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Alta produção - 23-06-2012 - Parte dois
É muita fissura!
Não queremos parar e temos contido, particularmente eu, o impulso da pilotagem mais rápida, apesar dos anos terem paulatinamente me dobrado para menos.
Temos curtido mais, com mais paciência, com mais sabor cada quilômetro e também, a preguiça, no quesito fotos, tem sido vencida.
Ótimo! Temos parado para muitas fotos, muitas poses, tudo pacientemente.
Se é da idade não sei, assim como não sei se em função deste detalhe, é o corpo quem tem respondido com mais calma e maturidade para a cabeça se aquietar, ou se é esta última, sempre dura, quem tem se curvado à esta nova realidade e respondido com mais sapiência e compreensão.
De qualquer maneira acho que é uma evolução!
023/293 - Ouro
Sou obrigado a pedir desculpas, inicialmente aos ourenses, e depois aos Fazedores pela minha ignorância, posto que, esta é mais uma cidade do meu estado, que infelizmente, não havia tomado conhecimento.
Não sei se nos fechamos muito em volta dos nossos umbigos e não conseguimos enxergar um palmo além do nariz, mas a verdade é esta. Ignorância, apesar de que a mídia, também não se ocupa em nos divulgar estas riquezas que nos cercam.
Bem fácil transferir a culpa para os outros, mas este programa Valente Fazedor de Chuva, está nos propiciando um mergulho, de verdade, nas entranhas do nosso estado, que pensávamos conhecer, e que agora, constatamos, que da missa, não conhecemos nem o terço.

Como praticamente todas as cidades do oeste do estado, teve a sua colonização impulsionada pela rede ferroviária, que trouxe os colonos, de descendência italiana e oriundos do Rio Grande do Sul, que é um estado, que também merece um detalhamento à parte pela sua importância dentro do contexto nacional, dada a característica de colonização, que tão bem caracterizam os nossos irmãos gaúchos.
Devemos muito ao Rio Grande do Sul, esta é a verdade!
Quanto a origem do nome, nada a ver com o precioso metal em si, mas com a possibilidade de cultivar o cereal mais importante da época, o trigo e cor amarela dos campos de trigais, deu origem ao nome do município.
Outro fator de grande importância neste meio oeste é o Rio do Peixe, que aqui neste caso, divide Ouro, com os seus 7.400 habitantes da sua vizinha e célula mãe, Capinzal.

Faz-se mister também se registrar a grande quantidade de máquinas em exposição na frente de boa parte das prefeituras da região, todas seladas com a identificação do PAC 2, tudo cheirando além de novo, a politicagem, posto que num sábado as máquinas foram colocadas em frente das prefeituras, que no caso aqui de Ouro, presenciamos a manobra do operador para estaciona-la na porta principal.
Cria juízo Brasil!
024/293 - Capinzal - Terra de amigos e de oportunidades!
Uma das ligações entre estas duas cidades é feita por uma ponte pênsil, com quase 85 m de extensão, que obviamente, é somente para pedestres.
Muito bem, após termos atravessado para o outro lado, através da ponte convencional, poucas centenas de metros adiante, paramos para perguntar para três meninas, todas por volta dos 10 anos, se ficava longe de onde estávamos a tal da ponte pênsil, que optamos por fazer a travessia aqui neste destino, quando para nossa surpresa, não souberam dizer onde era, porque nos disseram desconhecer o que estamos questionando.
Pensamos, não é possível que não a conheçam, depois da afirmativa de que eram de Capinzal. Então formulamos de outra maneira a questão, sobre uma ponte que só é possível atravessar a pé, etc... e para nosso gáudio, de imediato nos responderam, arguindo de uma forma bem singela; vocês querem saber da pinguela?

Demos boas gargalhadas, pois um dos cartões postais da região e motivo de orgulho, é a ponte pênsil aqui elevada a condição de pinguela!
Com quase 21.000 habitantes também tem a sua economia calçada na agro indústria, na madeira e com incursões na indústria metal mecânica, o que na minha opinião, este último ramo de atividade, o industrial de trasnformação, é quem produz riquezas em velocidades muito maiores do que o setor primário.

Tivemos ainda a oportunidade de celebrar novas amizades com um grupo de motociclistas que voltavam de um passeio pela região.
025/293 - Erval Velho
Pouco mais de 45 km nos distanciavam do nosso último destino e a noite nessa nova estação, se antecipa e já por volta das cinco e quarto, começa a escurecer, o que torna a viagem mais insegura, não só pelas condições da estrada que não inspira muita confiança, mas pela preocupação com animais na pista.

Seguimos muito bem e conseguimos fazer os registros desta cidade com características bem semelhantes das suas congêneres, pois tem na sua área urbana, pouco mais de 10% da área geográfica, ou seja, menos de 3 km2, para os 230 km2 da área rural.

Agrícola, pecuária leiteira, com vocação maior para a suinocultura e a avicultura, colonizada por gaúchos, de origem predominantemente italiana, com um total aproximado de 4.400 ervalhenses, fórmula predominante por aqui.
Como já reportamos, nos chamou a atenção, a retro escavadeira do PAC 2, em exposição no pátio da prefeitura pra fazer aquela propaganda, principalmente agora que chegou a hora de mostrar serviço.
026/293 - Herval d'Oeste - A Capital Catarinense da Alfafa
Agora já estava valendo a máxima, se cair, só se for para cima!

A noite já tinha chegado e como estávamos objetivando Joaçaba, não poderíamos deixar para trás A Capital Catarinense da Alfafa, cujo nome oriunda do título nobiliárquico do General Ozório, o Marquês de Herval, com praticamente as mesmas características, de ter a área territorial concentrada na zona rural, como a sua quase homônima Erval Velho, com a diferença de ter uma população bem maior, agora com 19.000 habitantes na parte urbana e na sua área rural, não mais do que 2.400 pessoas.

Claro que não tínhamos como tirar da foto, a retro escavadeira, mais uma do tal PAC 2, como que pedindo votos para o novo pleito que se avizinha, mas achamos interessante um painel que havia na área da câmara de vereadores, prestando conta das despesas e receita referente ao mês de maio passado, portanto, atual.

Belo exemplo que poderia ser seguido por todas as câmaras, prefeituras, governos estaduais, enfim, poderíamos ter divulgado o balancete sintético do que foram as entradas e saídas de cada mês, para que pudéssemos acompanhar o vai e vem do nosso rico e suado dinheiro.
Gostei!
Em tempo: comecei a ficar preocupado porque vai que os nossos ilustres resolvam começar a colocar painéis eletrônicos de milhões de reais e o tiro acabe saindo pela culatra!

Total percorrido : 102 km - Total geral : 1.804 km
Felizmente, como era só atravessar uma ponte sobre o Rio do Peixe, chegamos em Joaçaba, mas daí... é história para amanhã!
Última edição por Dolor; 30-06-12 às 02:20.
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Amigo GCFC Dolor e Angela !!!
Já estou achando que para acompanhar o seu rítimo teremos que voltar para a esportiva... rsrs
Forte abraço e esperamos vê-los em algumas prefeituras pelo caminho !!!
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Dolor e Angela, estão a todo vapor...
Percebi que não está usando a GOPRO, ou as fotos da sua são diferente da minha, não se acostumou com a câmera? Já estou na Bahia e vai levar algum tempo para rodar novamente a bela SC, os sintomas de saudade da moto e da estrada já estão chegando...
Novamente na garupa de vocês, então nos mantenham informados...
Grande abraço e boa viagem...
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Alta produção - 24-06-2012 - Parte três
027/293 - Como anoitecemos aqui em Joaçaba, a Princesinha do Oeste, que é o polo econômico da região, circulamos pelo centro e área central procurando outra opção para dormir que não fosse no honesto Hotel Jaraguá, que se mostrou, finalmente, uma ótima escolha, pelo preço de R$140,00, chorado até a última lágrima.

Depois dos procedimentos sempre gentis para a hospedagem, prontos, fomos saborear um delicioso café colonial, que tem tornado este hotel conhecido pela excelência desta especialidade.

Como característica de todos os municípios da região, indispensável a presença dos gaúchos, das etnias italiana e alemã, da estrada de ferro, da guerra do Contestado, do isolamento do resto do território catarinense, enfim, outra cidade valorosa pelo esforço da sua própria gente.

Também como já escrevemos anteriormente, os estudiosos não chegam, nunca, a um consenso sobre a tradução dos nomes tupi guaranis, posto que Joaçaba, para uns quer dizer "encruzilhada", para outros "cruzeiro" e para os mais renitentes, "cruz dos índios", do original "juaçaba".
Durma-se com um barulho desse!
Agora, o que foi desonesto para com o regime que estou tentando fazer, foi o café da manhã neste domingo preguiçoso, que dizia com aquele sol resplandecente ao que viria neste início do inverno.
Simplesmente maravilhoso e quanto ao regime...bem começaremos, de novo, amanhã, segunda feira.

Enquanto nos preparávamos para fazer a foto em frente a prefeitura, fomos abordados carinhosamente por duas joaçabenses que queriam saber tudo da moto, da viagem e de nós.
Muito agradável os momentos que passamos juntos que, infelizmente, com remorsos, somos obrigados a abreviar por força dos objetivos que temos para este dia recém começado.
Fica o registro como curiosidade, é que até 1916 as terras de Joacaba pertenciam ao Município de Palmas, no Paraná, e faziam parte da região contestada por Paraná e Santa Catarina. Ainda neste ano, a questão do Contestado chegou ao fim, com a dizimação dos jagunços e a destruição de seus redutos. Com a assinatura do acordo sobre os limites de território, coube definitivamente a Santa Catarina as terras até então contestadas.
Toda esta região do meio oeste catarinense é conhecida como a Região do Contestado.
Apesar dos 27.000 habitantes, tivemos a sensação de que Joaçaba é maior do que a população recenseada.
028/293 - Luzerna - Capital da amizade
Menos do que dez quilômetros nos separavam do vizinho município de Luzerna, com forte impressão dos seus colonizadores alemães e também italianos, atualmente em torno de 5.600 habitantes, que guarda ainda hoje um dos principais aspectos desde a ocupação da área lá pelo início do século XX, quando o alemão Henrique Hacker, que era engenheiro eletrotécnico comprou uma gleba de 40.000 hectares, e dividiu-a em pequenas propriedades de um alqueire, provavelmente, o embrião desta característica minifundiária que a coloca como uma referência nacional, resguardadas as proporções da sua área territorial.

Na realidade, de um modo geral, os fundamentos do estado de Santa Catarina estavam corretos, graças especialmente a qualidade das pessoas que para cá imigraram, como por exemplo, esta do fundador de Luzerna, já naquela época, um engenheiro.

Isto tem que fazer diferença!
029/293 - Videira - Capital Catarinense da Uva e Berço da Perdigão
Sem dúvida um orgulho e uma responsabilidade ter sido o berço da empresa que viria a se tornar uma multinacional brasileira, que hoje atende pelo nome de BR Food, distante de Luzerna não mais do que 60 quilômetros.

Acho que é importante ressaltar que apesar dos seus quase 48.000 habitantes, outros bons registros valem a pena, pois este pequeno município dentro do estado de Santa Catarina é a 13ª economia, está classificada como o 5º melhor índice fiscal, ocupa o 8º melhor IDH e abriga ainda a 3ª maior universidade, tudo no âmbito estadual.
Não é um orgulho?

Tudo isto tendo em torno de 75% da sua economia atrelada as atividades de avicultura e suinocultura, ficando o outro percentual dividido entre a fruticultura, fumo e gado, entre outros destaques, com a uva sendo aquela que dá a personalidade para o slogan para a cidade.
030/293 - Iomerê

Com as mesmas características dos outros municípios da região, a predominância étnica continua sendo alemã e italiana, teve este nome emprestado da língua tupi guarani que significa, clareira branca ou campo branco.

Interessante ainda que a cidade, na medida que os municípios foram se desmembrando, passou a pertencer inicialmente a Porto União, depois seguiu junto com Campos Novos, mais tarde na divisão ficou com Joaçaba, para finalmente ser desmembrada de Videira e se tornar uma unidade autônoma, com uma população em torno de 2.800 pessoas e distante desta última, menos de 15 quilômetros.
031/293 - Arroio Trinta
Esta é italiana de verdade!

Com praticamente 100 % dos seus 3.500 habitantes tendo esta origem, traz ainda consigo uma grande curiosidade por ter sido a primeira cidade no mundo, claro, fora a Itália, a ter no seu currículo escolar a língua italiana como disciplina ministrada desde o ensino fundamental até o médio, em todas as escolas do município.
Isto é ou não é uma coisa maravilhosa, poder se perceber um sotaque diferente na população?
Nascer sabendo falar dois idiomas!

Diferentemente de praticamente todas as outras cidades da região, a colonização de Arroio Trinta, veio daqui mesmo de Santa Catarina, dos italianos radicados no sul, mais precisamente de Criciúma e Urussanga, que faziam das tripas o coração para chegarem até este ponto final, lá pelos idos de 1.925, utilizando navio desde Imbítuba até São Francisco do Sul e deste ponto, aguardavam o trem até Porto União, e daí então, no lombo de cavalos e em carroças terminavam as suas maratonas, neste lugar, que recebeu o nome de Arroio Trinta, porque o alimento básico dos colonizadores era a polenta e como a moagem mais próxima ficava em torno de 18 km, numa comunidade chamada de Bom Sucesso, eles eram obrigados a cruzar o arroio que cortava o centro da comuna trinta vezes, devido a topografia acidentada.
Aí o nome pegou!
Quanto a nós, imitamos os pioneiros e também rodamos somente 18 km, desde o nosso último destino, infelizmente, sem cruzar as Trinta vezes pelo Arroio.

É ou não é um capricho!

Total percorrido : 97 km - Total geral : 2.001 km
Última edição por Dolor; 11-07-12 às 18:51.
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Alta produção - 24-06-2012 - Parte quatro
032/293 - Salto Veloso
Mais uma italiana no meio desse estado com tantos sotaques.

A origem do nome, diferente dos puxas de plantão, veio como uma referência ao caboclo Antonio José Veloso, que no final do século XIX, entre os anos de 1.897 e 1900, estabelecido que estava próximo as cachoeiras existentes num rio de águas abundantes e cristalinas, que corriam praticamente ocultas em meio a uma densa floresta, se tornou ponto de parada obrigatória para todos os tropeiros da região, em função da amizade e simpatia com que tratava a todos, que descansavam enquanto se refrescavam naquele pequeno oásis.

Desta maneira o local passou a ser conhecido como O Salto do Veloso que para Salto Veloso, não foi mais do que...literalmente um pequeno salto.
Provavelmente este gene da simpatia acabou inoculando todos os seus 4.350 habitantes, pois quando nos preparávamos para deixar a cidade, fomos parados por um motociclista que de pronto se colocou à disposição para nos mostrar o salto que deu origem ao nome da cidade, bem no seu centro.

Foi muito agradável os momentos que passamos com o Rafael, farmacêutico e filho da vice prefeita, que pelo que pudemos ver, vem ajudando a fazer um bom trabalho, pois a cidade está muito arrumada.
Um capricho e por pouco não mudamos o nome para Salto Rafael.

Muito bacana a atenção recebida com um até logo, quando nos deixou na saída da cidade.

Vale registrar também que Salto Veloso é um dos municípios que faz parte da Rota Italiana chamada de “Cammino Veneto”, que tem por objetivo desenvolver o turismo regional, através da etnia italiana, congregando os aspectos da cultura, tradição, folclore, gastronomia, potencializando as características desta população imigrante, num projeto de caráter étnico importante para a sobrevivência das marcas da italianidade no oeste de SC.
Achei a idéia excelente, mas...numa primeira avaliação bem superficial, pouco trabalhada.
Distante somente 11 km de Arroio Trinta.
033/293 - Macieira
Sinceramente reconheço que a minha ignorância é muito grande, pois nunca ouvira falar nesta cidade, distante somente 16 km de Salto Veloso, por uma estrada de terra, o que na minha opinião, é inconcebível neste século, já XXI.

Um descaso das autoridades para com a gente valorosa desta região, cujas propriedades rurais vão sendo um colírio para os olhos.

O desenvolvimento exige obrigatoriamente, acessos rápidos, decentes e variados.

Como dizer para os colonizadores que chegaram por volta de 1.935 que a ligação com Salto Veloso continua da mesma maneira, depois de tantos e tantos anos?

Para estes heróis que se estabeleceram próximos de três enormes e vistosos pés de macieiras, que daí retiraram o nome para batizar a cidade, cujo principal produto agrícola é o milho, além da destacada bacia leiteira, hoje com menos de 2.000 almas, sendo ainda a terra natal da jornalista Sônia Bridi, da rede Globo.

Não se preocupem por que toda esta distância no mapa, não passa de 16 km entre uma prefeitura e outra.
Total percorrido : 16 km - Total geral : 2017 km
Última edição por Dolor; 11-07-12 às 23:45.
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Grande Dolor que alegria poder acompanhar mais um lindo relato seu e da Angela, fico feliz e triste uma mistura de emoções, estranho, mas de maneira saudável estou sentindo inveja, aquela inveja boa que só os motociclistas podem ter, afinal no momento virei um "cager", em minha gaiolinha de quatro rodas.
Parabéns e desta vez vocês despontaram na liderança...
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Alta produção - 24-06-2012 - Parte cinco
034/293 - Caçador - Capital Industrial do Meio Oeste Catarinense

Com menos de 20 km rodados já estávamos nesta bonita e bem cuidada cidade de Caçador, cujo nome remonta aos idos de 1.881, quando o primeiro morador, de nome Francisco Correia de Mello, face a abundante caça na região, não titubeou e a batizou com o nome que perdura até os dias de hoje.

Com praticamente 72.000 habitantes é uma pujante cidade que teve parte do seu desenvolvimento ao ciclo da extração de madeira, farta em florestas de centenárias araucárias e imbuias, até que após a exaustão destas, emergiu como uma grande produtora de hortifrutigranjeiros, com destaque especial para a produção de tomates, uma vez que chegou alcançar a posição de maior produtora do sul do Brasil.

Das madeiras nobres que haviam na região, sobrou como uma relíquia viva, um cedro, considerado o maior de Santa Catarina, com idade estimada em 1.000 anos, 30 m de altura, 3,6 m de diamêtro e 7,8 m de circunferência, sendo que na Floresta Nacional de Caçador, distante 32 km do centro, no distrito de Taquara Verde, quando se vai para Calmon, está o maior reflorestamento de araucária do mundo, com infraestrutura que pode ser utilizada pelo visitante, que nós, os apressados, deixamos para visita-la na volta, o que sempre é uma mentira.

O que não se faz na ida, seguramente, não se faz no retorno.

Foto: Ivete Helena Chiarello Araujo
Com muito remorso, deixamos para trás muitos passeios que devem ser feitos, incluindo o Museu Histórico e Antropológico da Guerra do Contestado, dedicado ao resgate e a preservação da própria, a locomotiva Baldwin com dois vagões, da saudosa época que a ferrovia era praticamente o único elo decente de ligação e integração das cidades, da Ponte Antonio Bortolon, hoje réplica, uma vez que a enchente de 1.983, do Rio do Peixe, foi simplesmente devastadora, como o foi em praticamente todo o estado.
Certamente, uma jóia!
035/293 - Calmon
Seguindo rumo à fronteira com o Paraná, nossa próxima parada, distante 35 km, é mais uma cidade que nasceu a beira da ferrovia, com população ao redor dos 3.400 habitantes, bem no local que funcionava o centro de administração de toda a construção da Estrada de Ferro São Paulo, Rio Grande (RS).

Diz a história que nos primórdios da comunidade, que tinha o seu sustento na extração de madeiras nobres, tipo pinheiro, cedro e imbuias, as circunferências das toras passavam frouxo dos 10 m.
Entretanto, durante o início do século XX, bem no seu início, com a instalação da Madeireira Lumber, gigante americana, com o tempo foi folgando, comprando tudo quanta era terra e aqueles que não queriam vender as suas, eram convencidos a faze-lo a bala, pelo corpo de segurança da empresa.

Época de jagunços e de tiroteiros violentos!
Deve ter sido um horror!
Não tivemos a melhor das impressões, uma vez, que a casa principal da cidade, a sua prefeitura, deixou muito a desejar em termos de cuidado.
Não sei se quem não cuida da sua própria casa, pode cuidar da casa dos outros.
Sei lá!!!!
036/293 - Matos Costa
Com um outro tiro de pouco menos de 20 km chegamos a penúltima cidade catarinense antes da divisa com o Paraná, com menos de 2.900 pessoas morando dentro dos seus limites, tomou o nome de família do Capitão João Teixeira de Matos Costa, assassinado no ano de 1.914, numa tocaia patrocinada por um grupo que se auto intitulava os fanáticos.

Foi elevada à condição de município lá atrás no ano de 1.962, que pelo que se viu, não houve muito progresso, uma vez que passados mais 50 anos da sua criação, ainda não passou dos 3.000 habitantes, se é que se pode levar este dado como um referencial de desenvolvimento ou de qualidade de vida, uma vez que continua tendo a sua economia baseada na extração de madeira cortada dos reflorestamentos de pinus e eucalipto, e daquele chavão reinante na região; suinocultura e avicultura.
037/293 - Porto União - Cidade Amiga

Localizada no planalto norte catarinense, precisou de pouco mais de 40 km para ser alcançada, formando com a cidade de União da Vitória, já no Paraná, As Gêmeas do Iguaçu, uma vez que este rio que as separa, as une, para formar um conglomerado urbano de 86.000 almas, sendo a contribuição do nosso lado, de pouco mais de 33.500 pessoas.

É uma cidade voltada à madeira, sendo que quase 20% da produção de portas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira processada mecanicamente, ou seja, das 6 milhões de portas produzidas no país, ao redor de 1.116.000 são feitas aqui no município.
Isso sem contar as 660.000 janelas que saem das suas fábricas.

Com as suas 150 cachoeiras, é um prato cheio para os apaixonados por aventuras radicais, como o rappel, treeking ou canoagem. Um dos destaques é o Salto do Pintado, com 30 m de altura e o outro o Salto do Rio dos Pardos, com 74 m de altura, um dos maiores da América do Sul.
Assim terminamos um dia muito agradável, cheio de histórias e de conhecimentos sobre o nosso estado, que não fazíamos a menor idéia da existência sobre boa parte dos municípios que visitamos até o dia de hoje.
Tem sido um prazer enorme, restando, entretanto, uma ponta de remorso pelo fato de não estarmos despendendo um pouquinho a mais de tempo para conhecermos mais dos detalhes, da vida e das belezas que temos em determinados momentos, visto de forma muito superficial e rápida.
Vamos tentar relaxar um pouco mais nas próximas etapas.

Total percorrido : 95 km - Total geral : 2.112 km
Última edição por Dolor; 12-07-12 às 09:57.
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Alta produção - 24-06-2012 - Parte seis
A noite já começava a se fazer presente, e claro, a fome solidária como ela é, não se fez de rogada e nos bateu no estômago dizendo da sua necessidade de atenção. Alguns detalhes importantes como a fome e a cama, às vezes são partes difíceis de serem supridas, não só pelo aspecto financeiro, mas especialmente porque após alguns dias na estrada, já não sabemos o que comer, e com relação a segunda, pela dificuldade em se encontrar a relação custo benefício adequada, de forma que tudo o que temos em termos de necessidade na cabeça possa ser alcançada pelo cartão de crédito, que aliado ao cansaço, do avançado da hora, da dificuldade em se localizar os hotéis, enfim, dos detalhes que em condições normais, não fariam muita diferença, mas quando temos de estacionar a moto, tirar as luvas, o capacete, checar os preços e o quarto, vai acumulando um estresse causador de um desgaste enorme.

Mas voltando à fome, foi um achado uma pastelaria bem no meio do caminho do segundo hotel que buscávamos, quando após a aplacarmos com os ótimos pastéis de palmito, nos sentimos mais "Valentes" para irmos para o capítulo hospedagem, cuja opção já naquela altura do campeonato, era por acomodações cômodas, encontrada na alma gêmea de Porto União, em União da Vitória, no Hotel 10, pelo valor de R$147,00, já incluindo os R$9,00 da internet, que alguns hotéis teimam em cobrar à parte.
Vai entender, pois não ficamos de maneira nenhuma num hotel sem internet, a não ser que não haja outra opção.

Bem, deixamos o nosso dinheirinho no outro lado do Iguaçu, onde nos hospedamos muito bem, além de termos conhecido o boa praça Marcelo, motociclista e proprietário do Jornal A Segunda, quando ele cobre uma lacuna da imprensa local, que não circula neste primeiro dia da semana, que por estas coisas da língua, é o segundo.
Vai se entender!

Bem, finalmente, partimos em direção ao nosso desafio Valente Fazedor de Chuva, não sem antes registrar a bonita estação de trem de Matos Costa, que como todas as outras da região, viraram museu ou sucata.
Ainda bem que esta ficou com a primeira opção!

Outra particularidade dessa região que vai em direção à fronteira norte de Santa Catarina, foi a quantidade de placas indicativas encontradas pelo caminho, sinalizando um tal de refúgio, que agora por força do regionalismo, significa um bolsão para estacionamento.
E nós pensando numa cabana ou área de conservação de animais.

Mais uma aprendida!
Ainda neste retorno quando chegávamos em Caçador, o susto foi por conta do estribo esquerdo da moto, aquele onde apoiamos o pé para mudar as marchas, porque ao entrarmos numa depressão no asfalto, fomos projetados para cima, claro que não voamos, mas como a pancada foi relativamente forte e a peça, depois constatamos que estava enferrujada, se partiu, e por pouco que não bato com o pé no asfalto, que na velocidade que vínhamos, não mais do que 90 km/h, teria feito um estrago feio na perna, caso tivesse tocado o chão.

Retornamos, recolhemos o estribo que estava no meio do asfalto e mesmo com a dificuldade de não ter o apoio para a troca de marchas, paramos numa oficina na saída da cidade e com muita propriedade providenciaram a solda e recolocação da peça, pela gentileza do custo zero.

Coisas de quem tem sensibilidade e aproveita para fazer um carinho para com os viajantes.
Valeu!
038/293 -Rio da Antas
Se alguém tinha alguma dúvida, pode ficar descansado, pois a colônia iniciada no final do século passado, recebeu esta denominação devido a grande quantidade de antas existentes no local e para não fugir a regra, como a maioria absoluta das cidades da região, a colonização está ligada a construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul.

Aí, aí, aí Brasil, por que destes as costas para o sistema ferroviário?

Município com pouco mais de 6.000 habitantes, claro, com origens italiana e alemã, guarda nas suas ruas e casas o capricho destes antepassados, sendo que foi muito agradável a passagem pela cidade, que tem na agricultura a sua base de economia.

Não podemos nos esquecer ainda, como sempre, da suinocultura e avicultura como pilares de toda a região.

Total percorrido : 116 km - Total geral : 2.228 km
Última edição por Dolor; 17-07-12 às 01:48.
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Então Grande Cacique Dolor e Adelita Angela, estão andando mais que noticia boa, afinal a ruim anda ainda mais rápido. É impressionante a cidade que nunca ouvi falar e olhe que algum tempo atrás estudei o mapa do estado para verificar que regiões percorreríamos, estão de parabéns as fotos estão mágicas, lindas e os relatos, como sempre, nos levam na garupa de vocês...
Grande abraço a este casal maravilhoso, logo, logo, nos vemos na estrada!
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Alta produção - 25-06-2012 - Última parte
039/293 - Fraiburgo - Terra da Maça

A vantagem de se focar numa região, é a facilidade da proximidade que cada cidade tem da outra, isto quando uma não foi a doadora da outra, ou seja, municípios que se desmembraram um do outro, como no caso desta, que se "despregou" de Videira e Curitibanos, portanto, rodamos menos de 40 km.

Aliás, Fraiburgo está intimamente ligada como resultado de todos os conflitos que houveram, sucessivamente, tipo a Revolução Farroupilha, entre 1.835 e 1.845, a Guerra do Paraguai, de 1.864 a l.870 e por último, ainda sobrou a Revolução Federalista, ocorrida nos anos 1.893 a 1.895, porque os fugitivos remanescentes de todos estes conflitos, acabaram indo para a região onde se encontra esta cidade e claro, a briga por terras, que acontece desde que Adão e Eva deixaram o paraíso, não foi diferente por aqui, especialmente porque duas grandes fazendas acabaram se formando através da compra de posses, desta propriamente dita, grilagens, enfim, tanto a Fazenda Butiá quando a Fazenda Liberata, como não sabiam mais onde começava uma e terminava outra, deram origem a mais uma demanda que ficou conhecida como Campo da Dúvida.

Bem, felizmente uma família, chamada de Frey, originária da Alsácia, acabou chegando aqui em 1.919 e depois de esgotado o ciclo extrativo da madeira e buscando outras alternativas de sustentação econômica, em 1.963 com mudas frutíferas trazidas da Europa, deram certo com a adaptação da maçã, que acabou se nacionalizando e dando o reconhecimento à Fraiburgo, que nada mais é do que uma homenagem à família que a desbravou, como "A Terra da Maçã".

Voltando à terra, as boas lembranças de Fraiburgo como uma cidade temática, tendo a maçã como pano de fundo foi de uma certa forma, uma decepção, pois como todas as outras comunidades que tiveram um ritmo de crescimento acelerado, acabou perdendo aquela sua identidade e se tornou mais um aglomerado de desenvolvimento, crescendo em volta das rodovias SC 456, 453, e o que sobrou, em torno de uma indústria de papel que está no centro, quando tem a sua população ao redor de 35.000 fraiburgenses, aumentada em pelo menos mais umas 10.000 pessoas, que para lá se dirigem quando da safra da maçã.

Se perdeu no meio deste tiroteio!

Sobrou o Hotel Renar, no alto do morro no centro da cidade, que se mantém como a primeira e última testemunha de um projeto que teria tudo para tornar Fraiburgo como...no lugar da cereja...a maça do bolo.

040/0293 - Lebon Regis
Com outros menos de 40 km também, chegamos a esta cidade, depois de 35 anos quando da minha última visita, e sinceramente, pouco mudou.

Ainda penso que o pouco que mudou foi para pior, pois a cidade não achou a sua vocação e baseada na agricultura com opção para a maçã, busca em outras culturas o seu desenvolvimento, perdida desde o fim da era extrativa da madeira, fato que ocorreu com muitas cidades do nosso estado.
Ficaram penduradas pelo pincel!
Continuo com o pensamento que a dependência da agricultura e ou pecuária, acrescenta muito pouco para um efetivo desenvolvimento de uma comunidade, como por exemplo esta, já próxima de 12.000 habitantes, que tiram da terra, aqueles que conseguem, as suas subsistências.

Peca a população, a nossa brasileira, por não saber escolher adequadamente aqueles que vão nos governar, e continuamos em pecado, quando também não cobramos destes uma administração decente e dinâmica.
Vamos indo do assistencialismo para o clientelismo, como se não fossem sinônimos, e nós com o chapéu na mão, achando que qualquer coisa é melhor do que nada.

O General Gustavo Lebon Regis, foi secretário do estado de Santa Catarina durante a Guerra do Contestado, e teve como mérito principal , ter feito a estratégia de ataque a um reduto de jagunços chamado Taquaruçu, que era conhecida como "A Cidade Santa", devido a religiosidade que lhe era imposta, onde os caboclos se tratavam de irmãos.
Talvez tenham se inspirado na maçonaria!

É sempre assim, com jagunços, caboclos e marginais, usualmente com a igreja por trás, que fomos forjando a nossa história, pobre história de ignorantes.
041/293 - Curitibanos
Como já estávamos rodando dentro da segunda feira, pensamos em ir direto para casa depois da nossa última visita que foi à cidade de Lebon Régis, e qual não foi a nossa surpresa quando passamos bem em frente da prefeitura.

Claro que paramos imediatamente, nos posicionamos para as fotos de comprovação da visita quando fomos surpreendidos pela chegada da Laís, assessora de imprensa da municipalidade que muito gentil nos entrevistou e de imediato se posicionou conosco para as fotos de lei.

Para que não reste nenhuma dúvida, esta cidade com pouco mais de 38.000 habitantes, tem o seu nome oriundo mesmo de Curitiba, aquela do Paraná, uma vez que um bandeirante desta cidade, chamado Guilherme Dias Cortes, ao passar por esta parte de Santa Catarina, batizou-a com o nome Dos Curitibanos, que evoluiu para Campo dos Curitibanos, e daí para Pouso dos Curitibanos, foi um pulo, santificada depois como Freguesia de Nossa Senhora dos Curitibanos, foi finalmente em 1.869, elevada à condição de município.
Ufa!

Foto Maria Alcionete Hacke Gumboski
Tem também a sua história orbitando em volta da Guerra do Contestado, da extração de madeira, muita confusão na disputa por terras, da estrada de ferro, da Madeireira Lumber e a sua jagunçada, enfim, durante algum tempo se brincou aqui no estado, que os curitibanenses tinham o dedo indicador torto não por segurar a gaiola de passarinho, mas sim, pelo hábito de terem o dedo no gatilho do revolver.
Na procura pelo seu espaço econômico encontrou no alho a sua vocação e foi durante muito tempo reconhecida como a capital nacional do alho.

Acabou perdendo para Cristalina, GO, este posto de honra e se não se cuidar, perderá para a China esta segunda posição.
Já sentimos em outras oportunidades um cheiro maior de alho no ar curitibanense.

Total percorrido : 406 km - Total geral : 2.634 km
Última edição por Dolor; 17-07-12 às 11:11.
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