...depois de termos postado os municípios que se seguiram após este ultimo post, em lugar errado do site ( em Almas Inquietas, conte sua história) , retornamos ao lugar correto p/ a etapa Cruzeiro e Lavrinhas/SP
A 224 km de distância de São Paulo
e com mais de 77 mil habitantes, esse município tb no Vale do Paraíba, faz limítrofes ao norte com a fronteira Minas Gerais, através da Serra da Mantiqueira. Embora pequeno, é muito presente na história do Brasil desde o século XVI, uma vez que o o Vale do Paraíba passou a ser rota das expedições Vicentinas, iniciadas com homens da frota de Martim Afonso de Souza, Brás Cubas, foi caminho de Anchieta, todos os que seguiam pelo “CAMINHO GERAL DO SERTÃO”.
Na divisa com Minas, temos o “ Embaú” onde surgiu o fenômeno do bandeirismo .Em 1846, foi criada a FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO EMBAÚ e em 1871, como município, recebe nome de VILA DA CONCEIÇÃO DO CRUZEIRO .
GARGANTA DO EMBAÚ
Falar de Cruzeio é termos que contar sobre a importância da ferrovia que ligava três estados (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), ferrovia esta, que era importante para o escoamento da produção de café no século XIX e que passa pela “Garganta do Embaú”.
Junto às margens do Rio Paraíba do Sul, fica a apenas 515 metros acima do nível do mar, porém, vemos picos elevadíssimos nas encostas da Serra da Bocaina que podem superar a marca de 2.000 metros, como por exemplo o o Pico do Itaguaré e tb, na Mantiqueira onde encontramos o mais elevado deles, chamado Pico dos Marins, que atinge 2420,7 metros acima do nível do mar e que foi escalado pela primeira vez em 1911. É considerado uma das trilhas de montanha mais bonitas e preservadas do país. Embora seja o mais elevado da região, é o mais acessível, graças à sua face norte, menos vertical. Profundos vales cortados por cânions de pedra e vegetação cerrada fazem com que seus vizinhos sejam bem mais difíceis de se alcançar.
Infelizmente, é nesse pico que parentes de minha mãe há mais de 30 anos procuram por um filho jovem desaparecido inexplicavelmente, misteriosamente...ou melhor, acreditamos que tragicamente caiu de alguma das vária encostas sem deixar vestígios até hoje!...mas as buscas ainda continuam além de matérias em programas de TV de várias regiões do país, envolvendo inclusive, o lado “místico” relatando que o “seu fantasma” vagueia e aparece pelos picos ou até, que o menino foi abduzido por OVNIs cujas aparições são frequentes por lá...e assim, a família segue a busca e a esperança entre o fatídico e o provável!!!
A Igreja Matriz da Imaculada Conceição construída me 1935 é grande, bonita e as duas torres possuem relógios. Na verdade, é o segundo maior templo religioso da região do Vale do Paraíba, ficando atrás, apenas, da Basílica Nacional de Aparecida.
Ao fundo, a metalúrgica
Hoje, o município tem o seu foco econômico voltado para a área do comércio e da indústria metalúrgica. A antiga FNV (Fábrica Nacional de Vagões) atualmente tem em Cruzeiro, o seu parque industrial dividido por duas empresas do grupo Iochpe-Maxion sendo elas: Amsted-Maxion Fundição e Equipamentos Ferroviários.
Porém, visitar Cruzeiro é entrar na história na ferrovia e mais profundamente, na importância histórica do
TÚNEL DA MANTIQUEIRA
Construído em 1882 pelo engenheiro Herbert E. Hunt, e inaugurado em 5 de março de 1884, por determinação do Imperador Dom Pedro II, para fazer a ligação entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais para servir a Estrada de Ferro Minas e Rio.
A estrada de ferro foi à última construída pelo Visconde de Mauá. Por causa do Grande Túnel, ocorreu um dos mais importantes episódios da história do município, a primeira visita do Imperador D. Pedro II a Cruzeiro.
O Túnel foi, também, local estratégico na Revolução Constitucionalista de 1932, na qual foi frente de batalhas e um dos pontos mais visados pelas tropas inimigas. Ainda há preservadas na área, valas utilizadas como trincheiras pelos paulistas durante as batalhas contra tropas federais.
Possui 996 metros de comprimento e está localizado a uma altitude de aproximadamente 900 metros.
Histórias na esquecida História: A Revolução de 1932
Ao longo do percurso do Tietê, muito havíamos registrado, sobre os heróis paulistas de 32 homenageados em várias cidades como Penápolis, Barra Bonita, Promissão, etc . Mas, é aqui, no Vale do Paraíba, que essa história, embora esquecida, ainda pulsa.
Em todas as cidades da região, é marcante a presença de lembranças, monumentos, museus enfim, ela ainda vive...vive nas lembranças, nas dores, nos ressentimentos, de certa forma, no preconceito...é triste que brasileiros lutaram contra brasileiros, num episódio tão brutal, com a morte de tanta gente e alguns, não passavam de crianças grandes pois, encontramos túmulos de soldados, ou melhor, garotos de 16 ou 17 anos.
Na verdade, ninguém venceu!!! Nada nem ninguém podia vencer essa barbárie.
Mas, nos daremos uma pausa na continuidade do roteiro do desafio, para no próximo relato, penetrarmos túnel adentro, caminhando por seus trilhos, suas ruínas, levando luz ao breu esquecido desse "monstro" perdido na Serra da Mantiqueira.
...e vamos entrar na história do Túnel da Mantiqueira
Antes de irmos a Cruzeiro, nossa intenção principal era a visita ao túnel e para tanto, pedimos ajuda a uns amigos do Jeep Club Brasil, que já haviam feito essa trilha. Nos recomendaram um guia e graças a ele, pudemos desfrutar do local e da história da Revolução de 32.
Não nos cabe julgar ou tomar partido dessa sangrenta e esquecida guerra de nossa história, apenas vamos relatar. Só destacamos que muita gente morreu dos dois lados...vidas e mortes que caíram no esquecimento.
O nosso guia, Professor Carlos Felipe Do Nascimento, um rapaz de 37 anos, de Cruzeiro mesmo, nos recebeu devidamente paramentado: usando uma cópia do uniforme dos paulistas de 32:
Marco Paulista da Revolução
Depois de nos explicar cada detalhe do uniforme e contar que ainda é possível encontrar fragmentos de armamento, que é difícil de se chegar, mas ainda existem as trincheiras paulistas e, infelizmente, existem restos mortais abandonados nas matas...
...seguimos para a Garganta de Emaús, sentido MG, para que, no topo, encontrássemos um "monumento" com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, feito com com a fundição das cápsulas e projéteis encontramos pós batalha. O local está mal conservado...quase esquecido.
Nosso guia com o Gustavo, filho de amigos
Essa imagem está tão cheia de ornamentos pois, a estrada q passa por ela, tem muito movimento de romeiro seguindo para Aparecida. Aliás, é impressionante o movimento ao Santuário, no dia dia.
Além da imagem, tem um terraço, com os restos mortais de 8 ou 9 combatentes mortos ali.
Desse local, pegamos um trecho da "Estrada Real" ( trecho perdido no meio do mato), para chegarmos à boca do túnel, do lado paulista. Nesse lado, tudo está abandonado e talvez, sem muita demora e sem nenhum cuidado de preservação, acreditamos que o túnel está comprometido.
Então, descendo pela Estrada Real, paramos sobre o túnel e caminhamos até sua abertura. Aso poucos, timidamente ele vai se revelando...porém, preserva sua dignidade e grandiosidade afinal, o Imperador Dom Pedro II caminhou por seus trilhos!!!
... e penetramos na escuridão de seus quase 1000 metros, encontrando recuos em suas paredes para que se alguém estivesse andando a pé e o trem fosse passar, a pessoa poderia se proteger. Além de encontrarmos uma placa indicando a divisa dos dois estados ( infelizmente, muito pichada)
..e saímos do lado mineiro!
Aqui, é turismo! O túnel faz parte do passeio da Maria Fumaça que sai da cidade mineira de Passa Quatro. Deste lado, encontramos a pequena estação "Coronel Fulgêncio" que segundo a lenda, ganhou o nome desse jovem coronel da Revolução de 32, quando uma bomba atirada pelos paulista o atingiu e, seus subordinados, para homenageá-lo homenagem - usando seu próprio sangue - mudaram o nome da estação que era "Estação Túnel da Mantiqueira" para o do coronel.
Só que gostoso mesmo, é ouvir a maria Fumaça chegar até a estação, trazendo turistas curiosos para conhecer a "jóia" esquecida da mantiqueira: o velho túnel!
Além
Última edição por Sassa e Cuca; 07-01-15 às 14:22.
E a nossa história com a História da Revolução de 1932 não parou por Cruzeiro. Fomos ao Obelisco do Ibirapuera, Monumento Mausoléu aos heróis de 32. O Obelisco é um projeto do escultor ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili.
A fim de que nosso guia e professor Carlos Felipe do Nascimento participasse de uma celebração que aconteceria no mausoléu, fomos até lá e registrar um pouco. o Professor levou p/ o evento, uma bandeira do Estado de São Paulo que ele encontrou numa trincheira abandonada.
O contexto: Atritos entre vários segmentos da sociedade, deixaram o país envolvidos pelos movimentos armados de 22,24,30, terminando por ingressar num período de centralização do poder: "A Era Vargas".
São Paulo se sentia injustiçada e agredida pela ditadura e assim, surgiu o movimento armado, que vitorioso, reinstalaria o regime democrático e constitucional do Brasil.
Para tanto, os paulistas lançaram-se às armas contando com grande apoio da sociedade e simpatia de revolucionários dos quatro cantos do país.
Além da Força Pública, houve a adesão de civis mobilizados e armados, por todos os lados. Em minha família há relatos de tio-avô lutando em trincheiras, dos avós "doando Ouro p/ SP" enfim, por todo o estado ainda é sentido o tamanha dessa mobilização.
Meu tio-avô Pedro Amorim, lutou no município de Fartura, vizinha a MG. Diz meu primo, Antonio Amorim, que o pai contava que numa ocasião foi preso pelos próprios paulistas, porque eles fizeram uns prisioneiros e ele foi incumbido de levar os presos pra beira de um rio pra pegar água porém, desobedecendo ordens, ele mesmo é quem foi à frente pois estava preocupado que os colegas atirassem nos presos ... p/ os paulistas, foi um erro que ele cometeu.
..mas ele tb contava inverdades e histórias para assustar as crianças: ele contava que levou um tiro e morreu mas o cavalo dele foi no buraco que o enterraram e desenterrou, daí ele e o cavalo, fugiram do local juntos ...as crianças acreditavam e comentavam com os amigos que era verdade porque foi o pai que falou ...e até hoje essa história corre provocando risadas sobre as peripécias do meu tio-avô.
Voltando ao memorial erguido para perpetuar a história do povo paulista e de servir de morada eterna para os restos mortais dos soldados constitucionalistas: foram oficialmente, 601 baixas durante os três meses de campanha.
Independente da verdadeira história, ou da opinião crítica sobre ela, estamos registrando o que existe sobre esse evento.
Esse mausoléu impressiona pela beleza e serenidade. Vale a pena ser visitado por todos.
Um movimento com mártires: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, estudantes mortos num conflito em 24 de maio.
A partir disso e a sigla MMDC (inspirada no nome desses jovens mártires), uma organização secreta surgiu nos meios estudantis e cresceu rapidamente.
O Obelico, no Parque do Ibirapuera, tem a idéia de ser uma sentinela de rocha, com 1400 metros quadrados de cripta, podendo congregar 3000 pessoas.
Ao centro, na cripta encontramos os restos mortais dos estudantes do MMDC e do corpo do agricultor Paulo Virgínio da cidade de Cunha, considerado mais um dos heróis da Revolução na região do Vale do Paraíba. Paulo Virgínio foi executado pelas tropas fluminenses por se recusar a entregar o local onde estavam as tropas paulistas. Paulo, que foi obrigado a abrir sua própria sepultura, antes de ser assassinado teria gritado "Morro mas sou paulista e São Paulo Vence".
E nas colunas, distribuídas por toda área interna, encontramos os restos mortais de outros 713 ex-combatentes, além do poeta Guilherme de Almeida e Ibrahim de Almeida Nobre.
UMA NOTA DE CURIOSIDADE: A soma dos algarismos da obra é igual a nove, e são nove os degraus na entrada. A simbologia do monumento também está presente no desenho do gramado ao redor do Obelisco, que possui área de 1932 metros quadrados e forma um coração onde está enfincada a espada (símbolo do obelisco) que sagrou a vitória política, apesar da derrota militar dos paulistas. Afinal, ao ver seu governo em risco, o presidente Getúlio Vargas dá início ao processo de reconstitucionalização do país, levando à promulgação em 1934 de uma nova constituição nacional. Outros dados e simbologia: tem 72 metros de altura; a base maior do trapézio, no chão, para quem olha o monumento de frente, tem 9 metros; a base menor, em cima, tem sete metros; a largura da cripta, embaixo, tem 32 metros (assim, quem olha de frente o perfil da planta observa os números 32 - 9 - 7, que lembram o ano, o dia e o mês da Revolução de Nove de julho de 1932).
E para terminar, vale destacar uma parte da poesia escrita por Guilherme de Almeida:
"Aos épicos de julho de 32, que,
fiéis cumpridores da sagrada promessa
feita a seus maiores - os que
moveram as terras e as gentes por
sua força e fé - na lei puseram sua
força e em São Paulo sua Fé."
À base do monumento, junto à entrada da capela e da cripta, voltadas ao Parque do Ibirapuera, há outra inscrição de Guilherme de Almeida.
"Viveram pouco para morrer bem
morreram jovens para viver sempre."
Observação: e aqui, Rio Paraíba e Rio Tietê novamente se cruzam, na história: A ponte da Rodovia Castelo Branco sobre o Rio Tietê, em Barueri, chama-se Ponte Guilherme de Almeida.( apenas um simples detalhe)
Última edição por Sassa e Cuca; 08-01-15 às 15:28.
Pequeníssima cidade desconhecida que fica no eixo Rio-SP , com pouco mais de 6000 habitantes, localizada à beira da SP Júlio Fortes, que é ligada à Rodovia Presidente Dutra.
O povoado nasceu em 1874, em torno da Estação da Estrada de Ferro D. Pedro II, hoje sede da prefeitura. ( local bonito porém muito abandonado...)
No caminho para as Minas Gerais alguns exploradores pararam em um pouso e encontraram algumas pequenas lavras de ouro. O local virou um povoado e começava aí a história da cidade que nunca deixou de ser uma agradável e pequena localidade.
Hoje, Lavrinhas também é conhecida pelas fontes de água mineral existentes na área rural já que é cortada por vários rios como oParaíba do Sul, do Braço, Córrego do Veado, do Jacu, Córrego Coronel Horta, Córrego do Palmeiras, do Bracinho, da Divisa e Rio Claro. Quatro dias após a nossa visita, uma enorme tromba d’água, principalmente sobre o Rio Jacú, causou medo e destruição por locais nos quais havíamos caminhado, por exemplo, a ponte férrea sobre esse rio, próximo ao local onde ele deságua no Paraíba:
Ponte sobre Rio Jacú
O Município tem orgulho da extrema importância durante a revolução 32, onde tropas federais foram , por um certo tempo, contidas com a destruição da principal ponte férrea sobre o Rio Paraíba do Sul. Hoje, nova ponte foi construída mas ainda encontramos os pilares da anterior.
Pilares resistentes da antiga ponte sobre o Rio Paraíba do Sul
Atual ponte férrea reconstruída
Em Lavrinhas, o Rio Paraíba do Sul tem muitas pedras nas margens e ao longo do leito, formando pequenas corredeiras.
Ainda é possível de se ver nas rochas, as marcas das bombas paulistas.
Abaixo, a bica d’agua onde os soldados revolucionários se reabasteciam e os feridos eram tratados.