175/295 - Biguaçu - 28/10/2012
Tenho muita dificuldade em me desvencilhar de alguns hábitos daquela época em que era mais pobre, como este de querer almoçar, ou pelo menos tentar sentar a mesa um pouco antes do meio dia, para que o dia renda um pouco mais, ou na contra mão, adoro acordar cedo para ficar mais tempo sem fazer nada.
É um grande paradoxo que convivo em harmonia, almoçar cedo para que o dia renda mais e levantar de "madrugadinha", uma grande mentira, para sobrar mais dia sem ter o que fazer.
Dilema bom de se viver!
Bem, uma da tarde já estávamos almoçados e prontos para pegar a estrada em mais uma jornada Valente Fazedores de Chuva, direcionados para a região da Grande Florianópolis, a capital dos barrigas verdes.
Ir para este nosso destino de hoje seria como um mergulho no passado, que acabou não acontecendo porque voltarei lá com a minha mãe, "biguana" de nascimento, assim como o meu avô Procópio, meu querido, amado e saudoso avô, protetor incondicional deste escriba e homem de uma sensibilidade sem tamanho no trato comigo, sortudo em te-lo por perto durante tantos anos.
Grande figura aquele avô da aceitação incondicional de tudo o que o neto podia e não deveria fazer, sendo ele uma herança que acompanhou o casamento da minha mãe, e aceito sem nunca ter havido uma única ressalva, crítica ou gesto que não dignificasse o grande amor e maravilhoso relacionamento que mantinha com o meu pai, e o único que em tese, poderia me chamar a atenção e me aplicar os corretivos que nunca vinham, a não ser em forma de palmadas ou puxões de orelha que mais tinham o sabor da cumplicidade do que da penalidade.
Quantas lembranças vão sendo trazidas pelo vento e colhidas pelo capacete que balança buscando lá no baú das recordações, não do seu fundo, porque tudo continua muito no raso, as histórias que foram marcando a minha vida. A Angela, lendo os meus pensamentos se manteve em silêncio e assim os quilômetros foram sendo sorvidos e quando percebemos, foi só o tempo de darmos a seta para pegarmos a marginal que nos levaria para o centro de Biguaçu.
Parece que foi num piscar de olhos que tantos anos passaram pelo visor das minhas lembranças!
A cidade continua mantendo a sua característica interiorana, claro que absurdamente movimentada nos dias de semana, haja vista o sistema viário urbano nos aparentar o mesmo há anos, com a diferença que se tornou mais do que nunca, uma cidade dormitório da capital, daí, imagino o inferno a ser enfrentado durante o horário comercial, nos dias de semana, pelos seus 59.000 biguaçuenses, que vão se espremendo como podem nos loteamentos feitos daquele jeito.
Rodamos desde a nossa saída 62 km, que não fora o relógio nos sinalizar para a realidade, a impressão nos levava a não dar mais do que um par de minutos para cumprirmos este trajeto de tantas e boa lembranças.
Para não entrarmos na briga gigantesca sobre o significado do nome biguaçu, vamos ficar como "cerca grande", uma vez que esses índios eram uns sacanas, pois nem eles mesmos sabiam o que falavam, pelo que deduzo das grandes discussões sobre os significados das palavras indígenas.
A registrar que um ar condicionado da prefeitura trabalhava feito doido, agora, não sei se era para refrigerar o CPD, o que não me pareceu, ou porque, o mais lógico, na sexta o pessoal na fissura de começar o fim de semana, saiu sem dar a mínima para quem paga a conta.
Pobres de nós contribuintes!
176/295 - Antonio Carlos
A tarde estava relativamente abafada e este nosso próximo destino que homenageia Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, político mineiro, que desconhecia e que dizem ter tido uma grande atuação na Revolução de 30.
Uma das atividades da região é a venda de grama em leiva.
Quanta revolução, e com todo o respeito aos mineiros, o que é que se tinha de dar um nome completamente estranho à uma cidade com sotaque alemão?
Vai entender?
Aliás, ainda se percebe nas propriedades bem cuidadas o sotaque loiro dos seus imigrantes, que guarda todas as características das pequenas cidades do interior que vão resistindo como podem ao avanço da capital que vai a cada dia que passa, encurtando a distância que as separa, com aquela sede de ocupação e descaracterização, o que aos poucos vai acontecendo.
Vai que estou de má vontade com a cidade!
Vivem ao redor de 7.500 antonio-carlenses, que tem na fábrica da Coca Cola, provavelmente a sua melhor fonte de renda.
O tiro foi de 17 km com o clima bem abafado e claro, com a rotina permanente da deficiência de sinalização.
177/295 - Governador Celso Ramos
Olha! Lugar lindo, distante 46 km da nossa última parada!
Baias, encostas, mar verde esmeralda aliada à sua vocação pesqueira, marca registrada nas faces e modos dos seus 13.000 gancheiros, que durante o domingo lagarteiam pela sua praça principal e avenida beira mar, com a docilidade e simplicidade típica daquelas pessoas acostumadas a viverem num pequeno paraíso.
Mais um lugar que deveremos voltar, aliás, já são tantos que daqui a pouco estaremos fazendo mais um Valente Fazedor de Chuva em Santa Catarina.
Mas terá valido a pena!
Rodamos 46 km de puro prazer quando contornamos todas as encostas que nos foram apresentadas, temperadas pela boa farinha de mandioca, daquela fininha, branca e torradinha, e de alguma rendas de bilro que encontramos em lugares bem específicos, guardadora de toda uma tradição açoriana que trouxemos guardadas como verdadeiras jóias.
Claro, o nome é uma homenagem ao ex governador Celso Ramos, responsável pelo estado de 61 a 66!
Agora, quanto a farra do boi, "pièce de résistence" dos ditos protetores dos animais, nem vamos falar nada, pela tamanha brutalidade que particularmente entendo!
Vamos deixar assim!
Total percorrido : 125 km - Total geral : 9.290 km