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  1. #31
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    Oct 2012
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    Albuquerque, Novo México

    De manhã, depois de rodar um trechinho urbano original da Santa Fé Old Trail, passamos na Harley-Davidson para trocar pneu e lonas do freio traseiro que acabou ontem (510 dólares). Segurança acima de tudo. Quando terminaram os serviços, já avançada a amanhã, fomos diretamente para Madrid (200 habitantes), uns 50 Km a Sudoeste de Santa Fé, viajando pela Trilha da Turquesa, uma estrada-paisagem (scénic-highway) lindíssima, com curvas na medida certa, morros e formações rochosas interessantes e foram cenário do filme Wild Hogs (Motoqueiros Selvagens). Madrid era uma cidade-fantasma desde 1970 e agora, graças a Maggie, dona do Diner, e ao filme, voltou a viver do turismo e da venda de souvernirs. O restaurante Diner, da Maggie, agora é loja de venda de souvernirs, camisetas principalmente (http://www.wildhogsmadridnm.com/maggiesdiner.htm), com uma placa na entrada dizendo que ali não é um restaurante. As mesas e o balcão viraram prateleiras. Quando saímos ele estava fechando. Daí seguimos uns 70 Km no rumo Sul para Albuquerque, a mais populosa cidade do Novo México com 560 mil habitantes aproximadamente, na ponta Norte do Deserto de Chihuahua, a 1.619 metros de altitude, perto da borda do platô do Colorado, onde pernoitamos no Motel 6 e fomos mais uma vez premiados com um belíssimo entardecer nublado, quase às nove da noite. Nesse dia rodamos só uns 120 Km.

    Gallup, Novo México

    O amanhecer em Albuquerque provou que o céu do Novo México é lindo em qualquer tempo, nublado inclusive. Albuquerque é também uma bela e espalhada cidade. Na saída pela Route 66 encontramos uma fotógrafa ajustando as lentes para captar esse céu maravilhoso. Albuquerque concentra um terço da população do Novo México. Chegamos e saímos dela pela Route 66 e da periferia ao centro rodamos cerca de treze quilômetros. No centro são poucos os edifícios altos. Esse controle da verticalização e do crescimento das cidades parece ser uma boa explicação para o bom funcionamento delas nos Estados Unidos. Conclusão oposta vale para as nossas cidades brasileiras. Exatamente por funcionar bem é que saímos cedo para passear tranquilamente pela Old Town e visitar alguns ícones da Route 66, como o Diner 66. No centro também foi tranquilo chegar ao Teatro Kimo. Depois foi só pegar a Route 66 no rumo Oeste até Gallup, um passeio entre muitos remanescentes da Rota, tantos que só olhávamos sem sequer parar para fotografar. Mas paramos na antiga ponte de ferro sobre o Rio Puerco, 30 a Oeste de Albuquerque, perto do Route 66 Casino Hotel. Ziguezagueando entre a I-40 e a Velha Rota 66, foram cerca de 200 Km de paisagens espetaculares sob o maravilhoso céu do Novo México. Era fácil esquecer o GPS e passar batido na saída para algumas atrações. O calor foi grande - rodamos agora sob o inclemente clima desértico - e o camel bag com gelo nas costas acabou logo. Mas deu para parar junto à placa do Chaco Canyon, que é pequeno, mas sua importância está em que ele guarda os vestígios da cultura Chaco e a placa fica bem ao lado da Route 66. Saímos uns poucos quilômetros da Route 66 para visitar o antigo Fort Wingate, instalado onde hoje está a placa e depois removido para as proximidades de Gallup, sempre com a missão de combater os Navajos. As expedições eram comandadas pelo lendário Kit Carson, aquele dos gibis da nossa infância e adolescência lá em Bragança. Chegar a Gallup pela Route 66 e conseguir vaga no motel do histórico hotel El Rancho (El Rancho Hotel Historic Site) era tudo o que precisávamos para escapar do calor bravo. Foi nele que eu e Araceli ficamos hospedados em 2013 (agora ficamos no motel El Rancho, ao lado). Além de ser um local histórico da Rota 66 reconhecido pelas autoridades, o hotel El Rancho tem um excelente restaurante onde os pratos - como os quartos - tem nomes de artistas de cinema. Escolhi o Doris Day, contrafilé com fatias grossas de batata frita sobre uma torrada no estilo texano (e contrariando o rótulo harmonizou com a poderosa Marble Red Ale). Valcir Alberto foi de Ronald Regan, um hambúrguer no prato. Ele gostou. Parece que não era canastrão como o homenageado, a julgar pela satisfação do Valcir. E Araceli, a garçonete que nos atendeu em 2013 foi promovida e agora é caixa. A simpatia continua a mesma. O hotel e o restaurante são às antigas. Nada de máquinas de refrigerantes (argh!) e de café. Por isso mesmo tem muitos empregados. Vida longa para Araceli e para El Rancho, sob as bênçãos de seu proprietário, Armand Ortega Senior, que morreu em julho de 2014 e agora é nome de boulevard. Gallup fica no coração do Indian Country. O céu e as paisagens deslumbrantes do Novo México atraíram fotógrafos e, logo, a indústria cinematográfica. Em 1937 um irmão de D. W. Griffifth construiu o Hotel El Rancho para servir de quartel-general para as locações de filmes. E foram muitos entre os anos quarenta e sessenta do século passado. Astros e estrelas se hospedavam aqui e deixavam registros no livro de hóspedes e nas fotos autografadas. Em The Bad Man, de 1940, Ronald Reagan era ator coadjuvante. Em The Hallelujah Trail (1964) o astro era Burt Lancaster. Por isso os quartos não tem números, mas sim nomes de artistas, como os pratos do cardápio do restaurante. As referências ao cinema estão por todos os lados e caminhando pelo hotel parece que vamos topar com algum desses astros. Com a construção da moderna Interstate 40 (I-40) e o declínio da Route 66 o hotel entrou em decadência até ser comprado e restaurado por Armand Ortega, um galerista de arte indígena famoso no mundo inteiro. Hoje El Rancho é o quartel-general do Inter-Tribal Indian Ceremonial que é realizado em Gallup no mês de agosto há sessenta anos. Outras tribos frequentam este santuário da Route 66, como motociclistas - junto conosco chegaram vários - colecionadores de carros antigos, peregrinos da Rota 66 e por aí afora. O lobby funciona como um ímã e quem senta em uma das confortáveis poltronas de madeira não tem vontade de sair. Foi meu caso. O pequeno jardim é cenário para fotos de aniversários e casamentos. O maravilhoso entardecer desse dia foi por volta de nove horas da noite outra vez. E quando a noite caiu os neóns e placas luminosas do El Rancho produziram um efeito fantástico e inesquecível.

  2. #32
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    Flagstaff e Grand Canyon, Arizona

    O amanhecer em Gallup foi mais fantástico ainda que o entardecer da véspera. Abastecemos as motos cedinho perto do hotel, tomei um chocolate com jerked beef e saímos para visitar alguns dos 11 murais de Gallup. O muralismo teve seu apogeu com os mexicanos Diego Rivera, Orosco e Siqueiros (que metralhou a casa de Trotsky na Cidade do México), o brasileiro Cândido Portinari e outros menos votados. Rivera pintava um mural para Rockfeller e se desentenderam. Rockfeller mandou destruir a obra em execução (a cena aparece no filme Frida). Pior para Rockfeller, pois Rivera executou o mural no Palácio de Bellas Artes, na Cidade do México. Esse episódio obscurantista não matou o muralismo, que vive e vai muito bem na Rota 66. Já mostrei aqui os Murais de Cuba e de Joplin. Encontramos outros ao longo da Rota. Alguns desbotados e outros bem conservados. Os de Gallup estão muito bem conservados. Seguimos uns 38 Km para o Sudoeste, atravessamos a divisa e entramos no Arizona a altura do Teepee Trading Post de Lupton (aldeia de 25 habitantes) e em mais fuso horário (quatro horas menos agora em relação a Ananindeua). Terra dos navajos dos dois lados. Nessa aldeia cenográfica eles vendem artesanato e jóias de regular a boa qualidade (na galeria do hotel El Rancho a qualidade é melhor). Rodamos mais uns 78 Km e chegamos à entrada do Petrified Forest National Park para visitar o Painted Desert, uma das paisagens mais deslumbrantes da Rota 66, cujo traçado original passava nas bordas dele, no lugar onde agora tem uma carcaça de carro antigo. São seis milhas com mirantes para uma paisagem única e mutante, pois a posição do sol altera as cores do deserto ao longo do dia. Por um erro de navegação ficamos sem visitar a Floresta Petrificada, que sacrificamos porque nossa meta nesse dia era chegar de dia ao Grand Canyon. Rodamos uns 94 Km e, depois de passar por Holbrook, paramos rapidamente no Centro de Visitantes de Winslow para fotogravar a maquete de uma formação rochosa muito fidedigna (a atração local é uma cratera). Rodamos outros 90 Km no rumo Oeste e chegamos a Flagstaff, onde conseguimos nos hospedar por bom preço no motel EconoLodge Lucky Lane (em reforma) - o feriado do Independence Day lotara os hotéis e motéis - a tempo de seguir uns 135 Km para o Noroeste até o Centro de Visitantes do Grand Canyon (Entrada Sul), pilotando com cuidado porque essa é uma região de elks - os enormes cervos americanos e canadenses - e enfrentando uma fila também enorme para entrar. Estacionamos as motos e caminhamos até o Mather Point, onde nos juntamos à multidão de visitantes - são 4 milhões por ano - embasbacados com a visão fantástica do Grand Canyon, com o Rio Colorado que se advinha no fundo. O tempo estava melhor da primeira vez que estive nesse mirante com a Araceli, em 2013, pela Eaglerider, quando sobrevoamos de helicóptero toda a extensão do Grand Canyon. A bateria do celular acabou e eu fiquei com poucas fotos. Voltamos com o sol baixando e o frio chegando com um chuvisco, e ao anoitecer já estávamos no motel, com o dia muito bem aproveitado (rodamos uns 560 Km nesse dia).

    Kingman, Arizona

    Na saída de Flagstaff pretendíamos visitar a Boundary Increase, uma maquete da Rota 66, na Birch Avenue, que estava fechada para as festas do Independence Day, que mobilizava a cidade e o país inteiro há muitos dias. Desistimos e demos uma passada na Eaglerider, a maior locadora de motos do país e do mundo, com quem eu e Araceli Lemos fizemos a Rota 66 pela primeira vez. Estavam preparando a festa com churrasco (BBQ) e bebidas geladas. Ganhei um plástico e comprei outro. E seguimos uns 40 Km no rumo Oeste deserto adentro até Williams (3 mil habitantes aproximadamente, 2.062 metros de altitude) e depois outros 40 Km até Seligman (pouco mais de mil habitantes, 1.598 metros de altitude). Paramos no Stagecoach 66 Motel e o dono de uma Harley-Davidson Ultra Glide veio conferir a origem das nossas Heritage Softail Classic. A dona do motel é uma septuagenária norueguesa que anda de Indian Chief, estacionada na frente da recepção. Elvis Presley esteve hospedado aqui (e em outros motéis da Rota 66). É impressionante o que ocorreu com Seligman nos últimos dois anos. Quando passamos aqui em 2013 - com Araceli Lemos - praticamente só havia de atração o Delgadillo's Snow Cap e umas duas lojinhas na esquina. Hoje são várias lojinhas ao longo da Rota 66 onde param ônibus com turistas. Lá não teve crise. É uma ressurreição de cidades parecida com a que acontece no Caminho de Santiago. E o Delgadillo's aumentou sua coleção de carros antigos e criou um curioso jardim em homenagem ao fundador. O lugar tem a minha idade. A verdade é que existe uma Rota 66 física e outra imaterial e as duas se completam, uma vitalizando a outra. Para chegar a Kingman (cerca de 30 mil habitantes, 1.016 metros de altitude) saímos da I-40 e percorremos longo trecho ainda operacional da Route 66 - fizemos uma volta em arco de 140 Km aproximadamente, ao Norte da I-40, com belíssima paisagem desértica e seu horizonte infinito, quebrado aqui e ali por montes, passando por Peach Springs, Truxton, Crozier, Valentine, Hackberry e Antares. Começou a aparecer Los Angeles nas placas e isso prenuncia que estamos chegando ao final desta fantástica viagem pela Route 66. No General Store onde paramos tinha de tudo, até gasolina. E stick de jerked beef, claro. Neste trecho da Route 66 no Arizona a paisagem desértica é fascinante. Mas quem se aventurar de motocicleta por aqui é bom se hidratar muito em cada parada e, se possível, usar uma mochila de hidratação como vi fazerem alguns motociclistas. Eu uso um camel bag de 2 litros da Deuter, compatível com a jaqueta Durban, da Alpinestar. Sei que fica algo bizarro e chama a atenção por onde passo, mas estou acostumado ao conjunto Durban da Alpinestar e tenho me dado bem em todas latitudes e altitudes, com chuva, sol, calor e frio. De repente, no meio do deserto, um bar! E com um Corvette antigo impecável estacionado na frente, sob uma cobertura. Este foi outro que aumentou a coleção de carros antigos ao lado do bar, pois em 2013 quando passamos aqui só tinha o Corvette. Ao final dessa grande volta chegamos a Kingman e paramos no Centro de Visitantes, uma antiga usina de energia elétrica restaurada. A quantidade de museus é impressionante ao longo da Rota 66. Kingman é uma cidade pequena e tem três museus, inclusive o Mohave Museum of History and Art e o Route 66 Museum. Resolvemos nos hospedar no Motel 6. Os grupos da Eaglerider pernoitam um pouco mais adiante, em Laughlin (cerca de 8 mil habitantes, à margem do Rio Colorado, Estado de Nevada), e daí seguem para Las Vegas. Da janela do Motel 6 se avista mais um mural, na parede do Route 66 Museum que, como outros, faz referência à ferrovia Santa Fé, a popular e querida BNSF, mais que uma ferrovia, uma instituição. Seu traçado é paralelo à Rota 66 e várias vezes se cruzam. Os motociclistas saudamos os maquinistas puxando uma imaginária corda do apito do trem. Simpáticos, quando percebem eles retribuem apitando. É de dar saudade. Como chegamos cedo resolvemos dar uma esticada até Oatman (cerca de 200 habitantes). Passamos na Harley-Davidson de Kingman mas estava fechada por conta do Independence Day. Seguimos para Oatman, a cidadezinha-fantasma que ressuscitou e agora é uma cenográfica cidade do Velho Oeste, famosa por isso mesmo e pelos... jumentos! No percurso a mesma belíssima paisagem de deserto e elevações características desta região. E curvas, muitas curvas. Valcir Alberto calculou que o trecho de curvas é maior do que a Serra do Rio do Rastro que, por sua vez, é maior que The Tail of The Dragon. Voltamos ao Motel 6 ao final da tarde. Atravessamos o estacionamento do motel para jantar no Calico's, que agora sei ser um bom restaurante na beira da Route 66. Tomei uma Dos Equis Amber, uma cerveja mexicana muito popular nos EUA. Em Belém só tenho encontrado a Lager, salvo engano (rótulo verde). A sopa de feijão e o contra-filé com tomate e legumes salteados na manteiga estavam excelentes e do tamanho da minha fome. Valcir também gostou do sanduíche com batata chips. E de bonificação o pôr-do-sol entrando pela janela por baixo da palmeira, muito depois das oito horas da noite.


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  3. #33
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    Las Vegas, Nevada

    Mais um belo amanhecer no deserto de Mojave, já com o sol alto - e calor - saímos da Rota 66 em Kingman e rodamos 76 milhas rumo ao Norte, pelo deserto de Mojave, até a Hoover Dam, hidrelétrica com 90 anos de idade (construída de 1931 a 1936), vinte milhas antes de Las Vegas. O Rio Colorado foi barrado para produzir energia elétrica e água potável para toda a região. O lago formado - Lago Mead - tem 1.130 Km quadrados, mas o nível estava baixo. A cor do lago é de um azul turquesa parecido com o do Rio Tapajós. Fiquei com a impressão que a marina foi ampliada. Era um domingo seguinte ao Independence Day, havia fila de carros para inspeção e o sol do meio-dia estava de rachar. Havia muita gente fazendo o tour a pé e tivemos que dar passagem várias vezes para pedestres. Atravessamos por sobre a represa e estacionamos na parte mais alta, onde havia um pequeno pavilhão com cadeiras e telescópios. Com o calor aumentando encerramos a visita passando novamente por sobre a represa - cedendo passo para pedestres sob sol e calor - e subimos até o mirante da margem direita - já no Estado de Nevada - onde tem uma vista deslumbrante do Lago Mead. O calor aumentara e mal deu para contemplar o lago e fazer as fotos. Poucos visitantes estavam no mirante, umas três famílias e nós. Acossados pelo calor voltamos para as motos e partimos para Las Vegas (cerca de 600 mil habitantes, 610 metros de altitude) com a jaqueta aberta para refrescar (o ruim é que seca a segunda pele e aumenta a desidratação). Uma ponta de nuvem descarregou uns pingos de chuva e o tempo estava fechado na rota. Resolvemos fechar as jaquetas e isso valeu como um responso para São Pedro, que parou a chuva (ele não entendeu direito o responso pois uma chuvinha para refrescar cairia bem naquele deserto). Logo entramos na espalhada cidade e chegamos sob respingos ao Tuscany Suites & Casino, hotel bom e barato a uma quadra da Strip, onde estão os mega-hotéis que fazem a fama da cidade, que recebe 37 milhões de turistas por ano. Um infinitésimo deles motociclistas como nós. Resolvemos ficar dois dias em Las Vegas para fazer a revisão das motocicletas e passear pela cidade. Fiz revisão de 80.000 Km, dos quais 75.000 Km comigo pilotando. Em Las Vegas completei dois meses de motoviagem. Faltavam dois dias para chegar no Pier de Santa Monica, Califórnia, final da Rota 66, e daí seguir para o Alaska. Dois meses depois já pude dizer que essa motoviagem é uma experiência humana fantástica, com belas paisagens geográficas e humanas. Limites são testados e superados cotidianamente. É mais ou menos a metade da viagem planejada e a vontade de chegar ao destino começa a ficar proporcional à saudade da Araceli, da família, dos colegas e dos amigos. E estou ficando motoadicto: um dia sem rodar e já fico com síndrome de abstinência. Em mais um lance de sorte - que não tive da vez anterior em que passei de moto aqui em Las Vegas - consegui um ingresso para o espetáculo KA do Cirque du Soleil no MGM Grand. Não consegui ingresso para nenhum dos outros seis espetáculos do Cirque, uma das coisas boas desta cidade em que beleza e breguice andam juntas, lado a lado e muitas vezes esta superando aquela. Las Vegas prova que ser fake e resvalar para a breguice kitsch pode ser fascinante. Afinal, são 37 milhões de viventes que passam aqui todos os anos atraídos por esse fascínio feito de neón e telões. Marcas famosas e elegantes - Louis Vuitton, Swarovsky, Fendi, Tom Ford, Dolce & Gabbana e Gucci - tiveram que se virar para aparecer sem sucumbir ao kitsch de Las Vegas. Conseguiram e não fizeram muitas concessões. Mas mesmo assim tiveram que usar letras enormes que no meio dos exageros da Strip parecem minimalistas. A velha Las Vegas decaiu quando a nova surgiu com os gigantescos hotéis-cassinos da Strip. Setenta milhões de dólares depois para fazer uma rua coberta com um teto curvo com zilhões de placas de LEDs deu na Fremont Experience, com um espetáculo de luz, cores e sons todas as noites no teto e, abaixo dele, os velhos cassinos como o 4 Queens (as filhas do dono), uma inusitada tirolesa, o Binio's (de um gangster que não viveu muito depois de construí-lo), artistas de rua e uma fauna onde sobriedade convive com bizarrices, pin-ups e go-go-boys, além de shows de rock e DJ em três palcos. É mesmo uma experiência. Sei que são coisas diferentes, mas entre o gigantismo kitsch-brega da Strip e a Fremont Experience, prefiro esta. De dia a Fremont Experience é completamente diferente e o teto não parece ser o mesmo que produz o espetáculo de noite. De volta à Strip para assistir o KA, do Cirque du Soleil, que acontece no teatro KA, do MGM Grand. O espetáculo começa na entrada, com um belo e fantástico dragão chinês. E o teatro é ele próprio parte do cenário, o que coloca os espectadores dentro do espetáculo. Os canadenses do Cirque não apenas reinventaram o circo, elevaram-no à condição de arte da melhor qualidade. Desta vez aproveitei bem a passagem por Las Vegas.

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  4. #34
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    Victorville, Califórnia

    Bem revisadas as motocicletas - a concessionária fica em Paradise, perto da famosa placa de boas-vindas - voltamos para a estrada no rumo Sudoeste, rodando cerca de 65 Km deserto adentro até Primm (cerca de 1.300 habitantes, 798 metros de altitude), onde um conjunto de casinos em pleno deserto se aglomeram pouco antes da divisa com a Califórnia. Mais uns 165 Km - os últimos em estradas secundárias absolutamente desertas - voltamos para a Rota 66 e chegamos ao Bagdad Café, de 1950 (três anos mais velho que eu). Mudou de nome depois de servir de locação para o filme homônimo, de 1988 (parece que foi ontem). Rodamos mais uns 40 Km até uma antiga construção ferroviária em Barstow, California, que abriga dois museus, o Route 66 Mother Road Museum e o museu ferroviário. Como é difícil de encontrar, segue o endereço completo: 681 N 1st Ave. Barstow, CA 92311. Rodamos só mais uns 55 Km no rumo Sudoeste - foram cerca de 320 Km rodados nesse dia - e chegamos a Victorville (pouco mais de 120 mil habitantes, 831 metros de altitude), para o último pernoite na Rota 66 (no Travel Inn & Suites).

    Santa Monica, California: End of The Trail

    Descansados, com uma certa ansiedade e até saudade, partimos cedo para o último dia na Rota 66, com parada em vários sítios históricos, como O Summit Inn, um clássico da Route 66 - estação de serviços e restaurante - que fica no número 5970 da Mariposa Road, em Hesperia, Califórnia, ainda no Deserto de Mojave, uns 23 Km depois de Victorville. O nome vem da altitude (1.300 metros), uma das maiores no trecho californiano da Rota 66. Ele nos anuncia também que estamos perto do final da Rota. Os americanos inventaram o automóvel, as rodovias e os motéis. Rota 66 e motel são praticamente duas instituições. O 20th Century Motor Lodge está ativo até hoje no número 1345 E da Route 66 - telefone (626) 335-3348 - em Glendora (52 mil habitantes aproximadamente), já na Grande Los Angeles, quase 70 Km depois do Summit Inn. Quem tiver curiosidade pode dar uma olhada no TripAdvisor. Mais 18 Km pela Rota 66 e chegamos ao Aztec Hotel (311 West da Foothill Boulevard), em Monrovia (quase 40 mil habitantes), que está desativado. É dos mais diferentes que encontramos. E o centro histórico de Monróvia é primoroso. Outros 18 Km e estamos no Rialto Theatre (1019 Fair Oaks Avenue), South Pasadena (cerca de 26 mil habitantes). Entramos em Los Angeles por San Pedro (cerca de 86 mil habitantes) e conhecemos outra Los Angeles muito diferente daquela que os turistas vemos em Sunset Boulevard, Rodeo Drive, Beverly Hill e Holywood. Essa outra Los Angeles tem moradores de rua (negros a maioria), lixo, pichações. A coisa foi melhorando a medida que nos aproximamos do Píer de Santa Mônica, passando por Inglewood (onde fica a Aeroporto e o motel Economy Inn em que nos hospedamos). Quando finalmente chegamos ao Píer de Santa Mônica - depois de rodar uns 180 Km naquele dia - o estacionamento estava lotado. Fizemos uma volta nos quarteirões e continuava lotado. Fomos para o estacionamento do Lobster, o restaurante que fica bem na entrada do Píer e, surpresa: todos os manobristas e as manobristas eram brasileiros e brasileiras e o dono também. Ficamos felizes e eles espantados em receber motos de Porto Alegre e Ananindeua. Almoçar no Lobster e fazer fotos no Píer pode parecer programa de harleyro coxinha. E seria, se os harleyros não tivessem chegado lá rodando em suas próprias motocicletas desde Ananindeua (eu) e Porto Alegre (Valcir). Não é trivial. Por isso valeu a pena comemorar a chegada no Lobster com uma cerveja artesanal - uma Witbier de Santa Mônica - que harmonizou com o delicado linguine negro com frutos do mar. Valcir Alberto preferiu um gnocci. As fotos vieram depois e nos três lugares que disputam o fim da Rota 66: um quiosque de souvernirs onde somos atendidos por um guatemalteco, um poste com uma placa e uma lojinha de souvernirs junto do restaurante Marisol (onde eu e Araceli celebramos a chegada em 2013 com uma lagosta), no final do Píer. Superada essa etapa, vencido esse desafio intermediário, agora começa outro que é chegar a Prudhoe Bay, no Norte do Akaska, dentro do Círculo Polar Ártico. Valeu!
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    Última edição por Gilmar Dessaune; 10-04-16 às 11:24.

  5. #35
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    De Santa Monica, Califórnia, ao Canadá

    Sacramento, Califórnia0

    O plano original era seguir pelo belíssimo litoral californiano, mas a alta temporada reduziu a oferta e aumentou os preços de hospedagem no litoral e por isso optamos por dele nos afastar e seguir no rumo Norte por dentro, passando ao largo de San Francisco, executando um plano de contingência que nos levou a Sacramento (quase 500 mil habitantes), a charmosa capital da Califórnia. Entrar, passar e sair de Los Angeles não é tarefa fácil porque lá tem crise de mobilidade urbana também. E parece que a gestão de Arnold Schwarzennegger (38º governador) não foi lá grande coisa. Quando terminamos a Rota 66 em 2013 eu e Araceli Lemos alugamos um carro e conhecemos o litoral da Califórnia, de San Diego a San Fancisco, inclusive o fantástico Big Sur, seguindo daí para o Nappa Valley. Desta vez seguimos pelo vale do Rio Los Angeles. As colinas estavam também louras no verão de 2015, quando o feno amarela. E o vale estava coberto de cultivos de uva, laranja, tangerina, amêndoas, milho e tomate, muito tomate (ultrapassamos dezenas de caminhões bi-trens carregados de tomates). A caminho de Sacramento fizemos duas paradas para abastecer, uma delas - após rodar uns 485 Km - em Patterson (pouco mais de 20 mil habitantes, Apricot Capital of the World), com uma preciosa vista do vale e das colinas cobertas de feno. As estradas da Califórnia não são tão boas quanto a de outros estados, mas estão sendo melhoradas. Muitos trechos são de concreto antigo, desnivelado e remendado. Em alguns trechos falta água para os fazendeiros que reclamam com cartazes pedindo represas e alegando que sem elas o custo dos alimentos vai subir e vai haver desemprego. Nos hospedamos em um motel no centro de Sacramento e jantamos no Lucca Restaurant and Bar. Tomei uma cerveja Amber Ale Alaskan, que é de Juneau, Alaska. Boa, apenas. Harmonizou com a salada do Lucca, delicadamente temperada. Mas não harmonizou com o penne, carregado de especiarias, azeitonas e alcachofras. Valcir Alberto escolheu um espaguete com almôndegas (que harmonizou com Coca-Cola). Este Lucca é um italiano muito bom, perto do Memorial Auditorium de Sacramento. E assim terminamos bem os primeiros 630 Km no rumo Norte dos Estados Unidos.

    Roseburg, Oregon


    Sacramento é uma cidade encantadora. Seu Capitólio, como tantos outros nos Estados Unidos, é do Século XIX. Mas o que gostei foi do entorno, um parque arborizado tranquilo, como tranqüila estava a cidade naquela manhã de sábado quando por lá passamos antes de sair para a estrada. Avançamos pela planície californiana rumo ao Norte, entre pomares e pastagens, passando por cidadezinhas agradáveis até voltarmos para a rodovia Interstate-5. A paisagem mudou e começamos a subir até 5.000 pés, com a I-5 serpenteando entre montanhas cobertas de coníferas até a linha da neve, que sobreviveu ao verão nos cumes de algumas delas. Rodamos cerca de 450 Km desde Sacramento e chegamos ao Estado do Oregon nesse trecho montanhoso belíssimo, baixando em seguida a um vale onde vamos passar a noite, em Roseburg (160 metros sobre o nível do mar), cidade de cerca de 20 mil habitantes fundada por alemães e marcada por uma tragédia ocorrida em 1959, a explosão de um caminhão carregado de dinamite que destruiu 18 quarteirões e danificou outros trinta. A cidade foi recuperada e hoje está muito animada porque tem um evento que reúne carros antigos (modificados) aos montes (alguns estavam no estacionanento do motel quando chegamos). A impressão que tive é que no Oregon as pessoas são mais acolhedoras e o atendimento é menos impessoal (nos postos de gasolina, no motel e no restaurante Denny's, por exemplo). Gostei de Roseburg e do Oregon. Belas paisagens de montanhas e vales e pessoas simpáticas. E também gostei da comida do Dennys's de Roseburg, no caso, um impecável contrafilé com brócolis e purê de batata. Valcir Alberto jantou um breakfast e se deu bem. Lamentavelmente, em outubro de 2015 uma nova tragédia sacudiu Roseburg quando um atirador de 20 anos matou várias pessoas no campus da Universidade de Umpqua.

    Beaverton, Oregon

    A viagem seguiu no rumo Norte por uns 110 Km até a Latus Motors Harley-Davidson, em Eugene (160 mil habitantes aproximadamente, simpática cidade que abriga um grande campus da Universidade do Oregon), onde José Isse e Márcia, amigos do Valcir Alberto - e logo meus também - foram nos esperar. Daí seguimos juntos até a concessionária Harley-Davidson de Beaverton, na Grande Portland (500 mil habitantes no total), que festejava seu 11º aniversário, com apresentação de uma banda de rock da melhor qualidade. Nossos amigos, que moram em Beaverton, área metropolitana de Portland (cerca de 610 mil habitantes), tiveram a delicadeza de nos hospedar e nossas motos ocuparam a garagem-oficina, onde tem uma pequena fortuna em ferramentas e equipamentos de fazer inveja a muita concessionária brasileira. E com uma geladeira cheinha de cervejas especiais, ordenadas conforme o IBU. O Oregon é o Estado americano com a maior concentração de homebrewers por habitante dos Estados Unidos e é um grande produtor de lúpulo, de excelente qualidade. A revigorante acolhida do belo casal - e da simpaticíssima Golden Retriever Penny - nos deixou agradecidos e animados para seguir viagem, ingressar no Canadá e aí o Akaska é logo adiante. Encontros assim são mágicos e por eles vale a pena cada quilômetro rodado. Ficamos dois dias com José Isse e Márcia, incansáveis em nos ajudar na viagem. José Isse me levou a uma clínica e uma farmácia para obter medicamento de uso contínuo para hipertensão (eu calculei mal a quantidade trazida). E preparou um jantar de despedida com salmão selvagem da melhor qualidade, harmonizado com suas fantásticas cervejas especiais.

    Sumas, Washington: fim da primeira parte da travessia dos Estados Unidos

    Pela manhã nos despedimos e partimos para a fronteira. Graças a uma preciosa indicação de José José Isse passamos cedo na concessionária Latus Harley-Davidson de Gladstone, ainda na Grande Portland, e compramos quatro RedAGas Can de um galão cada para levar gasolina no trecho de Coldfoot a Prudhoe Bay. Esse modelo foi desenhado pelo fabricante para se ajustar aos alforges laterais de modelos como Street Glide e Heritage Softail Classic.http://www.reda-innovations.com/#!reda-gas-can/cmdp. Depois atravessamos o Rio Columbia, ingressando no Estado de Washington, evitamos passar por Seattle (cerca de 660 mil habitantes, importante cidade portuária do Norte da Costa Oeste) e seguimos para a fronteira, em Sumas (1.400 habitantes), onde os americanos não fazem controle algum e os canadenses fazem simples controles visuais e exame de documentação. Depois de rodar aproximadamente 470 Km nesse dia concluímos com inesperada tranquilidade a travessia dos Estados Unidos em 39 dias de viagem e logo iniciamos a travessia do Canadá até o Alaska.
    E a motoviagem continua valendo cada quilômetro rodado.
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  6. #36
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    Boa noite amigos FC´s, devido ter ido participar de um evento no fds passado, estamos retornando hoje às postagens finais do GCFC:

    DÉCIMO QUINTO POST. DESAFIO GRANDE CACIQUE FAZEDOR DE CHUVA. CANADÁ.


    De Huntingdon, British Columbia, a fronteira do Alaska, Yukon Territory

    Chilliwack, British Columbia

    A travessia do Canadá começa no controle fronteiriço em Huntingdon, British Columbia, em uma pequena agência do serviço de fronteiras (Canada Border Services Agency), pouco movimentada, com apenas dois simpáticos agentes - um homem e uma mulher - que pareciam se divertir muito com a nossa dificuldade de comunicação (Valcir tentou explicar em português toda a expedição). Foram os servidores públicos da imigração mais amigáveis que encontrei. Uma informação importante para motociclistas: não precisa registrar a saída dos Estados Unidos para ingressar no Canadá e os trâmites fronteiriços são muito simples, basicamente um olhar no passaporte para conferir o visto de múltiplas entradas, um carimbo e uma superficial inspeção visual da motocicleta. Fazem perguntas sobre a quantidade de dias de trânsito pelo Canadá, quanto levamos de dinheiro e se temos cartões de crédito. E isso foi tudo o que fizeram os agentes e fomos autorizados a ingressar no país. A vantagem de fazer a travessia por Huntingdon é essa, é uma fronteira na zona rural dos dois países, com gente simples e agradável nos dois lados. E assim foi que nos sentimos bem recebidos, bem vindos no Canadá.
    Já havíamos rodado uns 470 de Beaverton, Oregon, a Sumas, Washington, e rodamos mais uns 32 Km pela Trans-Canada Highway, entre florestas, áreas cultivadas, rios e lagos até Chilliwack, simpática e acolhedora cidade de 80 mil habitantes na British Columbia, o Melhor Lugar na Terra (Best Place on Earth), conforme o slogan do governo. A calma e a beleza do lugar sugerem isso mesmo. Esta é uma região agrícola e turística, cerca de 100 Km a Sudeste de Vancouver, propícia para caminhadas, ciclismo, cavalgadas, pescarias, camping e até golf, como sugerem as placas ao longo da estrada. Já entrei gostando do Canadá. Pernoitamos em Chilliwack sob um belo céu azul e um entardecer bem mais tarde, pois o verão ia avançando e nós já estávamos cada vez mais próximos do Círculo Polar Ártico. O jantar foi no excelente restaurante chinês Canton Garden, bem perto do agradável motel onde ficamos hospedados, o Rainbow Motor Inn.

    Prince George, British Columbia

    Abastecemos na estação de serviços da Petro-Canada da esquina, onde fizemos o primeiro desjejum canadense - chocolate quente e jerked beef também - e retornamos para a Trans-Canada, tomando o rumo Norte. Aproveitamos o dia - cada vez mais longo - para avançar quase 700 Km até Prince George, outra agradável cidade de uns 80 mil habitantes, onde pernoitamos no Prince Motel. O nome da cidade homenageia o rei George III, da Inglaterra. Paramos duas vezes para abastecer, uma delas em Lytton Junction, onde tem um simpático restaurante de beira de estrada.
    As mais belas estradas de montanhas, vales e florestas estão nessa região. Em Prince George já estamos na famosa Alaska Highway (não confundir com a também famosa Dalton Highway, no Alaska, por onde ainda vamos passar no final da viagem), estrada construída pelo Exército americano em oito meses durante a Segunda Guerra Mundial (os operários eram canadenses), para retirar o Alaska do isolamento e melhorar a segurança territorial dessa parte do país. Com o fim da guerra ela foi aberta para uso civil e tornou-se a principal rodovia da região. A rodovia original foi construída a partir de Dawson Creek, pouco antes de Fort Saint John, mas atualmente ela foi ampliada, chega a Prince George e prossegue para o Sul até perto de Vancouver.
    As estradas da Columbia Britânica que percorremos são mesmo lindas. Como diz o slogan oficial nas placas dos carros: Beautiful British Columbia. São estradas de montanhas e vales, com curvas suavizadas e retas não tão longas como as dos desertos americanos. Rodamos sempre dentro de florestas de coníferas (e de álamos) ou de vales cultivados, salpicados de bucólicas cidades, vilas e reservas dos povos nativos (first nations, como são oficialmente reconhecidos e denominados). São aquelas paisagens que vemos nos filmes da National Geographic. Rios e lagos, muitos, com suas marinas e acampamentos apinhados de motorhomes. Os rios são protegidos (aqui tem muita indústria de madeira e derivados, celulose e papel inclusive) e muitos deles são habitat do salmão. As pessoas daqui são simpáticas e expansivas, e gozam de merecida fama por isso.
    Prince George é muito simpática também. Tem muitos hotéis, restaurantes e um museu importante. Ela é o ponto de partida para explorar cerca de 1.600 lagos e rios da região, dominada pelas Montanhas Rochosas, a cordilheira que vem desde o México perto da Costa Oeste.
    Outra informação relevante para motociclistas: no verão tem muitas obras nas estradas e isso significa muitas paradas que retardam a chegada no destino. E tem vários trechos em que a estrada ainda é de loose gravel (rípio, gravilha ou cascalho, conforme a língua), o que serve de treino para a temível Dalton Highway. Esses trechos estão sempre sinalizados e, via de regra, em obras de manutenção ou substituição por asfalto de boa qualidade.
    O entardecer em Prince George, muito tarde, foi fantástico também.

    Fort Saint John

    O trecho de Prince George a Fort Saint John (aproximadamente 21 mil habitantes, 690 metros de altitude) - cerca de 440 Km já em plena Alaska Highway - é deslumbrante. Uma sucessão de montanhas (Montanhas Rochosas) e vales férteis e cultivados lindíssimos, vistos de perto ou do alto. Como diz o slogan oficial com orgulho e uma ponta de exagero: o melhor lugar da Terra. Passamos por dezenas de lagos e rios (na região são 1.600 lagos e rios, destino de verão de quem quer ficar perto da vida selvagem com conforto dos motorhomes). O vale do Rio Peace é um dos mais belos por onde já passei, até então, e a estrada está bem ao lado dele por muitos quilômetros. Os rios são habitat do salmão e são muito bem protegidos (se não fossem quebraria a indústria pesqueira). Nesta época do ano a exploração madeireira está a plena carga. Madeira, salmão, petróleo e turismo são as riquezas desta região, que os canadenses cuidam de harmonizar.
    A Alaska Highway e as cidades que ressurgiram a partir dos antigos fortes nelas instalados são resultado direto do ataque japonês a Pearl Harbour. Foi construída em pouco mais de oito meses (cerca de 2.400 Km) sobre pântanos e montanhas. Ironia do destino, hoje os descendentes de japoneses têm excelentes restaurantes na região, inclusive o Mastaro Sushi, perto do motel Four Seasons Motor Inn de Fort Saint John, onde pedi um Niguiri Sushi de salmão selvagem com uma cor natural, sem o corante do salmão chileno a que estamos acostumados no Brasil. E, de quebra, no Mastaro Sushi só tocava bossa-nova (Garota de Ipanema, Samba de Uma Nota Só e por aí). Afinal, os japoneses são fanáticos pela bossa-nova.
    O verão é época de obras nas estradas e faz-se muitas paradas. As sinaleiras com placas de parada (STOP) e devagar (SLOW) são simpaticíssimas. Uma delas nos colocou na frente do comboio e quando soube que vínhamos do Brasil se desfez em cuidados, posou para fotos e abraçou Valcir Alberto. Na passagem do comboio ela fazia reverências mis. Com a caminhonete da construtora na frente (pilot car) seguíamos pelo cascalho (loose gravel ou rípio) em baixa velocidade e comendo poeira alguns quilômetros, até voltar ao asfalto.
    Informação relevante para motociclistas nesse trecho: é obrigatório encher o tanque em Mackenzie Junction, a uns 160 Km de Prince George, onde tem uma estação de serviços da Petro-Canada, porque o próximo posto de abastecimento está 148 Km adiante. Nesse ponto a estrada faz uma curva e toma o rumo Nordeste
    Pegamos chuva em vários trechos mas chegamos a Fort Saint John com sol e com direito a arco-íris. Assim é fácil se apaixonar pela Columbia Britânica.
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  7. #37
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    Continuando o 15º post:

    Watson Lake, Yukon Territory

    Na saída de Fort Nelson passamos no museu que guarda a herança histórica da cidade de 6 mil habitantes, que ressurgiu em 1942 com a construção da Alaska Highway. O museu é mantido por uma sociedade civil sem fins lucrativos que merece todas nossas homenagens. E pensar que no Pará temos cidades muito maiores e muito mais antigas que não tem museu.
    A partir de Fort Nelson a Alaska Highway toma um serpenteante rumo Noroeste, seguindo os vales. O trecho de 530 Km de Fort Nelson até Watson Lake (cerca de 900 habitantes) tem aproximadamente 300 Km em construção. Partes são em cascalho, quase sempre em reparos ou em construção, pelo que nesses trechos devemos esperar no sinal de STOP e seguir o pilot car (sempre uma caminhonete) em comboio até o fim do trecho em obras. Há muitos trechos com remendos de cascalho, o que requer muita atenção do motociclista, principalmente os que pilotam moto custom como nós e, qualquer moto, quando em alta velocidade. Há três pontes metálicas que requerem cuidado redobrado na passagem porque o piso é também de aço e se chove fica muito escorregadio. É mais seguro escolher uma marcha de baixa velocidade e nela se manter durante toda a travessia, sem acelerar ou frear, para não perder tração e correr risco de derrapar e cair.
    Cuidado com a gasolina nesse trecho. É mais seguro encher o tanque a cada 100/150 Km, conforme a autonomia da moto. De todo modo recomendo abastecer no Coal River Lodge & RV Park (fica a uns 240 Km de Fort Nelson), onde o proprietário preservou cuidadosamente o marco original da Milha 533 da Alaska Highway. O Muncho Lake fica logo depois e é muito bonito, mas muito bonito mesmo, e a Alaska Highway segue ao lado dele por uns 12 Km. Passamos por ele sob sol e uma temperatura muito agradável.
    Na Milha 588 fica o ponto onde as duas equipes construtoras da Alaska Highway se encontraram (Contact Creek). Nesse trecho a estrada serpenteia ao longo da divisa entre British Columbia e Yukon Territory, entrando e saindo várias vezes até entrar definitivamente no Yukon um pouco antes de Watson Lake, onde finalmente chegamos e nos hospedamos no histórico Air Force Lodge, que recomendo fortemente não só porque tem o menor preço, mas por ser histórico e porque Mike, o proprietário, é muito simpático e acolhedor, nisso lembrando os hospitaleros do Caminho de Santiago. Ele sabe tudo sobre o hotel e Watson Lake. Outra coisa que lembra o Caminho de Santiago é que para entrar no hotel precisa retirar os sapatos ou as botas, deixadas na entrada. Gostei muito do Air Force Lodge (http://airforcelodge.com/), dois anos mais antigo que a Alaska Highway, que deu origem a cidade de Watson Lake tal como hoje é conhecida. É um lodge com alma, com espírito, com soul, como os albergues do Caminho de Santiago. É o mais barato da cidade (mas cinco vezes mais caro que os albergues do Caminho...). Mike, definitivamente, é a hospitalidade em pessoa, simpatia e bonomia proporcionais ao tamanho dele. A vizinhança é boa: Real Polícia Montada e o Bee Jay's, que serve comida mais ou menos, como o frango havaiano e o hambúrguer que jantamos. A sopa de feijão estava boa. Na volta ganhamos um arco-íris duplo. Uma ótima maneira de terminar a jornada. Beleza pura.
    Em Watson Lake fica a Floresta de Placas, a Sign Post Forest, um dos mais famosos marcos da Alaska Higway. Ela é um impressionante conjunto de placas - agora já tem mais de 100 mil placas - iniciado em 1942 por um soldado americano (GI) com saudades de casa (ele era do Illinois), onde os visitantes podem colocar suas próprias placas.

    Whitehorse, Yukon Territory

    Na saída de Watson Lake passamos na Sign Post Forest (http://www.watsonlake.ca/our-communi...n-post-forest/), uma atração turística mundial. Rodei mais de 20 mil quilômetros e naveguei 2 mil quilômetros Rio Amazonas acima para colocar lá uma placa da moto com o nome de minha esposa Araceli Lemos. O governo local vai colocando os postes de madeira a medida que eles vão enchendo de placas pregadas pelos visitantes. Na recepção tem martelo e pregos. A minha placa é prova de amor e também algo como um ex-voto pela graça alcançada...
    Definitivamente, esta motoviagem é também uma motoperegrinação.
    Saímos de Watson Lake com um céu maravilhoso e seguimos no rumo Noroeste para Whitehorse (cerca de 25 mil habitantes, capital do Yukon Territory, altitude variando de 670 metros a 1.700 metros). O trecho mais lindo fica na travessia de um braço do Lago Teslin (260 Km depois de Watson Lake aproximadamente) por uma ponte metálica (muito cuidado com o escorregadio piso de aço) e prosseguindo pela margem dele por muitos quilômetros. Logo após a ponte fica o acolhedor Yukon Motel & Restaurant. Poucas obras no trecho garantiram viagem tranqüila. Mas mal chegamos no Family Motel desabou uma pancada de chuva rápida, só para molhar a bagagem. O motel - caro (100 dólares o quarto duplo) - diz ser amigável para motociclistas, mas esqueceram de avisar para a recepcionista, uma indiana impaciente e de escasso humor. Está lotado de amishs da Pensilvania, de todas as idades, que vieram em um ônibus.
    Na chegada a Whitehorse avistamos um navio a vapor que parecia estar no rio Yukon. Não estava. Estava sobre a margem do rio. Isso mesmo. Em terra sobre a margem do rio. Só no Motel Family fiquei sabendo que se trata do S. S. Klondike, vapor construído em 1929, afundado em 1936 e reconstruído a partir do que sobrou (lembrei do navio Sobral Santos que afundou no Rio Amazonas em frente a Óbidos e continua navegando até hoje). Ele - o Klondike - abastecia Dawson City fazendo 10 viagens por temporada, até que as pontes baixas das rodovias construídas nos anos 50 do século passado tiraram o navio de operação em 1955. Restaurado nos mínimos detalhes - até as revistas são da época - agora é um museu.
    Whitehorse tem cerca de 25 mil habitantes e é a capital do Yukon Territory. Não consta que tenha complexo de inferioridade por ser uma capital pequena de um Território grande (grande como a vida, diz o slogan do Yukon).
    O tempo chuvoso nos obrigou a jantar no restaurante chinês anexo ao Motel Family. O rolinho e a sopa de noodles com legumes e BBQ de porco y não decepcionaram, mas não eram maravilhas. Valcir Alberto preferiu um arroz frito com BBQ de porco também.

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  8. #38
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    Fechando o 15º e último post:

    Fronteira do Alaska, Yukon Territory

    No chuvoso dia seguinte saímos de Whitehorse para atravessar a fronteira para o Alaska e daí seguirmos para Tok, 622 Km no rumo Noroeste. Seguimos viagem administrando o tempo, esperando passar a chuva na partida e esperando chegar sem chuva no destino. Pegar alguma chuva na estrada parecia inevitável, conforme as previsões da véspera. E tem obras no trecho de 622 Km, como nos alerta o GoogleMaps. Mas a medida em que nos aproximamos do Círculo Polar Ártico o clima vai ficando muito instável e imprevisível. Assim foi que saímos de Whitehorse sob ameaça de chuva, mas a camada de nuvens avançava para Leste e nós para Noroeste. Tudo isso era possível acompanhar praticamente em tempo real pelos aplicativos baixados no iPhone, inclusive os radares meteorológicos dos governos canadense e americano e o satélite NOAA. Um aplicativo fundamental é o excelente Yahoo Tempo.
    Descoincidimos nossas rotas - a da camada de nuvens e a nossa - e pegamos só chuvisco.
    A surpreendente beleza do dia foi o Lago Kluane, com água azul turquesa. A Alaska Highway bordeja o lago por quilômetros a fio. Em um trecho mais estreito e raso ela atravessa o Lago por uma ponte metálica. Destruction Bay (39 habitantes), mais adiante, é a cidadezinha que surgiu com a construção da Alaska Highway. Um dia, muitos anos atrás, ela foi completamente destruída por uma tempestade, daí o nome da baía. O Lago é como se fosse uma nesga do Mar do Caribe trazida e colocada caprichosamente no fundo deste vale. Uma boniteza só. Parada para abastecer e oportunidade de encontrar James Carpenter, de Laffayette, Louisiana (onde Valcir Alberto e Neviton Custório pararam para comprar lembranças na Harley-Davidson Cajun).
    Na rota nos colocamos sob a proteção de Nossa Senhora da Trilha, trazida para o local onde hoje está a sua capela por um padre que catequizava garimpeiros na corrida de ouro (golden run).
    E foi assim, com sol, calma, segurança e belas paisagens que chegamos aos confins do Yukon e nos preparamos para entrar no Alaska, a última fronteira! E sem precisar fazer controle fronteiriço do lado canadense.
    É fantástico!
    Apenas isso!
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  9. #39
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    Despedida do Yukon Territory, Canadá, preparando a entrada no Alaska, em 20 de julho

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    Motoviagem Nuestra America


    José de Alencar
    Ananindeua - Pará - Amazônia - Brasil
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    Última edição por josedealencar; 26-06-16 às 11:17. Razão: Correção

  10. #40
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    Boa noite amigos FC´s...

    Eu estava errado, num era o último post... ainda tem o 16º que aqui começamos a postar para o amigo aventureiro de Ananindeua - PA.

    "DÉCIMO SEXTO POST. DESAFIO GRANDE CACIQUE FAZEDOR DE CHUVA. ALASKA.


    Da fronteira do Alaska, Yukon Territory, a Deadhorse/Prudhoe Bay, Alaska



    Da fronteira a Tok, Alaska


    Depois dos tranquilos trâmites fronteiriços para reingressar nos Estados Unidos, estamos, finalmente, no Alaska!
    Continuamos rodando pela mítica Alaska Higway, desfrutando o dia longo e a agreste e bela paisagem, que vai mudando a medida que avançamos para o Norte. Noto, principalmente, que o tamanho das coníferas diminui e as espécies são cada vez mais reduzidas. Basicamente, coníferas e gramíneas, e alguns arbustos pequenos e floridos.
    Em viagem tranquila chegamos a Tok, passagem obrigatória para quem escolhe essa rota para Fairbanks. Nos hospedamos em um motel com novíssimas cabanas de troncos como as do cinema e história em quadrinhos. O sol se põe às 23 h e as fotos foram feitas por volta de 22 h, depois de jantar um excelente espaguete, com direito à salada (coma quanto pode), no Eddy's, o enorme e concorrido restaurante do motel Young's. A cerveja é a Alaskan American Pale Ale, a cerveja especial do Alaska. Já conhecia a Amber e agora provei e aprovei a excelente APA.
    No dia seguinte, depois de um bom e reparados descanso na cabana de madeira, avançamos um pouco mais até Fairbanks.

    De Tok a Fairbanks, Alaska

    Descansados, depois de um excelente café da manhã no Eddy’s, cumprimos o ritual de preparação das motocicletas e sob o glorioso sol do Alaska partimos para Fairbanks.
    Em Delta Junction, no posto de gasolina, ninhos de andorinhas com filhotes emplumados e prontos para voar longe quando o inverno chegar, são bom presságio. Um dia eles voarão rumo ao Sul e quem sabe até Ushuaia. Verão no Alaska tem sol até tarde da noite, muito tarde. Em Fairbanks, em junho de 2015 teve também aurora boreal. Infelizmente, não tivemos sorte em julho de 2015 e ficamos sem vê-la. E lá chegamos sob um sol polar. Perto de Fairbanks fica North Pole, onde vive o Santa Claus. De mentirinha, claro. Mas a cidadezinha vive disso, graças ao empreendedorismo de um americano que um garotinho achou parecido com Papai Noel. Passamos por lá um pouco antes de chegar a Fairbanks, mas não paramos.
    Nos hospedamos no Golden North Motel, perto do aeroporto e da concessionária da Harley-Davidson, a Farthest North, onde passamos para uma pequena revisão das motocicletas antes de enfrentar a temível Dalton Highway. É um ponto de encontro de motociclistas do mundo inteiro, uma dessas esquinas do mundo, onde todos se encontram (ela é concessionária da BMW e da Buell também). Encontramos motocilistas brasileiros que não vinham de boas experiências. Um grupo que veio rodando de Miami em motocicletas bigtrail desistiu de prosseguir e queriam nos convencer a alugar uma van para completar o percurso como turistas. Era um papo depressivo. Outro estava voltando depois de ter sofrido uma queda já na volta, sem gravidade. Tivemos notícias de outros motociclistas brasileiros que haviam se acidentado e estavam repatriando as motos.
    O tempo próximo dos polos é instável e isso atemoriza quem viaja de motocicleta. E quem viaja de motocicleta custom, como nós, tem que ter cuidados redobrados. Mas eu vinha acompanhando o tempo com vários aplicatívos desde que saí de Belém e sabia que a previsão era de tempo bom nos próximos cinco dias, tempo mais que suficiente para ir e voltar de Deadhorse. Tínhamos que aproveitar essa janela do tempo favorável. Por isso preferimos recusar gentilmente o convite de ir de van para Deadhorse.
    Para brindar a boa chegada a Fairbanks fomos ao Brewster's e lá escolhi uma Alaskan Stout e para jantar um halibut. Muito diferente de tudo que havia comido até então. A pesca do halibut é uma importante atividade econômica do Alaska e vez por outra aparece nos documentários da NatGeo. O que comi foi preparado com uma crosta que leva cerveja Stout. Gostei, mas acho que grelhado ficaria bom também. Mas não seria comida de pub. Nem do Alaska. Valcir Alberto preferiu um penne e um mug de Coors Light.
    De Fairbanks a Coldfoot, Alaska

    Descansados e confiantes, saímos sob o glorioso sol do Alaska para enfrentar a Dalton Highway.
    Atravessamos a cidade e rodamos alguns quilômetros em bom asfalto até chegamos à famosa placa que marca o início da Dalton, onde paramos para as clássicas fotos e para marcar o território com nossos plásticos (sei, é politicamente incorreto fazer isso).
    Logo o asfalto acabou e finalmente nos encontramos com o famoso cascalho da Dalton - o temível loose gravel - o que exigiu mudança no estilo de pilotagem. Aqui e acolá as obras nos obrigavam a seguir em comboio, guiados pelo pilot car, muitos pilotados por mulheres (pilot car é uma profissão bem remunerada no Alaska). O oleoduto aparece sempre ao lado da Dalton que, na verdade, é uma rodovia privada destinada apenas a manutenção do oleoduto e dos campos de petróleo de Prudhoe Bay.
    Chegamos ao Yukon River e logo depois da travessia por uma longa ponte fomos ao acampamento abastecer e comer alguma coisa. Era mais ou menos a metade da viagem desse dia (o trajeto é de 400 Km mais ou menos).
    Depois de alguns quilômetros de loose gravel chegamos ao Círculo Polar Ártico, onde paramos para fazer as clássicas fotos. Tivemos a companhia de turistas vindos de Fairbanks que estavam indo também para Deadhorse em uma van, com uma simpática guia, que nos emprestou o tapete com a linha imaginária para fazer nossas fotos com um pé em fora e outro dentro da calota polar.
    Seguimos pilotando com cuidado no rumo de Coldfoot, onde chegamos com o sol alto.
    Nos hospedamos no famoso acampamento - a origem dele é a construção da Dalton - e abastecemos as motos para a etapa final (é o último posto de abastecimento antes de Deadhorse).
    O jantar é surpreendentemente bom, um buffet variado, farto e não tão caro, considerando as dificuldades do lugar.
    Com o sol ainda alto fomos dormir - eu tenho que usar tapa-olhos - e descansar para no dia seguinte enfrentar os últimos 400 km até Deadhorse.

    A CAMINHO DE DEADHORSE

    Como imaginava, não foi possível fazer uma foto do alvorecer em Coldfoot porque ele aconteceu pouco depois das quatro horas da madrugada. Quando fiz a foto, por volta das seis horas da manhã, o sol já alteava sobre as colinas à Leste do Coldfoot Camp. Para enfrentar os últimos 400 Km de cascalho (loose gravel) da infame Dalton Higway encapamos a bagagem das motos com sacos de lixo robustos que ganhamos do Golden North Motel (Fairbanks) sob o glorioso sol de Coldfoot e tomamos um reforçado café da manhã. Saímos por volta de oito horas da manhã e - surpresa! - rodamos cerca de 20 Km em bom asfalto, que voltava a reaparecer aqui e acolá. A chuva de alguns dias havia retirado o excesso de poeira e o sol havia secado o cascalho. À Dalton Highway não estava sendo tão infame para nós.
    Enquanto a paisagem ia mudando com as coníferas reduzindo de tamanho e depois desaparecendo completamente, entramos em uma região de colinas, montes baixos em pura pedra e vales com belíssimos campos de altitude, salpicado de lagos e rios. Nos metemos sob uma preocupante camada de nuvens mamatus - isso mesmo, nuvens parecidas com tetas - por algo como oitenta quilômetros. Saímos dela e o glorioso sol do Alaska reapareceu é assim foi até uns cem quilômetros antes de Deadhorse, quando o tempo mudou bruscamente e nos metemos sob uma camada de nuvens carregadas, com uma neblina que condensava no pára-brisas da moto. A temperatura baixou e a sensação térmica se aproximou de algo como zero grau. Um chuvisco piorou as condições da estrada. Obras também. À medida que avançamos para o Norte restos de neve do inverno salpicavam de branco longos trechos da margem do rio paralelo à Dalton Highway e isso reduzia mais ainda a sensação térmica. O cascalho engrossou e dois trechos com inclinação pronunciada - um deles com aviso do risco de avalanches - exigiram cuidado extremo na pilotagem das motos.
    Alguma incompatibilidade ou a dificuldade de captar satélite sob a camada de nuvens tirou o GPS de operação uns cem quilômetros antes do destino. Adotamos um estilo de pilotagem supereconômico para tentar chegar só com a gasolina do tanque, sem precisar usar a dos dois galões de reserva. Prudhoe Bay parece não chegar nunca. Uma gaivota apareceu e isso é sinal de que o Oceano Ártico está mais perto. Conduzir com frio nas mãos e cuidados redobrados - na ponta dos dedos, diria aquele narrador chato - passa a ser uma exigência e um esforço final para que nada dê errado. Agora temos certeza da chegada ao destino. Queremos e vamos chegar. E vamos chegar bem!

    PS: Capítulo redigido no dia da viagem

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    Última edição por Gilmar Dessaune; 01-08-16 às 22:35.

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