Na busca incessante por novos destinos e desafios, foi com grande satisfação que recebemos a noticia de que fazer a rota do Rio Tiete de motocicleta agora era um desafio dos Fazedores de Chuva. Márcia e eu decidimos fazer o desafio no encontro dos Fazedores que houve em Vitoria no final de 2012 e já na viagem de volta fizemos as primeiras cidades do famoso rio.
Aproveito para colocar um resumo do que é o Rio Tiete para o Estado de São Paulo aqui abaixo, de um texto que não é meu mas achei muito bem escrito.
O rio Tietê nasce a uma altitude de 1.030 metros da Serra do Mar, no município paulista de Salesópolis, a 22 km do oceano Atlântico e a 96 km da Capital. Ao contrário de outros rios, ele subverte a natureza: como não consegue vencer os picos rochosos rumo ao litoral, em vez de buscar o mar - como a maior parte dos rios que corre para o mar – o Tietê atravessa a Região Metropolitana de São Paulo e segue para o interior do Estado, desaguando posteriormente no rio Paraná, num percurso de quase 1.100 km.
A nascente do Tietê, apesar de encontrada num passado recente, possui importância histórica e econômica diretamente relacionada às conquistas territoriais, realizadas pelos Bandeirantes que desbravavam os sertões, fundando povoados e cidades ao longo de suas margens.
O rio Tietê percorre 1.100 quilômetros, até o município de Itapura, em sua foz no rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul. Banha 62 municípios ribeirinhos e sua bacia compreende seis sub-bacias hidrográficas: Alto Tietê, onde está inserida a Região Metropolitana de São Paulo; Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê.
O lançamento de esgotos industriais inicia-se a 45 km da nascente na cidade de Mogi das Cruzes. Na zona metropolitana o rio encontra o mais complexo urbano-industrial do país, e conhece um de seus trechos mais poluídos, a foz do Tamanduateí.
O Tietê passou a ser considerado o curso d’água que, melhor do que qualquer outro monumento, representava o espírito da capital dos paulistas, mesmo sendo o curso preferencial de escoamento dos esgotos urbanos.
"Para contar sua história, é preciso lembrar inicialmente da evolução de São Paulo", como o diz o historiador Fausto Henrique Gomes Nogueira. São Paulo e o Tietê estão intimamente ligados, pela história, pela geografia, pela cultura, e também pelas dificuldades. Símbolo da cidade, trata-se de um personagem fundamental durante os períodos econômico das bandeiras, monções, da cafeicultura e da industrialização.
Durante muitos anos, o rio foi a única via de acesso ao interior da província de São Paulo e, embora não navegável em alguns trechos, se tornou o caminho mais rápido para se atingir o Estado do Mato Grosso. Além de sua importância histórica, possui considerável significado econômico, ligado principalmente à produção de energia hidroelétrica imprescindível para o maior parque industrial da América do Sul. Também foi um local de lazer e entretenimento, porém, desrespeitado pela cidade, se transformou em “esgoto a céu aberto”.
São Paulo foi fundada em 25 de janeiro de 1554, quando se ergueu o colégio dos jesuítas em local alto - uma colina com visão abrangente e excelente para a segurança - que deu origem ao povoado de São Paulo de Piratininga, cercado pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú, e próximo ao rio "Anhembi" que “corre de costas para o mar”.
Até o século XVII, o Tietê era chamado de Anhembi. Historiadores e homens da época consideram que o nome é derivado de uma ave muito comum na região, as anhumas, significando rio das Anhumas. Com o passar do tempo, percebe-se que o Tietê é um local de incursão, tendo em vista a pobreza da capitania, pouco ligada à metrópole. O sertão parece fornecer a possibilidade de riqueza. O rio era misterioso, pois corria terra à dentro. Inicia-se o Ciclo das Monções.
As monções eram expedições fluviais povoadoras e comerciais que partiam do porto de Araritaguaba, na cidade paulista de Porto Feliz, região de Sorocaba. A expressão significa vento favorável à navegação. A descoberta das minas nas cercanias de Cuiabá iniciou o período de grande euforia das Monções. Nessa época, o Tietê foi o caminho dos aventureiros que, em busca do sonho dourado, fundavam povoados à sua margem. Na manhã da partida era rezada uma missa para o sucesso da missão. Todos iam ao porto onde as embarcações recebiam a benção.
A imaginação supersticiosa dos caboclos mamelucos envolvia a existência de lendas sobre o rio Tietê com seus seres sobrenaturais como o “Monstro de Pirataca”, representado por uma enorme serpente que habitava as profundezas escuras à jusante no salto de Avanhandava e que devorava homens com apetite voraz. Havia também a “Canoa fantasma” que aparecia soturnamente nas manhãs nevoentas com sua tétrica tripulação ora subindo ou descendo o rio e desaparecendo misteriosamente.
O rio foi importante até o século XIX quando homens preferem as tropas de mulas, menos perigosas. No final do século XIX e início do XX desenvolveu-se a prática esportiva e, embora a poluição já fosse um problema no Tietê nas primeiras décadas do século XX, ainda não havia comprometido tão grave.
Na região da capital o rio permitia em muitos trechos a recreação, principalmente com os clubes localizados junto à Ponte Grande, durante muito tempo um “local pitoresco e aprazível”, onde grande parte da população desfrutou de momentos inesquecíveis. O Tietê ganhou fama como área de lazer, reunindo nos finais de semana centenas de pessoas ávidas por diversão.
O lazer combinava-se com a prática da pescaria e dos esportes aquáticos. Suas margens, acima de tudo eram um espaço de festa: piqueniques, partidas de futebol, serenatas, pescarias, esportes náuticos, como provas de remo e de natação. Situados junto à Ponte Grande, foram surgindo diversos clubes de regatas, atraídos pela beleza do local. Possuíam portões para embarque e desembarque em canoas, piscinas naturais e “cochos”, cercadinhos de madeira feitos dentro do próprio rio, perto da margem, nos quais instrutores dos clubes ensinavam crianças e adultos a nadar.
Nas primeiras décadas do século XX, desenvolveu-se o mito “São Paulo não pode parar”. Este processo de ocupação territorial e de industrialização ocorreu de forma “caótica”, não levando em consideração a sustentabilidade da cidade e sua qualidade de vida. O meio ambiente acabou sofrendo as marcas deixadas por esse “progresso”, com a ocupação de vales e escarpas, contribuindo para a impermeabilização dos terrenos.
A preocupação com a retificação do Tietê é bem antiga. Em 1866, o então presidente da Província de São Paulo, João Alfredo Correia de Oliveira, afirmava sua necessidade, a fim de utilizar os terreno das várzeas do Tamanduateí e do Tietê.
No final do século XIX a administração pública encarregou-se da organização de uma Comissão de Saneamento que estabeleceu o Tietê como responsável pelas cheias. Já na década de 20, surgiu a Companhia de Melhoramentos de São Paulo que reuniu sanitaristas e engenheiros que defenderam a necessidade de retificação do curso sinuoso do rio, além do desassoreamento de seu leito. No comando dos trabalhos estava o engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, autor de diversos estudos sobre o Tietê.
A várzea do Tietê não foi mantida, fez-se a canalização, e o rio sofreu com a instalação de empresas ao longo de suas margens. Assim, o processo de destruição da paisagem natural se baseou na ocupação do seu leito maior e no confinamento de suas águas em estreitos canais retificados. A ideia era construir uma avenida paralela ao canal do rio, uma rodovia urbana.
A opção escolhida foi intensificar a velocidade de vazão das águas, aumentando a declividade com a retificação do rio; e, depois, aterrar o máximo possível o antigo leito maior (as várzeas), a fim de , posteriormente, depois lotear e vender áreas públicas.
O Tietê foi, assim, progressivamente sufocado pelo suposto “progresso” com a ocupação de suas várzeas, ocupação territorial, demográfica e industrial, sem controle. Os loteamentos se sucederam sem respeitar uma lógica ordenadora da cidade, mas levando-se em consideração apenas os interesses econômicos.
A partir daí, o rio caracterizou-se por problemas, os mais famosos: enchentes e poluição. As enchentes sempre foram constantes. O Tietê invadia suas várzeas e formava depósitos de moscas e pernilongos. Ocorreram enchentes históricas como a catastrófica de 1929 e, sucessivamente, os paulistanos sofrem com as cheias principalmente pela intensa urbanização que reduziu a área de absorção das chuvas, e por muitos planejadores terem desprezado a distribuição lógica das áreas de contenção das águas fluviais.
No que se refere à poluição do rio, embora hajam considerações a respeito já no século XVII, sobre exploração de ouro, o problema se agravou com o processo de industrialização. A cidade cresceu de forma desorganizada, sendo descarregados os esgotos industriais e ocupadas as suas várzeas. Nos anos 40 e 50 a situação fica ainda pior, quando o prefeito Adhemar de Barros resolveu interligar as redes de esgoto sanitários da cidade, fazendo-as desembocarem no Tietê.
No início dos anos 80 já era um rio imundo e mal cheiroso. Os biólogos assinalam que o Tietê foi submetido a dois processos: poluição e contaminação. Quem contribui para a poluição? Esgotos industriais, mas também a população principalmente utilizando o rio como depósito de todo tipo de coisa.
Extraído do site SP.gov.br