equipe, o resultado não aparece......
Bom, passamos por momentos bem interessantes, e engraçados até, durante a leitura, e ainda pelas maravilhosas paisagens e fotos apresentadas.
Ao fim acho que da pra dizer que de certa forma estivemos lá tbm, e mais ainda, acho que despertou uma vontade de ir pessoalmente verificar tudo.............
Parabéns ao grupo todo, vocês “fizeram o dever de casa com louvor”, parabéns ao autor da obra que soube colocar no papel de forma bem agradável para o leitor essa “aventura”.
Belo texto, Belas fotos, e uma Bela amizade demonstrada entre os membros da “confraria” desde a saída até o retorno do grupo.
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FC Alessandra, muito bom te ter a bordo e através da tua participação, constatar o quão pequeno é o mundo, pois com tantos títulos de livros, justamente e felizmente, tiveste o excelente gosto de presentear o teu amigo com aquele de autoria do FC PHD Pires, grande motociclista e especial figura humana.
Ainda no campo da felicidade, além de ter lido "Ushuaia: duas rodas e um sonho", tenho o prazer de privar da sua companhia e da sua mulher, a Celise, o que dá créditos ainda mais significativos para o sua narrativa.
Posto isto, gostaria de lembrar um dos pilares filosóficos dos FC quando dizemos:
"Mais importante do que o veículo que amamos, mais importante do que o destino que escolhemos, é a companhia que não podemos perder".
Assim, sinta-se à vontade para postar as tuas experiências nos permitindo conhecer alguns lugares sob a tua ótica, não importando quão próximos ou distantes, mas nos inspirando a sonhar com eles e quem sabe, visita-los pilotando as nossas motos.
As dúvidas por acaso existentes sobre como postar novos tópicos, colocar fotos, enfim, a respeito da operacionalidade do site, temos alguns tutoriais no link O Passaporte, assim como, no botão SOS, fixo em todas as páginas, no lado direito da tela.
Finalizando, desejamos um saudável ano de 2013 com muitos quilômetros de felicidade!
A vida é curta. Faça o que quiser.
Aprochegue-se Fazedora de Chuva!
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FC Dolor,
Vou pedindo licença ao FC Sergio Pires e “invadindo” o tópico dele, para postar resposta ao que vc falou. Muito obrigada pelas boas vindas, e pode ter certeza que me sentirei a vontade para quando tiver o que falar dividir com voces, embora acredito que ficarei mais como uma “observadora” acompanhando a todos voces nesses desafios e nessas viagens.
E obrigada pelas dicas, realmente estava aqui meio apanhando com respeito ao facebook.
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FC Sérgio Pires, a alegria, mansidão e a fé são algumas das qualidades, perdoe o nosso egoísmo por selecionarmos tão poucas virtudes entre as tantas que fazem parte do teu ser, percebidas por aqueles que se aproximam de ti.
Um privilégio poder fazer parte do teu círculo de amizade!
Aproveito para fazer dois registros importantes sobre a forma como os pensamentos dos FC seguem a mesma linha dos teus, bem evidente no final do teu livro Ushuaia - Duas Rodas e Um Sonho, aqui copiado:
"Caro Leitor,
Muitas vezes, deixamos de fazer uma viagem para encontrar com amigos, visitar um ente querido, visitar alguém que faz tempo que não vemos, realizar um sonho ou mesmo para conhecer um lugar novo e interessante, por distâncias muito menores do que as que percorremos nesta nossa aventura.
Então, é hora de não medir a distância entre um ponto e outro. É hora de não pensar no tempo que vai ser gasto, é hora de deixar de olhar para o céu, e ao vê-lo carregado de nuvens negras, desistir de sair com medo da chuva.
É hora de não deixar-se vencer pelo medo. É hora de ser ousado.É hora de fazer aquela viagem dos seus sonhos.
É hora de convidar a querida, por ela na garupa e viajar, deixar que o sopro divino toque seu rosto.
È hora de sentir o cheiro da terra, o gosto da chuva, o calor do sol, o sabor das coisas pequenas.
“Ao lá chegar, verás que valeu a pena, e todos aqueles km que pareciam muitos, se tornaram nada e encontrarás muito além do que lá foi buscar.”
Em total sintonia com a última "letter" dos FC, intitulada: Precisamos o que é mais fácil?, quando falamos exatamente, em outras palavras, sobre o mesmo tema.
Quanto ao segundo registro está aquele a respeito do marco zero do nosso país, em Chuí, RS, quando comentas:
"E lá fomos nós dois, seguindo a orientação.
Lugar estranho, muito mato, estrada precária e lá estava ele.
O Marco Zero.!Chegamos!
Aqui começa o Brasil.
Mas que começo de Brasil.....
Quando era criança, estudando os livros de geografia, eu imaginava como seria o lugar que o Brasil nascia.
E ficava olhando o mapa do Brasil, colocava a ponta do lápis em cima da cidade de Chuí e pensava: nossa, deve ser longe e como deve ser bonito este lugar.
O marco inicial do Brasil, que coisa linda deve ser!"
Tive o mesmo sentimento relatado no post "O calvário do cardeal quando não acreditei no que via.
Mas como o momento é de festa, vamos comemorar as mais de 1.000 almas que se aquietaram lendo os teus ótimos relatos.
Um número significativo!

Continue nos alimentando com este teu espírito de aventura e generosidade em permitir que possamos viajar contigo como nesta emocionante viagem do grupo de amigos à Ushuaia.
Desejamos que muito mais almas possam se aquietar lendo e relendo Ushuaia - Duas Rodas e Um Sonho e se inspirarem a transformarem os seus sonhos em realidade.
Bem, aproveito para lembrar que o teu Cardeal Fazedor de Chuva já cumpriu a primeira parte, quando fizeste a foto junto ao marco zero em Chuí, RS, e ficas, portanto, convocado a complementares a cruz do Brasil.
Parabéns!
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