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Las Vegas

Quinta-feira, 1º/Jul (34º dia de viagem) a Sexta-feira, 9/Jul (42º dia de viagem)
Primeiro dia em Las Vegas foi dedicado a explorar o hotel. Enorme, em forma de pirâmide, com duas torres em anexo, conta com 4.407 quartos, muitas lojas, restaurantes, bares, cafés, e o cassino, que parece não ter fim.

À tarde, recebemos a visita dos Grandes Caciques Fazedores de Chuva, Dolor e sua esposa Ângela, que vieram de Los Angeles em sua moto, especialmente para almoçar conosco.

Quanta honra!

Segundo dia, bem cedo, para o Aeroporto, receber nossas esposas. Foi com muita alegria que recebi a Terezinha, que veio juntar-se a nós. E pela TV, vimos a seleção brasileira ser eliminada da copa do mundo, perdendo para a Holanda, por dois a um.

Os dias em Las Vegas passam rápidos. E as noites também. A cidade não pára. Muitas atrações. Assistimos ao show da cantora Cher, ao Cirque Du Soleil, as Águas Dançantes, fizemos passeio de helicóptero ao Grand Canyon, e percorremos todos os grandes hotéis, pois cada um é uma atração à parte.
Também tentamos a sorte nos cassinos. Apostei um dólar num caça níqueis, e perdi.
Ao final, retornamos a León, para a continuação de nossa viagem, em moto.
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Parral, Guachochi e Creel
Sábado, 10/Jul (43º dia de viagem) a Segunda-feira, 12/Jul (45º dia de viagem)
Iniciamos a jornada bem cedo, depois que conseguimos acomodar toda a nossa bagagem na moto, que ficou sobrecarregada. Ao cair da noite, chegamos a Hidalgo del Parral, terra de Pancho Villa. Na cidade, um museu lembra os feitos do seu famoso filho. Visita obrigatória.

Na sequência, chegamos até Guachochi, e aproveitamos o restante da tarde para conhecer o famoso cânion Barranca Sinforosa, da serra Tarahumara. Tão imenso quanto o Grand Canyon norteamericano, ou mais, mas com um grande diferencial: com vida, animal e vegetal. E habitado!

Dia seguinte, temprano fomos conhecer a Barranca Sinforosa, em uma avioneta. Davi, o jovem piloto do Cesna, nos levou num passeio magnífico pelos cânions, quando tivemos a rara oportunidade de ver, em detalhes, a vida que brota nas barrancas. Parece impossível, mas os Tarahumaras habitam as chamadas “covas”, literalmente penduradas em penhascos. Naquelas profundidades, eles têm suas criações, suas plantações, fabricam suas artesanias.
De Guachochi fomos a Creel, por uma das rodovias mais formosas que já vimos. O asfalto serpenteia por entre vales verdes, florestas de araucárias, e quando menos se espera, mergulha em cânions profundos. Curvas, muitas curvas. Estamos no topo da Sierra Madre Occidental.

Em Creel, mais uma maravilha: as Barrancas de Cobre. Um passeio magnífico, que teve um componente extra, que muito o valorizou: o Rafael, o motorista da Van que nos levou. Um verdadeiro “mariachi”. Muito espontaneamente, cantou para nós, as mais lindas canções mexicanas. E foram tantas, do Miguel Aceves Mejia, do Cuco Sanchez, do Fernando Fernandez...

E na Barranca Oteros, enquanto apreciávamos a beleza do rio, que corria a centenas de metros abaixo, assistimos extasiados uma cena que já há muito tempo ansiávamos ver: uma mãe índia colocar seu bebê nas costas. É costume do povo indígena, desde o Peru até aqui no México, as mães andarem com seus bebes presos às costas, amarrados com um manto chamado “reboso”. Ali o bebe se acomoda tranquilamente, enquanto a sua mãe, com os dois braços livres, executa os trabalhos domésticos. Mas como elas fazem isso? Era uma pergunta até então sem resposta. Será que elas têm ajuda de uma terceira pessoa? Hoje vimos que não. Com muito carinho, segurança e firmeza, sozinha ela enrola o bebe no manto, e num gesto com decisão, e muita precisão, leva-o às costas, segurando-o ao mesmo tempo pelos bracinhos e pelo manto. Depois desliza as mãos pelo manto até a frente do corpo, mantendo o bebe firmemente preso às costas, para rapidamente dar o nó nas extremidades. Até parece uma mazurpia, mas nas costas. O bebê se encaixa perfeitamente, se acomoda e logo dorme tranquilamente.
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Tucson, Arizona
Segunda-feira, 13/Jul (46º dia de viagem) e Terça-feira, 14/Jul (47º dia de viagem)
Hoje pela manhã nos despedimos de Manuel, nosso grande amigo mexicano, que em companhia de sua esposa Sandra nos acolheu em sua casa em León, que nos ensinou muitos e muitos segredos do México, de suas tradições, de sua cultura, de sua culinária, de seu povo, e nos conduziu por lugares maravilhosos de seu País, para pudéssemos admirar as maravilhas com que a natureza o contemplou.
Depois de um demorado abraço, nenhuma palavra. Cadê minha voz? Minha garganta está trancada! Não consigo falar! Preciso agradecer a ele tudo o que fez por nós, desejar boa viagem de retorno para a sua León, mas não consigo.
Amigo Manuel, te desejamos uma excelente viagem de retorno para o seu lar, e do fundo dos nossos corações, te agradecemos tudo o que fizeste por nós. Que Deus te acompanhe nesta viagem de retorno.

Ao final da tarde, estávamos em Água Prieta, na fronteira com os Estados Unidos. Paso fronteiriço com razoável movimento e muito bem organizado. Fomos atendidos em sala com ar condicionado, sem tramitadores, sem precisar preencher qualquer formulário, sem fotocópias. Apenas precisamos pagar 6 dólares por pessoa, para uma permissão de trânsito pelos Estados Unidos.
Pernoitamos em Douglas, Arizona, no Hotel Gadsen.
Nosso primeiro dia nos Estados Unidos amanheceu com céu limpo e convidativo para desfrutar as excelentes rodovias americanas. Os primeiros raios do sol já nos encontraram a rodar, eis que tínhamos um compromisso agendado em Tucson: revisão das motos. Precisávamos estar lá antes das 10, tínhamos 190 quilômetros pela frente.

De repente, uma surpresa: encontramos a velha cidade de Tombstone, aquela mesma onde viveu o famoso xerife Wyatt Earp, tão temido pelos bandoleiros da época do faroeste. E não era uma reconstituição. Tudo verdadeiro, perfeitamente conservado. Lá estava o Saloon, onde se dançava o Can Can, vaqueiros jogavam cartas e bebiam cerveja; o estábulo, a ferraria, a igreja, o banco, a estação de diligências.
Tudo!
Queríamos ficar mais tempo por ali, conhecer melhor aquela relíquia, conversar com os moradores locais, saber um pouco mais da história americana, daquela época do velho oeste, de bandoleiros, índios e mocinhos. Mas tínhamos o compromisso em Tucson para a revisão das motos, afinal já rodamos 8 mil quilômetros desde a última, feita em Quito. Um lugar para voltar, com mais tempo.

Já em Tucson, enquanto aguardamos o trabalho dos mecânicos, aproveitamos a oportunidade para por em dia as mensagens na internet, lavação de roupas, e porque não, um citytour. Nosso roadcaptain de pronto providenciou o aluguel de um carro, e lá fomos nós conhecer a cidade cenográfica Old Tucson, onde foram rodados grandes clássicos do faroeste, como as séries Chaparral e Bonanza, e muitos bang bang do John Wayne, como McLintock, Rio Lobo, e El Dorado.
Percorremos toda a cidade, confortavelmente (sic) instalados a bordo de uma diligência, reprodução fiel das utilizadas nos tempos da Wells Fargo. Só faltou sermos assaltados por bandoleiros, ou sofrermos um ataque de índios.
Ao final da tarde, uma excelente: o pneu dianteiro da minha moto foi trocado na garantia, porque apresentava defeito de fabricação, desgaste irregular na banda de rodagem. E não foi necessário implorar, nem aguardar meses, nem a intervenção de advogado.
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Flagstaff e Kanab
Quarta-feira, 15/Jul (48º dia de viagem) e Quinta-feira, 16/Jul (49º dia de viagem)
Viajar em moto pelo Arizona está sendo uma das partes mais difíceis da viagem, devido às altas temperaturas desta região, durante o verão. Pelo rádio CB alguém pergunta quantos graus centígrados os termômetros marcam (Isto porque as Harleys têm um termômetro marcando a temperatura em Farenheidt). É fácil transformar. Rapidamente faço uma continha, de cabeça: 109 menos 32, vezes 5, divididos por 9. Fácil. Dá 43. Sim, 43 graus centígrados! Como pode alguém viver numa região dessas? Mas por incrível que pareça, há vida por toda parte. E vida humana. Ao longo da rodovia, pequenas cidades vão se alternando com extensas plantações algodão, de noz pecan, e fazendas de criação de gado.

Perto de meio dia, o termômetro da Harley já marca mais de 120º Farenheidt. E eis que, do fundo do baú, surge a mais nova tecnologia contra o calor, logo apelidado de tip top. O nome técnico é “Men's Hydration Vest”. Trata-se de um colete fabricado com tecido especial, que antes de vestir, deve ser encharcado em água, por um a dois minutos. Usado sobre uma camisa/camiseta, ajuda a diminuir a temperatura do corpo, mantendo-o fresco por até 2 horas. Caso necessário, repetir a operação, sempre aproveitando os abastecimentos.

Aprovado!
Ao final da tarde, chegamos a Flagstaff, onde pernoitamos.
Apesar das altas temperaturas enfrentadas durante o dia de hoje, tivemos momentos de temperaturas mais amenas, ao passarmos por cidades localizadas em montanhas, com altitudes superiores a 2 mil metros. São cidades turísticas, que tiveram origem na época da mineração, como Prescott, Jerome e Sedona.
Temos percebido aqui na região, grande movimentação de cargas por ferrovias que normalmente seguem paralelamente às rodovias. São trens imensos, puxados por três locomotivas, e empurrados por outras tantas, e compostos por mais de uma centena de vagões. Já vimos trens com até dois contêineres em cada vagão, e hoje, saindo de Flagstaff, onde pernoitamos, vimos um carregando os baús dos caminhões, com rodas e tudo. Um baú em cada vagão plataforma. Esse sistema, chamado de transporte modal, além da agilidade e economia, retira da estrada um grande número de caminhões.

Em Page, ainda no Arizona, encontramo-nos com um grupo de motociclistas, em um posto de gasolina. Eram xerifes aposentados que ian a Salt Lake City para uma reunião mundial dos delegados aposentados, dos países de língua inglesa. Gente muito simpática, logo nos entrosamos. Troca de camisetas, bonés, pins, adesivos, e uma surpresa: nos presentearam com coleiras térmicas. Trata-se da mais uma invenção para amenizar o calor sufocante do deserto, e vem complementar a ação do tip top (que ontem descrevemos). É bastante simples: usa-se como um lenço de pescoço. Quando embebido em água fria, ele incha e fica parecendo uma cobra, aquelas de pano, que antigamente usava-se para tapar a fresta de baixo das portas. E o mais importante: irradia um frescor pelo corpo todo. Incrível! E não foi só isso! Nos passaram importantes dicas sobre rodovias, e pontos a visitar na região. É aquela já conhecida solidariedade entre motociclistas.

Estamos na parte Norte do Grand Canyon, onde a rodovia 89A atravessa o território dos índios Navajos e cruza o rio Colorado, por uma ponte de metal, cujas águas na cor verde esmeralda, correm tranquilamente a mais de cem metros abaixo. Esse território, apesar de localizado no Arizona, segue o fuso horário de Utah (Nos Estados Unidos, as nações indígenas têm autonomia de Estado, inclusive para decidir sobre qual fuso horário adotar), ou seja, uma hora a mais.

Depois de um almoço muito especial em Jacob Lake (todos comemos uma salada de verdes nobres com frango grelhado), fomos conhecer o parque Kaibab National Forest, onde o Grand Canyon se mostra majestoso, esbanjando vibrante coloração rosada em suas barrancas de pura rocha. E de quebra, tivemos uma recepção muito especial: uma chuva de granizo. E isso foi ótimo, porque imediatamente cambiou a temperatura, de escaldantes 120º F para amenos 50.

No parque, nos lembramos do nosso amigo mexicano, o Manuel, que com muita vibração nos apresentou as famosas barrancas da serra Tarahumara, cujas formações bastante se assemelham ao Grand Canyon. Mal tivemos tempo para registrar a visita em algumas fotos e vídeos, pois forte chuva se aproximava e queríamos escapar dessa. Conseguimos, apesar dela nos perseguir até Kanab, onde pernoitamos.
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Chegando no Canadá
Sexta-feira, 17/Jul (50º dia de viagem) a Quarta-feira, 21/Jul (54º dia de viagem)
Na sequência, passamos por San Francisco onde fizemos dois pernoites e tivemos um dia inteiro para explorar a cidade, inclusive o seu maior monumento: a Golden Gate.

Seguindo direção norte, cruzamos o Estado do Oregon onde fizemos um pernoite em Salem, e o Estado de Washington, seguindo sempre na Interstate 5, para chegarmos na fronteira com o Canadá, em Vancouver, na British Columbia.
O frio está chegando. O dia amanheceu nublado, com temperatura em torno dos 15º C, na simpática cidade de Salem, Oregon, onde pernoitamos. As roupas de frio, que estavam no fundo das malas, são requisitadas. Na rodovia, a temperatura cai mais ainda, atingindo 10º C por volta do meio dia. O sol está encoberto por grossa camada de nuvens.

Estamos na torcida para não chover. Já começa a aparecer gelo no alto das montanhas.
Nesse dia me dei conta de que algo não estava bem. O Parque das Sequoias ficara para trás. Perdemos de visitá-lo. Quando questionei o grupo o porquê, as respostas foram evasivas, e houve até quem dissesse que mais ao norte, na região do Estado de Washington, havia outros parques com sequoias ainda maiores. Será?
Mais tarde, a verdade aflorou: como os demais membros do grupo já conheciam o parque, combinaram entre eles não visitá-lo e nada nos avisaram dessa mudança de roteiro. Os únicos prejudicados fomos nós. Mas isto não nos abalou. Pelo contrário, apenas nos alertou que devemos escolher melhor nossas companhias de viagem.

Chegando ao Canadá, tivemos uma recepção em grande estilo. Algumas milhas antes da fronteira, em Bellinghan, nos aguardavam o nosso amigo Celso Fonseca, de Florianópolis, e sua esposa Miriam. O simpático casal, companheiros de tantas jornadas em moto, agora a bordo de um possante Chevrolet Camaro, está na região em viagem de férias, desfrutando das belezas locais. Como é bom encontrar alguém do Brasil, ouvir as novidades da nossa terra, ouvir o som gostoso de uma conversa em português.
Na fronteira com o Canadá, os procedimentos são os mais simples que encontramos até agora. Sequer precisa descer da moto. Bastou mostrar o passaporte, e responder algumas perguntas básicas: quanto tempo vai ficar no Canadá? Traz arma de fogo? Traz bebida alcoólica? Traz presentes? E pronto. Passaporte carimbado e estamos no Canadá!

Nossa primeira parada é em Vancouver, onde nos aguardava Jairo Orlandi, brasileiro morando em Peterboroug, no Canadá, o sexto expedicionário a se juntar ao grupo.
Nosso primeiro dia no Canadá começou com um city tour por Vancouver. De Harley. Cruzamos o centro da cidade de sul a norte, para acessarmos a rodovia 99N, e depois a 97N, que nos levaria a Prince George, nosso destino para hoje.
Em alguns trechos, o trânsito na rodovia é interrompido para execução de trabalhos de manutenção da pista. Explica-nos o Jairo que isso é normal nessa época do ano, verão por aqui. No inverno, é impossível trabalhar nas estradas, devido ao frio intenso, e a grande quantidade de neve que se acumula.
Por falar em frio, apesar do sol já estar alto, por volta de 9 horas da manhã, a temperatura na estrada está em torno de 10º C. Os altos morros que ladeiam a estrada estão brancos de gelo. Mesmo no verão.
Movimento intenso de caminhões transportando toras de madeira. O Canadá já foi um dos maiores, senão o maior, produtor de celulose do mundo. Hoje se dedica à produção de madeira, atividade bem menos poluidora.
Outra curiosidade que vimos na rodovia, são cancelas existentes para bloquear o trânsito em caso de avalanches. Com efeito, é visível em certos trechos, os sinais destruidores das avalanches.
Em muitos trechos da rodovia, encontram-se pontos de parada para descanso ou acampamento, ou ainda, estacionamento para trailers (aqui conhecidos pelas iniciais RV) ou motorhome. O sonho de todo canadense é ter o seu próprio trailer ou motorhome.

E por ser verão, encontramos grande número de motos circulando. Viajantes solitários, em duplas, em grupos, sós, com garupa. Muitas Harleys. E mais uma curiosidade: muitas Harleys tracionando um reboque. Muito prático, pois além de ter um compartimento bastante espaçoso para bagagem, tem ainda uma caixa térmica. Essa moda bem que poderia ser levada para o Brasil.
Ao final da tarde, chegamos a Prince George, depois de passarmos por cidades muito simpáticas, como Whistler, Clinton, Williams Lake, e Quesnel, todas muito limpas, ajardinadas, floridas, e calmas.
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Dawson Creek a Whitehorse
Quinta-feira 22/Jul, a Sábado 24/Jul (55º ao 57º dias de viagem)
E para começar bem o dia, nada como um breakfast típico canadense. E para tanto, o nosso colega Jairo nos levou ao Tim Horton’s. Trata-se de uma rede canadense de fastfood, especializada em lanches, aberta 24 horas por dia. Apesar de ser bastante cedo, nos deparamos com grande fila de pessoas querendo saborear os quitutes oferecidos. Logo pensamos: se tem movimento, deve ser bom. E é mesmo. O lema da rede é “always fresh” (sempre fresco). As comidas sempre com jeito de que acabaram de sair do forno. Uma verdadeira delícia.

Fato curioso que temos observado, por aqui quase não se vê polícia. Nem nas ruas das cidades, nem nas rodovias. Explica-nos Jairo, que o índice de criminalidade é baixo, o nível de educação é alto, o trânsito é disciplinado, por isso, poucos policiais.
Em Chetwind, chama a atenção, a grande quantidade de esculturas expostas ao longo da rodovia, que corta a cidade. São estátuas feitas em madeira, por índios, retratando figuras humanas e animais.
Ao final da tarde, chegamos a Dawson Creed, onde está localizado o marco inicial (Mile 0) da Alaska Higway. Dali até Fairbanks, são 2.233km.
Conferiremos.

Depois de Fort Nelson, ainda na rodovia 97N, fomos apresentados ao “loose gravel”. São pequenas pedras soltas sobre o pavimento. Um veneno para as motos, pois tornam a pista muito escorregadia. E se estendem por vários quilômetros. E não foi só isso! Também nesse trecho, obras na pista. E algumas curiosidades foram notadas.
Nosso dia de viagem termina em um simpático hotel, na milha 462 da Alaska Higway, no município Muncho Lake, na Beautiful British Columbia. É o Northern Rockies Lodge, novinho em folha, construído com toras de madeira deitadas, em autêntico estilo nórdico. E em torno de um vinho produzido em Ontário, estamos agora a planejar onde e quando faremos a próxima revisão em nossas motos. Temos duas opções: em Whitehorse, ainda no Canadá, ou em Anchorage, lá no Alaska.
Meu voto vai para...

A cada curva da Alaska Hwy, uma nova surpresa: paisagens maravilhosas se alternam transformando a viagem em puro prazer. É bom lembrar que um motociclista tem 180º de visão, ou seja, além de manter o olhar firme em frente, fixo na estrada por onde passará, sua visão periférica enxerga tudo o que está nas duas margens. Acho que esta é uma das razões que leva as pessoas a gostarem de motos. Mas, e as paisagens? Nos dois lados da estrada, sempre floresta de pinus a perder de vista, somente interrompida por lagos ou rios. Ao longe, montanhas cobertas de vegetação ou rocha pura, manchadas com o branco da neve, formando um todo muito harmonioso.

Subitamente a contemplação é interrompida. Um enorme bisão pasta tranquilamente, logo ali, a poucos metros da estrada. O enorme animal parece não notar nossa presença. Nem mesmo o poderoso ronco das cinco motos o assusta. Fotos tomadas, segue o trem, para logo à frente, outro mais, e mais outro, e depois uma manada deles. Todos muito calmos, parecem mais preocupados em escolher e saborear as folhas mais tenras e frescas do capim umedecidas pelo orvalho da manhã, do que com a movimentação daqueles 6 ET, vestidos de preto, que procuram os melhores ângulos para fotografar.

Em Watson Lake, um compromisso: fixar as nossas placas no Sign Post Forrest, ao lado de dezenas de milhares de placas fixadas por viajantes do mundo todo, que por ali passaram. Essa tradição começou em 1942, durante a construção da Alaska Hwy, com os engenheiros do exército dos Estados Unidos, que colocaram em um poste, placas com direção e distância de várias cidades do Canadá, dos Estados Unidos, e do mundo todo.

Chegando em Whitehorse, a capital do estado do Yukon, outra surpresa: o barco SS Klondike, totalmente restaurado, e instalado em terra firme, hoje é um museu que retrata o período em que este meio de transporte foi o responsável pela movimentação de cargas e pessoas, através do rio Yukon.
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Chegamos ao Alaska
Domingo 25/Jul, a Terça-feira 27/Jul (58º ao 60º dias de viagem)
Deixamos Whitehorse com a temperatura beirando 5º C, porém com sol brilhando em um imenso céu azul. Prenúncio de um bom dia de viagem.

A paisagem continua deslumbrante. Agora aparece ao longe, bem à nossa frente, imensa cordilheira com os picos nevados. Muito mais neve do que nas montanhas até então vistas. A rodovia nos leva em direção a ela. A preocupação com o frio aumenta. O zum-zum-zum pelo rádio é imediato. Vamos parar e colocar mais roupa, diz alguém preocupado. Vamos aguardar, foi a resposta. E como que atendendo ao pedido de todos nós, a Alaska Hwy suavemente se inclina para a direita, deixando as imponentes montanhas geladas à nossa esquerda, e mergulha num vale de planícies sem fim.
Agora a atração está à nossa direita. É o Kluane Lake, de águas muito azuis, que rouba a cena. Localizado na cidade de Destruction Bay, tem mais de cem quilômetros de extensão, obrigando a rodovia a descrever uma enorme curva, para poder continuar seu rumo em direção ao Alasca.

Depois de Beaver Creek, a estrada se torna irreconhecível. Volta a apresentar muitos trechos com "loose gravel", trechos em terra onde o pavimento há muito se acabou, e, de grande perigo para motos, grande extensão com depressões longitudinais na pista. O pior trecho de toda a viagem, que só melhora, depois de entrar no Alasca.
Enfim chegamos ao Alasca, com 58 dias de viagem. Já são quase dois meses que estamos na estrada, e só temos a agradecer, por tudo o que nos aconteceu até aqui. Nenhum acidente.

E para não perder o costume, mais uma fronteira para cruzarmos: do Canadá para os Estados Unidos, já que o Alasca é um dos cinqüenta estados norteamericanos. E tudo aconteceu conforme esperado. Sem burocracia, sem fotocópias, sem propinas, sem tramitadores. Bastou apresentar o passaporte, responder a uma pergunta básica (guns?) e pronto. É só seguir. Sequer pediram os documentos das motos!

Importante destacar a atenção que é dada ao turista, em todas as cidades do Yukon por onde passamos, e agora em Tok, no Alasca. Existem postos de atendimento, estrategicamente localizados na entrada das cidades, com funcionários atenciosos e dispostos a ajudar, e farto material de divulgação.
Em Tok ficamos hospedados no Snowshoe Motel. Simples e aconchegante.

Por aqui o dia está amanhecendo por volta de 4 horas da manhã, e anoitecendo perto da meia noite.
Hoje viajamos em direção ao sul, para Anchorage, onde existe revenda Harley, para fazer revisão nas motos. E, mais uma vez, a paisagem nos surpreende. Agora, a cadeia montanhosa apresenta picos mais altos, e com maior cobertura de neve.
A temperatura sempre em torno de 40 a 50º F. E de repente aparece o primeiro Glaciar, o School. Bonito, bem distante, parece formar uma estrada de vidro a unir duas montanhas. A rodovia segue se afastando dele, para, logo em seguida, dar de frente com o Glaciar View, logo ali, bem pertinho, como um rio de gelo correndo paralelo à estrada.

E nosso dia não poderia terminar melhor: já em Anchorage, fomos lanchar no MacDonalds, e para nossa surpresa, a gerente local, Elaine, é brasileira, de João Pessoa, na Paraíba.
Conforme programado, o dia de hoje foi dedicado à revisão das motos, essas heroínas que estão nos levando a concretizar o nosso sonho de aventureiros. Revisão de rotina, conforme programado pelo fabricante.

Enquanto isso aproveitamos o dia de folga para um tour aéreo pela região. Fomos de hidroplano, muito comum aqui na região. Num primeiro momento, sobrevoamos região muito plana, coberta de vegetação rasteira, e alagada. Ali observamos vários caribus, ursos pardos, ursos marrons. Todos pareciam não se importar com a proximidade do avião.
Dali partimos para o ponto alto do passeio. Sobrevoar o Glacier Triumphet. Majestoso. Um verdadeiro mar de gelo a escorrer da montanha. E para completar, um pouso no Lake Coal, um pequeno lago de águas muito limpas e azuladas, perdido em meio a milhares de outros existentes no Alaska.

Impressionante também, é a facilidade com que o pequeno hidroavião decola e pousa. Acho que necessita pouco mais de duzentos metros e pronto.
Já está no ar, ou na água.
Com toda segurança.
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Fairbanks e Coldfoot
Quarta-feira 28/Jul, e 29/Jul (61º e 62º dia de viagem)
Com as motos totalmente revisadas, deixamos Anchorage em direção a Fairbanks pela AK 3. Exceto em alguns trechos com obras, o pavimento da rodovia em bom estado permitiu uma viagem muito tranqüila, apesar da chuva que nos acompanhou por muitos quilômetros.

Inclusive chovia muito quando passamos pela região do monte Mckinley, o que nos impediu de admirarmos a beleza desse colosso com mais de vinte mil pés de altitude, ponto culminante da América do Norte.
Em Denali, nos deparamos com um verdadeiro Oasis. A pequena cidade tem uma grande concentração de lojas e hotéis. É ponto de partida para as excursões que visitam o Parque Denali, e para os alpinistas que buscam escalar o McKinley. As lojas parecem formar uma cidadezinha do velho oeste americano. Todas dispostas lado a lado às margens da rodovia, são unidas por passeio com piso e teto construídos em madeira. Tem até uma loja HD! E o seu simpático proprietário nos recebeu com o melhor dos sorrisos.

Em Fairbanks fomos direto à loja HD, ponto de encontro dos motociclistas que vêm a essa região. Loja bonita, espaçosa, gente simpática, grande oferta de produtos. E atendem e vendem produtos de várias marcas de motocicletas. E o mais importante: conversamos com motociclistas que acabaram de chegar de Prudhoe Bay, onde foram com Harleys. Deles recebemos os melhores elogios pela nossa viagem até aqui, e principalmente, muito nos incentivaram a irmos até o nosso objetivo final.
Agora estamos todos aqui reunidos, na cozinha do acolhedor Blue Roof Bed & Breakfast (conceito cama e café da manhã), onde nos hospedamos, após termos sido recebidos pelo seu proprietário.

O dia de hoje começou bem para nós, no Blue Roof Bed & Breakfast. Bem cedo, Joe (o proprietário) nos aguardava com o breakfast feito por ele mesmo, e, segundo ele, especialmente preparado para motociclistas. Então, ao ataque! Numa pequena frigideira, Joe preparava deliciosas panquecas, acompanhadas de generosas fatias de bacon e hamburguers. Na mesa da cozinha, os hóspedes iam se aproximando, good morning, sentando, conversando, comendo, e logo era uma miscelânea de línguas, mas todos se entendendo, mais por mímica do que por vocabulário.
Doravante, sempre que possível, vamos procurar mais esse tipo de hospedagem, pois o custo benefício é grande. De quebra, deixamos reservado três quartos para a volta, e mais, com ele deixamos os nossos pertences que não precisaríamos para a ida até Prudhoe Bay, aliviando assim, o peso em nossas motos. Houve quem levasse apenas a roupa do corpo e a nécessaire. E o notebook, naturalmente.

O trecho planejado para hoje, até Coldfoot, em torno de 400 Km, segundo informações, era todo em asfalto. Entretanto, a partir de Livengood, em muitos longos trechos, o asfalto sumia, dando lugar a estrada de terra batida. Esses trechos sem asfalto estavam muito bem conservados, permitindo velocidades de até 100 km/h.

O Abastecimento neste trecho é feito no Yukon River Camp, 221 km depois de Fairbanks. O local é bastante simples, mas dispõe de hotel e restaurante, onde degustamos uma excelente sopa de salmão.

Durante anos a professora Terezinha ensinou aos seus alunos nas aulas de Geografia, a localização exata das linhas imaginárias que dividem a Terra: o Equador, os trópicos de Câncer e de Capricórnio, e os Círculos Polares. Agora, à medida que avançávamos em direção ao norte, da garupa ela acompanha pelo GPS a aproximação do Circulo Polar Ártico. As letras miúdas informam que estamos na latitude 66º 20´. Agora falta pouco. Ele está logo aí na frente, na latitude 66º 33´, avisa ela, já bastante emocionada. E pronto, ali está. Uma bela placa de madeira à beira da rodovia informa que exatamente naquele ponto passa o Círculo Polar Ártico.
Quem diria professora Terezinha, que um dia você iria cruzar essa marca, em moto!
Quanta honra, quanto orgulho, quanta emoção.
Parabéns, você é uma vencedora.

Na metade da tarde, chegamos Coldfoot. Quase íamos passando sem perceber. A cidade é muito pequena. Na verdade, é um acampamento, com abastecimento de combustíveis, um hotel, e um restaurante. Algumas milhas à frente, em Wisemann, existem dois hotéis, que descobrimos mais tarde, já estarem lotados. É para lá que íamos, deixando para trás, o abastecimento, importantíssimo, porque é o único até Prudhoe Bay. Inclusive, para garantir, levaremos alguns galões extras, já que o próximo abastecimento estará no limite de autonomia das motos. E aqui aproveitamos para pernoitar no Slatter Creek Inn, típico hotel de acampamento, sem luxo, mas com o conforto necessário, a um preço “salgado”: USD$200,00 por apartamento. E no restaurante, um jantar especial, do tipo “all you can eat”, por USD$19,90. No cardápio, além de saladas, arroz, batatas, salmão e pernil suíno, e para sobremesa, deliciosa torta de amoras e peras.
Talvez um dos melhores jantares da viagem.
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GCFC Osmar, que maravilha voltar a viajar através dos teus relatos e sentimentos.
Aproveito para pedir uma atenção especial dos leitores para o adesivo que está colocado nos pés das letras A e M, da placa da JA Mes W Dalton Highway, mesmo que incivilizadamente colocada, demarca o território como dos Fazedores de Chuva.
"Qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem..."
Diz o slogan dos Fazedores de Chuva.
Aprocheguem-se Fazedores!
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Deadhorse
Sexta-feira 30/Jul (63º dia de viagem)

Desde a nossa chegada a Coldfoot, ontem à tarde, ouvimos diversos comentários a respeito da estrada até Prudhoe Bay, do péssimo estado em que ela se encontrava devido a fortes chuvas, e, pior, que as Harleys não passariam.
Um verdadeiro terror.
E isto vinha principalmente de motociclistas que passaram, em suas bigtrails. Ouvíamos cada um deles atentamente, fazíamos perguntas, ficávamos a imaginar o que realmente nos aguardava.
Dormimos abraçados com a incerteza do próximo dia.

Mas, durante a noite, o amigo travesseiro aconselhou: “Sigam! Vão conferir!
Afinal, vocês vieram de tão longe, e não vão desistir agora, vão?”
Amanheceu (se é que anoiteceu!) com tempo firme. Só um espesso nevoeiro cobria os morros vizinhos. Aqui e acolá já se via sinais do sol conseguindo furar o escudo formado pelas nuvens.
Bom sinal.

Após dois meses de viagem, não precisamos de muita conversa para tomar uma decisão. Bastou olharmos uns para os outros, e num instante já estávamos prontos, decididos a enfrentar o último trecho a nos separar de Prudhoe Bay. Os cinco possantes motores roncaram e partimos. Os tanques foram enchidos até a boca, com a moto em pé (bem na vertical) para caber mais combustível, e ainda, alguns galões sobressalentes para enfrentarmos algum imprevisto, e ganhamos a estrada.
A rodovia AK-11, ou Dalton Highway, está em obras, em toda a sua extensão.

E o terror dos motociclistas é a dupla, patrola e caminhão da água.
A primeira aplaina a estrada, deixando atrás de si, muita terra fofa. E o segundo, joga água, para que, com o movimento dos caminhões, compacte o piso.
Só que, enquanto não passarem os caminhões, e aquela água não secar, fica um lamaçal só.
Não há moto que resista.
É queda na certa.

Nestes 390 Km que separam Coldfoot de Deadhorse, a rodovia está em boas condições, permitindo velocidades de até 100 km/hora, com toda segurança. Após Happy Valley, que alegria. Asfalto, o velho e bom asfalto, e por 45 Km.
À medida que avançávamos em direção ao Oceano Ártico, a paisagem ia mudando. Os bosques de pinheiros deram lugar a extensa pradaria coberta por capim. As montanhas sumiram. Muito longe, no horizonte, o céu azul e a terra se encontravam. Nenhum sinal de chuva. Agora nada mais era capaz de nos deter. Deadhorse estava bem ali, quase podíamos tocá-la com as mãos.
Às quatro da tarde, estacionamos as Motos em frente ao Artic Caribou Inn, em Deadhorse, depois de rodar 24.238 quilômetros.

Amanhã iremos a Prudhoe Bay, de ônibus, pois não é permitida a entrada de veículos particulares. Somente excursões organizadas.
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