-
Chegou o grande dia, 16 de dezembro de 2017, dia de conhecer Machu Picchu. Me lembro dos tempos de faculdade quando fizemos planos para subir até a cidade sagrada. Falávamos do trem que subia a montanha com rodas denteadas para evitar retorno nas subidas íngremes podendo assim causar um acidente fatal, também comentávamos das estações rodoviárias precárias e sujas, com fezes e urina pra todo lado, um colega de faculdade dizia que tinha passado por la contando histórias de extrema pobreza e desordem por todo Peru, tudo mentira! Nada disso vimos e ao contrario encontramos um país extremamente organizado e explorador do turismo com o máximo de vontade possível. Saímos do hotel e perdidos pela cidade fomos atrás de comida, tinha que comer um café da manhã reforçado pois nas dicas que me passaram em Machu Picchu não poderia entrar com comida e muito menos tinha comida, o pouco que tinha era bastante caro. Comemos e já iniciamos a subida pela montanha. Estranhamos a falta de movimento e pessoas andando em sentido contrário ao nosso, então falei pra fernanda que nosso mapa, que nos foi dado quando adquirimos os ingressos, não servia pra levar a gente até lá. Então perguntamos a pessoas nas ruas e falaram que realmente nosso caminho era invertido, tínhamos que voltar até Machu Picchu Pueblo e de la partir montanha acima. Então voltamos e fomos até a cidadezinha no sopé da montanha, la policiais nos pararam, pediram os ingressos e mostraram como deveríamos seguir em frente. A subida na verdade parecia mais uma escalada. Minha filha com cólicas e tornozelo machucado iria sofrer muito, mas naquele dia ela teria meu respeito pelo resto da vida pois demostrou muita força de vontade e determinação, a ela minha reverência eterna. E que subida! Em alguns trechos víamos pedaços de terraços feitos pelos incas e cruzamos várias vezes por tubulações de esgoto que vinha da infraestrutura montada na entrada da cidade inca. Uns 1.000 metros de degraus e pedras que por muitas vezes nos forçaram a parar pra respirar ou descansar um pouco, bebíamos água mas nada aliviava, parava pra sentar e nada aliviava, parava pra respirar e nada aliviava, parecia que não tinha mais fim aquela tortura, depois de quase duas horas morro acima, encontramos um rapaz descendo e ele nos disse que faltavam apenas mais dois minutos, que belas palavras foram as dele. Acredito fielmente que esse caminho foi feito pelo governo peruano para castigar quem não quis pagar a fortuna dos onibus, U$ 3,20 para cidadãos andinos e U$ 32,00 dólares para o resto do mundo, um trecho que não durava 20 minutos de onibus, um absurdo!

Aqui inicia a subida da montanha, subida ou castigo?

Mapa na entrada da subida, que na verdade em nada ajudou.
![Clique na imagem para uma versão maior
Nome: [000099].jpg
Visualizações: 0
Tamanho: 96,8 KB
ID: 139485](https://www.fazedoresdechuva.com/forums/attachment.php?s=ae8b036d6d5a7c3c595e8fc9735e7bb3&attachmentid=139485&d=1543765276&thumb=1)
Minha filha subindo os degraus morro acima.
O sonho é o combust
-
Chegamos finalmente na portaria da cidade, fiquei pensativo e notando que as ruínas estavam estrategicamente escondidas por montanhas, duma forma que não se via a famosa cidade, não tinha como tirar uma fotografia sem pagar para entrar, então entramos e deslumbrei por alguns segundos, parei, olhei e quase chorei, 25 anos de espera por um sonho estava se realizando naquele momento na minha frente. Tirei uma fotografia num local onde aparecia todas as ruínas e as montanhas, observei que se deitasse a fotografia as montanhas tinham o formato de um rosto em perfil, será que foi por isso que os incas habitaram aquele lugar? Começamos a caminhada pelas ruas de Machu Picchu, em vários momentos ouvi os guias contando histórias sobre o local, acreditei por um momento, mas hoje sei que tudo não passava de histórias pra turistas, nada de informações concretas sobre o que aconteceu ali no passado. Passamos pelo portal de entrada, me lembrei de um rapaz falar que sentiria uma energia extraordinária e que não seria mais a mesma pessoa, repeti a passagem pelo portal duas vezes a procura dessa energia e nada notei de diferente. As ruas são estreitas, casas com paredes angulares, perfeitamente encaixadas e alinhadas, pelo que notei tinham um ou dois cômodos no máximo, coberturas de palhas, as paredes com quase um metro de espessura e janelas apontando para o nascer do sol. Vimos algumas pedras onde sacrificavam pessoas para os deuses. Vi um homem sentado com uma espécia de diário na mão, fiquei perguntando o que ele estaria escrevendo, poesia? História? Narrando sentimentos? Sei que ele estava sentado e olhando pro nada com seu caderninho em mãos. Passamos por um dos terraços de plantações, uma turista perdeu uma garrafa e esta caiu em um local de difícil acesso, então ali ficou um lixo, tanto falaram sobre lixo e acho que não foram 100% eficientes, os terraços eram interessantes construções pois além do cultivo ainda seguravam a montanha pra não deslizar nada morro abaixo. Continuamos pelas ruas estreitas, me encantando cada vez mais, passamos por uma praça, era pequena algo em torno de 400 metros quadrados e entramos em um local onde tinha uma maior quantidade de moradias e todas quase grudas umas nas outras. Quase terminando esse primeiro trecho encontramos por algumas lhamas, minha filha se esbaldou com elas, fotos e mais fotos, os animais eram bem dóceis, ela os abraçou e tirou fotos, claro que também fiz algumas fotos. Dessa vez passamos por uma fonte natural de água, dizia um dos guias que tinham 4 fontes de água, mas essa foi a única que vimos. Olhamos para trás e vimos alguns turistas subindo a pedra do sol, uma senhora subida íngreme e para subi-la precisava pagar um ingresso mais caro, a Fernanda adorou saber que os mais endinheirados pagaram pra encarar um sofrimento igual ou pior do que passamos para subir até a cidade. Também achei foi pouco, gastaram muitos dólares pra sofrer daquele tanto. Naquele momento nos sentimos bem por sermos pobres. Seguindo o passeio entramos em uma casa com cobertura e bem restaurada, ali notei o quanto era fresco o clima das moradias, o sol estava a pino e ali dentro estava parecendo que tinha ar-condicionado. Seguimos até a saída, pois estávamos exaustos de tanto sobe e desce, parecia que a subida esgotou nossas energias. Então na saída da cidade encontramos uma das melhores comidas que comemos durante a viagem, até o tempero era semelhante ao nosso, sentamos, comemos a vontade, dividimos com os cães e fui comprar ingresso para descer a montanha, não tinha mais forças pra descer tudo outra vez. Deixamos o ônibus em Machu Picchu Pueblo e novamente a caminhada pelos trilhos recomeçou e dessa vez a chuva estava a espreita e certeza que iríamos molhar. Encontramos com várias pessoas em sentido inverso ao nosso, a gente via no semblante deles o cansaço e o olhar curioso, cheios de expectativas assim como nós passamos por ali um dia antes, tudo era desconhecido, sentíamos um misto de ansiedade, curiosidade e alegria e agora o sentimento era de missão cumprida, a chuva caiu sem dó e molhamos bastante, escondíamos embaixo de algumas poucas árvores com troncos ou folhagem espessa, mas pouco adiantava, quando a chuva parava a gente andava, mas o sofrimento parecia não existir, não sei a razão mas nada nos deixava de mal humor, nada era ruim, tudo estava bom e bonito, eu estava orgulhoso de mim, consegui conhecer a cidade sagrada gastando 188 dólares, e não os fabulosos 900 que me foi falado. Em uma ponte que mais se parecia um mata-burro matei minha vontade de beber uma água que namorei na subida, não me arrependi, a água estava gelada e puríssima, bebi muito e matei a sede. A volta parecia mais curta e mais rápida, mas era apenas sensação pois o relógio nos mostrava que eram novamente quase 3 horas de caminhada pelos trilhos, chegando na usina hidrelétrica, fomos lanchar e compramos passagem para Ollantaytambo, uma menina nos levou até o ponto de encontro com o transporte, era uma criança de uns 7 ou 8 anos, andava bem rápido nos deixando pra trás várias vezes até que pedimos pra diminuir a marcha pois minha filha estava com o tornozelo machucado, então ela diminuiu o passo, porém o caminho não ajudava, além de estar molhado pela chuva ainda tinha trilhas, buracos e pedras, mas assim que chegamos uma mulher já sem paciência pra esperar mais nos levou até o ponto de partida então entramos em um micro-ônibus lotado de mochileiros estávamos com a mesma roupa há uns 3 dias, mas duvidei que alguém fosse nos achar com mal cheiro pois ali dentro o fedor era o que mandava, fiquei sentado no pior banco, em cima da roda ficando com as pernas altas e num baita aperto, então lição vivida lição aprendida, dali pra frente passaria exigir melhores acomodações nos lugares que fossemos, tanto hoteis quanto transporte, passaria a olhar tudo antes de contratar, chega de sofrimento! Pensei. A viagem de volta demorou bem mais que 3 horas, fizemos uma parada pro motorista lavar o carro e ali lanchamos, como a curiosidade sobre a comida ainda estava em alta resolvi comprar um saquinho com algo torrado, imaginei que era castanha e que fosse interessante, assim que comecei falei que duvidaria pro resto da vida que algum andino comeria aquilo, era duro demais, dava a impressão que quebraria um dente, então como os nativos tinham poucos dentes, como comeriam aquilo. Voltamos pro veículo e a logo a noite caiu e naquele escuro a janela do micro-ônibus já não fazia mais sentido. Chegamos umas 22 horas em Ollantaytambo pegamos uma moto tuc tuc fomos pro hotel, dessa vez o banho foi quente, e realmente nos descansou, assim deitar e recarregar a bateria pro outro dia ir rumo a Nazca.

![Clique na imagem para uma versão maior
Nome: [000101].jpg
Visualizações: 1
Tamanho: 94,0 KB
ID: 139494](https://www.fazedoresdechuva.com/forums/attachment.php?s=ae8b036d6d5a7c3c595e8fc9735e7bb3&attachmentid=139494&d=1543791148&thumb=1)
![Clique na imagem para uma versão maior
Nome: [000216].jpg
Visualizações: 1
Tamanho: 96,0 KB
ID: 139495](https://www.fazedoresdechuva.com/forums/attachment.php?s=ae8b036d6d5a7c3c595e8fc9735e7bb3&attachmentid=139495&d=1543791178&thumb=1)
![Clique na imagem para uma versão maior
Nome: [000229].jpg
Visualizações: 1
Tamanho: 94,4 KB
ID: 139497](https://www.fazedoresdechuva.com/forums/attachment.php?s=ae8b036d6d5a7c3c595e8fc9735e7bb3&attachmentid=139497&d=1543791200&thumb=1)



Almoço delicioso na saída de machu picchu
Última edição por Joverany; 02-12-18 às 20:54.
O sonho é o combust
Permissões de Postagem
- Você não pode iniciar novos tópicos
- Você não pode enviar respostas
- Você não pode enviar anexos
- Você não pode editar suas mensagens
-
Regras do Fórum