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Prudhoe Bay
Sábado 31/Jul (64º dia de viagem)
Impossível não falar sobre o hotel que estamos hospedados em Deadhorse: o Artic Caribou Inn. Como todas as construções daqui, são compostas de vários conteiners ligados entre si, formando extensos corredores, em várias alas. Os apartamentos são pequenos, porém muito confortáveis. Tudo climatizado. A diária custa 190 dólares para duas pessoas, pensão completa: “all you can eat”. E a comida é da mais alta qualidade. Frutas frescas, saladas verdes, várias opções de carnes, sempre servidos em um bufê muito bem arrumado. Refrigerantes e sucos à vontade, o dia todo, que você mesmo se serve, na máquina. Eu chamaria isto de um verdadeiro centro de engorda. Precisamos “vazar” daqui, sob pena de sobrecarregarmos as motos na volta.

Conforme previsto, hoje fomos conhecer Prudhoe Bay. A segurança é rigorosa. Veículos particulares são barrados. Somente podem circular por lá, os veículos das empreiteiras, e o ônibus do hotel que nos leva. O nosso guia, que é também o motorista, explica tudo detalhadamente. Em inglês. Nada compreendo. O MacGyver, nosso intérprete, traduz os tópicos mais importantes. Prudhoe Bay é uma base produtora de petróleo. Não tem moradores fixos. O regime de trabalho é de duas semanas aqui, e duas em casa. Os operários vão e vêm, sempre de avião.

Rápida parada do ônibus, e nos é dada a rara oportunidade de termos contato com as águas do Oceano Glacial Ártico. Momento único que é festejado por todos. Alguns até ensaiam um mergulho, porém, mais parece uma cerimônia de “lava-pés”. Não tinha gelo boiando na água, mas estava um frio de rachar.

Final de tarde, necessitamos aprontar nossas motos para a longa jornada de volta. Estão cobertas de lama. Uma delas, quase perdendo o suporte da sinaleira traseira; outra quebrou os dois suportes do morcego; outra perdeu a mola do pezinho, e outra rompeu os dois suportes das malas laterais.

Os tanques estão vazios. Faremos o possível para que todas cheguem a Fairbanks, a mais próxima oficina HD, a 880 km daqui.
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Começando o retorno
Domingo, 1º/Ago, a Terça-feira, 3/Ago (65º ao 67º dia de viagem)
Iniciamos nossa jornada de volta para casa, bem cedo, depois de um reforçado breakfast, e uma visita à loja de conveniências do hotel, onde cada um preparou o seu “catanho”, à base de sucos, salgadinhos, frutas secas, biscoitos e barras de cereal. Detalhe: tudo incluso no preço da diária.
E a rodovia. Como estará a rodovia até Fairbanks? Essa era a grande indagação entre nós. Ninguém tinha a resposta. A expectativa era grande. Não choveu nos dois últimos dias. Bom sinal. A torcida para que não chovesse no dia de hoje era grande. E nossas preces foram ouvidas, e atendidas. E mais que isso. Hoje é domingo, e nesse dia, os trabalhos de manutenção na rodovia são suspensos, exceto nas partes críticas. Isso significa que não encontraríamos aquela temível dupla, caminhão d´água & patrola, o grande terror dos motociclistas.
No geral, a estrada estava boa, e cobrimos o percurso de 912 quilômetros em 12 horas e trinta minutos.
O hotel que ficamos em Fairbanks (Blue Roof Bed & Breakfast) nos proporcionou a rara oportunidade de fazermos uma refeição do tipo “caseira”. Gentilmente nos cederam a churrasqueira a gás para assarmos o nosso próprio churrasco. No supermercado mais próximo e compramos os ingredientes necessários: salsichas, hamburgers (daqueles bem grandes, suculentos), pães, e cerveja. Bud Light, naturalmente.
Na manhã seguinte, enquanto uncle Joe preparava nosso breakfast, uma importante reunião entre os expedicionários: nossas motos necessitavam urgentemente de lavação (estavam cobertas de lama do Alaska) e inspeção mecânica (luzes, filtros, freios). A oficina Harley em Fairbanks não trabalharia naquele dia, segunda-feira. Então precisávamos tomar uma decisão: aguardarmos até amanhã para fazer esses serviços, ou tocarmos até Whitehorse, cidade mais próxima em nosso roteiro que tem oficina Harley. Conscientes de que nossas motos necessitavam urgentemente de inspeção técnica sobre as condições de viagem, decidimos seguir. Seriam 949 quilômetros, pelo trecho em que o asfalto apresentava as piores condições que enfrentamos até aqui: muito loose gravel (pedriscos sobre o asfalto), ondulações longitudinais, e grandes trechos em obras.
Na saída de Fairbanks, um instante de encantamento e magia, onde voltamos a ser crianças. Em North Pole, visitamos a Casa do Papai Noel.
Depois de algumas horas de viagem, a fronteira com o Canadá. Agora vamos para a aduana. Por aqui existe uma particularidade. Ao contrário das complicadas aduanas, onde, ao cruzar uma fronteira, é necessário “fazer” duas aduanas: uma de saída e outra de entrada, aqui só se faz uma. A de entrada. Então, tínhamos pela frente a aduana do Canadá. E para surpresa nossa, a funcionária que nos atendeu, falando em bom português, nos deu as boas vindas. Uau! Como é bom compreender todas as perguntas que nos fazem. E responder, e ser entendido. Explicou ela, que é nascida no Canadá, filha de portugueses. Que gosta quando tem a oportunidade de conversar com alguém, na língua de seus pais. Ficaríamos mais tempo conversando com ela, porém ela precisava trabalhar, e nós, seguir nossa viagem.
Neste trecho de estrada, nos chamou a atenção, a grande quantidade de ciclistas viajando. Sós, ou em duplas, bicicletas cheias de alforjes, pacientemente eles vencem grandes distâncias. Haja resistência.
E em Destruction Bay, às margens do Kluane Lake, lá está aquele carro de polícia, vigilante. É visível de longe. Instintivamente, todos diminuem a velocidade. Também pudera, a polícia está logo ali. Mas para surpresa geral, não passa de uma placa, em forma de carro. Carro de polícia. Mesmo quem conhece, quem já passou por ali várias vezes, fica na dúvida e diminui a velocidade. Vai que tiraram a placa e é polícia de verdade!
Chegamos a Whitehorse bastante tarde, e dedicamos o dia seguinte a cuidar das motos, e nos preparar para um passeio de trem a Skagway, para amanhã.

Alaska Highway

Parada para descanso...

Chegando ao Canadá - Yukon Territory

Electra com reboque, verdadeira febre dos viajeros

Whitehorse - registrando a viagem
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Skagway
Quarta-feira, 4/Ago (68º dia de viagem)
Um trem como nenhum outro...
Um trem nascido durante a Fiebre de Oro de Klondike e construído, apesar de todos os obstáculos, para levar a esperançados buscadores de minas, a seus sonhos de ouro.

Hoje, cem anos depois, a White Pass & Yukon Route, ou simplesmente WP&YR, leva uma classe diferente de exploradores: aqueles em busca de grandes aventuras e de cenários que só pode oferecer a Última Frontera.

Enquanto ouvimos o suave tac-tac ao longo das ladeiras de puro granito, e do silvo do apito do trem que cruza por abismos de profundos precipícios, pensamos naqueles famosos e destemidos aventureiros que fizeram essa viagem a pé, e damos graças à nossa boa fortuna por estarmos acomodados em tão confortável assento no vagão do trem.

Para um dia de hoje, um passeio especial: de trem, até Skagway, no Alaska, às margens do Oceano Pacífico. Folga para nossas valentes motos.

Um ônibus nos leva, de Whitehorse até Fraser, já na Columbia Britânica. Lá embarcamos no famoso trem. Serão 27 milhas através de montanhas com picos nevados, pontes, túneis, precipícios, ferrovia literalmente pendurada em paredões de pedra, até Skagway, às margens do Pacífico, cidade pertencente ao Alaska.

Essa ferrovia foi construída para levar o ouro encontrado nas montanhas, até o porto em Skagway, e dali para o mundo. Retratos dessa época são vistos em toda parte. Nas casas antigas e conservadas até hoje, nos bares, saloons e a grande quantidade de joalherias.

A cidade é pequena. Sua população é de 750 habitantes. Em 1898 chegava a 10.000. Entretanto, diariamente a cidade é invadida por milhares de turistas, que chegam de trem, de carro, de ônibus, ou de navio. No píer, quase dentro da cidade, contamos quatro transatlânticos atracados.

E todos lotados de turistas ávidos na compra de lembranças.
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Billings
Domingo, 8/Ago (72º dia de viagem)
A caminho de Fort Nelson, a rodovia cruza por imensa floresta de pinus, conhecidos por taigas, vegetação característica de áreas próximas ao Círculo Polar. São dias e dias inteiros, viajando dentro dessa vegetação. E para complicar, hoje tivemos um incêndio na mata. Longe da estrada, mas o suficiente para bloquear algumas rodovias, devido à intensidade da fumaça. Felizmente, por onde passamos, estava liberado o trânsito. Mas a visibilidade era pouca.
E de repente, um bisão solitário à beira da estrada. Algumas fotos e... espere, logo mais à frente, vários, dezenas deles, uma manada inteira tomando conta da estrada, das laterais, trânsito parado, fotos, suspiros. Ninguém buzina. Todos aguardam pacientemente, que os bichos liberem o trânsito. Mas eles não têm pressa. É terreno deles. Os invasores que aguardem. E o maior deles, o que parecia ser o grande chefe, tomava conta do asfalto. Parado bem no meio, ocupando toda a pista, olhava para um lado e para outro, e parecia dizer “daqui não saio, daqui ninguém me tira!” Desligamos os motores das motos para não assustar os bichos. Só então nos demos conta de que estávamos à mercê deles. E se de repente um deles resolvesse investir contra nós? Quem estava de carro, estava protegido. Nós não. Éramos alvos fáceis. Instintivamente, ligamos os motores e para nosso alívio, o poderoso bisão cedeu lado.
Ufa!

Mais à frente, foi a vez dos caribus aparecerem. Muito ariscos e rápidos, não posam para fotos. Num piscar de olhos, somem na floresta.
E os ursos? Os amigos ursos ainda não deram o ar da graça. Estão em dívida conosco.

Completando a jornada, chegamos a Forte Nelson. Finalmente. Foram quase mil quilômetros rodados hoje. Boa tocada!
Fizemos uma pequena alteração no roteiro, e iremos direto a Billings, Montana, nos Estados Unidos. Durante o trajeto, a chuva foi uma ameaça constante. Negras e carregadas nuvens sempre pairando à nossa frente. Porém, todos unidos numa corrente de pensamento positivo, e a estrada caprichosamente mudava de direção, levando-nos para longe do aguaceiro.

Isso até parece estranho, mas às vezes, um verdadeiro Fazedor de Chuva se empenha ao máximo para que a chuva não venha estragar o passeio.
Temos observado também, grande mudança na paisagem. Deixamos para trás as florestas de pinus do Alasca e do Canadá, as espetaculares Montanhas Rochosas da região de Jasper e Banff, e agora rodamos por uma planície sem fim, de terras cultiváveis e de criação de gado em gigantescas fazendas, iguaizinhas àquelas que estamos acostumados ver em filmes.
Em Billings, fomos recebidos pelo simpático casal Magnus e Carole, e seu filho Nicolas, brasileiros que aí residem e que nos acolheram em sua casa.

Ponte no Canadá

Que belo bife!

Monte Kitchner

Passagem para animais silvestres

Na loja HD em Billings
Última edição por Dolor; 22-09-12 às 12:49.
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Yellowstone Park
Terça-feira, 10/Ago (74º dia de viagem)
Saímos de Billings em direção ao Yellowstone Park. Nossa primeira parada foi na simpaticíssima cidade de Red Lodge.
Pequena, bem ao estilo velho oeste, com muitos bares, saloons e lojas de artesanatos. Tem até uma lojinha HD!
Prosseguindo viagem, teríamos que cruzar o Beartooth Pass. A pequena estrada atravessa por região montanhosa, atingindo 10.947 pés de altitude. Já que iríamos tão alto, pensei em aproveitar a ocasião para ter uma conversinha com o grande mestre fazedor de chuvas, obter algumas dicas, aprimorar meus conhecimentos.
Péssima idéia. Acho que ele não gostou nada da minha intenção.
Ficou furioso. Num instante espessa nuvem negra cobriu o céu, raios, trovões, relâmpagos, e chuva. Muita chuva. E não foi só isso! A temperatura caiu para baixo de 30º F. Tremíamos qual varas verdes. E nada é tão ruim, que não possa ficar pior. Pois ficou. Granizo. Começou a cair granizo. Em grande quantidade. As pedrinhas de gelo batiam na bolha da moto e ficam grudadas. O trânsito seguia lento, muito lento, pois era grande o perigo de gelo na pista. E o frio cada vez apertando mais.
Que sufoco!
A chegada em Cooke City foi um alivio. Tirar aquelas roupas molhadas, tomar uma ducha quentinha, vestir roupas secas, beber um café fumegante, era tudo o que queríamos. A cidade é pequena, só tem uma rua e alguns poucos motéis, e nessa época, o movimento de motociclistas por aqui é muito grande, pois é caminho entre o Yellowstone Park e Sturgis, onde está acontecendo o grande encontro anual. E pelo mesmo motivo, muitos pararam por aqui para pernoite. Nos motéis que íamos encontrando, via-se a placa avisando “NO VACANCY”. Mas, no final, tudo se resolve. Conseguimos encontrar um que ainda dispunha de dois apartamentos. Hoosier´s Motel. Beleza. É tudo o que queremos. Nem perguntamos se tinha internet (não tinha), quanto custa, etc. Ficamos com eles.
Fomos atendidos por uma simpática senhora, miudinha, de cabelos bem branquinhos, fala macia, e muito atenciosa. Depois que preenchemos nossas fichas, ela nos presenteou com o mais inusitado dos presentes: para cada um, um balde com duas toalhas e um disco de madeira, de aprox. 10 cm de diâmetro, por 1 cm de espessura (um grande Sonrisal). “Para limpar as motos”, disse ela, num inglês fácil de entender, “e o disco de madeira é para apoiar o pezinho das motos, pois o piso do estacionamento é de pedras soltas”.
Queria ter visto minha cara nesse momento. Deveria ser uma mistura de espanto, estupefação, surpresa, alegria, admiração, e vai por aí afora. Depois de tudo o que passamos, encontrar um anjo, que nos acolhe, e se preocupa com nossas Harleys, é muito mais do que desejamos.
Com um belo sol da manhã, fomos para Yellowstone. Muitos bisões, manadas com 10, 100 ou mais animais. Todos muito calmos, pastando tranquilamente, sem se preocupar com os visitantes e suas máquinas fotográficas. Nada de ursos. Soubemos que recentemente uma ursa atacou um acampamento, matando uma pessoa e ferindo outras. Que por conta disso, ela será sacrificada, pois pode querer atacar humanos novamente. E seus filhotes, que a tudo assistiram, serão recolhidos a um zoológico, para evitar que tentem repetir o ataque da mãe.
Muitos geisers formando belas esculturas no chão, em formas e cores diferentes. E a imperdível visita ao canyon que deu nome ao parque, com imensos paredões amarelos.
Saindo do parque, passamos por Cody, cidade origem do famoso Bufalo Bill, e fomos dormir em Buffalo.
Dia seguinte, viemos até Gillette, onde estamos aguardando nossas motos serem revisadas. Loja HD grande, com bem montada oficina, e estrutura para os clientes ficarem aguardando o conserto das motos. Com café, donuts, sorvete, água, e muita, mas muita mordomia.

Red Lodge

Beartooth Pass

Yellowstone National Park

Yellowstone - North Rim - Inspiration Point
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Sturgis
Quinta-feira, 12/Ago (76º dia de viagem)
Desde que saímos de Billings, temos notado intenso movimento de motocicletas, notadamente Harleys, nas estradas por onde passamos. E esse movimento vai aumentando à medida em que nos aproximamos de Sturgis, onde está acontecendo 70º Sturgis Motorcycle Rally.
Já nas cercanias da cidade, têm-se a impressão de que todos os motociclistas do mundo estão por ali, tamanha é a quantidade de motos trafegando em ambas as direções.
Ao se entrar na cidade, só se vê motocicletas. Estacionadas uma ao lado da outra, por quadras e quadras a fio. Um verdadeiro mar de motos.
Impressionante!
Fomos dormir em Rapid City. Os hotéis, em altíssima temporada, estão com os preços lá em cima. Fazer o quê?
Próxima etapa, visitar o Monte Rushmore, que tem esculpido em seu topo, as faces dos ex-presidentes George Washington, Abraham Lincoln, Tomas Jefferson e Benjamin Franklin.
Grande obra.
Com muita dificuldade, encontramos vaga em um hotel em Keystone (Estão todos lotados, por conta do encontro em Sturgis). Trocamos nossas pesadas roupas de viagem, usadas até aqui, por jeans e camisetas. Empacotamos essas roupas de frio, e fomos aos correios remetê-las para o Brasil. Conseguimos.
Espero que cheguem!
Agora estamos iguais a todos os motociclistas daqui: rodando sem capacete. A sensação é de muita liberdade. Puro prazer.
Assim fomos explorar a região conhecida como “The Black Hills & Badlands”. Nossa primeira parada foi em Hill City. Cidade pequena, tipo cenário do faroeste, com rua central completamente tomada por motocicletas. E para nossa surpresa, encontramos cinco brasileiros, nossos amigos, conhecidos de outras jornadas: Jacaré, de Guarapuava/PR; Marcos, de Francisco Beltrão/PR; Álvaro e Capitão Caverna, de Curitiba/PR; e André, de Florianópolis.
Vinham de Salt Lake City e iam para Sturgis participar do encontro.
Próxima parada, no Crazy Horse Memorial. Ainda em construção, trata-se da figura do grande chefe indígena montado em um fogoso corcel, sendo esculpida em uma montanha de granito. Sem dúvida, uma obra audaciosa.
Já quase escurecendo, visitamos Custer City. Rua principal completamente tomada por motocicletas, bares e saloons lotados, muita gente desfilando, com motos e roupas extravagantes.

Na oficina HD em Gillete

Tenda do HOG em Sturgis

Ponte de madeira - Keystone

Monte Rushmore

Hill City

Com amigos paranaenses, em Hill City

Crazy Horse
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Salt Lake City e Niagara Falls
Terça-feira, 24/Ago (88º dia de viagem)
Por sugestão dos nossos amigos brasileiros que encontramos em Hill City, resolvemos dar uma esticadinha até Cheyenne, a capital do estado de Dakota do Sul.
E continuamos até Salt Lake City, Utah.
Amanhã vamos ao "dealer" checar o pneu traseiro. Ontem quando vínhamos, senti-o meio baixo. Estava só com 25 libras. Também pudera. Já está com mais de 20.000 km rodados. Coloquei-o em Léon, no México. Valentão, hein! Foi até o Alasca e acho que ainda tem borracha para mais alguns quilômetros. Mas vou checar.
De Salt Lake fomos a Grand Junction, Aspen, Denver e Fort Morgan, no Colorado, e continuamos rumando para o Leste, em direção às Cataratas do Niágara. Com pneu traseiro novinho e tudo o mais.
Beleza.
Ontem viajamos por uma estrada muito bonita, sempre por dentro de intermináveis canyons, passando por Price, Green River, no Utah, e entramos no Colorado em Grand Junction. Cidade bonita, mas de hotéis muito caros. Escapamos e formos dormir na vizinha Clifton. Prá variar, pegamos uma chuva torrencial. Verdadeiro diluvio. Aquilo sim é que era chuva. Fiquei até com uma pontinha de inveja do fazedor dela.
Muita competência.
Hoje conhecemos Aspen, famosa estação de esqui, e depois cruzamos o Independence Pass, a 12.083 pés de altitude. Belas paisagens.
Prá finalizar, uma palavrinha sobre Ft. Morgan: localizada numa planície sem fim, a cidade cheira a dinheiro. É que, bem pertinho daqui, tem uma fazenda (enorme, grande como nunca vi) de criação de gado confinado, e o vento se encarrega do resto.
Nossa idéia para hoje era avançar bastante. Por isso, levantamos bem cedo. Oito horas da matina e já estávamos em pé. Um pouco mal humorados, naturalmente. Odiamos levantar cedo.
Em tempo recorde nós aprontamos e, pontualmente, nove e meia estávamos na estrada.
Primeira parada em North Platte, já no Nebraska, para visitar o museu do Buffalo Bill, e lembrar, com muito carinho, os bons tempos da infância, dos gibis do faroeste, e deste personagem que, sem dúvida, era um dos mais famosos.
Em Grand Island deixamos a I-80 (Hwy) para seguir por estradas secundárias, que nos levarão ao mesmo destino: Omaha.
A paisagem é mais bonita, e os hotéis mais baratos. Prova disso, estamos em Columbus, hospedados no Super 8, a US$47,00. Muita mordomia, quase de graça.
Por falar em paisagem, Nebraska é um estado com agricultura altamente mecanizada, destacando-se imensas plantações de milho, em forma de círculos, irrigada por grandes peões, de até 500 metros.
Retornamos ao Canadá.
Estamos indo em direção a Niagara Falls. Sábado acendeu a luz do ABS. A roda dianteira freia legal. Algo diferente na roda traseira. Evito usar o freio de pedal. Chovia bastante.
Então a solução foi parar, dormir, e torcer para que no dia seguinte, a tal luz não acendesse.
O domingo amanheceu sem chuva. Mas a luz acendeu novamente. Acho melhor procurar uma oficina Harley. Tem uma em Blenheim, 50 km a frente. Toca prá lá.
Estava fechada.
Tem outra em London, 100 km mais. Vamos para lá.
A meio caminho, para nossa alegria, o ronco do motor foi se tornando mais forte, digo, mais alto, mais esquisito, bastante indesejável. O escapamento se partiu. Arame daqui, alicate dali, chave de fenda d'acolá, e pronto. Dá prá chegar até a oficina, sem muito escândalo.
Em London, a loja da Harley estava aberta. Ufa! Só para venda. Ahhhh!
Fomos atendidos pelo Rick, que prontamente foi até a moto, e viu nosso problema. Num instante já estava com prancheta na mão, abrindo uma ordem de serviço.
E mais. Moto na oficina (primeira na fila para amanhã) transferimos nossa bagagem para seu carro, e ele gentilmente nos levou a um hotel.
E não foi só isso! Procurou o hotel melhor custo/beneficio nas proximidades, pechinchou e a diária de $79 baixou para $59.
Beleza!
Hoje pela manhã fui atendido pela "service manager" Lori Burke. Com muita paciência me explicou o que foi feito. O cano da descarga foi soldado, porque eles não dispõem em estoque do modelo (trata-se de item especial para exportação), e a luz do ABS necessita trocar o sensor. Também não tem em estoque. Fizeram o pedido. Chegará amanhã. Mas para me liberar hoje, sacam de outra.
E a conta? Nada. Tudo por conta da garantia. Maravilha!
Moto pronta, lá fomos nós, faceiros da vida, em direção a Niagara Falls, sempre pela Rodovia 3, uma Scenic Route, que margeia o lago Eire. Maravilha de estrada.
Hoje pela manhã visitamos as Cataratas do Niagara. Muito bonitas, principalmente quando vistas do Canadá. Não cruzamos a fronteira. No lado canadense, a cidade tem muita estrutura para atender a grande quantidade de turistas que visita a região.
Cumprida essa etapa, tocamos em frente, agora margeando o lago Ontário. Passamos por muitas cidades interessantes: Hamilton, Toronto, Oshawa, Bellevile, e agora estamos em Kingston.
Amanhã pretendemos continuar margeando o Rio St. Lawrence até Quebec, passando pela região conhecida por Mil Ilhas.

Cheyenne

Salt Lake City

Parece que vai chover!

Independence Pass

Consertando o escapamento partido

Niagara Falls, vistas do Canadá
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Québec e North Conway
Sexta-feira, 27/Ago (91º dia de viagem)
Estamos quase chegando a Québec, capital do Estado do mesmo nome, no Canadá. Faltam só uns 50 quilometrinhos. Conseguimos finalmente cruzar o Estado de Ontário. Parecia que nunca acabava! Mas por outro lado, nem sentimos o tempo passar, tal a beleza da estrada. O tempo todo viajando por entre jardins muito floridos que enfeitam as casas que margeiam a estrada, aqui conhecida com 1000 Islands Parkway.
Meu problema com a lingua inglesa, agora, finalmente foi resolvido. Isto é, foi substituído por outro maior ainda: aqui só se fala francês! Muito estranho, neste país ter duas línguas oficiais, inglês e francês. No oeste, só se fala inglês. E aqui, só francês. E a sensação é de que por aqui, o pessoal faz questão de não entender inglês.
Complicado!
Mas por outro lado, quanto à alimentação, não temos problemas. Temos várias opções: Tem a rede Tim Horton’s para o breakfast, depois tem o Tim Horton’s para o almoço, o TH para o lanche das 4, e prá variar, TH para o jantar. Loucura, loucura.
Hoje retornamos aos Estados Unidos, depois de uma agradável visita à cidade de Québec, e à revenda Harley local. Gente muito atenciosa, nos receberam com largo sorriso, fotos, lembranças e até algumas dicas sobre a língua francesa, na qual, aliás, já me considero quase fluente. Quase sei falar, quase sei escrever, quase consigo entender.
Visita aos principais pontos turísticos da cidade, principalmente ao castelo de Fairmont-Château Frontenac. Muito bonito e com vista maravilhosa do rio Saint Lawrence.
Agora estamos alojados em um simpático motel de beira de estrada (quase do tipo daquele do filme Psicose), na cidade de Rumford.
O tac-tac provocado pelas rodas de um trem são para mim, o melhor sonífero. Durmo como uma pedra quando estou viajando num trem. Chego a sonhar. Mas hoje, enquanto viajávamos (na verdade, um pequeno passeio de uma hora) num confortável vagão do CONWAY SCENIC RAILROAD, e o sono não chegava, me deliciei lembrando do passeio que fizéramos pela manhã, ao topo do Monte Washington. Não é muito alto, quase dois mil metros, e a gente vai lá em cima, de moto, por uma estradinha estreita, cheia de curvas, sem guardrail, e com muita adrenalina.
De repente, o asfalto acaba.
- Olha o loose gravel aí gente!
Lá de cima a paisagem é de tirar o fôlego, ainda mais que a intensa nuvem que encobria o topo do morro quando chegamos, se dissipou, deixando à mostra, 360 graus de puro verde.
Temos viajado sempre que possível pelas chamadas “scenic routes”, identificadas nos mapas do “Touring Handbook” por uma linha hachurada em verde. São estradas de pouco movimento de caminhões, muitas motos, automóveis e RV (traillers) e cortam por regiões de belas paisagens, pequenas cidades, e com velocidade limitada a 50 milhas por hora. Portanto, se está com pressa de chegar, não deve viajar nelas. Nem de moto.
Vá de avião.
No início da tarde chegamos a North Conway. Fomos direto ao dealer HD e agendamos revisão dos 40 mil para amanhã.


HD Prémont, em Québec

Castelo Prémont, em Québec

Ponte de acesso a Québec

Em algum lugar do Maine...

No topo do Monte Washingt
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Bennington/VT a Elberton/GA

Em North Conway fizemos pelo menos dois grandes amigos.
Um deles foi o Marcos, brasileiro que mora e trabalha nos Estados Unidos. Encontramos-nos no hotel, e depois de longo papo para matar as saudades da pátria amada, ele nos acompanha até o dealer - WHITE MOUNAIN HARLEY - e nos presta um grande favor, servindo de intérprete nas conversas com o mecânico que fará a revisão na moto.

Com Marcos (de azul) e os mecânicos da HD/North Conway
Na oficina somos recebidos pelo chefe Alfred Snow (outro grande amigo) e equipe. Gente do mais alto gabarito e seriedade no que fazem. Na hora exata agendada, iniciam o trabalho. Em duas horinhas, estou pronto para partir.
Nosso destino agora é York, na Pennsylvania, onde, por sugestão do nosso amigo Magnus, de Billings, faremos um tour pela fábrica da Harley naquela cidade, na próxima segunda-feira.
Hoje vamos pernoitar em Bennington, no Vermont. Cidade pequena, mas como todas, muito bem arrumadinha, limpa, casas com jardins, e gente pacata.
E andamos na linha. Na linha de produção das motocicletas Harley-Davidson, na fábrica em York, Pennsylvania, onde são fabricadas as Electras e os triciclos.
Fomos recebidos e conduzidos na visita, por Larry, um simpático senhor, com mais de quarenta anos de serviços dedicados à marca. Sabe tudo de Harley. E pela maneira como ele conduziu nossa visita, percebe-se claramente tratar-se de um grande vibrador, por motocicletas, e pela marca.
Às vezes precisava pedir para ele não correr tanto, digo, falar tão rápido, porque não queria perder nenhum detalhe, e meu inglês...
Aqui as motos são fabricadas e montadas. Vimos, por exemplo, uma barra de ferro ser transformada em um pezinho para descanso da moto. Vimos uma chapa, digo duas chapas serem transformadas em um tanque. Outra chapa em um paralamas. Vimos o início de uma linha de montagem, quando o quadro recebe o motor e prossegue pendurado na esteira, recebendo partes e peças aplicadas por mãos ágeis e precisas, até que finalmente, duas horas depois, lá está ela, prontinha e acabada, para fazer a felicidade de mais um entusiasta.
À tarde fomos para Gettysburg, pequena cidade a oeste de York, onde em julho de 1863, aconteceu uma das mais sangrentas batalhas da Guerra Civil Americana, com 51.000 baixas.
A cidade é pura história, e é invadida diariamente por milhares de turistas ávidos em conhecer os detalhes daquela guerra.
A visita ao campo de batalha é a principal atração. Está à disposição dos turistas o “Autotur”. Com um mapa e um folheto explicativo (disponível em espanhol), é possível percorrer o campo de batalha no próprio carro, digo, na própria moto. Basta seguir as placas indicativas. A rota contempla dos três dias de batalha, em ordem cronológica. São 24 milhas de muita história, relatos, e monumentos em homenagem aos que tombaram.
Continuando nosso tour pela história desse país, visitamos o forte Ligonier, na cidade do mesmo nome, ainda na Pennsylvania.
Esse forte foi fundado em 1758 durante o conflito que se chamou “Guerra dos Sete Anos” e é preservado intacto até hoje, em todos os seus detalhes.
No local, fomos recebidos por Jeffrey W. Graham, Capitão do Royal American Regiment, que pacientemente nos explicou detalhes do funcionamento do forte: estratégias de defesa, logística, localização.
Continuando nosso roteiro em direção ao oeste, passamos por Pittsburgh, conhecida como a Cidade do Aço. Também pudera. Gigantescas siderúrgicas são vistas por todos os lados. Algumas já fechadas.
De quebra, ainda rodamos boa parte da viagem numa belíssima “Scenic Route” entre East Liverpool e New Philadelphia/Dover (estas duas cidades são praticamente juntas), onde mais uma vez pudemos observar extensas fazendas de criação de gado, e de plantação de soja, localizadas nas margens da estrada. As casas à beira da estrada, nessas rotas, são muito bem conservadas, rodeadas de grandes extensões de grama verdinha muito bem cuidada, e floridos jardins.
Hoje mudamos de direção. Vamos para Knoxville, no Tennessee, e continuar a viagem de volta ao Brasil. Então toca para o sul!
Logo cedo, nos deparamos com uma cena inusitada. Numa cidade chamada Berlin, usos e costumes diferentes. Pessoas vestidas à moda antiga, usando carroças e charretes, pareciam fazer o seu trabalho normal, do dia a dia. A localidade é habitada pelos Amish. São pessoas que levam uma vida bastante simples, usam roupas simples, e relutam em adotar as conveniências da vida moderna, como o automóvel, a televisão, o telefone. Lá não tem MacDonald´s.
Ao final da tarde, cruzamos a ponte sobre o rio Ohio, e entramos no Kentucky. Estamos em Maysville.
Nestes dias de viagem por estradas do interior dos Estados Unidos, dois fatos nos têm chamado atenção, além da beleza das paisagens:
- na maioria das casas, simples ou sofisticadas, Bandeira Nacional hasteada.
- mesmo nas menores cidades, as escolas são enormes, prédios novos, amplos pátios, estacionamentos lotados, grande movimento de ônibus escolares (aqueles amarelos, cheios de luzes).
Me parece que nesse país, efetivamente se dá muito valor ao civismo, ao patriotismo, e à educação.
Ontem fiquei sem inernet, por conta de um problema ocorrido no hotel onde ficamos, em Williamsburgo. Menos mal. Problemas no equipamento deles, e não no meu netbook. Ainda bem!
A princípio fiquei meio perdido, sem saber o que fazer, porque, como é de costume, ao chegar no hotel, passo a um breve relato do acontecido durante o dia. Ontem isso não foi possível. E isso me fez pensar, o quanto somos dependentes da tecnologia, de como eram bons os tempos sem internet, sem celular, sem Xerox, sem fax, sem televisão, sem moto... opps, sem moto não!
No Tennessee aproveitamos para conhecer o Parque Daniel Boone National Forest. Bonito parque, em homenagem a este grande indigenista americano.
Cedinho entramos no Tennessee. No centro de recepção aos turistas, fomos muitíssimo bem atendidos por duas simpáticas senhoras, que não pouparam esforços para entender meu “fluente” inglês. Municiaram-nos com vasto material de divulgação do Estado, mapas, folderes e dicas. Notei nelas sinal de surpresa, quando pedi onde é a fabrica do uísque Jack Daniels. Mais mapas, folderes, e, que pena, a destilaria está localizada na cidade de Lynchburg, no extremo oeste do estado, bastante fora do nosso roteiro. Fica para a próxima.
Passamos Knoxville e chegamos em Maryville, na loja HD Smoky Mountain, onde fomos atendidos pela Rebeca, falando o bom e velho espanhol. Maravilha! Mais mapas, folderes, e em detalhes, os passeios pelo “The Tail of Dragon”, pela “Cherohala Skyway”, e pelo “Great Smoky Mountains National Park”.
Fizemos um dos passeios mais procurados pelos motociclistas norteamericanos: visitamos o “Great Smoky Mountains National Park”. Estradas muito bem conservadas circundam esse grupo de montanhas (que fazem parte dos Montes Apalaches), são repletas de curvas, muita emoção, e belíssimas paisagens.
Subimos (de moto, naturalmente) até o Clingman´s Dome, que é o ponto culminante da região, com 6.643 pés, donde é possível avistar pontos até 100 milhas de distância.
Essa é a região onde viviam os índios Cherokee. É grande a oferta de artesanatos confeccionados pelos descendentes deles.
Na extremidade oeste do parque está o trecho da US Highway 129 conhecido com “The Dragon”, com 318 curvas em apenas 11 milhas de estrada.
Destaque para a cidade de Pigeon Forge. Pequena, mas muito movimentada, com dezenas de atrações para todas as idades para distrair a grande quantidade de visitantes que a procuram. Seria algo semelhante à nossa Gramado.
Ao final da tarde chegamos a Elberton, na Georgia, onde participamos de um jantar especial, num restaurante mexicano, com cardápio mexicano naturalmente, onde não faltaram as famosas tostadas, quesadilhas, frijoles e carnitas, temperados com uma pitada de salsa picante.
O jantar foi em comemoração aos nossos 40 anos de casamento.
Era domingo, 5 de setembro, e estávamos no centésimo dia de viagem.

Casa típica às margens de uma Scenic Route, em Vermont

Com Lary, guia na fábrica HD em York

Scenic Route, na Pennsylvania

School bus pára, trânsito também pára.

Clingman´s Dome, Great Smoky Mountains/TN.

Jantar comemorativo dos 40 anos, Elberton/GA
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Jacksonville, Key West, Laredo, México DF
De Elberton fomos a Jacksonville, Flórida, passando por Augusta e Savanah, e daí a Kay West.
Uma das rodovias mais vigiadas pela polícia, controlando a velocidade dos veículos, é a que liga Miami a Key West. Também pudera. É uma estrada simples, com muito movimento, e quando não é ponte, está atravessando região povoada. Ela liga várias ilhas, até a mais extrema, Key West, onde estão também, a milha zero, e o ponto mais ao sul dos Estados Unidos.

Mas a região é muito bonita, repleta de hotéis, restaurantes e um sem número de atrações para satisfazer e deleitar a enxurrada de turistas que a procura. Sem dúvida, um lugar para visitar com bastante tempo para poder aproveitar tudo o que ela oferece.
Deixando Key West, retornamos a Miami, e na loja HD Peterson conhecemos o Marcão e sua esposa Mirta e o Laranjeira (brasileiros que moram e trabalham em Miami). Eles estavam ali nos esperando! Fantástico! Aí é que comecei a ligar os fatos. O Laranjeira é o homem do Neverflat, e o Marcão importa peças de motos para o Brasil.
Dali fomos para a casa do Laranjeira, em Boca Raton, onde tivemos o privilégio de conhecer sua querida Heloisa, que mui gentilmente nos receberam e nos hospedaram em sua casa. Ficamos por três noites.
Um churrasco na casa do Marcão, para marcar (parece redundância) o momento. Picanha, linguicinha, cerveja gelada, e um delicioso feijão preto especialmente preparado para nós, pela Mirta.
De babar!
Prosseguindo nossa viagem de retorno, de Boca Raton fomos a Pensacola, e daí a Houston e Laredo, no Texas.
Chuva. Muita chuva. Verdadeiro dilúvio foi o que enfrentamos hoje na estrada. Mas conseguimos chegar a Houston, no Texas. Agora já estamos bastante próximos da fronteira com o México, que pretendemos cruzar amanhã. Ainda não definimos por onde, mas será em qualquer ponto em direção a Léon, onde os nossos amigos Manuel e Sandra nos aguardam.
O trecho de estrada percorrido hoje é um tanto curioso. Em 870 quilômetros, a I-10 passa por cinco Estados (Flórida, Alabama, Mississipi, Louisiania e Texas), e muitas pontes. São quilômetros e quilômetros delas, sobre rios, lagos, e principalmente, sobre um interminável terreno alagado, algo semelhante ao nosso pantanal, na extensa região formada pela foz do rio Mississipi, que fica ao nível do mar.
Enquanto venciamos os últimos quilômetros que faltam para entrarmos no México, deslizando suavemente pela Interstate 35, que liga San Antonio a Laredo, no Texas, lembrei de como foi marcante a nossa estadia em Boca Raton, na Flórida. A recepção que tivemos foi muito calorosa, graças à hospitalidade dos amigos Laranjeira e sua querida Heloisa, e do Marco e sua querida Mirta.
Essa rodovia com intermináveis retas corta extensa planície, que fica bem frontal ao Golfo do México, e bastante vulnerável a fenômenos climáticos como furacões e tornados. Em caso de ocorrência, existem rotas de evacuação que conduzirão os transeuntes a abrigos.
À medida que nos aproximamos da fronteira, é notório o aumento da vigilância policial sobre a rodovia, por terra e por ar.
Uma rápida parada na loja da Harley em busca de alguma oferta imperdível, e em seguida nos enfiamos num hotel para prepararmos o roteiro de amanhã, pois pretendemos chegar a León.
Nossa entrada no México foi tranqüila. Num instante já fazíamos os trâmites de entrada. Simples e sem filas. Também não necessitamos fazer novamente o “Permisso de Importacion Temporal de Vehiculos”. Esse documento fizemos em Tapachula, em 23 de junho, quando entramos no México, na ida, tem validade por um ano, e nos custou USD$35,52. Ainda bem que o guardamos.
Agora a orientação é nos afastarmos da região de fronteira o mais rápido possível, tendo em vista os recentes conflitos ocorridos por ali. Seguimos em direção a Monterrey, depois Saltillo, até León, sempre que possível, utilizando as pistas por aqui conhecidas por cuotas. Como já informamos antes, são estradas construídas com capital privado, mantidas em excelentes condições, onde se paga pedágio. O valor do pedágio não é barato, mas em compensação, ganha-se em segurança, rapidez e economia de combustível e pneus.
Mas também existem as carreteras libres. São as estradas tradicionais, mantidas pelo governo, com os velhos problemas de sempre: lombadas, curvas, trechos mal conversados, intenso movimento de caminhões, atravessam povoados, etc. Em alguns trechos que fizemos por essas estradas, pudemos observar um fato, no mínimo curioso: placas informavam que é delito comprar espécies em extinção, e bem embaixo delas, dezenas de barracos improvisados expunham, oferecendo para venda, couro de cobras e de outros animais da região.
Ofereciam animais vivos, também.
Ao final da tarde, chegada a León onde já nos aguardavam nossos amigos Manuel e sua querida Sandra. E pela terceira vez nesta viagem, nos receberam em sua residência.
Deixamos nossas bagagens na casa deles e corremos levar nossas motos para o dealer local, para revisão e troca de pneus, que eles farão amanhã.
Em León participamos de uma autêntica festa mexicana. O México todo está em festa, comemorando duzentos anos de independência. Uma semana inteira de festas. Nossos amigos Manuel e Sandra nos levaram a uma festa organizada por amigos, onde os participantes levavam suas próprias comidas e bebidas. Não tinha muita gente, talvez umas cinqüenta pessoas, todos conhecidos entre si, e muito animados. A comida eram deliciosas tortilhas e tostadas, com os mais variados acompanhamentos, e tacos. Para beber, tequila. Pura, ou misturada com refrigerante de limão.
As pessoas, principalmente as mulheres, estavam vestidas com alguma peça de roupa nas cores da bandeira mexicana: verde, vermelho e branco. Afinal, todos estavam ali para comemorar dois séculos de independência.
Animando a festa, a mais autêntica e tradicional música mexicana, que os participantes acompanhavam cantando a plenos pulmões, de peito estufado. Algumas delas nós até conhecíamos parte da letra, e ousávamos cantar juntos.
Lá ficamos até tarde. Tão tarde, que atrasou nossa saída na manhã seguinte. Pretendíamos sair cedo para chegar a Poza Rica, já na costa atlântica, muito próximo a El Tajin.
Era quase meio dia quando finalmente acionamos os motores das motos. E aí apareceu o primeiro problema. Óleo embaixo da minha moto. Caramba, não pode! Ela veio da revisão dos 48 mil quilômetros ontem à tarde. Isso não pode estar acontecendo. Mas estava.
Levamos as motos ao “dealer” em León, na terça-feira à tarde, para a revisão normal feita a cada oito mil quilômetros, e troca dos pneus. Não apresentavam nenhum problema. Então porque agora uma delas começa a pingar óleo? O que fizeram (ou não fizeram) naquela oficina?
Mas finalmente estamos na estrada.
Mais à frente, outra novidade. O escapamento direito estava solto.
Arame, alicate, e pronto. O escapamento está suficientemente preso para chegar até a oficina mais próxima, que fica na cidade do México. Estávamos evitando passar por lá, devido ao intenso trânsito nessa cidade. Mas não temos outra saída. Toca para lá.
Manuel que nos monitora pelo Spot, percebeu nossa mudança de rumo, e nos envia mensagem dizendo que um furacão está se dirigindo para a região onde íamos.
Era quinta-feira, 16 de setembro, e estávamos no 111º dia de viagem.


Com os amigos Laranjeira e Ig

Amigo Marcos, preparando aquela picanha...

Mirta preocupada com o jantar

Com Helô e Laranjeira, no Sea Aquarium, em Miami

Entrando no México, por Nuevo Laredo
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