Resultados 1 a 2 de 2
  1. #1
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728

    Bolívia, território proibido

    No dia 20 de julho, eu e Marcelo Resende, depois de nos encontramos no Mato Grosso do Sul, seguimos juntos para Corumbá onde entramos em território boliviano.

    Na fronteira, alguns policiais comentaram que estava tendo uma incidência de roubos entre Puerto Suares e Santa Cruz de la Sierra. Eu e Marcelo já tínhamos como plano manter uma velocidade que nos garantisse a autonomia das motocicletas em razão da dificuldade de abastecimento e, em nenhuma circunstância seguir viagem depois do pôr do sol.

    Mesmo diante a determinação governamental de vender gasolina para estrangeiros por três vezes mais o valor vendido aos bolivianos, o maior problema era o limite de apenas 20 litros por veículo. Como já tinha comentado, “demos sorte”, e conseguimos além de completar o tanque das motocicletas, ainda encher alguns galões de reserva. A nossa sorte foi a seguinte barganha: Deixarmos os militares do exército que estavam controlando o ponto de abastecimento tirarem uma foto em cima das motos, e partir daí, teríamos uma espécie de passe livre para abastecermos. Deu certo!

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         pent6795wse_link.jpg
Visualizações:	234
Tamanho: 	40,9 KB
ID:      	3382

    Nome:      pent6799edr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  19,7 KBNome:      pent6802rrr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  17,0 KB


    Saímos de Puerto Suares por volta das 14:00 e seguimos para Robore de Chiquitos, onde reabastecemos as motocicletas e depois paramos em San Jose para pernoitarmos.

    Como todos sabem, adoro fotografar, e entre estas duas cidades fiz umas duas paradas para tirar umas fotos do pôr do sol nas montanhas.

    Nome:      pent6807rrr_link-1.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  7,9 KBNome:      pent6813rrr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  7,5 KBNome:      pent6987rrr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  7,2 KB

    Nome:      pent6847rrr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  15,4 KBNome:      pent6869rrr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  17,2 KBNome:      pent6902rrr_link.jpg
Visitas:     38
Tamanho:  13,3 KB

    A noite ao sentarmos a mesa para jantar, percebi que o meu ritmo de viagem, ou seja, parando para fotografar, iria atrapalhar Marcelo Resende no seu cronograma, já que o mesmo não dispunha de muitos dias para aquela viagem em razão dos seus compromissos em Belo Horizonte.

    Então combinados de nos encontrarmos em Cochabanda dois dias depois. Assim, eu poderia fazer as minhas fotos e Marcelo rodar por alguns lugares que eu já conhecia.

    Depois que deixei San Jose, peguei uma estrada de terra conhecida como Ruta das Missiones que chegaria a Samaipata, ao sul de Santa Cruz de la Sierra.

    Nome:      pent6907rrr_link.jpg
Visitas:     36
Tamanho:  12,4 KBNome:      pent6927rrr_link.jpg
Visitas:     36
Tamanho:  12,9 KBNome:      pent7999rrr_link.jpg
Visitas:     36
Tamanho:  19,6 KB

    Eu ainda não conhecia esta região ao sul de Samaipata, e combinei com Marcelo Resende um novo ponto de encontro, ao norte, na região da Achacaqui, em Copacabana. Até então, tudo certo.

    Lugares lindíssimos nas proximidades do lago ao sul de Oruro.


    Aí começaram os problemas

    Quando saí de Ocuri pela Ruta 6, uma estrada de rípio com muitos buracos, veio na minha direção uma camionete L200 da Mitsubishi. Assim que cruzei por esta camionete, a mesma parou, manobrou, e venho na minha direção.

    Como havia um homem da caçamba, e as condições da estrada eram péssimas, resolvi acelerar, não permitindo que a camionete se aproximasse, e passando-se alguns minutos, já não mais a avistava no meu retrovisor.

    Não posso afirmar que ali seria uma tentativa de roubo, mas foi muito estranho!

    Por volta das 14:00 cheguei em Antequera, onde parei para fazer umas fotos, não demorando mais que uma hora por ali, e retomei a minha rota, pois pretendia chegar em Oruro onde pernoitaria próximo ao lago.

    Retomei a Ruta 6, e próximo a Pocoata, a minha frente seguia uma camionete Isuzu. Ao ultrapassar esta camionete ainda cheguei a dar uma pequena buzinada agradecendo a passagem, pois a mesma teria chegado um pouco para a direita me abrindo o caminho.


    A Abordagem

    Depois de poucos minutos, observei um veículo que vinha em uma velocidade bem superior a minha, e fiz o mesmo, me posicionei mais para o lado direito da estrada a fim de facilitar a ultrapassagem.

    Para minha surpresa era a mesma camionete Isuzu. E para o meu susto, o carona e o passageiro do banco de traz me apontaram uma espingarda a menos de três de menos de distância.

    Não me restou alternativa a não ser parar, desligar a motocicleta e levantar as mãos.

    Eram cinco ocupantes que desembarcaram muito rapidamente da camionete. O primeiro que se aproximou, bateu no meu capacete mandando que eu saísse de cima da moto. Na minha frente, o homem que estava ao lado no motorista agora apontava a espingarda na minha direção.

    Ainda de capacete, parado ao lado da moto, observava quais seriam as orientações. O homem que estava ao meu lado me dizia algo e não entendia o seu espanhol. Um outro homem na minha frente, sinalizou para que eu tirasse o capacete, e assim o fiz. Assim que tirei o capacete o homem ao lado me deu um tapa na nuca e um outro se aproximou e gesticulou à minha frente mandando eu tirar a jaqueta. Nada pude fazer naquele momento, a não ser seguir cuidadosamente as orientações que me eram repassadas.

    Este mesmo homem ao meu lado, pegou o meu relógio e me pediu os meus óculos escuros. Tentei lhe explicar que o meu óculos escuro era de grau, e ele continuou gesticulando e gritando - “dar-me, dar-me”... Tirei o óculos e lhe entreguei nas mãos e em contrapartida, ganhei um tapa no rosto do homem que estava na minha esquerda.

    Nada pude fazer a não ser ver estes “fdp” saquearem tudo que ali comigo levava. Máquina fotográfica, uma quantidade de Real e Peso Boliviano, meu passaporte, cartão de crédito, documento da motocicleta, etc...

    Em um momento rápido cheguei em pensar em tentar tomar a espingarda do outro homem que estava nas minhas costas, mas me conscientizei que seria bobagem pois eles poderiam me matar ali mesmo.

    Quando eles tentavam abrir as minhas malas laterais (side case) se atrapalharam, e determinaram que eu mesmo fizesse a abertura. Ao me abaixar, tomei mais um golpe na nuca, mas preferi nem olhar pra traz.

    Depois que olharam o que tinha nas minhas malas laterais, levando a caixa de ferramenta entre outros objetos, pediram novamente que me levantasse e me afastasse da motocicleta. Naquele instante achei que o pior poderia acontecer. O homem que se aproximou primeiro, não devendo ter mais que 1,65m e 25 anos, desarmado, se aproximou e me deu um outro tapa no rosto. Nada fiz, sequer movi o rosto, apenas olhava-o nos olhos. Ele me perguntou o porquê de estar lhe olhando, e me deu um outro tapa.

    Neste momento o homem que estava a frente da minha moto com a espingarda em mãos deu uma espécie de voz de comando aos demais para que fossem embora.

    Quando vi todos entrarem na camionete e começarem a sair, o meu sentimento de medo, raiva e alívio se misturavam. Fiquei uns três minutos ali parado me recompondo. Fui até debaixo do para-lama dianteiro onde guardo minha chave sobressalente da moto, dei partida e segui para Oruro.

    A minha preocupação naquele momento era chegar em algum hotel para cancelar o cartão de crédito e tentar contato com Marcelo Resende avisando o acontecido. Ao chegar no hotel, pelo Skype da recepção tentei vários contatos com Marcelo, mas sem êxito.

    Expliquei a situação para o gerente do hotel, dizendo que não tinha meios e condições para pagar a minha estada naquele momento, mas se o mesmo me desse crédito, assim que fizesse contato com o Brasil, ou encontrando Marcelo Resende, eu poderia saldar com as minhas despesas. Antes mesmo do gerente me responder, um senhor ao meu lado, em inglês, me perguntou o que teria ocorrido, e lhe contei sobre o assalto. Este senhor, talvez com quase uns 70 anos, disse ao gerente que pagaria a minha estada. Este senhor, Jörn, um cidadão alemão, médico, que estava com o filho e nora conhecendo a região, além de arcar com a minha estada, me deu USD 200. Perguntei ao Jörn como poderia lhe devolver tais importâncias, mas Jörn se mostrou indiferente em receber o que naquele momento poderia ser parte da solução do meu problema.

    Peguei o email de Jörn e tenham certeza, que quando ele menos esperar, pedirei para algum amigo meu que more na Alemanha que lhe devolva estes valores. Mas a sua gentileza, é impagável!

    Enfim, hoje já no Brasil e em casa, e Marcelo Resende também em território brasileiro, ainda em algum lugar da estrada, talvez em Mato Grosso do Sul, onde iria se encontrar com o amigo motociclista, Marcio Roberto, posso agradecer a Deus por estar aqui compartilhando esta vivência com vocês.

    Uma lição de vida...

    Nome:      pent6908rrr_link.jpg
Visitas:     36
Tamanho:  18,4 KB

    Enquanto escrevia este relato, revivia a lembrança de cada passo. Sei que todos os bens, documentos, cartões de crédito, etc, posso providenciar o quanto antes. Mas a revolta dos tapas que tomei no rosto com os meus 50 anos, é muito difícil engolir! Em poucos segundos, ao escrever sobre a atitude deste senhor alemão, o Jörn, me faz acreditar cada vez mais, que apesar de um pequeno percentual da humanidade estar podre, existem pessoas como Jörn, que nos trazem esperança por cada quilometro rodado.

    Obrigado Deus, por estar aqui escrevendo esta mensagem, com toda a minha integridade física, próximo da minha família e amigos.

    Eduardo Wermelinger
    Última edição por Dolor; 31-07-12 às 00:41.

  2. #2
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728
    Uma experiência terrível que ninguém merece viver!

    Lamentável sobre todos os aspectos o que aconteceu com o Eduardo, da Rotaway, e triste de se sentir que não estamos muito longe disso também. Basta olharmos a quantidade de "carros escolta" que acompanham os caminhões de cargas pelas nossas estradas, sinalizando o problema que temos pela frente, além do noticiário diário do campo de batalha que virou o Brasil.

    Muita conversa, pouca ação e muita impunidade.

    Para onde está indo o nosso Brasil e nossa América Latina, se é que já estiveram algum dia em algum lugar que nos orgulhasse!

    Não é possível e a sociedade civil não pode tolerar, nem ficar impassível achando que não é com ela, quando uma parcela muita pequena, quase ínfima dela, anda pelos descaminhos muitas vezes sob o beneplácito da corrupção, possa ditar o toque de recolher da tranqüilidade da população ordeira e cumpridora das suas obrigações.

    Não podemos ficar reféns dos limites das nossas casas e muito menos prisioneiros de quem deveria estar atrás das grades.

    Quando leio este tipo de relato, que não é estranho e muito menos novidade para nós aqui dentro das nossas fronteiras, me horrorizo e penso que a nossa educação e cultura, fundamentadas no sentimento da tolerância, há muito deveria ter sido substituído pelo da punição.

    Infelizmente o sinônimo de punição no nosso país, se confunde com o de vingança, uma vez que não temos um estado punitivo e sim vingativo.

    Episódios como este tem acontecido, infelizmente, com freqüência no nosso Brasil que tem se especializado em combater efeitos e desprezar as causas.

    Vamos aproveitar este tipo de experiência terríve para ficarmos atentos, porque a violência está batendo nas nossas casas.

    E faz tempo!
    Última edição por Dolor; 31-07-12 às 11:32.

Permissões de Postagem

  • Você não pode iniciar novos tópicos
  • Você não pode enviar respostas
  • Você não pode enviar anexos
  • Você não pode editar suas mensagens
  •