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Homem que é homem, não chora.

“Homem que homem, não chora”
Essa é apenas uma entre tantas frases que aprendemos ainda quando criança. Algumas dessas frases carregamos por toda a nossa vida como sendo grandes verdades que não podem ser mudadas jamais. Outras são desmascaradas ainda na infância: O bicho papão, o homem do saco; dorme nenê que a Cuca vem pegar. Durante muito tempo acreditei, depois passei a desacreditar, mas hoje tenho certeza, a frase é certeira. Calma! Explico em instantes.
Aquele dia em território Americano foi diferente. As paradas pareciam misteriosas, os amigos pouco conversavam. Algo estava acontecendo. Seguimos a jornada no mesmo ritmo de sempre, mas o ar parecia estar inundado por algo desconhecido, um enigma até então inexplicável.
Final de tarde, hora da rotineira busca por acomodação, paramos por alguns instantes em frente ao hotel e rapidamente me propus a desvendar o que havia acontecido durante o dia inteiro.
- Meu amigo Juninho, como foi o dia hoje?
- Nem te conto, chorei muito. O dia foi magnífico. Pensei na família, nos amigos, na vida, aprendi muito.
Emocionei-me rapidamente, pois eu também tinha uma história acontecendo dentro de mim, lá bem no fundo da alma. Com os óculos escuros, os sinais das lagrimas misturadas ao suor, eram facilmente disfarçadas. O discurso de Martin Luther King estava ali, na minha cabeça, enquanto cruzávamos o estado do Colorado testemunhando a presença das enormes montanhas em um colorido magnífico. Na verdade cruzei todo o território Americano com esse discurso na mente, vivo, como se eu tivesse estado presente naquele grande dia. “I have a dream”.
Deixei meu amigo Juninho por alguns instantes e me dirigi ao Manuel, El Pata Negra.
- Meu grande amigo, El Pata Negra. Como foi seu dia hoje?
- Não sei por que Waldez, mas hoje comecei a chorar muito cedo. Pensei nas dificuldades superadas, pensei nas conquistas, foram horas chorando. Hora eu chorava e hora eu ria, mas sei que estou no caminho certo.
Então estava tudo explicado. Nós estávamos em sintonia perfeita. Aquele foi o dia em que todos nós choramos muito e compartilhamos a mesma sensação. Um dia especial ao cruzamos varias fronteiras sabendo que nossa meta estava sendo cumprida e o objetivo seria alcançado.
Mas e a frase? “Homem que é homem, não chora”. Lembrei do relato de vários viajantes, grandes conquistadores, meu amigo Marcelo de Medianeira PR. Ele havia me relatado como foi grande seu choro ao cruzar a fronteira do Canadá com o Alaska. Ele ficou ali parado, de longe olhando a motocicleta, e as lagrimas lavando a alma. Um soluço quase infantil; mas homem que é homem não chora. Não chora por que não aprendeu a viver a própria vida. Não aprendeu a desmistificar rótulos superficiais, mentiras com aparência de verdade.
Mas claro, estava nítido e cristalino. Para chorar temos que nos despir do rotulo, precisamos ser nós mesmos, não viver segundo o que os outros querem que sejamos. Para chorar precisamos ser muito mais que um simples homenzinho ainda não desenvolvido e imaturo, vivendo conceitos alheios e mentiras assimiladas como se verdade fosse.
Hoje sei que, “homem que é homem não chora mesmo”, falta-lhe capacidade e maturidade para tal.
Para trás fica o velho homem. Segue em frente aquele que consegue si renovar a cada instante sem si deixar contaminar, sem perder a própria essência.
Ser medíocre é fácil; difícil mesmo é admitir isso e sair em busca de novas sementes que, se plantadas, brotarão e serão transformadas em arvores frondosas.
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