A Revista Duas Rodas começou a divulgar as dicas de turismo da Promoção “Descobrindo o Brasil em Duas Rodas”. Leitores que enviarem suas dicas de destinos concorrem a motocicletas.
A primeira região contemplada foi o sul do Brasil. A novidade está nos destinos menos conhecidos. Gramado e Canela não aparecem na reportagem. Em compensação, São José dos Ausentes e São Miguel das Missões estão entre os destinos propostos. Segue abaixo a reportagem completa. Para quem quiser dar uma passada no estado gaúcho, a reportagem traz dicas de como se preparar para o frio da região e aproveitar as belas paisagens e a gastronomia local.
“
Muito Além do Churrasco e do Chimarrão” (Reportagem de Renato Gava, Revista Duas Rodas, agosto de 2012)
A região Sul atrai turistas interessados em esportes radicais, sítios arqueológicos, geografia e, claro, um delicioso churrasco. Quando se fala em destinos turísticos na região Sul do Brasil, imediatamente cidades como Gramado e Canela, na Serra Gaúcha, ou Torres, no litoral, são os mais lembrados. Mas a proposta é descobrir o Brasil em duas rodas, então mostraremos três destinos que são desconhecidos da maioria dos turistas.
São José dos Ausentes
Foto: UFRGS
A cidade de São José dos Ausentes (RS), ou simplesmente Ausentes, herdou o nome de uma antiga fazenda e é um lugar pacato e tranquilo onde vivem pouco mais de 3.200 habitantes. Conversando com qualquer um deles o viajante recebe dicas valiosas de lugares para conhecer, sem a necessidade de uma moto de uso misto, já que as estradas de terra estão em boas condições. A 45 km da cidade está o Cânion Montenegro, que é o ponto mais elevado do Rio Grande do Sul. No caminho o viajante já contempla as pradarias do estado gaúcho, com suas vastas pastagens pontilhadas por araucárias. O Cânion Montenegro está 1.403 metros acima do nível do mar, e nos dias claros é possível avistar o litoral. Recomenda- se visitá-lo pela manhã, quando a visibilidade é melhor. A natureza foi generosa com a região de São José dos Ausentes, embora o nome seja uma herança da dificuldade que os colonos tinham de se estabelecer na região, inóspita devido ao clima frio e aos enormes paredões para chegar aos campos do alto da serra.
Essa geografia hoje é um tesouro para os habitantes. Um exemplo são os rios Silveira e da Divisa, que correm em paralelo e apresentam um desnível de quase 20 metros entre eles, proporcionando um visual fantástico a pouco mais de 30 km do centro da cidade. Para chegar próximo ao lugar é preciso cruzar um rio com água até o joelho. Nessa região também se pratica a pesca esportiva da truta. A região é recheada de cachoeiras, e uma das quedas mais impressionantes é o Cachoeirão dos Rodrigues. Um enorme volume de água despenca a 30 metros e merece ser contemplado. Para chegar a essas e muitas outras atrações é preciso rodar pela terra, mas qualquer piloto com o mínimo de conhecimento sobre pilotagem off-road, e com bom equipamento, passa por ali sem sustos. A cidade de Ausentes está na divisa de Santa Catarina com Rio Grande do Sul, numa região serrana.
A primeira dica é a vestimenta: não importa a época do ano, leve suas roupas mais quentes, pois o local registra as mais baixas temperaturas medidas no país. Mas o visual serve para aquecer o caminho, com cachoeiras surpreendentes em vários pontos das estradas. Na maior parte do ano, a geada cria um visual único na mata, embranquecida. O turismo rural é extremamente difundido na região, onde hotéis e pousadas na área agrícola permitem ao visitante conhecer um pouco do cotidiano do homem do campo. A região traz marcas culturais dos tropeiros que cruzavam o local conduzindo gado em direção ao estado de São Paulo, e cujos hábitos alimentares se tornaram tradição. O consumo do pinhão assado (conhecido como Sapecada do Pinhão) e, claro, do churrasco à moda campeira (fogo de chão) são heranças gastronômicas que valem a pena ser degustadas, assim como os pratos à base de truta.
Outra herança deixada pelas tropas que cruzavam essa inóspita região são lendas como a do Negrinho do Pastoreio, uma entidade que se encarregaria de encontrar animais perdidos.
São Miguel das Missões
Foto: Prefeitura São Miguel das Missões
Cravado no interior do Rio Grande do Sul, o pequeno povoado de São Miguel das Missões, com seus pouco mais de 7 mil habitantes, esconde uma das mais ricas histórias do Brasil. Fundado no início do século 17 por jesuítas, foi alvo de vários tipos de ataques, tanto de bandeirantes paulistas que procuravam indígenas para escravizar quanto de criminosos do Uruguai que buscavam esconderijo. Até essa época, Espanha e Portugal ainda lutavam para delimitar as fronteiras de seus territórios e, assim, o local era legítima “terra de ninguém”. Por volta de 1735, jesuítas obrigaram índios a construir a igreja de São Miguel Arcanjo. A obra foi incapaz de acalmar a região, ora submetida à administração portuguesa, ora à espanhola.
Cansados de serem massacrados pelos dois lados, os guaranis se revoltaram. Eles não contavam é que espanhóis e portugueses, até então inimigos, se uniriam para combatê-los. Em 1756, os índios foram aniquilados e só 11 anos depois alguns sobreviventes retornaram à cidade. A convivência de culturas distintas e as constantes batalhas tornaram único o cenário de São Miguel, principalmente o sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo – declarado Patrimônio Mundial pela Unesco em 1983. Nessa antiga construção é encenado um show que revela ao visitante um pouco dessa história tão desconhecida e importante. Os jesuítas também deixaram como herança a lenda do Boitatá, uma cobra que brilha no escuro e cujos olhos são faróis capazes de cegar aqueles que os encaram.
Lagoa dos Patos
Foto: Alexandre Bittencourt
Para quem procura fugir do turismo tradicional, o estado oferece outras opções. Da cidade de Rio Grande é possível conhecer a imensa Lagoa dos Patos, com sua exuberante vida selvagem. São 265 km de extensão e, na parte com largura máxima, 60 km. Quem se liga em geografia pode conhecer os museus Oceanográfico e Antártico, que reproduz a base brasileira no continente da Antártida. O Museu Náutico mostra a evolução das embarcações usadas na pesca e os rudimentares meios de construção. Para os amantes da natureza, a opção é a Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), região considerada um dos principais ecossistemas do Brasil. A área de 33.815 hectares, repleta de animais, pertence em 70% ao município de Santa Vitória do Palmar. Os outros 30%, situados na cidade de Rio Grande, são os que recebem o maior número de turistas devido à pouca distância da capital gaúcha, cerca de 300 km. Quem fizer a viagem pode dar uma esticada até o Uruguai: da reserva até a cidade de Rio Branco, na fronteira entre os dois países, são mais 150 km de estrada tranquila, quase sem movimento, e com ótima paisagem.