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Coyhaique a Chile Chico - Parte 2
Publicado em 19 de junho de 2012 por Mundo de Moto
Em 11 de junho de 2012, segunda-feira, lunes no Chile, uma hora a menos que no Brasil, acordei no mesmo padrão sem pressa, sem estresse, café da manhã farto e com calma, decisão tomada, seguir para Chile Chico, me informei e existia na cidade escritório de companhias que faziam a travessia de ferry do Lago General Carrera. De Coyhaique eu teria que rodar até Puerto Ibañez, passando pela Punta del Diablo, trajeto de uns duzentos quilômetros, pegar o ferry e chegar em Chile Chico em aproximadamente duas horas. Caminhei pela cidade e não encontrei o escritório, voltei no hostel e me explicaram de novo onde era. Novamente fui, caminhei bastante e cheguei dando de cara com uma faixa escrito “Cerrado”. Abanei para uma pessoa lá dentro, que veio do lado de fora e com paciência me explicou que nesta época somente a empresa Sotramin fazia esse trajeto e onde estava localizada. Caminhei bastante, subindo uma ladeira pela cidade, comecei a suar cheio de roupas, mas encontrei a empresa, que me informou horário de saída, ou seja, 19 horas. Achei ótimo, pensei um pouco, comprei a passagem, minha e da moto.

Voltando na hospedagem, resolvi tirar uma foto de como são os pneus de carros aqui, cravejados para rodar com segurança no gelo, mas fazem um grande barulho rodando.
Estava com tempo sobrando, fiquei na hospedagem me arrumando, e na internet buscando informações, dando notícias pelo facebook, preparei a moto e me informei sobre o trajeto. Momento tenso da viagem, todos me dizem que tem escarcha na ida para Puerto Ibañez, ou seja, gelo na pista. Saí correndo pela cidade a pé, buscando as três lojas de peças de carros que existem, a fim de comprar a corrente líquida para pneus, mas nenhuma tinha disponível, tudo foi vendido. Confesso que fiquei um pouco nervoso, não tinha outra opção, me preparei, completei o tanque, equipamento vestido, passagens no bolso e máquina na estrada buscando o caminho de onde eu embarcaria no ferry. Saí de Coyhaique às 14 horas, para embarcar às 19 horas, alta margem de segurança.

Depois de alguns minutos na estrada, começo a subir, e subir aqui nessas estradas nessa época significa neve e gelo. E assim foi, curvas e a paisagem foi ficando belíssima, já pensei na hora que foi mais uma decisão acertada, trecho que recomendo, Coyhaique à Chile Chico ou vice-versa. Passei por diversos lagos congelados, mas não era uma casquinha de gelo não, pois numa parada para fotos joguei uma grande pedra no lago e ela saiu pulando e deslizando mas não quebrou o gelo. Claro que não ia ser tão simples assim esse trecho, sempre tem que vir uma emoção forte e uma dificuldade. Gelo na pista, todo cuidado, pilotando na ponta dos dedos, nenhum carro passando na estrada, ótima margem de tempo para não perder o ferry.

O visual nessa estrada é incrível, foi ótimo ter tempo, pois fiz diversas paradas para fotos e para admirar as montanhas nevadas distantes. Parecia uma pintura, um quadro, uma obra de arte. Mas essas paradas para fotos exigiam uma habilidade extra, pois eu tive a sorte de na pista congelada, ter um pequeno trilho que algum caminhão ou carro que passou antes fez, mas para tirar foto eu tinha que passar pelo gelo e ali estacionar. Certos lugares como esse, sempre deixam um gostinho de quero mais. São daqueles que você fica olhando, olhando, olhando e nunca se satisfaz, tenho esse sentimento.
Cheguei ao trecho em descida com diversas curvas, paisagem coberta de neve, nova parada, e de novo aquela emoção de atingir um lugar incrível e o melhor é que esses trechos nem programados são, apareceram de surpresa, revelados depois de uma montanha, depois de uma curva. Tudo que surpreende positivamente é muito melhor do que algo bom, mas já esperado. Dessa vez o gelo não me derrubou, o trecho foi bem menor e com trilhos, se comparado com a saída de Chaitén.

Segui rodando até chegar a Puerto Ibañez, cidade de ruas contadas nos dedos das mãos, poucas pessoas nas ruas, mas um fantástico final de tarde nas margens do Lago General Carrera. O ferry já estava no porto, apesar de faltarem ainda mais de duas horas para a partida. Não existe, pelo menos nessa época do ano, um escritório da Sotramin, empresa que faz a travessia no ferry, perguntei e o atendimento é dentro de uma lanchonete, onde fiquei as esperando a hora do embarque, aquecido pela lenha queimando. Mas o fim de tarde estava convidativo, o lago estava lindo, caminhei pela orla, fiz diversas fotos, curti demais o visual do pôr do sol nas montanhas, muito bem abrigado por todo meu equipamento. Ventava demais, nem preciso dizer que o vento era cortante, geladíssimo, parecia até que eu sentia o cheiro de neve no vento que passou pelo topo das montanhas, mas já acho que era delírio meu após o excesso de neve e gelo.

No momento de embarcar no ferry, como na outra vez, me deixaram por último, mas fiquei ali curtindo ver os carros e caminhões embarcarem, o vento fazendo todos correr para a parte interna. Esse ferry é maior que o que me levou a Chiloé, pois é um trajeto de duas horas, então ele tem dois andares, na lateral, fechados, com mesas e poltronas, TV com vídeo, mas sem wi-fi. No meio do lago, subi na parte externa, pois o lago estava com algumas ondas e senti o ferry batendo na água, fiquei curioso de ver a escuridão do imenso e gelado lago, sentir o vento e a água respingando. Como sempre, todos perguntam de onde vem, para onde vai e sempre faço amigos. Combinei de sair do ferry com um grupo de três amigos que vinham trabalhar no reparo de antenas de telefonia móvel, para nos hospedarmos na pequena Chile Chico. O desembarque foi às 21 horas.
No posto Copec, único da cidade, perguntei se aceitavam pagamentos com cartão de crédito, a resposta foi negativa. Eu tinha cartão de crédito, reais, 6.200 pesos chilenos e um tanque vazio. Ruas desertas da cidade, mas logo encontramos uma hospedagem, que eles decidiram que era suficiente e econômica, sem nem mesmo pesquisar por outras. Custo da noite, com café da manhã, seis mil pesos, e fui convidado pelos amigos para me deliciar com pizza. Bem, achei que estava tudo resolvido, abrigo, alimento, amigos, valor exato para pagar a hospedagem, dia seguinte eu pensaria na continuação, então foi banho e uma noite de sono.
Última edição por Dolor; 27-06-12 às 22:24.
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Márcio, não há como negar a tua valentia e consequente coragem!
Parabéns por esta experiência incrível, como num "trailer" da proposta dos Fazedores de Chuva, para o Grande Cacique Fazedor de Neve, que é visitar os estados da Terra do Fogo e do Alasca, durante o inverno, valendo ainda, os últimos trinta dias do outono e os primeiros trinta dias da primavera.
Incrível como já estás pronto!
Aproveitando, gostaria de saber um pouco mais sobre a "corrente líquida" para os pneus.
Abraços
Dolor
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Chile Chico a C. Rivadávia
Publicado em 22 de junho de 2012 por Mundo de Moto
Em 12 de junho de 2012, amanheceu um dia daqueles que me deixam feliz, céu azul naquela cidade à beira do lago. O Lago General Carrera é enorme, o maior do Chile, mas uma parte dele está na Argentina, e lá se chama Lago Buenos Aires, a superfície dele tem 1.850km2 e chega a 590 metros de profundidade, maior que ele na América do Sul, apenas o Titicaca, que ainda espero conhecer.

Pulei da cama mais cedo, percebi o movimento dos amigos se preparando para partir e tomei café com eles. Despedidas e desejos de boa viagem, entreguei meus seis mil pesos a dona da hospedagem, me restaram duzentos pesos, duas moedas de cem, ou seja, um real. Sim, isso mesmo! Não errei a conversão, cheguei à saída do Chile com exatos um real, por um lado era ótimo, tudo que saquei foi usado no limite correto, mas o imprevisto, que sempre acontece, afinal não sou profeta para prever tudo, era o fato de eu ter encontrado o primeiro posto de combustível chileno que não aceita cartão de crédito nesse dia.
Esta noite novamente, no padrão de confiança chileno, deixei tudo na moto, ressalto isso sempre, pois tenho algumas coisas embaixo do banco da Citycom fechadas à chave, mas todo o resto, malas laterais, barraca, saco de dormir, tudo fica preso apenas com elásticos e qualquer um pode pegar e levar enquanto durmo, mas nunca aconteceu e a moto passou a noite nos fundos da hospedagem.
Equipamento vestido, fui de moto até o mirante da cidade para sacar belas fotos e apreciar a manhã. Como em quase toda cidade do sul do Chile, em razão do frio e falta de aquecimento a gás, percebe-se no ar a fuligem da queima de lenha para aquecimento das residências. Sempre nesses momentos à vontade é passar ali o dia apreciando. Tudo isso que o homem não constrói me impressiona. Algumas pessoas gostam de ver prédios, museus, igrejas e esculturas. Eu vejo também e aprecio, mas não me prende, agora certamente uma paisagem dessas me hipnotiza.

Desci do mirante e na avenida principal da cidade, encontro um senhor descendo de uma van com escritos que indicam fazer turismo entre Argentina e Chile. Pergunto para ele sobre casas de cambio, bancos e postos de combustíveis na cidade fronteiriça Argentina chamada Los Antiguos. Em Chile Chico, impossível, trocar reais, sacar dinheiro com cartão de crédito e abastecer a moto, então, decidi ir com a gasolina que me restava até o país vizinho. Ficou a maravilhosa lembrança do Chile, estava ali me despedindo desse país de pessoas honestas, gentis e que sabem como receber. Saí do Chile, depois de conhecer de norte a sul de leste a oeste, nessa e em outras viagens que fiz, faltando somente um lugar, que talvez um dia a oportunidade surja, e me leve até lá, o Parque Torres Del Paine.
A passagem na fronteira foi super fácil, tranqüila, saída de um e entrada noutro, rodei mais uns milhares de metros e cheguei à cidade de Los Antiguos, direto no posto de combustível. Surpresa, não aceita cartões de crédito.
Fui então ao único banco da cidade, uma fila gigante, mas fui direto ao gerente que me sugeriu tentar o saque de pesos com cartão de crédito no caixa eletrônico, não consegui e voltei, ele disse que iria me ajudar, mas o banco estava tão cheio que me cansei de ficar ali. Ao sair falei com um senhor do lado de fora, perguntando se alguém fazia cambio, e ele sugeriu que eu fosse até um restaurante falar com o proprietário que costumava fazer cambio para turistas. Fui e a solução foi passar 330 pesos no cartão e receber 300 pesos em dinheiro, suficiente para seguir com folga. Abasteci no único posto da cidade, tanque cheio, pesos argentinos no bolso, segui rodando mais uns 50 km e cheguei a Perito Moreno, paro num posto BR e completo o tanque pagando com cartão. Na Argentina existe sempre o temor de pagamento somente em dinheiro.

Lago General Carrera no espelho rodeado de montanhas de picos nevados, já passava das 13 horas e tinha pela frente mais de 500 km até Comodoro Rivadávia, meu objetivo do dia. Nesse trecho foi nítida a chegada na Argentina. Para quem já rodou nesses dois países de moto, e tem certa percepção, nota que até o cheiro muda, as retas nas estradas, os ventos, estrada pista simples.
A estrada pista simples oferece uma dificuldade a mais. Quando um caminhão cruza no sentido contrário, pelo fato de todos serem enormes e rodarem sempre acima de 100 km/h, o vento que eles produzem me faziam quase sempre perder 10 km/h de velocidade e ainda levar um soco de vento e isso independe da moto utilizada, mas quanto mais proteção aerodinâmica ela tiver, melhor, pois ela sofre o impacto e você cansa menos, ainda assim, eu cuidava em me equilibrar bem e até mesmo já inclinar a moto um pouco para dentro da pista, pois o vento te joga para fora. Isso pode ser agravado se já existir um vento contrário natural, ou reduzido se o vento estiver a favor. Quem já rodou de moto acima de 200 km/h, sabe que o vento exerce uma força que nos exige fisicamente, e em diversas situações, somando o vento contrário do caminhão ao da velocidade da moto, chegamos a mais de 200 km/h de vento com facilidade, e isso de forma repentina, como uma parede de vento, repetida vezes. Pista dupla com uma proteção central tem diversas vantagens além de segurança, na moto cansam menos, não prejudicam o consumo e velocidade como as pistas simples.
Nessa região abasteci a 4,7 pesos o litro de gasolina, utilizando sempre a mais barata, que aqui chamam de super. O manual da motocicleta faz apenas uma recomendação, boa gasolina e sem chumbo, o que esse combustível estava suprindo, e com uma diferença grande para a gasolina brasileira, aqui não há aquela adição de álcool e com octanagem mais alta.
Tempo bom, dia bonito, estrada boa, apesar de simples, o incomodo era apenas eventualmente um vento lateral agravado pelo vento contrário de outros veículos grandes. Como era um trecho sem atrações, não parei para fotos, acelerei para chegar a Comodoro pegando o mínimo possível de noite, fazendo apenas paradas para abastecimento. Não foi necessário usar gasolina extra, encontrei postos que aceitavam cartão de crédito, tudo tranqüilo. O que me desanimou um pouco foi que toda entrada e saída das cidades que ficavam nesse trecho eram cercadas por lixões, mas não aterros sanitários, eram quilômetros de lixo espalhado e voando. Esses detalhes são imperceptíveis em nossa rotina, lembrei do Brasil, de Florianópolis e diversas outras cidades que são assim também. Elas podem até ter atrações que muitas vezes o turista nem alcança, mas eu já sinto uma decepção, um desânimo na entrada feia.

Depois de rodar bastante chego novamente ao oceano atlântico, ou seja, pela oitava vez cruzei a Argentina toda de leste a oeste e a Citycom cruzou a América do Sul de leste a oeste duas vezes, na ida e na volta. Estou então na ruta 3, tradicional estrada que leva a Ushuaia, tomo o sentido norte em direção a Comodoro Rivadávia, uma parada para foto nas quase infinitas praias de pedras.
Estrada com muita ondulação, e comecei a rodar até mesmo numa velocidade menor que alguns caminhões, pois estava com tempo, cheguei ao oceano atlântico ainda com final de dia, e estava próximo da cidade, sem pressa, mas foi necessário administrar a passagem pela estrada em condições ruins com a velocidade segura no meio dos caminhões, que são fartos na região produtora de petróleo. A vantagem é o valor do combustível, que na cidade cheguei a encontrar por 4,1 pesos.
Já estive nesta cidade em outra viagem e meu interesse era apenas pernoitar, só não contava com o alto valor das diárias, rodei bastante até o centro da cidade e diversas voltas até decidir pela melhor opção de hospedagem, por 150 pesos, calefação, internet, banho privado e sem café da manhã. A moto dormiu na frente da hospedagem e eu fui ao supermercado comprar um lanche. Sentei na parte de restaurante da hospedagem, claro que conversando com as pessoas que lá estavam, e depois de ter feito meu lanche, um dos amigos que estava conversando foi buscar uma pizza, disse que pediu pequena, mas lhe deram uma grande então compartilhou comigo. Segunda noite seguida de pizza, mas eu adoro e pode mandar a terceira que eu me agrado, ainda mais a convite.
Mas a diferença de Chile para Argentina já se faz presente na chegada, além da estrada simples em más condições, entradas de cidades sujas e feias em relação as chilenas, na hospedagem você tem que pagar na entrada, e mesmo com a experiência anterior eu fiz isso, cheguei no quarto e lá a internet não pegava, apesar de eu perguntar, calejado que estou com esse fato, e recebi a afirmativa da recepcionista. Toda bagagem da moto estava já no quarto, eu tinha trocado de roupa, estava quentinho, não perdi meu tempo reclamando, sentei na sala onde pegava e cansado fiz o uso mínimo da internet, pois queria ir descansar. Aqui, além de tirar tudo da moto, fui questionado dezenas de vezes se a moto iria dormir na rua, eu respondia sempre que sim, mas eles revelam que moto que dorme na rua não amanhece no mesmo lugar no dia seguinte. E assim é o bem vindo à Argentina, ruim, caro, inseguro e nada simpático.
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C. Rivadávia a Trelew
Publicado em 24 de junho de 2012 por Mundo de Moto
Em 13 de junho de 2012, amanheci na capital do petróleo argentino, Comodoro Rivadávia, sem pressa nem despertador, comecei a vestir o equipamento e arrumar as malas. Como no quarto não pegava o sinal da internet, fui à sala da hospedagem para ainda responder emails, postar dados, mapas no site e outras atividades. O quarto tinha boa calefação então não senti o frio, mas fui surpreendido pela neve que caía, ao olhar pela janela.
Claro que minha companheira me aguardava firme e forte na porta, ninguém teve a ousadia de tocar ou levar ela para longe de mim. Passava das 10 horas da manhã e claro que como eu estava na Argentina, logo veio àquela pergunta: “O senhor vai se hospedar mais um dia?”, pois eles sempre exigem que mesmo que não haja nenhum outro hóspede, que você entregue o quarto às 10 da manhã, não importa se cheguei às 9 horas da noite, que a internet prometida não funcionava e nem que paguei antecipado.

Peguei todas as minhas coisas e botei na sala, liberei o quarto, e fiquei usando o computador. Pensei que a neve fosse para ou diminuir, mas ela aumentou, o frio seguiu intenso, pensei em ficar mais um dia aguardando, mas queria voltar ao Brasil. A moto já estava de tanque cheio, montei a bagagem e parti já passada às 13 horas. Encontrei fácil a saída da cidade e mesmo nevando peguei a estrada. Um fato complicador na pilotagem na neve, é que ela cola na viseira, não escorre, e não sai fácil nem mesmo passando a luva. E a estrada seguia ondulada, pista simples e escorregadia, e com acostamento de lama, só não era pior que o da Ruta 14 onde atolei ao sair da pista.
Percebi que a neve estava forte, que a pista realmente estava com muita neve e eu iria subir para um trecho mais alto, então avistei um carro 4×4 no acostamento, com dois homens trocando o pneu furado, parei para falar com eles que afirmaram que era bom pegar uma informação com a polícia sobre a passagem à diante, se estava aberta, pois eles não tinham vindo do mesmo sentido que eu ia. Então voltei uns 10 km até o posto da polícia. Informaram que havia bastante neve, mas que uma máquina limpava a pista e que era possível passar com cautela. Na frente do posto policial havia um posto de combustível BR, onde completei o tanque e o galão extra. Voltando à pista outro policial no mesmo posto me para, e vê que sou brasileiro e começa a contar que esteve no Brasil, me falas umas palavras em português, pergunta de onde sou e para onde vou, e isso tudo, seguindo o padrão argentino, eu parado no meio da pista, uma fila de caminhão atrás e ele de papo furado me atrasando. Quando eles vão aprender a pedir para as pessoas encostarem o veículo no acostamento? Talvez depois que construírem o acostamento.

Eu estava totalmente decidido a seguir viagem e assim fiz, a estrada ficou totalmente tomada de neve, ainda ganhei um pouco de altitude, frio fortíssimo, neve caindo e apesar do pouco movimento, talvez por já passar da metade da tarde, havia um trilho na neve, eu rodava onde as rodas dos caminhões passaram, a uma velocidade entre 50 e 60 km/h e sempre temendo o gelo no piso. Muito diferente da neve, que funciona como uma areia e tranca o avanço da moto, também desliza, mas não como o gelo no piso que torna quase impossível rodar por deslizar demais.
O cenário era incrível, branco de todos os lados, inclusive em cima e embaixo, impossível de ver o começo e o final da estrada. Para minha surpresa avistei um carro indo na minha frente e decidi que manteria uma distância segura e ele serviria de guia, sem dúvidas a roda dele iria abrir um caminho mais novo, e eu iria perceber as condições da pista com o aumento ou redução da velocidade dele. Preocupava-me o avançar das horas, o frio em excesso, a baixa velocidade, e eu ficava aguardando o momento em que eu sairia da neve, em que aquilo iria passar, em que eu poderia rodar a pelo menos 90 km/h, pois a próxima cidade estava a 300 km de distância, e já passando das 14 horas nessa velocidade a estimativa de chegada seria às 20 horas, ou seja, continuar assim era impossível pois noite ali era certeza de hipotermia, e ainda um problema mecânico sem dúvidas levaria a situação de abandono da moto e pedir carona para fugir do local.

Se eu conseguisse gravar tudo que eu penso na estrada seria ótimo, pois é muito mais interessante que dados técnicos e relatos de frio e calor e estado de estrada. Mas ainda sinto essa dificuldade de transpor aqui depois de chegar ou depois de dias dos fatos. Mas o pensamento de abandonar a moto sempre esteve comigo, por estar só, noite chegando cedo, frio extremo, estrada sem movimento, sem socorro, e no caso da Carretera Austral no inverno, uma selva congelada, salvar-se é sempre a prioridade.
Percebi que o carro começou a reduzir demais a velocidade, me aproximei, senti que estava tudo bem com a estrada, não entendi o motivo e mesmo sem querer fui obrigado a passar vendo o carro com duas pessoas dentro, falhando e aos trancos. Continuei observando pelo espelho e o carro parou no meio da estrada. O motorista abriu a porta e saiu, deu uns socos no carro no mesmo tempo que dei uns tapas comemorativos na Citycom, pois o carro falhou e nós passamos, seguimos, eu e ela, uma Scooter, uma moça jovem e forte.
Raras vezes eu vi o indicador da temperatura do líquido de arrefecimento indicar redução de temperatura, ela é sempre muito equilibrada e trabalha na mesma temperatura, sempre a ¼ acima do mínimo, mas hoje estávamos até com neve no radiador, que é baixo, próximo ao solo e roda dianteira.

Rodei bastante nessas condições, mas a estrada começou a descer e aos poucos a neve foi parando. Parei num posto, que não aceitava cartões de crédito, completei o tanque, e entrei na loja de conveniências para descongelar. Pedi o tradicional submarino argentino, muito quente e o melhor de tudo é agarrar a caneca com as duas mãos. Comi uma barra de chocolate e outro submarino. Cada um que entrava na loja se espantava e invariavelmente perdia uns segundos no frio observando a moto, vinham falar comigo e perguntavam do frio, de onde vem para onde vai. Fiquei quase uma hora lá dentro me aquecendo. Verifiquei que passava um pouco das 17 horas, noite caindo, e tinha ainda exatos 200 km até a cidade de Trelew, sem dúvidas o lugar eleito para pernoitar, já saindo do propósito de não rodar à noite.
Um dos que conversaram comigo na loja era caminhoneiro motorista de uma cegonha e ofereceu-se para colocar a moto em cima e que eu fosse de carona com ele, mas agradeci, vesti balaclava, luvas, capacete e paguei a conta de mais de 50 pesos, mais caro que muitos almoços e jantas, mais caro que o abastecimento. Segui tranqüilo, à noite, rodando a 110 km/h, sem problemas algum cheguei a Trelew, onde busquei hospedagem e ainda uma cidade com altos preços para a média que eu vinha pagando, depois de passar por quatro encontrei um satisfatório por 130 pesos.
O garoto da recepção tinha uma moto Ybr 125 fabricada no Brasil, e o incrível é que lá ela é vendida por menos que no Brasil, mas ainda assim, nesse ano passou a ser fabricada pela Yamaha da Argentina. Ele foi bem gentil, informou que a internet não alcançava o quarto e eu mais calejado foi enfático na pergunta, me auxiliou a subir com a bagagem da moto, pois ela dormiria na frente da hospedagem e de novo eles apavorados com isso. Em um momento eu estava ainda na recepção e a proprietária entrou perguntando sobre o que eu faria com a moto, eu sempre afirmando que ficaria onde na beira da calçada e ela pediu que ao menos, enquanto eu preenchia dados para hospedagem, eu fosse à moto retirar a bagagem. Chegando lá, dois policiais já me aguardavam intrigados com a moto carregada de coisas e com a filmadora, e me informaram que era inseguro deixar ali, achei engraçado a própria polícia te avisa que não tem segurança, só faltava me multar por estacionar na rua. O garoto gentil então me avisa que às 24 horas ele sairia e deixaria o cadeado que atava a moto dele ao poste para que eu fizesse o mesmo com a minha, e assim fizemos às 24 horas, pois depois de um banho quente no quarto fiquei na recepção usando a internet.
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Trelew a Luján
Publicado em 26 de junho de 2012 por Mundo de Moto
Em 14 de junho de 2012, dei início aos preparativos para saída de Trelew já pelas 10 horas da manhã, novamente como no dia anterior fui perguntado se permaneceria um dia a mais e neguei, usei a internet na recepção para mais atualizações, coloquei as coisas na moto, que como todas as outras vezes estava me esperando perfeita, e mais uma vez pagamento em dinheiro da hospedagem, o que me fez ficar sem pesos. Na cidade postos aceitavam cartões, mas não queria arriscar ir para a estrada assim, sem dinheiro e então fui ao banco. A conclusão é que reais por pesos só mesmo em Buenos Aires e Santiago, e que banco na Argentina tem tanta fila ou mais que no Brasil. Na Argentina, horário de banco é pior ainda, chegaram às 13 horas e eles fecharam, pensei que era para o almoço, mas não, só abre no dia seguinte mesmo.
Fui tentar então num posto YPF, agora estatizado pelo governo, abastecer com cartão e pedir para voltar um troco. Negado. Se fosse fácil não ia ter graça. Fui saindo da cidade, tanque vazio e vejo um posto BR. Expliquei ao frentista e ele disse que sem problemas, enchi o tanque, passamos mais pesos no cartão, botei no bolso e toquei pra estrada já passada às 13 horas.
Contando essa passagem agora, já terei cruzado a Argentina oito vezes de leste a oeste e três vezes de norte a sul, então meu objetivo depois de sair de Chile Chico, minha última cidade na Carretera Austral e no Chile, era pilotar para o Brasil curtindo somente o prazer de acelerar a City por estradas internacionais. Quando cheguei a Coyhaique, depois do pior trecho da Austral, comemorei e pensei que agora era tocar para Brasil na ponta dos dedos, só seria necessário cautela e atenção. Mas justamente eu, que não gosto muito que perguntem para onde vou ou de onde venho, pois tenho dificuldade na resposta, estava com esse sentimento de vitória antecipada demais. Recuso-me a fazer uma viagem com um destino como objetivo, a viagem é a ida e volta completa, eu não fiz uma viagem ao Chile, eu fiz uma viagem que passou por dezenas de maravilhosos lugares, uma viagem sem um destino, onde todas as noites, geralmente perto das 24 horas, decidi que rumo tomar no dia seguinte, passar pela Austral, era sim um dos objetivos da viagem, junto com tantos outros. Conheço pessoas que vão a Ushuaia e voltam em 15 dias, ou seja, a atração foi o asfalto e o objetivo chegar lá no lugar definido. Se for apenas para rodar e curtir asfalto, nada melhor do que ficar rodando na quadra de casa.

Fui obrigado a me recordar que dificuldades podem surgir até o momento de entrar na garagem pela última vez, que a viagem não acaba na metade, que podemos nos surpreender quando menos esperamos por momentos bons e difíceis também. Recordei que no primeiro dia depois de Coyhaique, passei com gelo na inesperada Cuesta Del Diablo, que na Argentina peguei uma inesperada nevasca, e isso tudo depois da “impossível” Carretera Austral.
Qual a opção então? Apesar de ter várias a única que eu aceitava era então comemorar todo dia! E assim fiz ontem à noite quando depois de passar pela nevasca, gelo, neve, tantos me botando medo, como foi em todos os outros momentos, cheguei à noite em Trelew com tudo perfeito, sem problemas, sem pneu furado, sem falta de combustível, sem tombo, sucesso! Soco no ar, grito no capacete! E nesse dia 14, tomei a estrada com esse objetivo, seja qual for o obstáculo, chuva, vento, frio, calor, pista ruim, à noite estarei comemorando.
E sabe o que aconteceu, não choveu, não nevou, segui na pista simples sem dificuldades, sem sono, sem fome, sem pressa, sem problemas mecânicos, sem problemas com polícia, então foi esse o dia de levar na ponta dos dedos, levar a criança pra casa. Entrei pela noite pilotando até chegar, depois de aproximadamente 550 quilômetros, na cidade de Viedma.
Entrando na cidade comecei a pesquisar pelos hotéis, sempre na faixa dos 200 pesos para cima, o que eu estava decidido à não pagar. Rodando pela cidade uma rapaz de moto se aproxima e me pergunta se estou procurando hospedagem, me guia até uma e me passa os telefones e email dele para caso eu precise de algo. O valor pedido era 140, fechei por 120, com café, garagem, internet no quarto, banho quente e calefação, claro que isso nas palavras do senhor da recepção. Adivinha! Lógico que no quarto mal pegava a internet, mas dessa vez eu não aceitei pagar antecipado. Banho e sai para comer algo, caminhei bastante até a praça e sentei num bar muito legal, onde claro, passava futebol e os argentinos a cada minuto faziam “uuuhhhhh” e “uuuhhhhh” de novo nos “quase gols” do Boca. Comi muito bem e caminhei de volta, dessa vez dormindo antes da meia noite, moto na garagem e pela primeira vez neste país dormiu com bagagem embarcada. Esse dia monótono, que eu tanto aguardei me desagradou e pensei que pro seguinte eu tinha que aprontar algo, estar dormindo mais cedo já me trouxe idéias. Dia sem fotos.
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Trelew a Luján - Parte dois
Publicado em 26 de junho de 2012 por Mundo de Moto
Em 15 de junho de 2012, acordei aproximadamente oito e meia, sem despertador, mas tomado pela idéia da noite anterior, café e outras atividades como se vestir, hoje foram mais rápidas, guardei na moto somente o tênis, o jeans e as coisas de banho, fui fechar a conta e falei da falta de internet, pedi desconto favorecido por não ser o mesmo recepcionista da noite anterior e bati o martelo nos 100 pesos a noite, pagamento em dinheiro. Agora aprendi.
Moto na rua e pensei que começamos bem hoje. Nada de correria, busquei um posto que aceitasse cartão de crédito e encontrei um BR a caminho da saída da cidade, tanque cheio, pego a saída velha da cidade que passa por uma ponte feita para trens, com um trilho no meio e isso exige bastante cuidado, claro que ninguém pensa na moto quando constrói ruas, estradas e outros caminhos, ali era tocar no trilho e cair, mas passei tranqüilo e antes das 10 da manhã estava a caminho de uma cidade mais ao norte da Argentina.
A idéia de hoje, já que ontem foi monótono, apesar de comemorável, foi fazer mais um teste com a Citycom. Defini uma espécie de hat-trick para essa viagem, ou seja, que ela durasse mais de 30 dias, que rodássemos mais de dez mil quilômetros e que fizéssemos num dia, mais de mil quilômetros. A expressão “hat-trick” tem origem inglesa e remete a um antigo truque de mágica onde o ilusionista tirava três coelhos de uma cartola. Hoje é usada em diversos esportes, como no futebol, quando se marca três gols numa partida, ou em corridas de carro, quando o piloto marca a pole-position, a melhor volta e ainda vence a corrida.
E assim fui de mão no fundo, cabo enrolado, mais de nove mil quilômetros depois da última revisão, quando a fábrica recomenda a cada três, desde Santiago sem troca de óleo, eu exigi mais essa da City. O consumo caiu para próximo dos 20 km/l, um pouco de vento contra, 120 km/h de média, algumas paradas em postos de combustíveis onde não aceitavam cartão de crédito me custaram alguns minutos, mas cheguei à Bahía Blanca, 300 quilômetros depois, aproximadamente às 12 horas e 30 minutos, encontrei um posto YPF lotado, onde abasteci pagando com cartão e entrei na loja de conveniências. Muitas pessoas estavam almoçando uns enormes pratos muito apetitosos, chamei a garçonete e pedi meu “lomo napolitana com papas fritas” igual ao da mesa em frente. Não me lembro de em nenhum momento ter almoçado, mas ali foi irresistível. Maravilhoso, depois para beber e não combinando nada, um submarino argentino, isso é chocolate quente. Saí de lá de tanque cheio, eu e a moto, aquecido, alimentado e me sentindo forte para mais 700 quilômetros. O relógio marcava treze horas e trinta minutos. Estava muito frio, mas não aquele freezer na última regulagem como lá no extremo sul, aqui pelo fuso horário ganhei uma hora e ainda pelo fato de já estar mais ao norte, à noite já tardava um pouco mais a se apresentar.
Com 800 quilômetros rodados no dia, à noite chega de forma completa, numa estrada de pista simples, com movimento por estarmos nos aproximando da capital e já estar na província de Buenos Aires. Aqui posto de combustível não é mais problema e todos aceitam cartão de crédito. Botei minha gasolina extra no tanque para reduzir peso.
Reduzo um pouco a velocidade. Ainda à noite paro para abastecer, mas logo que saio fico com muita sede e paro novamente para beber uma Coca-Cola. Nessa parada, não tirei capacete nem balaclava. Peguei um canudo e enfiei por baixo da balaclava e assim fiquei sentado um pouco na loja de conveniências do posto. Vantagens de um capacete com queixo articulado é poder abri-lo nesses momentos, e isso fiz muito em postos, hotéis e agora nem pra beber tirava mais. Pensei que, já que era noite, o que ia mudar 10 minutos a mais ou a menos, melhor pilotar sem sede, sem fome, de tanque cheio, com uma única obrigação e totalmente focado na atenção. Aqui novamente percebo outra frase que sempre digo, “o perigo são os outros”, pois alguns motoristas de carros, por conhecerem a pista, por terem melhor iluminação, por não estarem rodando a 800 quilômetros num dia, por não estarem se obrigando a tanta responsabilidade como eu, por terem seguro, por terem a quem recorrer em caso de problemas e também por às vezes pensarem que são o Juan Manuel Fangio, dirigiam numa velocidade incompatível com a pista e eu tinha que estar atento então com o que vinha na frente e atrás.
Como estava decidido, e como não gosto de deixar o serviço pesado para depois, pois no dia seguinte meu objetivo seria entrar no Brasil e teria que passar fronteiras, fui insistente em fechar o dia de hoje com nada menos que mil quilômetros, e isso aconteceu na cidade de Luján. Parei já por volta das 21 horas, procurando hospedagem, encontrei a praça principal da cidade, muito bonita, com uma basílica enorme e na frente um hostel de um motociclista. Recebeu-me muito bem, pediu 80 pesos com café e internet, expliquei da viagem, perguntei se poderia pagar com cartão o que ele negou e me perguntou de onde eu tinha vindo hoje. Apostei com ele, que se ele acertasse pagaria os 80 e se ele errasse ficaria ali por 70 pesos. Ele errou e se surpreendeu com a distância. Botei minhas coisas no quarto muito grande, com sacada de frente para a linda praça e basílica, hostel muito legal, internet funcionando perfeitamente, o motociclista me recebeu com muita simpatia, me ajudou com a bagagem, um preço ótimo, moto embaixo da sacada sob meus cuidados, noite linda. Até que enfim Argentina! Era disso que eu falava o tempo todo. Era isso que eu queria, existe e se está funcionando é porque é possível atender assim. Esse merece e aqui está o site do hostel para quem passar ou for visitar a cidade: www.estacionlujanhostel.com.ar. Sobre a basília de Luján, vale conferir fotos e dados aqui na Wikipedia: http://es.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%..._de_Luj%C3%A1n
Depois do banho quente saio a pé e vou a uma pizzaria bem simples, pedi uma pizza grande, mas só comi a metade, na hora de pagar não tinha cartão, então lá se foi quase todo dinheiro. Sim, antes eu perguntei se tinha, mas o meu é Master e pensaram que era Visa. Perguntam de onde sou, explico algumas coisas, na grande tela do computador abrem meu site, outros que estavam ali ficam admirados também, e ai a conversa vai e vem, chega às 11 da noite e começamos a falar da presidente Cristina Kirchner. Visível que a população mais pobre gosta dela, apesar da subida de preços, eles dizem que agora podem comprar, incentivados pelos programas de assistência social. Consigo dar um fim no papo que estava ótimo como a pizza, e apesar do grande trabalho ter sido feito hoje com sucesso, o dia seguinte me reservava 700 km até o Brasil.
Preciso dizer que comemorei? Preciso dizer que a Citycom é fantástica? Estou cansado? Não! Tive algum problema mecânico? Não! Chegando ao hostel vejo a City na calçada e dou um sorriso para ela que me olha com cara de feliz, e parece me dizer: “Sou como você, duvida de mim para ver!”
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Luján a Uruguaiana
Publicado em 4 de julho de 2012 por Mundo de Moto
Em 16 de junho de 2012, depois de tomar um bom café, arrumar a bagagem, vestir o equipamento, montar bagagem na moto, pedi para o motociclista proprietário do hostel tirar uma foto minha na frete da Basílica de Luján, acertar as contas, o horário já avançava pelas onze.

O tanque estava já na reserva a alguns quilômetros e saí em busca de um posto com cartão de crédito, o que me sugou ainda uns minutos. Achei um posto na saída, tanque cheio e pago, dia lindo de sol, moto na estrada.
Objetivo do dia já estava definido e foi conquistado no dia anterior com a alta quilometragem percorrida por antecipação. Hoje aproximadamente 650 quilômetros me aguardavam até Uruguaiana, já no Brasil. Claro que eu pretendia sair mais cedo hoje, mas acordei tarde, pois dormi tarde e já sabia que pegaria noite na estrada novamente, pelo sexto dia seguido. Saída em direção norte, depois de 60 mil metros, passei pela cidade de Zarate e entrei na Ruta 14, uma reta costeando a face oeste do Uruguai, com asfalto perfeito, permitindo uma boa média de velocidade, com segurança e sem necessidade de pagamento de pedágios para motos.
Depois de rodar sem tirar fotos, moto ligada no modo “me leva pra casa”, paisagem sem graça, cheguei a Concórdia, ainda na Argentina, onde decidi me despedir desse país e entrar no Uruguai. Parei no posto e completei o tanque da moto e ainda o galão extra de 6 litros, fiz um lanche na loja de conveniências e mesmo assim restaram alguns pesos. Melhor assim por segurança. Decidi comprar gasolina extra, para chegar a Uruguaiana sem abastecer mais, e sem precisar comprar a gasolina caríssima do Uruguai e sem precisar trocar dinheiro.
Saindo da Ruta 14, rodei um pouco em direção leste, encontrei as aduanas e fiz rapidamente os trâmites de saída da Argentina e entrada no Uruguai, sempre sem passaporte. Final de tarde chegando e a paisagem no Uruguai é interessante, lindos campos, sol se pondo, estrada pista simples em razoáveis condições. Esse trecho é exatamente o mesmo que fiz no começo da viagem, quando fui de Salto a Uruguaiana fazer a carta verde. Ruta 3, deserta, só eu.
Ainda com um restinho de claridade no céu encontrei a aduana de saída do Uruguai, faço os trâmites e como a moto já estava na reserva coloquei o combustível que levava extra no tanque, que passa a marcar acima da metade, suficiente para chegar a Uruguaiana, no rio Grande do Sul. Na aduana do Brasil, que nessa fronteira não é unificada, passo direto, pois sou brasileiro.
Mais um momento daqueles de olhar para o retrovisor e ver um mundo que passou por ali, lindo, mais um momento daqueles de flashbacks mentais, maravilhoso. Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Cordilheira do Andes, Viña del Mar, Aconcágua, Santiago, Pucón, Carretera Austral. Geleiras, vulcões, gelo, neve, lama, vento. Vinícolas, praias, rios, desertos e selvas, sol e chuva, Pacífico e Atlântico, norte e sul, leste e oeste.
Acabou? Não. Noite fechada e o trecho da fronteira até a cidade, de aproximadamente 50 quilômetros me pegou de surpresa. Rodando a 100 km/h, de repente, no susto, vejo que a estrada tem um trecho grande de terra, plana, lisa, daquela que derruba, mas de novo, sangue frio é a solução, esquece freio e acelerador, esquece de mudar de direção e deixa a moto passar sozinha. Assim saio do outro lado em pé e inicio a frenagem, pois outros trechos assim surgem. Iniciei um acelera e freia chato e perigoso por quase todos 50 quilômetros que faltavam até a cidade gaúcha. Eu deveria saber, pois comigo é sempre assim, sempre tem aquele teste final, aquele momento noturno “acorda que ainda não acabou”.
Sucesso e trecho superado. Vejo as luzes da cidade se aproximarem e vou rodando um pouco no modo “adivinha onde estou indo”, nem eu mesmo sei bem, por acaso acho a avenida principal, pego o sentido certo, entro na rua certa e saio do lado da Concessionária Felice Dafra. Eu aprendi já que às vezes realmente só pensamos que não sabemos algo, mas sabemos sim, só precisa fazer. Não tenho a mínima idéia de como chego a alguns lugares, mas parece que vou lembrando, que sigo o sentido certo, que consigo perceber para onde tenho que ir, que percebo de onde vim, para onde vou, onde está o mar, o norte e o sul.
Desde a loja, tentei me recordar como fiz da outra vez que fui à casa do Paulo, pois nas noites anteriores, fui convidado para lá me hospedar de novo na passagem pela cidade. Consegui em partes, mas como eu levava o endereço, invés de seguir meu sentido, procurei pelo endereço e Uruguaiana não tem placa com nomes de ruas, ou pelo menos a noite eu não achei. Não foi difícil, perguntei pela rua, encontrei, pela casa, encontrei também, e quando parei no portão da garagem o Alyson, filho do Paulo, abanou da janela e veio abrir o portão.
Todos felizes, sentamos para jantar e me fazem uma pergunta: “E ai Marcio como foi?”. Surpreendente minha dificuldade em responder isso. Primeiro porque não acabou. Mas isso eu resolvo respondendo como foi até ali. Segundo que sou metódico, pensei em contar por partes, do começo ao fim, mas eu os levaria a exaustão, seria com ler para eles um livro de no mínimo 150 páginas. Tive que gritar em pensamento comigo mesmo: “Para de bobagem! Você não se prendeu a nada em toda viagem, que isso agora? Põe pra fora!”. E saiu:
“ESTÁ SENDO MARAVILHOSO, FANTÁSTICO, SURPREEDENTE E INESQUECÍVEL”
Diversos outros adjetivos positivos caberiam, mas ai está um resumo. Depois disso, fui jogando na mesa fatos incríveis e desordenados, perdidos no tempo, mas que fazem todo sentido saindo da boca de um cara visivelmente com a mente embebida em êxtase.
A bagagem ficou na moto e a moto na garagem segura. Tomei um banho quente e a Elaine, esposa do Paulo, me avisa que meu quarto está pronto. Os valores mudam depois e durante uma jornada dessas, escutar a frase “seu quarto” é fantástico, sentar a mesa com uma família é um sonho, o momento mais esperado do dia é o banho quente e estar no Brasil passa uma segurança tremenda. O difícil é conseguir tirar o sorriso de orelha a orelha da cara para poder dormir. Pra que pressa, sonhar acordado é um privilégio.
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Uruguaiana a Porto Alegre
Publicado em 11 de julho de 2012 por Mundo de Moto
Domingo de chuva, 17 de junho de 2012, conversando com o Paulo durante o café é que percebo que estava com um pensamento errado, eu distraído, nem me toquei que hoje, eu iria encarar aproximadamente 700 quilômetros até onde me hospedaria na capital gaúcha. Aqui falamos, “não vamos no afobar”. Estava bem tranqüilo achando que era 500, apesar de já ter feito esse trecho diversas vezes. Totalmente decidido a ir mesmo no domingo de tempo feio, apesar de ter pensado em já fazer alguma manutenção em Uruguaiana, não queria aguardar a segunda. Equipamento vestido, agora com capa de chuva, todos meus pesos já no bolso da capa, e os amigos hospitaleiros me garantem que os postos aqui da fronteira aceitam o pagamento em pesos. Meu objetivo era zerar os pesos e seguir com meus reais. O que eu tinha, na Argentina era suficiente para um tanque.

Mesmo sendo um Scooter, gosto e tenho o costume de montar nela, passando a perna acima do banco traseiro. Como levo bagagem entre o banco e a coluna de direção e ainda sobre o banco traseiro, só é possível montar passando a perna acima do banco do piloto, eu de frente para a lateral da moto e depois me virando para frente dela. Nada demais para meus 29 anos, mas não é como eu gosto. A maioria das pessoas senta nos Scooters passando a perna pelo vão entre banco e guidão. Portanto, montei de lado na máquina e tomei o rumo da saída, que foi fácil de encontrar pela ótima explicação que recebi.
Rodando um pouco, paro no posto, pergunto dos pesos como pagamento, e pela resposta positiva mando completar com gasolina comum. Na hora do pagamento, entrego todos meus pesos, mas ainda falta, cambio totalmente desfavorável, tento passar o cartão e nenhuma máquina aceita. Real neles.

O motivo da pressa era participar de um salão de motocicletas e equipamentos em Porto Alegre, neste domingo seria o último dia, o fechamento, e de grande movimento, então, mão no fundo. Adoro pilotar na chuva e estava bem de pneus, a saída foi cedo e a Concessionária já me aguardava para a exposição da moto e depoimentos no belo stand.
Em um trecho um pouco mais lento já verifiquei a moto fazendo 28 km/l de consumo, e apesar dessa boa notícia, a chuva foi constante e forte até a chegada. Foi um trecho no Brasil, já conhecido, sem fotos e atrativos, pilotei com cuidado, mas rápido, na chuva, bem equipado, parando e pagando um pedágio, sem nenhum tipo de incidente que mereça relato.

Levei anotado o endereço da exposição, hora do rush na capital, encontro fácil apesar de ter que rodar bastante. Explicações na portaria, mas todas as portas se abriram e me guiaram até o stand da marca. Fiquei muito feliz, sucesso, chegada direto no stand, moto com bagagem, molhada, com quase 30 mil km rodados, estacionada do lado do modelo novinho. Adorei observar as diferenças, que se resumiam a sujeira, meus protetores de mãos pet recicláveis, bagagens e nada mais. Qual a mais bonita? A minha modelo aventura, lógico! Mas a chuva nesse trecho foi tão forte que lavou a moto, agora a placa já estava visível.
No salão fizemos diversas fotos, conversas, parabéns, sorrisos e o que mais me intrigou foi a força das publicações, pois todos me conheciam, muitos vinham falar comigo, e eu sempre escutava pessoas na volta apontando e falando de mim, da viagem e que eu era o cara do jornal. Alguns mais tímidos não puxam papo, mas a moto fez sucesso. Fiz fotos com o representante da marca do capacete e da segunda pele, com Mauri e esposa, no stand da loja dele, Concessionária Dafra, responsável por grande parte da manutenção da moto.

Nessas conversas é fácil perceber que geografia não é o forte da maioria, muitos não sabem se o Chile é pro leste ou oeste, se fui para baixo ou para cima, norte ou sul, exigindo uma explicação completa. Patagônia? Carretera Austral? Cordilheira do Andes? Afinal o que é um Ventisqueiro? Do Atlântico ao Pacífico, ida e volta? Sempre me dei bem em geografia, e percebo o quanto alguns tornam o mundo gigante na imaginação, por desconhecimento. Antes de sair nessa viagem, no dia-dia ainda em Florianópolis, no norte da ilha, um rapaz numa Honda Biz, em pé ao meu lado, minha moto ao lado da dele afirma: “essa moto deve ser boa para ir ao centro”, e o centro ficava a 28 quilômetros de onde estávamos. Não estou debochando dele, e sei que ele deve ter diversos conhecimentos e habilidades que eu não tenho, mas fico impressionado com um aparente medo da distância, desconhecimento de que é possível ir, viajar, ver, que existem diversos outros lugares além do bairro, da cidade, das férias na praia. Torna-se difícil compreender como pode a noite cair no mesmo lugar numa época às 23 horas e noutra às 13 horas? Como achei que não teria habilidade para explicar a ele que eu iria passar na Austral, no inverno, gelo, rípio, lama, fronteiras, países, altitude, noite, temperatura negativa sem necessidade de mapas, computador, e algumas horas, fraquejei e respondi “sim é ótima”.
A noite foi ótima, reencontrei os amigos, fiz novos, fiquei até fechar, pessoas já desmontavam stands e eu ainda prestava meus depoimentos. Ainda com muita chuva, vesti a capa, fui me hospedar e dormir feliz.
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Grande Amigo Dolor, perdoe a demora na resposta. Estes elogios vindos de você, ainda mais depois de ter sido presenteado com o maravilhoso encontro com teus amigos e família, é uma imensa honra. Espero não decepciona-lo, pois os dias aqui no Brasil estão me causando tristeza. Todos me fazem perguntas sobre as dificuldades da viagem, e citam frio, calor, buracos, lama, neve e outros perigos. Realmente, frente a minha experiência no motociclismo, tudo isso se tornou mais fácil, e o que está me derrubando é o lado financeiro e agora o psicológico.
Sobre essa a "Cadena Spray", não cheguei a usar, pois estava esgotada em todas lojas de Coyhaique/CH, única cidade onde pesquisei, já sabendo que pela frente enfrentaria gelo. Trata-se de um spray para borrifar nos pneus de carros e motos, não sei bem a durabilidade dele, mas acho que uns 30 quilômetros, melhorando a aderência.
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O equipamento!
Publicado em 25 de julho de 2012 por Mundo de Moto
Depois de completar essa primeira parte com sucesso, tenho certeza absoluta de ter feito uma escolha excelente no equipamento que usei para este trecho. Não estou exagerando em dizer que ele salvou minha vida, tanto por ter enfrentado temperaturas negativas como por ter trafegado em terrenos cobertos por neve, gelo, lama, pedras, terra e outros. O equipamento foi testado ainda em um tombo a aproximadamente 60 km/h no gelo, do qual saí ileso.
Constantemente escuto que a motocicleta é um meio de transporte perigoso, que nela estamos expostos e que na moto nós somos o para-choque. Discordo de todas elas e sou a prova de que estou certo. Depois de tanto rodar nas ruas, estradas e pistas; nas viagens e no uso diário, estou escrevendo sem nunca ter quebrado um osso, apesar de diversos ralados que até hoje permanecem impressos na minha pele e serviram como experiência, aprendizado e me avisam sempre antes de partir para usar o equipamento completo.
Grande erro que constantemente observo é relacionar o valor da moto, tamanho ou cilindrada, com o investimento necessário em equipamentos. Hoje, qualquer moto, por menor que seja, atinge 100 km/h e nessa velocidade um tombo certamente causará graves ferimentos ou poderá ser fatal.
Um equipamento muito fácil de sempre vestir e carregar, que fará uma diferença enorme num tombo, é a luva. Uma boa luva não vai lhe ceifar o tato com o guidão. Ideal que seja de couro para uso no pavimento de cimento ou asfalto. Algumas, ideais para uso em temperaturas altas e na cidade, oferecem entradas de ar e couro com pequenas perfurações. Quanto mais partes elásticas melhor, uma cinta para melhor fixação no pulso e evitar que ela saia da mão também é essencial. Pense para tudo que você usa sua mão e cogite machucar, quebrar ou mesmo ralar e ficar sem possibilidade de utilização.
Para minha escolha, pensei em diversos fatores e fiz uma equação entre eles. Proteção, beleza, praticidade, peso, conforto e versatilidade.
O capacete eleito para minha viagem foi o Zeus 3000 A. Trata-se de um capacete articulado, ou seja, a parte do queixo levanta, deixando meu rosto exposto. Nessa posição a viseira externa levanta também e tenho à disposição somente a viseira interna e solar. Ainda acho o capacete integral mais seguro, mas como precisava de praticidade para tirar fotos, me comunicar com polícia, nos pedágios, postos de combustível, pedir informações nas cidades e outras atividades ainda mais no frio, considerei esse o ideal. Sou favorecido pela boa proteção aerodinâmica da Citycom. Outros fatores existentes nesse capacete que me levaram a escolha foram o bom tamanho do óculo solar interno, a forração interna totalmente removível e lavável.

Para os pés, escolhi as Botas Steitz modelo 1020, fabricadas no Rio Grande do Sul. A minha necessidade era de uma bota de couro, realmente impermeável, que não fosse tão rígida como as esportivas, para me fornecer conforto e a possibilidade de colocar diversas meias por dentro. Não tinha experiência ainda usando esta marca, mas me foram recomendadas, ainda assim o proprietário me convidou até a fábrica, experimentei diversos modelos e escolhi a que melhor me serviu. Não passou uma gota de água aos meus pés, me permitiu caminhar sobre o gelo e a neve, diversas vezes enterrando profundamente meu pé. Rodei dezenas de quilômetros arrastando ela no gelo para me equilibrar melhor na moto, chegando a desgastar a sola, que por ter uma espessura ideal para uso touring, não chegou ao final.

Outro equipamento que considero essencial é o protetor e coluna. Escolhi o modelo de sete vértebras a Daihead. Conheço o proprietário da marca a anos e confio no trabalho dele, por isso fiz contato com ele logo que decidi fazer essa viagem e fui até o local onde produzem os equipamentos no Rio Grande do Sul. Esse equipamento gerou conforto e segurança.
Usei também da mesma marca do protetor de coluna, balaclavas, meias, camisas manga longa, calças tipo segunda pele e alguns protetores de pescoço. Como ia enfrentar muito frio, levei três conjuntos de segunda pele, para usar um sobre o outro. Sem dúvidas é a melhor roupa para usar em viagens e por baixo da jaqueta e da calça de motociclismo, pois é pouco volumosa, justa, bem elástica, o que aumenta o conforto e facilidade de transportar, além de secar muito rápido. Faço uso da segunda pele mesmo que não seja em viagens, me sinto muito confortável e aquecido. Usei e uso protetores de pescoço, tanto para proteger do frio e vento, como de eventuais picadas de animais e pedras.

Externamente escolhi usar a calça Alpinestars A-10 Air Flow. Como tenho 1.80 e 75 kg, é a que melhor se adapta a meu corpo. As calças do tipo touring oferecem pouca proteção e difícil encaixe da proteção no joelho, que costuma se deslocar em acidentes. Essa calça que escolhi, é a única que não é feita em couro, mas com mesmo tipo de corte e proteção da calça dos macacões de duas peças, oferecendo proteção extra para os quadris, joelhos e canela.

A jaqueta eleita foi a Alpinestars Quantun DNS, por oferecer além de segurança, versatilidade, com um design de jaqueta casual. Agradou-me o fato de ter diversos bolsos internos e externos, capuz, bolsos com material para aquecimento das mãos, e ser muito macia, pois é feita com 100% de algodão escovado e com tecnologia DNS ®, a jaqueta conta com acabamento impermeável e respirável. DNS ® é a nano tecnologia de impermeabilização aplicada nas superfícies da peça, tanto interna quanto externa, adicionando resistência à absorção de umidade, além de repelir água e vento.
Levei comigo ainda luvas de lã para usar por baixo da luva de couro, outra luva com revistimento de gore-tex para usar no frio e na chuva, capa de chuva tipo macacão, de um tamanho maior que o normal para meus 1.80 e 75 kg, pois uso por cima do equipamento de proteção.
O Gore-Tex é sem dúvidas ainda hoje o melhor tecido impermeável, tem seu preço, pois todo equipamento que recebe esse tecido na sua composição tem um custo elevado. Apesar de estar usando uma jaqueta com tratamento impermeável, prefiro sempre que chove vestir a capa de chuva, e assim evitar que tanto jaqueta como calça, fiquem encharcados, com cheiro ruim ou que se deteriorem em um tempo reduzido, prolongando a vida útil e me permitindo usar após sair da moto e encontrar eles secos no dia seguinte.

Agora estou no Brasil em busca de mais e novos parceiros para em breve entrar na Bolívia, e também renovar a parceria com os colaboradores já existentes.
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