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  1. #31
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    Jul 2011
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    CUBA: 9º dia - Um sábado na OCLAE

    Acordamos no luxuoso hotel Comodoro. Nos despedimos de Daniela e saímos como entramos - de fininho. Já na rua, ligamos para a sede da OCLAE (Organización Continental Latinoamericana y Caribeña de Estudiantes). Explicamos quem éramos e dissemos que já tínhamos falado com o Mateus, diretor da UNE e secretário executivo da OCLAE. Nos orientaram a comparecer na sede e assim o fizemos. Para isso, um táxi de três dólares, era o esbanjo final.

    Chegando na sede, conversamos com um cubano responsável e também com um nicaragüense muito simpático (nunca descobrimos o que ele estava fazendo ali). Ficamos temporariamente instalados na sala das bandeiras, cuja descrição é fiel ao nome. Ao invés de esperar alguma nova instrução, Renan preferiu ir atrás de uns meninos que passaram na rua e que iriam jogar bola. Eu, não atleta que sou, preferi ficar deitado no sofá assistindo uma entrevista antiga do Pedro Almodóvar no Roda Viva.



    Nesse meio tempo, fui comprar comida com o assessor do presidente da OCLAE. Ele me deu algumas dicas sobre o que e onde comprar, a fim de fazer o dinheiro que tínhamos durar até a definição de nosso vôo de volta ao Brasil. Quando Renan retorna, nossa instalação já estava definida: dois colchões e dois lençóis numa sala de reuniões. Pra nós, ótimo! O que foi meu almoço, para Renan foi café da tarde, que após comer, me contou sobre uma conversa que teve com um veterano de guerra, um dos cubanos que foi lutar no Congo. Uma história e tanto, relatada por um senhor que viveu um período “pré-revolução” cubana, alegando se tratar de uma época perversa, com instituição de toque de recolher e coisas do gênero.

    No início da noite fomos ao tão famoso parque aquático, queríamos ver os golfinhos dando suas piruetas. Tiro n’água. Não haveria mais nenhuma atração naquele horário. Paciência. Tomamos o caminho de volta a casa... Nos perdemos, mas não muito, entretanto, o ruim não foi ter que caminhar um pouco mais, mas sim suportar uma dor que surgia numa região que palpito ser o baço. De volta a nova casa, jantamos. Renan adormeceu rápido, já eu, de vigília, ainda assisti um filme, depois dormi pensando no eterno dinamismo da vida, como tudo passa, caminha, transita. Até a morte que, de fato, é uma certeza a todos, ainda assim é uma dúvida quanto ao fim, quanto a possibilidade de estacar.



    A noite foi longa. Acordei por várias vezes, sempre com dor de cabeça, sede e transpiração fora do normal. Mal sabia eu, o que significava aqueles sintomas iniciais.

    Saudações caribenhas,
    Ary Neto

  2. #32
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    Dec 2011
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    Lages - SC, Brasil.
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    Grande Ary é essa dúvida que nos faz viver e lutar, da mesma forma acredito que tal relato deveria ser postado diretamente por vocês que teriam acesso as nossas réplicas, assim como no site.

    A aventura está intensa e ao conversar com algumas pessoas geralmente exponho suas histórias. Cuidado com a loucura e lembre-se que não há melhor caminho do que o retorno para casa.

  3. #33
    Data de Ingresso
    Jul 2011
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    CUBA: 10º dia - Era pra ser o último

    Acordamos na OCLAE. Enquanto tomei um café, Renan saiu para comprar pão. Um intervalo de tempo suficiente para se receber uma notícia pouco agradável. O responsável pela sede diz que não tínhamos autorização para continuar na OCLAE. O Mateus da UNE (O mesmo que dois dias antes prometera tentar nos ajudar) foi quem ligou na sede da OCLAE dizendo que teríamos que nos retirar. Uma pena, afinal, inúmeros eram os quartos e espaços vagos na sede. Uma atitude que estranhamos, visto que constantemente fomos ajudados por estranhos, agora, nosso representante nacional e internacional do movimento estudantil se posiciona dessa forma.



    Juntamos nossas coisas e encaramos a rua novamente. Nos dirigimos até o Hotel Palco, aquele ao lado do local do congresso, para usar a Internet. Averiguamos se a amiga de uma professora da Unila respondera nosso e-mail, todavia, não tivemos êxito. Voltamos então para a casa de Letícia e Javier, a despedida de sexta-feira foi refutada pelo acaso.

    Naquela tarde partiria nosso vôo de volta ao Panamá, vôo que não iríamos pegar, visto que estávamos aguardando as passagens para o Brasil. No entanto, naquele momento, em tom de brincadeira séria, até cogitamos sair da ilha. Mas não, sem mais decisões precipitadas. O passeio ao parque aquático foi trocado por uma soneca vespertina. À noite, uma caminhada de conversa e um jantar numa das calçadas do bairro. Agora era aguardar o dia seguinte, para voltar a embaixada e verificar em que pé andava nosso pedido de repatriamento.



    Enquanto Renan Gump foi correr, assisti o filme do The Doors. Minha atenção ficava dividida entre as canções chapadas de ácido de Jim e as acrobacias do nosso companheiro Mickey nas paredes do quarto. Termina o domingo.

    Saudações ultramarinas,
    Ary Neto

  4. #34
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    Jul 2011
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    CUBA: 13º dia - Quem disse que não andaríamos de moto em Cuba

    A quarta-feira mal se inicia e nós já estávamos na rua. A missão do dia era especial: depois de viajar do Brasil ao Panamá de moto, a fim de chegar a Cuba, depois de largar as motos na selva, a fim de chegar em Cuba. Agora estávamos ali, na ilha, a pé. Mas essa quarta-feira seria diferente. Alugaríamos uma moto! Bom, um projeto de moto, uma scooter 50cc, por uma bagatela de 25 CUC. Esse era o valor para realizarmos a façanha de andar de moto em Havana. Sem seguro e com depósito, um negócio não muito confortável. Enfim, partimos na magrela sentido praias do leste, cerca de 4 quadras depois já tínhamos sido interrompidos por um policial que detectou uma infração nossa na rua anterior, uma contramão. Uma multa de 50 CUC, um chute na garganta, mas que seria difícil de engolir. Choramos até... Só faltou falar do leitinho das crianças. Funcionou. O policial tinha farda, mas também coração, foi nossa sorte.



    Próxima parada: Praia de Guanabo. Um trajeto de aproximados 40 quilômetros, que levaram uma hora para serem percorridos. Chegamos. O parquímetro, logicamente, era estatal, representado na figura de um simpático senhor estrategicamente posicionado na praça. A praia tinha uma faixa estreita de areia, algumas palmeiras, água bem limpa e relativamente fria. Algumas pedras e muitos turistas, inclusive um senhor italiano que conversou conosco por um bom tempo, especialmente sobre carros, Fórmula 1, Ayrton Senna... Às vezes é preciso apertar o pause da criticidade, que é pra não enlouquecer.

    Voltamos! Não podíamos demorar, pois a Angélica da embaixada poderia nos ligar para falar sobre as passagens. Afinal, quarta-feira de cinzas ao meio-dia o expediente brasileiro volta ao normal. Dessa vez, Renan pilotou a magrelita... Se virando nos trinta para conseguir atingir os satisfatórios 80km/h, a velocidade máxima da motoca. Ia quase tudo bem, pois eu sentia muito frio, mesmo sob um sol escaldante. Como explicar isso? Renan percebia que eu tremia muito e chegou a parar a moto, uma breve pausa, continuamos. Ao chegar em casa fui direto tomar um banho quente e deitei. Renan também aproveitou para dormir. Poucas horas depois acordei muito mal, num tipo de crise. Dores no corpo, falta de ar, náusea, tudo junto. Pedi para Renan ir ao hospital comigo. O médico de plantão era outro, todavia, atencioso igual. Atendeu-me, orientou que fizesse o exame faltante na manhã seguinte, bem cedo (exame recomendado pelo médico do dia anterior). Pedi soro para aliviar a dor. O doutor diz que soro não alivia dor, me receitando uma injeção de sei lá o que. Ótimo! Prefiro a dor de dez injeções a aquela dor de cabeça. Tomei e voltamos pra casa.



    Antes de pararmos em casa, passamos na locadora de motos e transferimos a titularidade da locação para o nome de Renan, pois eu não sairia mais de casa, assim, Renan poderia aproveitar o final do dia. Voltei pra casa e tentei dormir, tentei muito. Renan deu uma volta de moto, depois outra à noite, quando voltou ao restaurante municipal que tínhamos ido dias antes.

    O sono não foi dos piores, foi razoável. O próximo dia reservaria uma surpresa, sobretudo, para mim. Seria o último dia em Cuba! A conclusão de uma saga.

    Saudações nigérrimas,
    Ary Neto

  5. #35
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    Jul 2011
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    CUBA: 14° dia - Missão cumprida!

    Este é o relato do meu último dia em Cuba. Publico este texto daqui de Foz do Iguaçu, que foi nosso ponto de partida e, agora, torna-se também o de chegada. Retornei a três dias. Trata-se da concretização de um ciclo, de uma ideia, que foi mais idealizada do que planejada. O acaso proporcionou experiências e vivências que jamais poderiam ser previstas, a não ser num roteiro de ficção. Possibilitou que víssemos e vivêssemos coisas que nunca imaginamos. Os momentos perigosos, turbulentos, agora, são enxergados sob uma nova perspectiva, como se agora pudéssemos assistir o que antes vivemos. Algo complexo, profundo, mas também tranquilo e bonito. Creio que a vida consiste naquilo que experimentamos, que vivemos e lembramos. Ainda somos aqueles de antes, todavia, com muita informação agregada, o que possibilita enxergar nossa terra, as outras pessoas e a nós mesmos de uma forma mais ampla, mais humana do que antes. Sim, acho que é isso, me sinto mais humano, me sinto parte integrante de um continente uno e diverso, o continente latinoamericano.



    Voltando ao 14° dia em Cuba, o dia 23 de fevereiro: Acordei um pouco melhor e fui ao hospital fazer o tal do exame. Era apenas uma coleta de sangue, mas agora em maior quantidade, para outras análises. O resultado sairia ao meio dia. Na volta, encontro Renan no meio do caminho, ele ia entregar a moto. Fui junto. Tudo ok, recebemos o depósito de volta.

    Na hora sem sombra, voltei ao médico para pegar o resultado do exame. Não entendo nada disso, mas o que o ouvi foi que uma determinada taxa que deveria ser de 40, no meu exame constava 730. Possivelmente tratava-se de um caso de hepatite A, algo não muito grave, mas que exigiria um repouso de 30 dias. A causa geralmente ocorre por ingestão, provavelmente, uma copo mal lavado. Compreensível, se considerar os vários lugares roots que comemos e tomamos água.

    Confesso que o que mais me preocupou foi a possibilidade de contágio. Afinal, contava os dias para voltar ao Brasil e me encontrar com uma menina muito especial, que tanto sentimento de saudades me causou durante a viagem. Agora, quando isso acontecesse, não poderia selar a distância com um beijo de reencontro. Seria um ótimo final para esse filme real. Que golpe da vida!

    Voltei para iniciar o repouso. Foi quando recebemos a noticia que nosso pedido de repatriação foi aceito e que o voo partiria no próximo dia bem cedo. A felicidade foi a mil. Depois a dona da casa nos disse que era só para mim e que Renan teria que esperar um pouco mais. Realmente, temos sorte, mas as dificuldades também estão sempre batendo a porta. Duas constantes nesse projeto. Renan e eu pensamos que poderia ser uma informação equivocada ou que não tinha vaga para o Rio de Janeiro, neste caso, ele toparia ir pra Sampa na boa.

    O carro da embaixada veio nos buscar. Tomamos um café, incluindo Angélica, a vice-cônsul, que explicou a Renan o que aconteceu: Surgiu uma vaga e era pra são Paulo, logo, ela reservou pra mim, já que eu resido lá. Renan disse que toparia ir pra qualquer lugar, rs... De preferência São Paulo ou Belo Horizonte, os lugares pra onde saiam mais voos, além do Rio de Janeiro.

    Pude ligar pra minha casa, disse que estava a chegar. Aproveitei e pedi pra minha irmã ir me buscar, afinal, sair de Guarulhos, cruzar São Paulo rumo a Santo André, com mochilas e um fígado meia boca não seria muito recomendado, ainda mais no transporte público paulistano (não que o cubano seja bom). Minha mãe falou algo sobre o envio de documentos para Brasília, na hora não entendi nada, mas descobri depois que o Itamaraty estava pedindo documentos de insuficiência financeira para minha família, mas Angélica pediu para interromper esse processo, pois tinha que nos mandar urgente para o Brasil. Santa Angélica! Os passaportes não ficariam conosco, viajaríamos com um documento chamado ARU (Autorização de Retorno ao Brasil).

    Estávamos muito felizes, Renan ainda um pouco ansioso, pois poderia ter que esperar por até mais 3 dias antes de partir. Agora eu, ou ia ou ia, a passagem já tinha sido comprada. O carro da embaixada nos levou de volta. Comemos uma pizza e Renan foi para o tradicional e rotineiro futebol e eu, com o que sobrou de grana, fui comprar uma mochila. Já tinha procurado por vários dias e não encontrava... Quando encontrei, eram todas da Adidas. Escolhi a mais barata. Na etiqueta dizia Made in Vietnã, pois é, minha ultima aquisição em Cuba foi uma mochila da Adidas fabricada no Vietnã. Pronto, agora tinha onde guardar os livros que comprei e ganhei.

    Fui num hotel bacana, o Cohiba, paguei 5 dólares por meia hora de internet lenta. Mandei alguns e-mails e, no blog, postei algo rápido para justificar nosso sumiço. Li alguns comentários bacanas e outros medíocres. Nem tudo são rosas. Este era o peso que tínhamos que carregar, uma vez que, optamos por um projeto “público”. Viajar e relatar. Viajar e ser glorificado. Viajar e ser crucificado. Um buque de rosas, com alguns espinhos.

    Mais a noite fiz as malas, ou melhor, as mochilas. Passei várias de nossas fotos para o pendrive de Renan, que leu um pouco de jornal e dormiu. Pra quem não lia nada, Renan virou um leitor de primeira. O carro da embaixada viria me buscar as três da manhã. Poderia dormir umas 4 horas ainda, mas não consegui pregar os olhos, claro. Só pensava que a próxima noite poderia ser na minha casa, na minha cidade, com a minha família. Nossa, quantos pronomes possessivos. Será que não aprendi nada em Cuba?

    Saudações integracionistas,
    Ary Neto

  6. #36
    Data de Ingresso
    Jul 2011
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    De volta à PINDORAMA

    Renan chegou em sua casa apenas no dia 29 de fevereiro, depois de passar uma noite num hotel de bacana no Panamá (pago pela empresa aérea) em virtude de um overbooking no voo para o Rio de Janeiro. Se durante a viagem ele postou bastante no facebook, quando pisou em São Gonçalo, nosso camarada sumiu da rede. Claro, devia estar super entretido com sua família e seu grande grupo de amigos. Não conheço sua casa, mas construí no meu imaginário todo o ambiente, bem como, toda a rede social que ele construiu por lá. Foram muitas as histórias contatas durante o tempo de estrada. Em Foz do Iguaçu, mas agora só de passagem, Renan não ficará conosco este ano, pois pretende ficar em sua cidade trabalhando e, talvez, voltar no ano que vem para a Unila ou até ficar por lá mesmo e cursar algo na cidade maravilhosa.



    Alexandre segue no curso de Relações Internacionais. Ainda não tivemos muitas oportunidades para conversar, pois nossos horários não batem e, quando batem, falamos mais de coisas atuais do que da viagem. Renan volta na sexta-feira para o Rio de Janeiro, espero que antes disso dê tempo para um reencontro triplo. Piegas eu? Não, não acho.

    Quando voltei pra São Paulo, não tive muito tempo para ver os amigos pois continuava doente, sem saber o que era. Depois de alguns dias fiquei internado e fui ter o diagnóstico uma semana depois... era malária. Tiveram que levar uma amostra de sangue ao Hospital das Clínicas para ter certeza. Assim que tomei a medicação, os sintomas pararam, ou seja, se isso tivesse ocorrido antes não teria passado pelas 8 crises de febre, sempre dia sim, dia não. É assim que funciona, primeiro uma tremedeira a la exorcista por quase meia hora, depois uma febre de 41 graus por 6 horas... Depois disso, segue-se a dor de cabeça padrão até a próxima crise. Enfim, passou. Tomei e medicamento e agora estou bem, todavia, tenho que fazer o teste por mais seis meses para ter certeza que estou livre totalmente. Agora estou cursando Cinema e Audiovisual na Unila, tudo caminha bem.

    Demos uma entrevista para o site H2Foz e também para a TV Massa, a local do SBT aqui. Na segunda falaremos com a Revista Sobre Rodas. Interessante o interesse, entretanto, gostaríamos que fosse dado mais atenção às nossas percepções da viagem e não apenas aos feitos (Não somos o Indiana Jones). Bom, mas estamos gratos a atenção. Se não deixarem falar, vamos falar. Afinal, é difícil ter voz nessa democracia que vivemos.

    Como diria o mano da barba – A luta continua companheiro! Continuaremos a postar aqui no Motopangea, sobretudo, para expor os frutos dessa viagem. No entanto, agora não será mais possível postar com tanta frequência, porém, convidamos a todos a continuar nos acompanhando, bem como, comentando. Quem preferir, pode me adicionar no facebook (Ary Neto) para saber com exatidão sempre que um novo texto for postado.

    Por hora é só. E para não perder o costume: SAUDAÇÕES LIBERTÁRIAS,
    Ary Neto

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