Publicado em 26 de dezembro de 2012 por Mundo de Moto

Vou pular um pouco à ordem exata dos fatos, pois estou ansioso em publicar a visita ao Inhotim.

Depois de viajar muito, por muito tempo, ver muitas paisagens, monumentos, cidades e todo tipo de atração turística, tudo que vem depois se torna gradualmente um pouco mais comum, monótono e menos emocionante. Lembro-me bem da viagem que fiz por quarenta dias no litoral norte e nordeste do Brasil, quando a primeira praia contornada de coqueiros encheu os olhos, mas depois de ver dezenas semelhantes, se tornou algo comum. Num post seguinte vou tratar dos sentimentos da viagem, pois existem outros fatores, além da repetição, que influenciam nos prazeres da viagem.

Chegar ao Inhotim foi surpreendentemente satisfatório a essa altura da viagem!

Depois que saí de São José do Rio Preto, escolhi o que mais me apetecia em Minas Gerais para conhecer, nesse estado que visitei uma única vez de passagem por sua região leste.

O Inhotim é um espaço acessível, aberto, plural, de fruição estética e cultural; é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Nele encontramos além de arte contemporânea, botânica e meio ambiente, cidadania e inclusão social, desenvolvimento sustentável e educação.

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Localizado em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Cheguei à cidade e fui direto ao Inhotim, me informei sobre o horário de visitação, com inicio as 9h30, o segurança da portaria me entregou um guia/mapa do parque e já à noite procurei uma hospedagem na cidade. Como meu objetivo era somente o “museu”, nem mesmo descarreguei a moto, na pousada tomei banho, saí para comer um X-salada delicioso por R$3,90, vantagens de cidades pequenas, e voltei para dormir. No dia seguinte tomei café, amarrei todo equipamento na moto, fiz saída da pousada e fui pilotando ao Inhotim de bermuda, tênis e camiseta.

O canteiro antes da entrada já anuncia a beleza do lugar. Bom dia na portaria, indicação de como seguir ao enorme estacionamento e lá deixo a moto a céu aberto, com toda bagagem e capacete por cima do amontoado de tralhas. Retirei só o notebook que deixei no guarda volumes da recepção, gratuito e ingresso por R$28,00. Mas antes de chegar lá, saindo do estacionamento, funcionários do parque recepcionando, indicando a direção a tomar e sempre aos cumprimentos de bom dia e bem vindo. Realmente educação lá não é somente ao estilo de aulas sobre botânica, é também distribuída sem economia e acima do padrão de costumes.

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Mistura de jardim botânico com museu moderno, acho melhor deixar o conceito com eles: “Inhotim é um complexo museológico com sede em um campus de 97 ha, pontuado por uma série de pavilhões que abrigam obras de arte e por esculturas ao ar livre. O surgimento do Inhotim no cenário das instituições culturais brasileiras tem, desde o início, a missão de criar um acervo artístico e de definir estratégias museológicas que possibilitem o acesso da comunidade aos bens culturais. Nesse sentido, trata-se de aproximar o público de um relevante conjunto de obras, produzidas por artistas de diferentes partes do mundo, refletindo de forma atual sobre as questões da contemporaneidade.

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Hoje, Inhotim é a única instituição brasileira que exibe continuamente um acervo de excelência internacional de arte contemporânea.

Graças a uma série de contextos específicos, Inhotim oferece um novo modelo distante daquele dos museus urbanos. A experiência do Inhotim está em grande parte associada ao desenvolvimento de uma relação espacial entre arte e paisagem, que possibilita aos artistas criarem e exibirem suas obras em condições únicas. O espectador é convidado a percorrer jardins, paisagens de florestas e ambientes rurais, perdendo-se entre lagos, trilhas, montanhas e vales, estabelecendo uma vivência ativa do espaço.

Novos projetos são inaugurados periodicamente, incluindo obras criadas site-specific para o local e recortes monográficos e temáticos do acervo, fazendo do Inhotim um lugar em contínua transformação”.

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Com o mapa em mãos iniciei meu tour já emocionado antes mesmo de vivenciar qualquer tipo da considerada arte moderna, e me referi assim, pois o local e o atendimento já são uma obra rara. O clima, a natureza, a beleza, o som e o cheiro exalam tranqüilidade e paz. Eu queria morar no Inhotim! Esse conjunto valoriza a visita ao Inhotim, que me recuso chamar de museu. As obras interagem com o ambiente e mesmo eu não sendo apreciador costumeiro, nem conhecedor profundo de arte, consegui tirar muito proveito delas. Esse lugar inspira, anima e até arrepia.

Perto da recepção, a primeira obra que visitei foi a de Janet Cardiff, chamada Forty Part Motet, instalação sonora em 40 canais, com duração de 14’7’’, cantada pelo coro da catedral de Salisbury. Impossível descrever todas as obras, mas já na primeira algo me despertou a curiosidade, a forma como as pessoas interagem com a obra. Passei a observar isso em todas e tornou-se realmente outra atração para mim. A maioria não aproveita, não compreende e não interage da forma correta com a obra, entram por um lado da galeria e saem pelo outro sem conversar com os orientadores e também sem ler os detalhes sobre as obras, sobre o autor, que sempre está fixado no começo ou próximo de toda obra, e trás também o objetivo do autor, o que ele quer demonstrar com a obra. Essa leitura é essencial e confesso que sem ler sobre todas as obras eu não teria entendido a maioria.

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Logo mais à diante visitei uma obra chamada Através, que está entre as obras de Cildo Meireles nas quais por meio de jogos formais com materiais cotidianos, o artista lida com questões mais amplas, como a nossa maneira de perceber o espaço e, em última análise, o mundo. Trata-se de uma coleção de materiais e objetos utilizados comumente para criar barreiras, com os mais diferentes tipos de usos e cargas psicológicas: de uma cortina de chuveiro a uma grade de prisão, passando por materiais de origem doméstica, industrial, institucional. Sempre em dupla, os elementos se organizam com rigor geométrico sobre um chão de vidro estilhaçado, oferecendo diferentes tipos de transparência para os olhos, que à distancia penetra a estrutura. O convite é que o corpo experimente de perto esta estrutura, descobrindo e deixando para trás novas barreiras. Com sua formação labiríntica e experiência sensorial de descoberta, Através e seus obstáculos aludem às barreiras da vida e ao nosso desejo nem sempre claro de superá-las.

Ao final deste post selecionei algumas fotos, mas não demorei muito, quando lá dentro estava, a perceber que nunca as fotos chegarão nem perto de conseguir repassar o ambiente e nem mesmo retratar o sentimento causado pelas obras, então desisti de fotografar e passei a curtir ao máximo. Essa questão das fotos, por mais qualidade que tenham, não conseguem retratar o sentimento total e verdadeiro do momento vivido, serve somente para os que não estavam lá, percebo que somente eu tiro o proveito delas de forma completa, pois ao vê-las recordo-me do cheiro, temperatura e outros sentimentos do momento vivido no “click”.

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Para provar o quanto podemos interagir com as obras, tive a oportunidade de mergulhar literalmente numa delas, de autoria de Hélio Oiticica, que fica dentro da galeria Cosmococa. Nessa galeria existem cinco “quasi-cinemas”. Estas obras transformam projeções de slides em instalações ambientais que submetem o espectador a experiências multisensoriais. Os “quasi-cinemas” representam o ápice do esforço que Oiticica empreendeu ao longo de sua carreira para trazer o espectador para o centro de sua arte e para criar algo que é tanto um evento ou processo quanto um objeto ou produto — um desafio da tradicionalmente passiva relação entre obra e público. Oiticica e D’Almeida criaram cinco “quasi-cinemas” que chamaram Blocos-Experiências em Cosmococa. Essas instalações consistem em projeções de slides com trilhas musicais específicas e usam fotos de cocaína — desenhos feitos sobre livros e capas de discos de Jimi Hendrix, John Cage, Marilyn Monroe e Yoko Ono, entre outros. O uso da cocaína, que Oiticica, discute longa e teoricamente em seus textos, aparece tanto como símbolo de resistência ao imperialismo americano quanto em referência à contracultura.

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Os prédios que abrigam as obras são também uma maravilhosa atração, lindos, modernos e em plena integração com o ambiente, inclusive o do restaurante Oiticica. Fome e sede ninguém passa, por mais que você caminhe, pois existem diversos bebedouros espalhados por todo ambiente e opções de alimentação, desde cachorro quente e pizza, ao requintado Restaurante Tamboril, estrela do Inhotim, no qual eu me deliciei completamente, já às 16 horas, com meu peixe favorito, um salmão bem rosadinho preparado da melhor forma possível, o que com bebida e sobremesa tiveram o custo aproximado de noventa reais.

Estou sentindo como que cometendo uma injustiça enorme, pois citei algumas obras, e tenho tantas outras para tentar descrever, que me deixaram maravilhado, emocionado, mas além da inutilidade das fotos, garanto também que do texto, o que melhor pode ser aproveitado é o que escrevo agora: Vá lá! Confie em mim! Imperdível!

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Sob uma garoazinha fina refrescante, recebendo agradecimentos pela visita de todos os lados, caminhei em direção a saída respirando fundo o cheiro de felicidade, escutando o som da paz, guardando na memória a emoção daquele dia. No estacionamento minha Scooter e tudo que deixei solto sobre ela me aguardavam, para com um sorriso indestrutível, do tamanho do mundo, seguir como que flutuando em direção a Belo Horizonte, onde passei à noite.