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Chegamos na entrada da estrada da morte, uma neblina que cegava quem quisesse enfrentar a descida por esse caminho, a visão não passava de 10 metros, desci um pouco a estrada e nada de melhorar a visibilidade, a polícia boliviana não permitia que seguisse em frente por razões de segurança, voltamos até o início da estrada, esperamos por algumas horas na esperança de que o tempo abrisse e pudéssemos seguir caminho. Vi que tinha pessoas esperando melhora no tempo 4 dias e nada disso acontecer. Decidi que não foi dessa vez que faria a famosa rodovia, vamos voltar pra La Paz e seguir pra fronteira Bolivia-Peru. A moto não tinha gasolina suficiente pra chegar na capital, Coroico estava mais perto então segui até la pra almoçar e abastecer, muitas curvas e descida da montanha, chegamos a uma altitude menor que nossa cidade Morrinhos-GO. A consequência dessa descida foi uma verdadeira salvação, minha filha recuperou totalmente dos problemas respiratórios, estava “zerada”, isso muito me alegrou e muito me aliviou, ali animei e vi que a viagem iria continuar. Pensamos em dormir em Coroico e tentar novamente a estrada da morte na subida, mas ao ver o preço dos lugares pra dormir quase caí da moto, nem parecia Bolívia de tão caro. As ruas da cidade muito me irritou, não possuía asfalto ou concreto, eram pedras grandes a moto andava no maior sacolejo o capacete chegava movimentar na cabeça e atrapalhar a visão, me irritei e parei no primeiro posto, a raiva daquela trepidação estava tanto que nem quis usar o galão, parei a moto na bomba e pra nossa surpresa o frentista cobrou-nos o preço que estava na bomba. Na volta a chuva caiu sem dó, e no trecho de grande altitude a temperatura caiu até 4 graus, tempestade forte, onde não conseguíamos andar a 50km/h, o capacete embaçando me obrigando abrir a viseira, o vento constante fazia com que a chuva acertasse meus olhos deixando-os vermelhos e doendo muito. Por causa de uma decisão errada que fizemos, minha filha não colocou galochas nas botas, o resultado foi que elas encharcaram e com o frio os dedos dos pés dela congelaram, ela estava sofrendo dores intensas, os problemas respiratórios acabaram mas agora veem os causados pelo frio e chuvas. Demorou muito até descermos a altitude e encontrar um local seguro pra parar e socorrer os pés dela, quando parei e fui tirar os calçados dela, a coitada gritava de dor segurando-me pra não tirar as botas porque achava que os dedos estavam sendo arrancados, pedi a ela pra deixar eu ajuda-la então ela permitiu que eu tirasse os calçados, e as meias, os dedos estavam literalmente congelados, vesti nela vários pares de meia, meus sapatos e botei galochas pra que ela aquecesse seus pés, demorou um pouco mas esse problema foi resolvido.
Chegamos em La Paz quase escuro, pude notar a cidade em cima de uma das montanhas, linda ao extremo, como fica entre as montanhas as construções sobem e descem as encostas a impressão é nos dava era de que estávamos vendo uma parede de luzes gigante, pra todos os lados que olhávamos víamos um show de luzes. Conseguimos com um pouco de sorte chegar a mesma hospedagem onde dormimos a noite passada, e dessa vez minha filha não sofreu pra subir as escadas do primeiro para o segundo andar. No dia anterior ela subia quase carregada pois não tinha forças para respirar e eu no esforço para ajudá-la também ficava exausto. A respiração agora era um problema a menos. Aleluia!

Entrada da carretera de la muerte. Infelizmente ficou pra outra oportunidade.
O sonho é o combust
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A saída da Bolívia nos deixou cheios de boas lembranças e já sinto saudades daquele país. Tudo o que me falaram mal não passou de falácia. É um país de extrema pobreza, motocicletas fabricadas por bolivianos com marcas desconhecidas por mim, carros estrangeiros, vi muitos toyotas e mitsubishi, muitas paisagens lindas, estradas boas e terríveis, comida típica é bem simples porém farta, gastamos por dia menos da metade de nossa cota diária de 80 dólares, povo hospitaleiro e amigo. Vivemos naquele país momentos únicos e encantadores. Em uma cidade chegamos perdidos procurando por hospedagem e fomos conduzidos em toda a cidade por um motociclista apenas pelo prazer de ajudar, combustível extremamente barato nos custando menos da metade do que pagamos no Brasil. Fomos muito bem tratados pelas pessoas por onde passamos, a polícia que nos parou algumas vezes apenas perguntaram sobre a moto e fez recomendações sobre estradas nada do que me falaram sobre propinas ou outras chantagens. Vi que la também tinha um longo trecho de pantanal com muitos animais na pista, vacas, cavalos e porcos. Um lindo e impressionante trecho da floresta amazônica, trechos de semi-deserto nas altitudes, mas o que mais impressionou foi a pobreza me fazendo questionar se o militarismo defendido por muitos valeria realmente a pena, um país onde em alguns lugares as pessoas não sabem o que é um cartão de credito, banco internacional em nenhum lugar funcionou, vi desenvolvimento apenas nas grandes capitais, Santa Cruz, Cochabamba e La Paz. Claro que a frustração vivida na estrada da morte, os problemas respiratórios da Fernanda e o frio castigante na altitude muito me entristeceu e castigou meu emocional, mas não seria aventura se não passássemos por isso. Em nenhum momento sentimos medo de assalto ou algo do tipo, andamos em ruas a noite, com pouca iluminação e lotes sujos com mato alto, pra ser sincero não vimos presídios em nenhum lugar, bem poucas viaturas policiais. Não acredito que as pessoas por lá queriam nos assaltar, minha moto não encaixava nos padrões do povo boliviano. Caso me perguntarem se passaria pela Bolívia novamente, não penso duas vezes, minha resposta será um sonoro sim. Adorei os bolivianos, apesar do militarismo e da pobreza é um país bom pra se viver, principalmente porque a cotação do nosso dinheiro faz milagres por la.
O sonho é o combust
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No outro dia seguimos rumo ao Peru, embora algumas pessoas me aconselharam passar por Copacabana por ser um trecho muito bonito, minha opção foi passar por Desaguadero por causa do seguro internacional que seria necessário pra trafegar pelo Peru, certeza que conseguiria fazê-lo em Desaguadero e Copacabana seria incerto. Então creio que tomei a decisão correta. A saída da Bolívia foi semelhante a entrada, muita pobreza e falta de informações, tivemos que tirar xerox de todos os documentos e deixar na imigração, quando fomos fazer essa fotocópia um casal idoso europeu estava também na mesma situação quando terminaram o boliviano deu o preço e exigiu que fosse pago em moeda local, o casal tinha apenas euro e a situação não caminhava iniciando ali uma discussão sem sentido, então peguei umas moedas e paguei o serviço pra resolver o problema, afinal era uma ninharia não nos faria falta.
Entrando no Peru nos foi cobrado esse seguro internacional, achei um absurdo o valor. No Brasil paguei uma carta verde com 30 dias de validade pra atravessar 3 países e o valor era menor que 30 dólares, esse seguro peruano com validade de apenas 8 dias me custou o equivalente a 35 dólares. E pra moto entrar e trafegar por Desaguadero tive que pagar 2 dólares pra pilotar em ruas totalmente emburacadas, no meio duma feira e sem uma placa ou orientação sequer. Adentrando no país já veio aquele questionamento, como são as rodovias? Como é o país? Quais as belezas naturais? Como é comunicar? Quanto vai custar?

Última edição por Joverany; 25-11-18 às 19:05.
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Logo a frente o Peru começou a dar seu show, a policia peruana nos parou 3 vezes em menos de 10 minutos, primeira parada pedir o seguro internacional, a segunda pra verificar nossa documentação pessoal e na terceira pra revista tudo a procura por drogas. O lago Titicaca a nossa direita mostrava que o espetáculo estava apenas no começo, ao chegar em Puno encontramos dois rostos encrustados na rocha nos dois lados da rodovia, o país é na verdade um gigante sítio arqueológico, os Incas foi um povo inteligente deixou um eterno legado que irá impulsionar aquele país por seculos ainda. Chegamos em Juliaca. Por ser mais barato procuramos por uma hospedagem algo parecia não existir naquele país. Mas no primeiro hotel que paramos seu proprietário nos disse que estava acostumado a receber motociclistas e fez um preço bem camarada que cabia dentro de nossa cota diária de gastos, então ficamos, foi o primeiro local onde dormiríamos com wifi e chuveiro de qualidade. Assim que desci da moto mais um incidente, minha calça de chuva rasgou entre as pernas, não poderia seguir viagem pois o frio e as chuvas era uma combinação que muito nos maltratava então a solução foi ficar um dia na cidade a procura de uma calça de chuva, sabia que era uma tarefa quase impossível pois por onde passávamos eu não via nenhum motociclista com esse equipamento e naquela região chovia apenas 3 meses ao ano, então realmente seria difícil mas não impossível, ali como tinha boa conexão fiz algumas video chamadas para as pessoas mais queridas que deixei no Brasil, aliviando um pouco a saudade que já apertava.

Carranca encrustada na rocha, entrada de Puno.

Lago Titicaca, a nossa direita.
Última edição por Joverany; 25-11-18 às 19:18.
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No segundo dia em Juliaca fomos procurar por uma calça impermeável para mim, do hotel onde estávamos até o centro da cidade eram uns 20 minutos de moto, fomos de mototaxi, achei super interessante esses veículos por la, que existem em abundância, são motocicletas com carroceria de carro, três rodas, um banco com encosto para o piloto e banco traseiro para 2 pessoas atrás, e seus pilotos eram muito hábeis no trânsito, realizando manobras que nos assustavam o tempo todo. Andamos quase toda a manha a procura dessa calça, em uma loja de equipamentos para trabalhos perigosos, encontrei uma calça amarela que pelo jeito era usada por lavadores de carros, era ridícula e pouco iria me resolver por ter pernas curtas, mas era de plastico e foi o que melhor encontrei, então o jeito era ficar com ela. Almoçamos em um restaurante no centro da cidade e pela primeira vez aprovei o tempero peruano. Memorizei o nome da comida pra sempre pedir por onde fosse. Voltamos pro hotel em um outro mototaxi. La chegando minha filha pediu pra conhecer um sitio arqueológico chamado Silustani. É um local próximo a um imenso lago, la foi encontrado túmulos de ancestrais incas, sepultados ao lado de ceramicas e ouro. Os tumulos eram circulares com uns 8 metros de altura, ficavam no topo de uma montanha, todos tinham uma cúpula e eram feitos com pedras grandes, perfeitamente polidas e encaixadas umas as outras, com curvas retas, para se encaixarem mas com formato circular conforme o tumulo.
Nesse dia cai da escada do hotel, estava carregando o baú, e não vi os degraus das escadas, machucando a coluna mas nada de grave.
Durante um tempo fiquei parado no quarto e pensando na distância que estava de casa, saudade das pessoas queridas que deixei pra trás, senti vontade de voltar, e ficava me perguntando por que uma pessoa deixa o conforto do lar pra se embrenhar mundo afora, sendo vítima de todos os tipos de sofrimentos, chuva, frio, calor, estradas perigosas e desconhecidas, comidas com tempero diferente do acostumado, fome, sede, cansaço, dores pelo corpo, incertezas do amanhã. Então fiquei ali com esse questionamento e ainda não sabia a resposta.
Fomos até uma universidade ali perto pra comprar churros, esse era diferente do que sempre comi, embora o sabor seja o mesmo, mas o peruano era maior, e todo deformado.
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Sitio arqueológico de Silustani
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Tumulo Inca em Silustani
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Casa que visitamos, na verdade para conhecer como é por dentro e ter uma noção
de como moravam os incas.

Moto taxi de Juliaca ou tuc tuc como muitos chamam.
Última edição por Joverany; 28-11-18 às 22:06.
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Meu coração ficava angustiado e ansioso, Machu Picchu estava próximo, menos de 500 km de distância e tinha muito medo de não conseguir chegar até la, de ter que abortar esse passeio por questões financeiras, o passeio de Cusco até a cidade sagrada custa em torno de 900 dólares. Era obvio que eu não tinha a menor condição de pagar, a solução era fazer passeio de mochileiro e por em prática um plano que fiz estudando caminhos e formas com que outras pessoas foram até la, minha expectativa era gastar no máximo 240 dólares as duas pessoas. Como era incerto ficava mesmo com medo de não conseguir e mal dormiria a noite, conhecer a cidade sagrada dos Incas era a grande razão dessa viagem, se isso não acontecesse não faria o menor sentido ter saído de casa pra ir tão longe.
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Saímos logo cedo pois a jornada era longa, caminhos poderiam ser difíceis e lentos. O trecho era Juliaca ate Ollantaytambo. Normalmente iria até Cusco, mas estudei os caminhos e as dicas e orientações que recebi nos enviava até Ollantaytambo pois o plano era gastar o mínimo possível para ir até Machu Picchu. Tinha apenas 240 dólares para gastarmos nesse passeio e até onde me falaram se partisse de Cusco gastaria bem mais. Então o ideal era ir de moto até Santa Maria e continuar o caminho em uma van ou taxi.
Passamos por Cusco, abasteci a moto estudei os mapas e seguimos viagem. Cusco me deixou impressionado, não parecia nada do que vimos nas demais cidades peruanas, era uma cidade moderna muito grande, transito movimentado, confuso e pesado. Casas modernas, porém edifícios pequenos se comparados com o Brasil. Suas ruas pareciam verdadeiros labirintos, com subidas tão íngremes que minha filha começou a desesperar com medo da moto empinar e ela cair de costas no asfalto. Depois que saímos vieram uma sequência de curvas na estrada, algo comum no Peru, a viagem tornou lenta, devido ao fato de ser um país montanhoso então tinha curvas demais, em alguns trechos a moto ficou um bom tempo sem usar a 6ª marcha, era um ciclo de 2ª, 3ª, 4ª e 5ª. Chegamos em Urubamba, la tomamos uma decisão errada que nos custou caro. O país não é tão rico em placas de sinalização, algumas vezes nos confundimos e nos perdemos por falta desse tipo de orientação. Então seguimos para Ollantaytambo conforme uma placa de sinalização em um local muito confuso, não sabíamos como ir para nosso destino então acabamos entrando numa estrada que era um verdadeiro zigue-zague. Até que de repente a estrada acabou e entramos em um caminho de terra. Estávamos acostumado com esse tipo de caminho pois na Bolívia passamos muito por isso então terra não era problema, porém a estrada estava em construção, tinha tudo que se espera num caminho assim, cascalho, terra, areia, pedras, obras, desvios e claro a morte parecia estar a nossa espera atrás de cada curva fechada. Foi de longe o pior caminho que pegamos e por pouco não caímos num penhasco com uns 15 metros de altura, minha filha pediu várias vezes pra descer da moto com medo de uma queda, porém eu falava pra ela “viemos juntos, e ficaremos juntos, se cair, cairemos os três juntos!” e logo a noite chegou e parecia que Ollantaytambo não chegava nunca, já bem escuro chegamos ao nosso destino. Minha moto quebrou o paralama dianteiro, fiz uma gambiarra com uma cordinha e isso muito me preocupava pois o paralama protegia o radiador e o motor de detritos que poderiam ser arremessados pelo pneu dianteiro. Naquela situação dois sentimentos me invadiam, medo de minha gambiarra não dar certo, o paralama se soltar e algum detrito furar o radiador ou causar algum outro dano me impedindo de seguir em frente, o segundo sentimento foi de raiva, ver minha moto danificada por causa de estradas ruins e longe de casa me deixou extremamente irritado, falei pra Fernanda que ficaria quanto tempo fosse necessário, mas estudaria os mapas e se pra ir até Nazca o caminho fosse novamente aquele a gente daria a volta no Peru inteiro mas alí eu não trafegava mais nessa vida, se fosse o caso voltava pro Brasil pelo Acre mas minha moto não ponho mais na terra, chega! Cansado de imprevistos.

Gambiarra feita no paralama da moto.
Última edição por Joverany; 27-11-18 às 22:41.
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Resiliência irmão!! A estrada se desdobra em aventuras mil. Essa é a parte que a torna a "Dama mestra"!!!! Quem dita a pisada. Rsrsrsrrs
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Meu irmão!!! Tem horas que cai a ficha. Pensamos na distancia e dar vontade de voltar!! Aí entra o espírito do fazedor de chuvas. A solidão se enlaça com a obstinação: seguir é a voz que escutamos!! Parabéns!!
Quero muito trilhar esse caminho.. essa estrada...
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Conseguimos um hotel razoável ao lado da linha do trem de ferro que ia até Machu Picchu, abríamos a janela do quarto e víamos os trens passando, todos vazios ou com pouquíssimos passageiros, o que me indicava baixa temporada, não seria o momento do governo peruano fazer uma promoção para nos atrair e irmos de trem? Nesse hotel o proprietário conseguiu uma van que nos levaria até Santa Maria, la pegariamos um taxi e iriamos até Santa Tereza e novamente um outro até a Usina Hidrelétrica, daí pra frente seguiríamos a pé até Machu Picchu Pueblo. Então dormimos bem, tínhamos wifi boa e banheiro que não aquecia a água, pedimos ao filho do proprietário do hotel para consertar, ele fez isso, mas o serviço não duraria muito tempo, porém o suficiente para nós banharmos.
Começamos nossa caminhada até Machu Picchu logo cedo, fizemos um plano para conhecer a cidade sagrada naquele dia, segundo nos foi falado gastaríamos 2 horas até Santa Maria, depois um veículo até a usina hidrelétrica, duas horas de caminhada até aguas calientes daí subir até a famosa cidade inca. Bom, esse era o plano! E claro que não se concretizou assim. A começar pela hora que a van nos foi buscar no hotel, o combinado era 8 da manha porém ela chegou mais de 10 horas da manhã, assim que entramos no veículo uma menina com uns 7 anos de idade viu minha filha com cabelo vermelho e gritou bem alto pra mãe dela “una mujer de pelo rojo”, foi engraçado ver a mae dando um baita puxão nela pra ficar calada e quieta. A viagem até Santa Maria durou mais de 3 horas, em um lindo trecho montanhoso, sinuoso e cheio de curvas bastante fechadas, curvas desse tipo já estávamos acostumados pois isso no Peru era constante, minha filha sentindo medo de cairmos em um dos vários penhascos pelo caminho. Subimos até 4.300 metros de altitude, paramos para lanchar ou almoçar, saímos e fui sentir o frio da montanha totalmente desagasalhado, levamos apenas a roupa para um dia de viagem, uma blusa mais pra cobrir os braços do sol quente do que o frio, apesar do frio local e do pouco agasalho o clima na grande altitude estava bem agradável. Voltando à viagem uns 10 km a frente encontramos um grupo de ciclistas descendo a montanha em bicicletas alugadas nas agências de turismo local, vê-los descendo me fez sentir uma inveja gigante, era uma verdadeira sensação de liberdade que eles sentiam, uma alegria visível estava exposta em seus rostos juvenis, fiquei o tempo todo olhando-os pela janela traseira do micro-ônibus enquanto fazia amizade com uma moradora local, praticando o nosso espanhol. Quando chegamos em Santa Maria fomos pegar um taxi para ir até Santa Tereza, a amiga que fizemos durante a viagem também iria pra mesma cidade, então “colamos” nela pra nada sair errado, e quem sabe assim não sermos vítimas de mais um imprevisto, foi muito engraçado porque quando descemos da van, que na verdade era um micro-ônibus, os taxistas já vieram pra cima da gente parecendo coiotes quando encontram comida. Então ficamos meio desorientados com tanta gente em volta oferecendo o mesmo serviço, até falar que o veículo do outro não tinha seguro nenhum, escolhi um deles, seguimos nossa amiga e fomos caminhando até o carro vendo-os atras de nós brigando entre si, quase saindo aos tapas. Então fomos em uma estrada de chão e ao lado penhascos dignos da estrada da morte, passamos por pontes que davam calafrios, o motorista poderia sem medo participar de um rally, muito louco pra dirigir num caminho tão perigoso. A chegada em Santa Tereza foi um alívio. Ao contrário da parada anterior nessa não tinha ninguém oferecendo serviço de transporte, com uma certa dificuldade conseguimos achar um taxi, mas por conta de um mal entendido causado pela dificuldade de comunicação ele estava nos levando a outro local, que eu nem sabia onde poderia ser, resolvido esse mal entendido seguimos caminho na direção da usina hidrelétrica, muitas pessoas faziam o caminho todo a pé porque a ida até Machu Picchu era muito cara e qualquer dinheiro gasto a mais poderia fazer falta mais a frente. Na usina estávamos famintos e não encontramos comida a um bom preço, tudo uma verdadeira exploração, o único local onde era mais em conta não foi possível almoçar por causa do péssimo atendimento. Comemos um salgado e seguimos caminhando pelos trilhos do trem de ferro que mencionamos anteriormente, era um trecho cansativo, pedras o tempo todo, entre montanhas e uma densa floresta quente e úmida. No caminho encontramos uma tenda vendendo sanduiche, ali paramos e nos alimentamos melhor para seguir em frente, Fernanda teve uma leve torção no tornozelo e isso tornou a caminhada muito preocupante, por sorte a chuva não caiu sobre nós. Fiquei impressionado com a grande quantidade de pessoas que faziam esse caminho até a cidade de machu picchu, os trens passavam vazios e nós sofrendo pra chegar até lá, o governo peruano em nenhum momento pensa em fazer uma promoção para atrair os mochileiros, lembramos da conversa de que a caminhada pelos trilhos durava apenas duas horas sendo que na verdade consumiu mais de 3 horas. Quando descemos em Santa Tereza já percebi que aquele plano que durava apenas um dia de viagem já tinha ido pro brejo, dois dias pra conhecer a cidade sagrada. Chegamos em Aguas Calientes a noite e no primeiro hotel que tentamos hospedar quase cai de costas quando vi o preço da diária, 300 dolares, andamos uns 100 metros e encontramos um por algo em torno de 25 dolares, pechinchar é negocio até lá. Antes do banho fomos comprar o ingresso para entrar na famosa cidade inca, se fizéssemos isso naquele dia e antes das 20 horas seria melhor pois poderia subir a montanha mais cedo e aproveitar melhor o dia. Nesta cidade consegui pela primeira vez fazer saque no banco internacional e como sempre no hotel o chuveiro era terrível e wifi também precária.
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ID: 139471](https://www.fazedoresdechuva.com/forums/attachment.php?s=74111341d8a328d14ecb429720695242&attachmentid=139471&d=1543763585&thumb=1)
visao da janela de nosso hotel em Hollantaybambo.
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parada pra almoçar no caminho até santa maria.

encontrei esse totem ao lado dos trilhos do trem de ferro.


Entrada de Machu Picchu pueblo, no sope da montanha.



Última edição por Joverany; 02-12-18 às 13:25.
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