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Ver Versão Completa : Alasca 2010



Dolor
05-08-12, 17:32
Iniciaremos hoje a publicação da história da viagem efetuada pelo GCFC PHD Osmar e Terezinha Becher, durante o ano de 2.010, que os levou desde Santa Catarina até onde a América faz a sua última fronteira, com o Oceano Ártico, mais precisamente em Prudhoe Bay, O Topo do Mundo, no Alasca, quando esta dupla de aventureiros exercitou ao pé da letra o slogan dos Fazedores de Chuva, quando diz:

"Qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem..."

O GCFC PHD Osmar, na plenitude da sua maturidade soube com muita precisão nos transferir através dos seus relatos, uma panorâmica contagiante desta épica viagem, que tem a capacidade de mudar as pessoas, determinando que voltem muito melhores do que quando partiram.

Não é somente o aspecto financeiro quem determina a largada, nem o da disponibilidade de tempo, tampouco a questão da saúde e nem por último o ambiente familiar, teriam isoladamente capacidade para dar asas, ou melhor, dar duas rodas, para um sonho desta magnitude.

É preciso somar à todas estas condicionantes, o tempero da coragem, para fechar os olhos para todas as rotinas que nos aprisionam, liberando desta maneira a alma inquieta que habita o coração de todo o aventureiro, para deixar para trás o conforto e a segurança que só a rotina perto dos que bem queremos pode nos proporcionar.

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Que coragem a deste aventureiro para cruzar as três Américas com todos os seus mistérios, belezas e perigos na solidão de duas rodas....l

Boa viagem, GCFC Osmar e Terezinha!

Dolor
05-08-12, 17:51
Alasca 2010 - O início

Para mim, o Alasca somente existia nos mapas. Isto até 3 anos atrás, quando tomei conhecimento do projeto “EXPEDIÇÃO ALASCA” do amigo Artur Albuquerque, motociclista carioca, larga experiência em longas viagens em motocicleta. A partir de então, passei a me preparar para essa viagem.

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Primeira providência: me aposentar, já que o tempo previsto para a viagem era de 150 dias, para rodar 55.000 quilômetros, cruzando dezoito países. Em motocicleta, naturalmente. E para esta viagem, escolhemos a Harley-Davidson Electra Ultra Classic.

Depois fazer os vistos para cruzar Honduras, México e Canadá. Dos Estados Unidos eu já tenho e nos demais países não é necessário.

Outra preocupação importante foi quanto a dinheiro: levei alguns dólares, dois cartões de crédito habilitados para uso no exterior, e um cartão em moeda estrangeira (cash passport).

E o dia marcado para a partida não demorou a chegar. E chegou com chuva. Excelente início de uma longa jornada. Era sábado, 29 de maio de 2.010.

Ainda estava escuro quando me despedi da Terezinha, minha inseparável companheira de viagens em moto. Estava indo sem ela.

Neste primeiro dia, rodamos até Eldorado na Argentina, onde pernoitamos no Hotel Cabanas Don Juan.

Ao sairmos do Brasil, tivemos o cuidado de documentar a saída das motos, fazendo a DSE (Declaração Simplificada de Exportação). Este documento será muito útil no caso de precisarmos enviar a moto do exterior para o Brasil. Espero não usá-lo.

No segundo dia, já com tempo bom, chegamos a Presidência Roque Saens Peña, e no terceiro atingimos Purmamarca, aos pés da Cordilheira. Ficamos no Hotel Posta de Purmamarca.

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A subida da cordilheira foi com muito frio. Algo em torno de zero grau. Vesti toda a roupa quente disponível, inclusive a capa de chuva. Duas luvas em cada mão reduziam bastante o tato, dificultando um pouco a pilotagem.

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Em Paso de Jama, uma alegria: um posto de gasolina novinho em folha, com conveniências e tudo o mais.

Um café quentinho foi muito reanimador.

Ao final do quarto dia, chegamos a Iquique já noite. Fomos recebidos pelo Robert, com quem jantamos e conversamos muito sobre viagens em moto.

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No quinto dia chegamos a Moquegua, no Peru, e no sexto dia a Ica.

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Dia seguinte, quando nos aproximávamos de Lima, fomos recebidos pelos colegas Daniel Varon e Ralph Ivanov, El Patito Feo, que nos conduziram ao hotel San Izidro, especialmente reservado para nós.

Em Lima, a recepção ficou por conta do amigo Enrique Navarro e sua simpática esposa, e da Any, com quem almoçamos.

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06-08-12, 01:56
QUARTA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2011

De Lima a Pasto, na Colômbia

Saímos de Lima bem cedo, para evitar os congestionamentos no trânsito matinal. Em vão. Levamos quase duas horas para chegar à rodovia Panamericana. Nesse oitavo dia, pernoitamos em Chiclayo, no Hotel Costa Del Sol.

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Dia seguinte, uma rara oportunidade: visitamos o Museu do Señor de Sipan, em Lambayeque. Impressionante!

Viajamos o dia todo por uma região bastante árida. Ao final do dia, chegamos a Tumbes, já na fronteira com o Equador, e nos hospedamos no Hotel Costa Del Sol (homônimo da noite anterior). Aí tive a oportunidade de fazer minha estréia como jogador. No cassino do hotel comprei S/.10,00 (dez soles) em fichas e me entreguei às máquinas caça níqueis. Não sei por quanto tempo me dediquei ao jogo, mais olhando do que apostando, mas, ao final, consegui um lucro de cem por cento.

Nada mal, para um principiante.

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Dia seguinte, fronteira com o Equador, com uma aduana de trâmite complicado (por ali passamos em 2005). Mas tudo mudou. Mudaram-se do congestionado formado pela junção de duas cidades (Águas Verdes, no Peru, e Huaquillas, no Equador), para uma região afastada, longe dos ambulantes e curiosos, onde fomos recebidos pelos irmãos Boada, de Ambato, que nos auxiliaram nos trâmites e nos escoltaram até sua cidade, onde chegamos à noite.

Em Ambato nos hospedamos no hotel Sahra, de propriedade da família Boada.

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O décimo primeiro dia de viagem, em Ambato foi de folga, que usamos para, com os amigos, conhecer a região, especialmente o vulcão Tungurahua, que naqueles dias estava ativo, liberando grandes rolos de cinzas e gazes, entre rugidos que se ouvia a quilômetros.

Aí conhecemos Vinny Bikers, de Quito, que veio nos buscar para seguirmos viagem. No caminho, passamos pela sua finca, grande produtora de rosas para exportação, onde vivemos momentos de pura magia, em meio a tantas e belas flores. As rosas equatorianas estão entre as mais belas do mundo.

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Vinny nos hospedou em sua casa, onde fomos muito bem recebidos por toda a sua família.

E para as motos, tratamento especial na Roger's Cycles Latitud Zero, concessionária Harley Davidson para a região, onde fiz a revisão dos oito mil da minha Ultra.

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Ontem à noite, mais uma agradável surpresa: Vinny Bikers, sua esposa e filha fizeram para o jantar um espetacular assado de picanha uruguaia. Estava fantástico. Perfeitos anfitriões. Abrilhantando o jantar, a presença do PHD Patrício, do PHD Lutz e esposa.

E para fechar com chave de ouro nossa passagem por Quito, hoje tivemos a honra de ser escoltados por Vinny Bikers e Patrício até próximo à fronteira com a Colômbia, com direito a um delicioso café com esquisitos biscoitos da abuela, na despedida.

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Em Tulcan, ainda no Ecuador, nos chamou a atenção a presença de militares do exército em todos os postos de gasolina. E haja fila de carros. Descobrimos que eles controlam o abastecimento dos veículos: apenas dez dólares para cada. Esse controle é para evitar o contrabando de gasolina, do Ecuador para a Colômbia, devido à grande diferença de preço.

Enquanto que no Ecuador, o galão de gasolina com 3,75 litros custa 2 dólares (a moeda corrente é o dólar norteamericano), na Colômbia o mesmo galão é vendido por 6.000 pesos colombianos (algo em torno de 3 dólares).

A passagem de fronteira foi tranqüila, tendo sido muito bem atendidos em ambos os lados, inclusive tivemos cortesia de aduaneiros colombianos para agilizar os trâmites, xerocando todos os nossos documentos.

Na Colômbia existem algumas regras especiais para motociclistas: devem usar jaleco refletivo, com a placa da moto, que também deve estar gravada no capacete. E ter um seguro especial. Entramos em Ipiales, a cidade fronteiriça, para as devidas providências. Foi o maior sufoco. Tivemos que nos socorrer com um motoboy, que prontamente nos conduziu pelas estreitas e movimentadas ruelas, para, nos lugares certos, cuprirmos as exigências.

Neste décimo quarto dia de viagem, 11 de junho, pernoitamos em Pasto, na Colômbia.

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06-08-12, 11:11
Bogotá

O sábado amanheceu ensolarado. Era dia 12 de junho, 15º dia de viagem, e rodávamos pelas famosas rodovias colombianas, entre montanhas, muitas curvas, precipícios, caminhões em alta velocidade. E o exército nas ruas, digo, na rodovia. Em pontes, vilas, retas, curvas, cortes, barrancos, aterros, lá estavam os soldados, sempre fortemente armados, protegidos por trincheiras de sacos de areia, ou patrulhando a dois em moticicletas. Não nos pararam, ao contrário, acenavam para prosseguirmos.

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Em Cali nos encontramos com um grupo de motociclistas encabeçados pelo pessoal da Asturias Motoservice, o Jorge Garcia e sua simpática esposa Sory. Hospedamo-nos no Hotel Vizcaya Real.

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Dia seguinte, o casal Jorge e Sory nos escoltou para sairmos da cidade. Chegamos em Bogota ao final da tarde, depois de curvas e mais curvas, na temível La Linea. Assim é conhecida a estrada que cruza uma serra de três mil e tantos metros de altitude, com intenso tráfego de grandes, pesados e lentos caminhões.

Hospedamo-nos no Hotel Colombian’s Suites Internacional.

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Nossa preocupação ao acordarmos na segunda-feira (14/06) era embarcarmos as Harley para o Panamá. Por volta das 9:00h, dia festivo (feriado) aqui em Bogotá DC, conforme combinado, o Sr John Fábio Agudelo, presidente da empresa Air Cargo, nos procurou para tratarmos do assunto.

Por conta do feriado, somente amanhã poderemos entregar as motos para embarque e fazer a documentação aduaneira. Elas seguirão viagem na quarta-feira, e na quinta poderemos retirá-las lá no Panamá. Somente depois de resolvido o despacho das motos, é que vamos tratar das nossas passagens.

Importante ressaltar aqui o atendimento que nos foi prestado pelo Sr. John no dia de hoje. Sabendo que estávamos de folga, traçou um roteiro de citytour, providenciou um veículo com motorista, e lá fomos nós, conhecer Bogotá.

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A primeira parada foi no Cerro Monserrate, de onde se avista toda a cidade. Os veículos sobem até uma estação, onde se toma, um teleférico ou um funicular, para se ganhar o topo do cerro.

Enquanto aguardávamos o embarque, eis que nos deparamos com um ambulante vendendo formigas. Sim, formigas, torradinhas, devidamente embaladas, prontas para consumo. Afrodisíacas. Irresistíveis. Impossível comer uma só. E não deixamos passar essa rara oportunidade. Talvez foi por isso, que dia todo, sentimos um estranho gosto de formiga na boca.
Do alto do cerro, a vista é deslumbrante. As construções, em sua maioria de tijolos aparentes, formam um imenso tapete corderrosa, que desaparece no horizonte.

Uma via sacra conduz a uma belíssima capela, onde assistimos a uma missa, e, ao final, recebemos uma benção especial, do jovem sacerdote, para concluirmos com sucesso essa nossa viagem.

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Hora de almoço. Estávamos varados de fome, eis que nosso jantar de ontem foi “meia boca”. Então fomos para o restaurante Andres Carnes de Res, que nos fora indicado pelo John, como imperdível. E é. Nunca vi nada parecido. A decoração é a maior bagunça organizada que já vi. As paredes são entulhadas de velharias, de todas as espécies, criteriosamente dispostas, de modo a formar um todo de visão muito agradável. O serviço é excelente. Os garçons, todos jovens, prontamente atendem a todos os clientes. Deve haver espaço para mais de 500 pessoas. A comida é excelente. A carne (de rês), é tenra e saborosa, e, importante, grelhada no ponto pedido. A nossa estava mal passada, suculenta. E de quebra, personagens diversos (engraxate, batedor de carteiras, gueixas, Chaplin, coristas) animam o ambiente.

Voltando para o hotel, resolvemos passar num shoping, e vimos mais uma ação para combater a violência e o terror: todos os carros são revistados na entrada do estacionamento, por policiais acompanhados de cães farejadores.

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07-08-12, 12:05
QUINTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2011

Panamá e Costa Rica

Terça-feira, 15/06, 18º dia de viagem. Levamos as motos para o aeroporto, setor de cargas, e as deixamos a cargo da empresa Air Cargo Pack, para prepará-las para o embarque e transporte. Enquanto isso, procuramos a aduana, para encaminhar o despacho. Não foi difícil. Confirmado o embarque delas para o dia seguinte, compramos as passagens para nós.

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Quarta-feira, 16/06, voando pela Avianca, chegamos a Panama City. Nos hospedamos no Hotel Costa Inn.

Quinta-feira, 17/06, acordamos cedinho, e corremos para o Aeroporto, setor de cargas. Chegamos às oito em ponto, e só fomos receber nossos documentos meia hora depois. Começamos uma verdadeira via sacra para a liberação das motos.
De se notar a falta de estrutura do aeroporto, no setor de cargas, para atendimento ao cliente. Num calor insuportável, os funcionários ficam (se trancam) em apertadas saletas, com ar condicionado, atendendo ao pessoal, através de pequenas aberturas nas janelas. Não existe banheiro, nem água, nem sombra, nem nada. E dê-lhe transpirar. Mas o que isso importa. Tudo o que queríamos ali, era tão somente resgatar nossas meninas.

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Que alívio. Por volta das 11:30 horas, finalmente nos autorizaram entrar no galpão de encomendas, tirar o plástico que embalava nossas motos, e tchau.

Felizes, ganhamos a rua. Finalmente poderíamos prosseguir nossa viagem.

Mas antes disso, vamos conhecer o funcionamento do famosíssimo Canal do Panamá. É ponto de honra, ver pelo menos um navio cruzando o canal, sendo elevado ou abaixado pelas eclusas.

Rápida passagem na loja da Harley para comprar algumas lembrancinhas, e toca para o hotel para se refrescar, colocar os e-mails em dia, e preparar para cruzar a América Central.

À noite, jantamos em grande estilo, no restaurante Miraflores, bem ao lado da eclusa de mesmo nome. Os navios que cruzam o canal, passam bem ao lado do restaurante. Quase se pode tocá-los. É impressionante a capacidade da engenharia humana: os navios, enormes, literalmente sobem escadas, e depois descem, para poderem cruzar de um oceano para outro. Na volta, dedicaremos mais tempo ao canal, sua história, seu funcionamento, sua importância para o Panamá e para a navegação. Na ocasião, tivemos a agradável companhia do Omar Munhoz, o despachante aduaneiro que muito nos ajudou na liberação das motos.

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Sexta-feira, dia 18, cruzamos o canal (pela ponte internacional), até ganharmos a Ruta Panamericana, para continuarmos nossa viagem.
Em pouco tempo já estávamos na fronteira com a Costa Rica. E aí começa tudo outra vez, aquela via sacra pelos guichês, calor insuportável, carimbos daqui, fotocópias dali, fumigação acolá. Sim, tivemos que fumigar nossas motos novamente. Vamos chegar defumados ao final da viagem. Cada coisa estranha que nos aparece: é preciso fotocopiar todo o passaporte para entrar na Costa Rica. Todo. Inclusive as páginas em branco. Incrível. Gostaria de saber o que eles querem, e o que fazem, com tanto papel.

Mal colocamos os pés, digo, as motos na estrada, chuva. Muita chuva. Afinal, para quem quer ser um fazedor de chuva, aquilo era um prato cheio. Essa chuva, com certeza, era produto de algum fazedor de chuva pós-graduado, fazendo-nos uma pequena demonstração.

Importa destacar, que na Costa Rica tivemos o acompanhamento do motociclista José Lara, em sua potente V-Strom.
Pernoitamos em Jaco, a elegante praia dos costarriquenhos, no Hotel Tangeri.

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08-08-12, 00:02
Nicarágua, Honduras e El Salvador

Sábado, 19/Jun (22º dia de viagem).

Choveu a noite toda. Verdadeiro dilúvio. O barulho da água caindo se confundia com as ondas do Pacífico, batendo bem ao lado do hotel. Quase não consegui dormir, só pensando na dificuldade que é pilotar sob chuva torrencial. Nossa roupa usada ontem já estava seca, e a possibilidade de molhar de novo não agradava. Isso me fez pensar que deveria existir alguém especializado em parar a chuva. Um desfazedor de chuva. Às vezes é preciso alguém que faça o sol brilhar, para animar a viagem dos motociclistas.

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Acho que minha imaginação fez efeito. O dia amanheceu só com o barulho das ondas. Nada de chuva. Ufa! Rapidamente dobramos as capas de chuva, arrumamos as malas, mas antes de sair, fomos brindados com o desayuno mais “exquisito” da viagem. Em um prato quadrado, cuidadosamente arrumado, huevos revueltos, tortilhas, nata, uma generosa porção de feijão com arroz, e plátano frito. Uma delícia chamada “galo pinto”.

Deixamos o hotel já com sol forte. Bom sinal. No caminho, mais um motociclista se juntou a nós. Ivan, em sua bela Harley-Davidson. Rumamos em direção à fronteira sempre pela costa oeste. Preferimos deixar para a volta a visita à capital, São José.

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Assim, com os dois amigos, em pouco tempo já estávamos na fronteira com a Nicarágua. E lá vem confusão: Fotocópia disso e daquilo, carimbo aqui, carimbo ali, seguro das motos, taxa de turismo, taxa de visto, intermináveis filas, calor, muito calor, e, mais que tudo, paciência, muita paciência.

Regra número um: “hay que ter mucha paciência”.

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Nossa chegada na loja HD Managua foi uma grata surpresa. Fomos recepcionados por gente muito simpática, que nos atenderam como se fôssemos velhos fregueses, cervejinha para matar a sede dos viajantes, camiseta de lembrança, e competentes mecânicos.

Hospedamo-nos no Hotel Guanacaste, bem ao lado da loja HD.

Domingo, 20/Jun (23º dia de viagem).

Saímos cedo de Manágua. Nosso objetivo para hoje era bastante ambicioso: cruzar duas fronteiras. A falta de placas indicativas dificulta bastante a movimentação pela simpática Capital. A única maneira de não se perder, ou sair pelo lado errado, é perguntar. Perguntar nos postos de gasolina, aos taxistas, aos motoqueiros. Todos colaboram, e num instante já ganhávamos a estrada rumo a Honduras.

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No caminho, passamos ao lado do vulcão Telica, que se encontra fumegando. Apreciar vulcões em atividade, sempre foi para mim, e acredito que para a maioria dos brasileiros, uma atividade muito atrativa, porque, acredito, em nosso país, não temos esse tipo de manifestação da natureza.

Em pouco tempo, já estávamos na fronteira com Honduras. E não posso deixar de tocar nesse assunto, novamente. Cruzar fronteiras por aqui, é uma prova de resistência, a que as pessoas são submetidas, desnecessariamente, ao meu ver.
Inicia pela necessidade de fotocopiar documentos. Várias cópias. E as instituições que as exigem, não fazem isso. O turista tem que se virar. Então aparece a figura do tramitador. Assim são chamados aquelas pessoas que se dispõe a ajudar o turista a vencer a burocracia, mediante um pagamento pelos seus relevantes serviços.

Para sair ingressar em Honduras, tiramos fotocópias no único lugar disponível. Parecia uma pocilga. Fétida, escura e quente, muito quente. Não sei como alguém consegue sobreviver num ambiente daqueles.

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Mas nem tudo está perdido. Tivemos a satisfação de conhecermos, na aduana de saída da Nicarágua um inspetor geral que tentava moralizar o serviço, não permitindo, de forma alguma, a mediação de tramitadores. Lá, naquela seção, o serviço fluía muito bem, sem filas e sem atropelos.

Apesar de tantos problemas, logramos êxito em nossa intenção: conseguimos cruzar duas fronteiras, ou quatro, como alguns entendem: saímos da Nicaragua, entramos em Honduras, saímos de Honduras e entramos em El Salvador. Nós conseguimos, e mais, chegamos à simpática San Miguel, apesar dos inúmeros “reten” policiais, estes, de finalidade duvidosa, pois, sob o pretexto de coibir o tráfico de drogas, o contrabando, a criminalidade em geral, param a todos, indiscriminadamente.

E como estamos em plena Copa do Mundo, nós também participamos das vitórias da nossa seleção. E hoje não foi diferente. Na estrada, ouvindo o jogo pelo radio, mesmo com muita interferência, ouvimos e comemoramos à nossa maneira, o primeiro gol da nossa seleção, contra Costa do Marfim: gritos e buzinas, na imensidão das pradarias de Honduras.

Pernoitamos em San Miguel, Hotel Florência.

Dolor
08-08-12, 11:33
Guatemala e México

Segunda-feira, 21/Jun (24º dia de viagem).

Em San Miguel, simpática cidade de El Salvador, ficamos no Hotel Florência. Amplas habitaciones, excelente restaurante, imperdível desayuno. Porém, duas observações. Uma, tomamos banho frio. Não hay água caliente senior. Pelo menos não encontramos a forma de como fazer sair água quente por aquele bendito chuveiro. Duas, no restaurante, de excelente carne argentina, havia duas opções de tamanho do naco de carne: uma libra, ou meia libra. O garçom não sabia transformar libras em gramas. Nem nós. Na dúvida, pedimos pratos com uma libra. Quando veio a comida, espanto geral. Meio boi. Só depois, consultando Google, descobrimos que uma libra equivale a 453 gramas...

E a policia na carretera? A cada pouco, um reten policial. Sempre presentes. Hoje não nos pararam. Apenas acenavam. Bom.

E as aduanas? Grata surpresa. A saída de El Salvador, pelo Paso San Cristóbal, foi surpreendentemente fácil e rápido. Sem tramitadores, sem propinas, sem estresse. Até a temperatura colaborou. Estava agradável. E para entrar na Guatemala não foi diferente. Apenas algumas fotocópias do passaporte, do certificado de propriedade do veículo, e da Carteira Nacional de Habilitação e pronto. Estamos “listos” para prosseguir viagem.

As estradas da Guatemala se alternam trechos excelentes, com alguns irregulares. De repente, uma placa: CUIDADO, TUMULOS. Sem compreender direito, diminuímos a velocidade, e com toda cautela avançamos, à procura dos túmulos. À frente, respiramos aliviados, ao descobrir que assim são chamadas as lombadas.

Ora, ora.

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Em Guatemala City, visitamos a loja da Harley. Grata surpresa. Fomos recebidos com um cordial sorriso, um excelente café com creme, e água geladinha. Até parece...

Completando nossa jornada de hoje, chegamos a Antigua. É uma cidade histórica, talvez uma das mais antigas das Américas. Movimentadíssima. Lembra a nossa Parati, porém bem maior. Muitos turistas, principalmente americanos.

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Pernoitamos na Pousada Hermano Pedro.

Terça-feira, 22/Jun (25º dia de viagem).

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Mesmo antes de chegarmos ao México, já começamos a experimentar os seus sabores. O desayuno servido no hotel em Antigua, foi bem ao estilo mexicano. Os garçons todos vestidos a caráter, serviam generosas porções de comida típica aos hóspedes do hotel, que hoje acordaram cedo, para aproveitar melhor o dia naquela cidade histórica. Frijoles, tortilhas, queijo, salsichas, huevos revueltos, plátano, cremas, salsas, tudo cuidadosamente arrumado num prato grande, facilitando assim provar uma a uma, as delícias oferecidas.

A saída de Antígua foi tão complicada quanto a chegada. Pilotar nossas pesadas Harleys naquelas ruas calçadas com pedras irregulares, no tempo de colônia, é um grande sacrifício. Chega a doer no coração da gente, sentir a moto saltitar de uma pedra n´outra.

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Mas logo à frente uma auto pista novinha em folha. Que Delícia. As Harleys deslizam pelo asfalto impecável. Mas é por pouco tempo. A rodovia corta uma região montanhosa, e, para surpresa nossa, os barrancos e os aterros, tudo de argila, sem qualquer proteção ou reforço, estão caindo, por ação da chuva. Não dá para imaginar como puderam fazer aquilo. Numerosos desvios, água cruzando a pista, máquinas e operários trabalhando. A viagem não rende.

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Nesse trecho, a rodovia atinge 3.000 metros sobre o nível do mar. A paisagem é incrivelmente bela. Vales, lagos, plantações de hortaliças, e bem ao fundo, emoldurando tudo, o imponente vulcão São Pedro.
Por volta de meio dia, chegamos à fronteira com o México, em Ciudad Tecun Uman. O trâmite foi rápido. Nada de tramitadores, filas, fotocópias, propinas. Funcionários gentis e atenciosos, tanto no lado guatemalteco quando mexicano, em pouquíssimo tempo nos liberaram. Pronto. Estávamos no México.

E para completar nosso dia, melhor notícia não poderia haver: o nosso amigo Braga virá nos buscar em TOTOLAPAN, e nos acompanhará até Oaxaca.

Pernoitamos no Hotel Holyday Inn Express, em Tapachula

Dolor
08-08-12, 19:50
Oaxaca

Quarta-feira, 23/Jun (26º dia de viagem).

Hoje é dia do aniversário da minha rainha, minha companheira de viagem, com quem vou me encontrar em Las Vegas para prosseguirmos juntos esta viagem. Falei com ela ontem pelo Skype. Muitas saudades...
Logo na saída de Tapachula, aduana. Fotocópias, carimbos e um seguro para as motos. Mais à frente, uma barreira do exército. Depois de olharem atentamente toda a nossa documentação, um “pente fino” em nossa bagagem. Abriram tudo o que podia ser aberto, olharam tudo o que podia ser olhado.

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No início da tarde, encontramos Braga, o amigo que nos esperava, e com ele seguimos até Oaxaca. Durante o trajeto, pude observar que ele pilota com grande maestria, bailando com sua moto pelas curvas, demonstrando muita intimidade com a máquina. Era noite quando chegamos em sua casa, onde fomos recebidos por sua simpática esposa, e onde nos “quedamos”.

Quinta-feira, 24/Jun (27º dia de viagem)

Começamos o dia em grande estilo: um autêntico desayuno mexicano, especialmente preparado para nós, por Norma, a amável esposa do amigo Braga. Porções de frutas frescas e maduras, cuidadosamente descascadas, picadas e arrumadas em pratos individuais, para começar. Depois, salsichas com huevos revueltos, temperados com fina salsa picante. E para encerrar, aquele pãozinho crocante, recém saído do forno, com delicioso queijo oaxaqueño.

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Muy rico!

Também, a Norma nos emprestou a máquina de lavar roupa. E num instante já tínhamos um varal cheio de calças, camisas, meias, etc, dos viajantes, a secarem ao sol. Como é bom sentir aquele clima de casa de família. Na verdade, o casal Braga e Norma nos fazem sentir como em nossa própria casa.

Isso não tem preço.

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Hoje foi dia de city tour por Oaxaca. E a maior atração da cidade, são as ruínas de Monte Alban, onde estão localizadas os restos de civilização Zapoteca, povo que viveu na região até 500 A. C. O que se vê é de encher os olhos: são pirâmides, praças de esporte, altares, palácios, tudo construído em pedras. São restos de um grande e desenvolvido povo, que viveu tempos de muito progresso.

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Para encerrar o passeio, almoço típico no maior restaurante da cidade: La Capilla, que se localiza em Zaachila. É enorme. Tudo muito simples, porém de muito bom gosto. O piso é de terra batida. Grandes mesas de tábuas polidas se espalham por grandes galpões, e outras, mais reservadas, estão em palapas (pequenas casitas, tipo choupanas, cobertas com folhas de palmeiras). E como não podia deixar de ser, pedimos um prato, que tinha um pouco de todas as comidas típicas: chourisso oaxaqueño, memelitas, tasajo, chicharon, cecina enchilada, chile relleno, costillitas de cerdo, aguacate, rábano, frijoles, biuses, e chapolins tostados, regado com rica cerveja Corona. Como aperitivo, um Mezcal de Gusano de Maguey, tostaditas e mole oaxaqueño (mistura de chocolate, nozes, amêndoas, açúcar e grasa de cerdo).

Em tempo: chapolin (lembram do Chapolin Colorado?) nada mais é do que um tipo de gafanhoto. Sim, comemos gafanhotos... afinal, já tínhamos comido formigas em Bogotá, e sobrevivemos!

Dolor
09-08-12, 11:24
León e Guanajuato

Sexta-feira, 25/Jun (28º dia de viagem).

Deixamos Oaxaca antes do sol nascer. Nos despedimos de Norma, aquele anjo bom que cuidou de nós durante dois dias. Uma mulher de fibra, corajosa, guerreira, companheira de viagem do nosso amigo Braga. Que casal simpático.
Braga nos escoltou até sairmos da cidade, por volta de 70 quilômetros. Optamos pela rodovia pedagiada, para ganharmos tempo. Que bela estrada. Asfalto perfeito, curvas suaves, pouco movimento. A temperatura, em torno de 15 graus, facilitava a viagem. Em menos de uma hora nos despedimos do Braga, que voltou para sua cidade, onde iniciaria mais uma grande aventura: viajar até o Brasil, em um mototaxi. É um veículo de três rodas, toldo de lona, fabricado na India, e que é usado como taxi por estas bandas. Sem dúvida, mais um ato de coragem deste valente motociclista, um dos poucos que cruzou pelo Darien.

Desde que entramos no México, temos notado a existência de numerosas barreiras policiais. E hoje não foi diferente. Encontramos pelo menos umas quatro delas, com muitos policiais parando, identificando, revistando os veículos. Em alguns, até fazendo pente-fino, ou seja, uma revista bastante detalhada.

Hoje não nos importunaram. Apenas em uma delas, nos pararam para perguntar de onde vínhamos, para onde íamos, e, a velha pergunta de sempre: quando custa uma moto destas. Para todas as perguntas, respostas na ponta da língua: somos do Brasil, vamos ao Alasca, e, esta moto custa uma vida toda de trabalho. Adelante! Chau.

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Pelo caminho, a paisagem vai se alternando: na sua maior parte, região montanhosa e árida, com pouca vegetação. Em alguns lugares, plantações de hortaliças e criação de aves.
De repente, um vulcão fumegante quebra a monotonia. Hoje passamos por três deles. Dois estavam tranquilos, dormindo um sono de muitos anos. Até quando não se sabe. Já um terceiro, lançava grossos rolos de fumaça e cinzas no ar. Belo espetáculo.

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Nosso objetivo hoje era chegar a León, onde o amigo Manuel Quintana nos aguardava. Para isso, tínhamos duas opções: atravessar a cidade do México, uma das maiores e de trânsito mais congestionado do mundo. Isto dito pelos próprios mexicanos. Ou seguir pela Autopista Arco Norte, famosa pelo pedágio muito caro.
Decidimos pela segunda opção. Essa autopista inicia logo depois de Puebla, desvia a capital mexicana pela direita, e em pouco tempo nos coloca muito próximos a León. O pedágio foi caro, mas o tempo que ganhamos, compensou.

Em pouco tempo, já nos encontramos com o Manuel que nos aguardava para nos conduzir para sua cidade. Ia tudo muito bem, até que tivemos um pequeno e imprevisto problema: o pneu traseiro de minha moto murchou.
Fomos atendidos por um Anjo Verde (assim são conhecidos os funcionários da concessionária do pedágio que dão assistência aos turistas). Conseguimos rodar até um posto de gasolina para completar o enchimento do pneu, porém, não deu certo. Acabou estourando enquanto era enchido.

Completando nosso dia, moto em cima de uma grua (caminhão de socorro), e a levamos para a loja da Harley em León, para a troca do pneu.
Agora, estamos confortavelmente instalados na casa do nosso amigo Manuel, que juntamente com sua simpática esposa Sandra, nos receberam e nos hospedaram.

Sábado, 26/Jun (29º dia de viagem).

Hoje foi dia de citytour. De moto. Alguém foi na garupa. Afinal, minha moto estava na oficina, para troca do pneu que estourou ontem.
O amigo Manuel e seu grupo de amigos motociclistas nos levaram para conhecer duas pérolas locais: as cidades históricas de San Miguel de Allende, e Guanajuato.
San Miguel de Allende estava festiva, com banda de música e desfile, em homenagem ao bicentenário da morte, por fuzilamento, do seu fundador.

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Ruas estreitas, calçadas antigas, irregulares, casario do tempo colonial, igrejas, tudo muito bem conservado. E muitos turistas, na sua maioria, norteamericanos.
Em seguida rumamos para Guanajuato, cidade capital da Província de mesmo nome. E ficamos impressionados com o que vimos. As estreitas ruelas entre o casario antigo, quase não permite o trânsito de veículos. Então o trânsito é feito por túneis. E túneis antigos, com várias ramificações.
E mais turistas. Muitos, aos milhares, o ano todo, ocupam os incontáveis bares, cafés, restaurantes, muitos chamados de “tasca”.

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E o garupa? Pois é, sem moto, tive a grande experiência de viajar na garupa. Do Manuel, nosso anfitrião. O cara, o Manuel, é fera, pilotando sua BMW com muita perícia, transmitindo muita segurança ao garupa, que viajou preocupado somente em obter boas fotos do grupo (14 motos) e da paisagem.

Confirmando e completando informações de ontem, aqui no México é normal existirem duas opções de rodovia para ir de um lugar a outro: rodovias federais, sem pedágio, simples como as nossas, cheias de curvas, lombadas, congestionamentos, atravessando zonas povoadas. E as pedagiadas, identificadas por cuotas. Estas, construídas com capital privado e concessão para explorar por 20 anos, são excelentes. Normalmente com pista dupla, ou tripla, curvas mui suaves, sem lombadas, sem congestionamentos, sem buracos. Paga-se nas “casetas” (assim são conhecidas as praças de pedágio). O preço é caro, mas ganha-se em tempo. E muito.

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De volta a León, reencontro com minha moto, de sapato novo, prontinha para a viagem, que amanhã retomaremos.

Dolor
10-08-12, 13:34
León a Las Vegas

Domingo, 27/Jun (30º dia de viagem)

Com a ajuda de Manuel, fizemos cuidadoso planejamento para, em três dias, chegarmos a Nogales, fronteira com Estados Unidos, e dali, mais um dia, já estaríamos em Las Vegas, para, no dia 2 de julho, no aeroporto, encontrar nossas queridas.
Nesse trajeto, a estrada cruza pela Sierra Madre, cadeia de montanhas mexicanas que é prolongamento das Rochosas, e forma espetaculares cânions, que iríamos visitar.

Manuel nos acompanhará até Nogales, facilitando bastante nosso trânsito pelas rodovias mexicanas, e sobretudo, nos levando a conhecer os pontos importantes da região, além de, claro, desfrutarmos sua preciosa companhia.
Sandra nos preparou um desayno especial: coyotas (tortilhas típicas de Sonora, sua terra natal, feitas à base de harina de trigo e maiz, rellenas com manzanas e dulce de leche, e com um gostinho de quero mais).

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Rodamos por cerca de cem quilômetros até Aguascalientes, onde nos encontramos com mais três motociclistas (um deles com a esposa) que nos acompanhariam até Zacatecas. Cumprimentos, fotos, e, já prontos para rodar, outro imprevisto: uma de nossas motos estava chorando lágrimas de óleo. Logo hoje, domingo, dia de jogo da seleção mexicana na Copa do Mundo, onde encontraríamos um mecânico?

Rápida reunião entre o grupo – agora éramos sete, e já veio a decisão: vamos achar um lugar para desayunar e depois vemos o que fazer. Caramba, comer outra vez? Assim, descobrimos que os mexicanos fazem uma refeição reforçada pela manhã, e depois comem o restante do dia, mas só até o jantar. Depois disso, nada mais.
E deu certo. Logo um dos nossos novos amigos providenciou uma camioneta, colocamos a moto na carroceria e a levamos de volta para León, para amanhã, levá-la à oficina.

Agora, a nossa expectativa é que a moto seja consertada amanhã, ainda pela manhã, para retomarmos nossa viagem. Naturalmente teremos que rever o roteiro, para, no mais tardar, chegarmos a Las Vegas um dia antes das queridas.

Segunda-feira, 28/Jun (31º dia de viagem)

Estamos fazendo turismo forçado em León, por conta da oficina autorizada HD local. Não que ela esteja pagando para nosotros ficarmos por aqui. É que não conseguem um rolamento que necessitam para consertar a moto, apesar de estar a apenas 1.000 km dos Estados Unidos. Inacreditável.

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Hoje bem cedo, 10 horas da manhã, trouxemos a moto para conserto. Ficaria pronta em duas horas. Passadas 3 horas, nos informam que necessitam de um rolamento, que não têm em estoque. Que ligariam para outras cidades à procura. Final de tarde, e nada.

Mas apesar dos problemas, hoje tivemos um excelente momento. Participamos de um almoço em família. O casal Manuel e Sandra, que mui gentilmente nos hospedam, receberam para o almoço, uma de suas filhas, o genro e dois netos. Os meninos chegaram cedo e nos acordaram. Como é bom conversar com crianças.

No intervalo do jogo da seleção brasileira contra a do Chile (vencemos de 3 X 0), o almoço foi servido. Cardápio mexicano especialmente preparado para brasileiros, que temem a comida apimentada e seus efeitos: frijoles, arroz, carne, tortilhas, tudo preparado com muito carinho.

Nada picante.

Estava delicioso.

Terça-feira, 29/Jun (32º dia de viagem)

O tempo está contra nós. Não consertaram a moto, e pior, não nos deram uma posição definida. Temos três dias apenas para chegar a Las Vegas (2.600 quilômetros de estrada, passagem de fronteira, etc.), para, no dia 2 de julho, pela manhã, estarmos no Aeroporto McCarran Intl (LAS), Terminal 1, esperando nossas queridas. Estarmos lá no aeroporto antes delas chegarem, é ponto de honra.

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Então decidimos voar os três até Las Vegas deixando as motos aqui, desfrutaremos a companhia das queridas, e dia 9 retornaremos para retomar a viagem, quando então, a moto já deverá estar “arreglada”. Assim esperamos.

Quarta-feira, 30/Jun (33º dia de viagem)

Definitivamente, o México é um país onde se come muito. E até de graça! Isso mesmo, ontem Manuel nos levou para conhecer uma das famosas cantinas locais, onde a comida é gratuita. O freguês só paga a bebida, que é vendida a preço de mercado. E tem mais: até as dez da noite, tem happy-hour, a cada cerveja pedida, vem outra de graça. Geladinha. Bebemos várias Coronas. E para comer, picadas, tostadas, tortillas, quesadillas, tacos. Tudo com o mais autêntico sabor mexicano, e muita, mas muita pimenta, acompanhados da tradicional musica mexicana, cantada ao vivo por dupla de Mariachis: Cielito Lindo, Adelita...

E para completar nossa estadia em León, fomos conhecer um amigo de Manuel que, além de ser excelente mecânico de veículos, faz artesanalmente, as mais deliciosas tortillas da região. Numa prensa artesanal, toda em madeira, ele espreme uma pelota de massa feita à base de maiz, e como num passe de mágica, a transforma em um disco, fino e circunferência perfeita. Depois é só assá-lo em uma frigideira e pronto. Pode ser comida pura, recheada com queijo, carne, frango, aguacate, salada, etc.

E pimenta, é claro.

Hora de irmos para o aeroporto.

O vôo até Las Vegas foi com conexão em Houston, no Texas, ou seja, fomos primeiro para o Leste, quando o nosso destino estava no Oeste, aumentando bastante o tempo de viagem. E mais, fomos surpreendidos pela diferença de fuso horário. A segunda parte da viagem, que pensávamos ser de uma hora e quinze minutos, acabou acrescida de duas horas.

Finalmente, pousamos em Las Vegas. No começo, uma mancha de luz no horizonte, mas, à medida que nos aproximávamos, a quantidade de luzes, neons, letreiros, revelava essa verdadeira pérola que floresce em pleno deserto.
Hospedamo-nos no Hotel Luxor.

Dolor
11-08-12, 10:53
Las Vegas

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Quinta-feira, 1º/Jul (34º dia de viagem) a Sexta-feira, 9/Jul (42º dia de viagem)

Primeiro dia em Las Vegas foi dedicado a explorar o hotel. Enorme, em forma de pirâmide, com duas torres em anexo, conta com 4.407 quartos, muitas lojas, restaurantes, bares, cafés, e o cassino, que parece não ter fim.

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À tarde, recebemos a visita dos Grandes Caciques Fazedores de Chuva, Dolor e sua esposa Ângela, que vieram de Los Angeles em sua moto, especialmente para almoçar conosco.

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Quanta honra!

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Segundo dia, bem cedo, para o Aeroporto, receber nossas esposas. Foi com muita alegria que recebi a Terezinha, que veio juntar-se a nós. E pela TV, vimos a seleção brasileira ser eliminada da copa do mundo, perdendo para a Holanda, por dois a um.

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Os dias em Las Vegas passam rápidos. E as noites também. A cidade não pára. Muitas atrações. Assistimos ao show da cantora Cher, ao Cirque Du Soleil, as Águas Dançantes, fizemos passeio de helicóptero ao Grand Canyon, e percorremos todos os grandes hotéis, pois cada um é uma atração à parte.

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Também tentamos a sorte nos cassinos. Apostei um dólar num caça níqueis, e perdi.

Ao final, retornamos a León, para a continuação de nossa viagem, em moto.

Dolor
12-08-12, 23:58
Parral, Guachochi e Creel

Sábado, 10/Jul (43º dia de viagem) a Segunda-feira, 12/Jul (45º dia de viagem)

Iniciamos a jornada bem cedo, depois que conseguimos acomodar toda a nossa bagagem na moto, que ficou sobrecarregada. Ao cair da noite, chegamos a Hidalgo del Parral, terra de Pancho Villa. Na cidade, um museu lembra os feitos do seu famoso filho. Visita obrigatória.

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Na sequência, chegamos até Guachochi, e aproveitamos o restante da tarde para conhecer o famoso cânion Barranca Sinforosa, da serra Tarahumara. Tão imenso quanto o Grand Canyon norteamericano, ou mais, mas com um grande diferencial: com vida, animal e vegetal. E habitado!

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Dia seguinte, temprano fomos conhecer a Barranca Sinforosa, em uma avioneta. Davi, o jovem piloto do Cesna, nos levou num passeio magnífico pelos cânions, quando tivemos a rara oportunidade de ver, em detalhes, a vida que brota nas barrancas. Parece impossível, mas os Tarahumaras habitam as chamadas “covas”, literalmente penduradas em penhascos. Naquelas profundidades, eles têm suas criações, suas plantações, fabricam suas artesanias.

De Guachochi fomos a Creel, por uma das rodovias mais formosas que já vimos. O asfalto serpenteia por entre vales verdes, florestas de araucárias, e quando menos se espera, mergulha em cânions profundos. Curvas, muitas curvas. Estamos no topo da Sierra Madre Occidental.

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Em Creel, mais uma maravilha: as Barrancas de Cobre. Um passeio magnífico, que teve um componente extra, que muito o valorizou: o Rafael, o motorista da Van que nos levou. Um verdadeiro “mariachi”. Muito espontaneamente, cantou para nós, as mais lindas canções mexicanas. E foram tantas, do Miguel Aceves Mejia, do Cuco Sanchez, do Fernando Fernandez...

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E na Barranca Oteros, enquanto apreciávamos a beleza do rio, que corria a centenas de metros abaixo, assistimos extasiados uma cena que já há muito tempo ansiávamos ver: uma mãe índia colocar seu bebê nas costas. É costume do povo indígena, desde o Peru até aqui no México, as mães andarem com seus bebes presos às costas, amarrados com um manto chamado “reboso”. Ali o bebe se acomoda tranquilamente, enquanto a sua mãe, com os dois braços livres, executa os trabalhos domésticos. Mas como elas fazem isso? Era uma pergunta até então sem resposta. Será que elas têm ajuda de uma terceira pessoa? Hoje vimos que não. Com muito carinho, segurança e firmeza, sozinha ela enrola o bebe no manto, e num gesto com decisão, e muita precisão, leva-o às costas, segurando-o ao mesmo tempo pelos bracinhos e pelo manto. Depois desliza as mãos pelo manto até a frente do corpo, mantendo o bebe firmemente preso às costas, para rapidamente dar o nó nas extremidades. Até parece uma mazurpia, mas nas costas. O bebê se encaixa perfeitamente, se acomoda e logo dorme tranquilamente.

Dolor
13-08-12, 16:33
Tucson, Arizona

Segunda-feira, 13/Jul (46º dia de viagem) e Terça-feira, 14/Jul (47º dia de viagem)

Hoje pela manhã nos despedimos de Manuel, nosso grande amigo mexicano, que em companhia de sua esposa Sandra nos acolheu em sua casa em León, que nos ensinou muitos e muitos segredos do México, de suas tradições, de sua cultura, de sua culinária, de seu povo, e nos conduziu por lugares maravilhosos de seu País, para pudéssemos admirar as maravilhas com que a natureza o contemplou.

Depois de um demorado abraço, nenhuma palavra. Cadê minha voz? Minha garganta está trancada! Não consigo falar! Preciso agradecer a ele tudo o que fez por nós, desejar boa viagem de retorno para a sua León, mas não consigo.
Amigo Manuel, te desejamos uma excelente viagem de retorno para o seu lar, e do fundo dos nossos corações, te agradecemos tudo o que fizeste por nós. Que Deus te acompanhe nesta viagem de retorno.

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Ao final da tarde, estávamos em Água Prieta, na fronteira com os Estados Unidos. Paso fronteiriço com razoável movimento e muito bem organizado. Fomos atendidos em sala com ar condicionado, sem tramitadores, sem precisar preencher qualquer formulário, sem fotocópias. Apenas precisamos pagar 6 dólares por pessoa, para uma permissão de trânsito pelos Estados Unidos.

Pernoitamos em Douglas, Arizona, no Hotel Gadsen.

Nosso primeiro dia nos Estados Unidos amanheceu com céu limpo e convidativo para desfrutar as excelentes rodovias americanas. Os primeiros raios do sol já nos encontraram a rodar, eis que tínhamos um compromisso agendado em Tucson: revisão das motos. Precisávamos estar lá antes das 10, tínhamos 190 quilômetros pela frente.

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De repente, uma surpresa: encontramos a velha cidade de Tombstone, aquela mesma onde viveu o famoso xerife Wyatt Earp, tão temido pelos bandoleiros da época do faroeste. E não era uma reconstituição. Tudo verdadeiro, perfeitamente conservado. Lá estava o Saloon, onde se dançava o Can Can, vaqueiros jogavam cartas e bebiam cerveja; o estábulo, a ferraria, a igreja, o banco, a estação de diligências.

Tudo!

Queríamos ficar mais tempo por ali, conhecer melhor aquela relíquia, conversar com os moradores locais, saber um pouco mais da história americana, daquela época do velho oeste, de bandoleiros, índios e mocinhos. Mas tínhamos o compromisso em Tucson para a revisão das motos, afinal já rodamos 8 mil quilômetros desde a última, feita em Quito. Um lugar para voltar, com mais tempo.

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Já em Tucson, enquanto aguardamos o trabalho dos mecânicos, aproveitamos a oportunidade para por em dia as mensagens na internet, lavação de roupas, e porque não, um citytour. Nosso roadcaptain de pronto providenciou o aluguel de um carro, e lá fomos nós conhecer a cidade cenográfica Old Tucson, onde foram rodados grandes clássicos do faroeste, como as séries Chaparral e Bonanza, e muitos bang bang do John Wayne, como McLintock, Rio Lobo, e El Dorado.

Percorremos toda a cidade, confortavelmente (sic) instalados a bordo de uma diligência, reprodução fiel das utilizadas nos tempos da Wells Fargo. Só faltou sermos assaltados por bandoleiros, ou sofrermos um ataque de índios.

Ao final da tarde, uma excelente: o pneu dianteiro da minha moto foi trocado na garantia, porque apresentava defeito de fabricação, desgaste irregular na banda de rodagem. E não foi necessário implorar, nem aguardar meses, nem a intervenção de advogado.

Dolor
14-08-12, 11:26
Flagstaff e Kanab

Quarta-feira, 15/Jul (48º dia de viagem) e Quinta-feira, 16/Jul (49º dia de viagem)

Viajar em moto pelo Arizona está sendo uma das partes mais difíceis da viagem, devido às altas temperaturas desta região, durante o verão. Pelo rádio CB alguém pergunta quantos graus centígrados os termômetros marcam (Isto porque as Harleys têm um termômetro marcando a temperatura em Farenheidt). É fácil transformar. Rapidamente faço uma continha, de cabeça: 109 menos 32, vezes 5, divididos por 9. Fácil. Dá 43. Sim, 43 graus centígrados! Como pode alguém viver numa região dessas? Mas por incrível que pareça, há vida por toda parte. E vida humana. Ao longo da rodovia, pequenas cidades vão se alternando com extensas plantações algodão, de noz pecan, e fazendas de criação de gado.

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Perto de meio dia, o termômetro da Harley já marca mais de 120º Farenheidt. E eis que, do fundo do baú, surge a mais nova tecnologia contra o calor, logo apelidado de tip top. O nome técnico é “Men's Hydration Vest”. Trata-se de um colete fabricado com tecido especial, que antes de vestir, deve ser encharcado em água, por um a dois minutos. Usado sobre uma camisa/camiseta, ajuda a diminuir a temperatura do corpo, mantendo-o fresco por até 2 horas. Caso necessário, repetir a operação, sempre aproveitando os abastecimentos.

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Aprovado!

Ao final da tarde, chegamos a Flagstaff, onde pernoitamos.

Apesar das altas temperaturas enfrentadas durante o dia de hoje, tivemos momentos de temperaturas mais amenas, ao passarmos por cidades localizadas em montanhas, com altitudes superiores a 2 mil metros. São cidades turísticas, que tiveram origem na época da mineração, como Prescott, Jerome e Sedona.

Temos percebido aqui na região, grande movimentação de cargas por ferrovias que normalmente seguem paralelamente às rodovias. São trens imensos, puxados por três locomotivas, e empurrados por outras tantas, e compostos por mais de uma centena de vagões. Já vimos trens com até dois contêineres em cada vagão, e hoje, saindo de Flagstaff, onde pernoitamos, vimos um carregando os baús dos caminhões, com rodas e tudo. Um baú em cada vagão plataforma. Esse sistema, chamado de transporte modal, além da agilidade e economia, retira da estrada um grande número de caminhões.

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Em Page, ainda no Arizona, encontramo-nos com um grupo de motociclistas, em um posto de gasolina. Eram xerifes aposentados que ian a Salt Lake City para uma reunião mundial dos delegados aposentados, dos países de língua inglesa. Gente muito simpática, logo nos entrosamos. Troca de camisetas, bonés, pins, adesivos, e uma surpresa: nos presentearam com coleiras térmicas. Trata-se da mais uma invenção para amenizar o calor sufocante do deserto, e vem complementar a ação do tip top (que ontem descrevemos). É bastante simples: usa-se como um lenço de pescoço. Quando embebido em água fria, ele incha e fica parecendo uma cobra, aquelas de pano, que antigamente usava-se para tapar a fresta de baixo das portas. E o mais importante: irradia um frescor pelo corpo todo. Incrível! E não foi só isso! Nos passaram importantes dicas sobre rodovias, e pontos a visitar na região. É aquela já conhecida solidariedade entre motociclistas.

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Estamos na parte Norte do Grand Canyon, onde a rodovia 89A atravessa o território dos índios Navajos e cruza o rio Colorado, por uma ponte de metal, cujas águas na cor verde esmeralda, correm tranquilamente a mais de cem metros abaixo. Esse território, apesar de localizado no Arizona, segue o fuso horário de Utah (Nos Estados Unidos, as nações indígenas têm autonomia de Estado, inclusive para decidir sobre qual fuso horário adotar), ou seja, uma hora a mais.

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Depois de um almoço muito especial em Jacob Lake (todos comemos uma salada de verdes nobres com frango grelhado), fomos conhecer o parque Kaibab National Forest, onde o Grand Canyon se mostra majestoso, esbanjando vibrante coloração rosada em suas barrancas de pura rocha. E de quebra, tivemos uma recepção muito especial: uma chuva de granizo. E isso foi ótimo, porque imediatamente cambiou a temperatura, de escaldantes 120º F para amenos 50.

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No parque, nos lembramos do nosso amigo mexicano, o Manuel, que com muita vibração nos apresentou as famosas barrancas da serra Tarahumara, cujas formações bastante se assemelham ao Grand Canyon. Mal tivemos tempo para registrar a visita em algumas fotos e vídeos, pois forte chuva se aproximava e queríamos escapar dessa. Conseguimos, apesar dela nos perseguir até Kanab, onde pernoitamos.

Dolor
16-08-12, 09:38
Chegando no Canadá

Sexta-feira, 17/Jul (50º dia de viagem) a Quarta-feira, 21/Jul (54º dia de viagem)

Na sequência, passamos por San Francisco onde fizemos dois pernoites e tivemos um dia inteiro para explorar a cidade, inclusive o seu maior monumento: a Golden Gate.

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Seguindo direção norte, cruzamos o Estado do Oregon onde fizemos um pernoite em Salem, e o Estado de Washington, seguindo sempre na Interstate 5, para chegarmos na fronteira com o Canadá, em Vancouver, na British Columbia.
O frio está chegando. O dia amanheceu nublado, com temperatura em torno dos 15º C, na simpática cidade de Salem, Oregon, onde pernoitamos. As roupas de frio, que estavam no fundo das malas, são requisitadas. Na rodovia, a temperatura cai mais ainda, atingindo 10º C por volta do meio dia. O sol está encoberto por grossa camada de nuvens.

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Estamos na torcida para não chover. Já começa a aparecer gelo no alto das montanhas.

Nesse dia me dei conta de que algo não estava bem. O Parque das Sequoias ficara para trás. Perdemos de visitá-lo. Quando questionei o grupo o porquê, as respostas foram evasivas, e houve até quem dissesse que mais ao norte, na região do Estado de Washington, havia outros parques com sequoias ainda maiores. Será?

Mais tarde, a verdade aflorou: como os demais membros do grupo já conheciam o parque, combinaram entre eles não visitá-lo e nada nos avisaram dessa mudança de roteiro. Os únicos prejudicados fomos nós. Mas isto não nos abalou. Pelo contrário, apenas nos alertou que devemos escolher melhor nossas companhias de viagem.

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Chegando ao Canadá, tivemos uma recepção em grande estilo. Algumas milhas antes da fronteira, em Bellinghan, nos aguardavam o nosso amigo Celso Fonseca, de Florianópolis, e sua esposa Miriam. O simpático casal, companheiros de tantas jornadas em moto, agora a bordo de um possante Chevrolet Camaro, está na região em viagem de férias, desfrutando das belezas locais. Como é bom encontrar alguém do Brasil, ouvir as novidades da nossa terra, ouvir o som gostoso de uma conversa em português.

Na fronteira com o Canadá, os procedimentos são os mais simples que encontramos até agora. Sequer precisa descer da moto. Bastou mostrar o passaporte, e responder algumas perguntas básicas: quanto tempo vai ficar no Canadá? Traz arma de fogo? Traz bebida alcoólica? Traz presentes? E pronto. Passaporte carimbado e estamos no Canadá!

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Nossa primeira parada é em Vancouver, onde nos aguardava Jairo Orlandi, brasileiro morando em Peterboroug, no Canadá, o sexto expedicionário a se juntar ao grupo.

Nosso primeiro dia no Canadá começou com um city tour por Vancouver. De Harley. Cruzamos o centro da cidade de sul a norte, para acessarmos a rodovia 99N, e depois a 97N, que nos levaria a Prince George, nosso destino para hoje.
Em alguns trechos, o trânsito na rodovia é interrompido para execução de trabalhos de manutenção da pista. Explica-nos o Jairo que isso é normal nessa época do ano, verão por aqui. No inverno, é impossível trabalhar nas estradas, devido ao frio intenso, e a grande quantidade de neve que se acumula.

Por falar em frio, apesar do sol já estar alto, por volta de 9 horas da manhã, a temperatura na estrada está em torno de 10º C. Os altos morros que ladeiam a estrada estão brancos de gelo. Mesmo no verão.

Movimento intenso de caminhões transportando toras de madeira. O Canadá já foi um dos maiores, senão o maior, produtor de celulose do mundo. Hoje se dedica à produção de madeira, atividade bem menos poluidora.

Outra curiosidade que vimos na rodovia, são cancelas existentes para bloquear o trânsito em caso de avalanches. Com efeito, é visível em certos trechos, os sinais destruidores das avalanches.

Em muitos trechos da rodovia, encontram-se pontos de parada para descanso ou acampamento, ou ainda, estacionamento para trailers (aqui conhecidos pelas iniciais RV) ou motorhome. O sonho de todo canadense é ter o seu próprio trailer ou motorhome.

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E por ser verão, encontramos grande número de motos circulando. Viajantes solitários, em duplas, em grupos, sós, com garupa. Muitas Harleys. E mais uma curiosidade: muitas Harleys tracionando um reboque. Muito prático, pois além de ter um compartimento bastante espaçoso para bagagem, tem ainda uma caixa térmica. Essa moda bem que poderia ser levada para o Brasil.

Ao final da tarde, chegamos a Prince George, depois de passarmos por cidades muito simpáticas, como Whistler, Clinton, Williams Lake, e Quesnel, todas muito limpas, ajardinadas, floridas, e calmas.

Dolor
18-08-12, 19:34
Dawson Creek a Whitehorse

Quinta-feira 22/Jul, a Sábado 24/Jul (55º ao 57º dias de viagem)

E para começar bem o dia, nada como um breakfast típico canadense. E para tanto, o nosso colega Jairo nos levou ao Tim Horton’s. Trata-se de uma rede canadense de fastfood, especializada em lanches, aberta 24 horas por dia. Apesar de ser bastante cedo, nos deparamos com grande fila de pessoas querendo saborear os quitutes oferecidos. Logo pensamos: se tem movimento, deve ser bom. E é mesmo. O lema da rede é “always fresh” (sempre fresco). As comidas sempre com jeito de que acabaram de sair do forno. Uma verdadeira delícia.

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Fato curioso que temos observado, por aqui quase não se vê polícia. Nem nas ruas das cidades, nem nas rodovias. Explica-nos Jairo, que o índice de criminalidade é baixo, o nível de educação é alto, o trânsito é disciplinado, por isso, poucos policiais.

Em Chetwind, chama a atenção, a grande quantidade de esculturas expostas ao longo da rodovia, que corta a cidade. São estátuas feitas em madeira, por índios, retratando figuras humanas e animais.

Ao final da tarde, chegamos a Dawson Creed, onde está localizado o marco inicial (Mile 0) da Alaska Higway. Dali até Fairbanks, são 2.233km.

Conferiremos.

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Depois de Fort Nelson, ainda na rodovia 97N, fomos apresentados ao “loose gravel”. São pequenas pedras soltas sobre o pavimento. Um veneno para as motos, pois tornam a pista muito escorregadia. E se estendem por vários quilômetros. E não foi só isso! Também nesse trecho, obras na pista. E algumas curiosidades foram notadas.

Nosso dia de viagem termina em um simpático hotel, na milha 462 da Alaska Higway, no município Muncho Lake, na Beautiful British Columbia. É o Northern Rockies Lodge, novinho em folha, construído com toras de madeira deitadas, em autêntico estilo nórdico. E em torno de um vinho produzido em Ontário, estamos agora a planejar onde e quando faremos a próxima revisão em nossas motos. Temos duas opções: em Whitehorse, ainda no Canadá, ou em Anchorage, lá no Alaska.

Meu voto vai para...

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A cada curva da Alaska Hwy, uma nova surpresa: paisagens maravilhosas se alternam transformando a viagem em puro prazer. É bom lembrar que um motociclista tem 180º de visão, ou seja, além de manter o olhar firme em frente, fixo na estrada por onde passará, sua visão periférica enxerga tudo o que está nas duas margens. Acho que esta é uma das razões que leva as pessoas a gostarem de motos. Mas, e as paisagens? Nos dois lados da estrada, sempre floresta de pinus a perder de vista, somente interrompida por lagos ou rios. Ao longe, montanhas cobertas de vegetação ou rocha pura, manchadas com o branco da neve, formando um todo muito harmonioso.

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Subitamente a contemplação é interrompida. Um enorme bisão pasta tranquilamente, logo ali, a poucos metros da estrada. O enorme animal parece não notar nossa presença. Nem mesmo o poderoso ronco das cinco motos o assusta. Fotos tomadas, segue o trem, para logo à frente, outro mais, e mais outro, e depois uma manada deles. Todos muito calmos, parecem mais preocupados em escolher e saborear as folhas mais tenras e frescas do capim umedecidas pelo orvalho da manhã, do que com a movimentação daqueles 6 ET, vestidos de preto, que procuram os melhores ângulos para fotografar.

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Em Watson Lake, um compromisso: fixar as nossas placas no Sign Post Forrest, ao lado de dezenas de milhares de placas fixadas por viajantes do mundo todo, que por ali passaram. Essa tradição começou em 1942, durante a construção da Alaska Hwy, com os engenheiros do exército dos Estados Unidos, que colocaram em um poste, placas com direção e distância de várias cidades do Canadá, dos Estados Unidos, e do mundo todo.

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Chegando em Whitehorse, a capital do estado do Yukon, outra surpresa: o barco SS Klondike, totalmente restaurado, e instalado em terra firme, hoje é um museu que retrata o período em que este meio de transporte foi o responsável pela movimentação de cargas e pessoas, através do rio Yukon.

Dolor
23-08-12, 01:08
Chegamos ao Alaska

Domingo 25/Jul, a Terça-feira 27/Jul (58º ao 60º dias de viagem)

Deixamos Whitehorse com a temperatura beirando 5º C, porém com sol brilhando em um imenso céu azul. Prenúncio de um bom dia de viagem.

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A paisagem continua deslumbrante. Agora aparece ao longe, bem à nossa frente, imensa cordilheira com os picos nevados. Muito mais neve do que nas montanhas até então vistas. A rodovia nos leva em direção a ela. A preocupação com o frio aumenta. O zum-zum-zum pelo rádio é imediato. Vamos parar e colocar mais roupa, diz alguém preocupado. Vamos aguardar, foi a resposta. E como que atendendo ao pedido de todos nós, a Alaska Hwy suavemente se inclina para a direita, deixando as imponentes montanhas geladas à nossa esquerda, e mergulha num vale de planícies sem fim.
Agora a atração está à nossa direita. É o Kluane Lake, de águas muito azuis, que rouba a cena. Localizado na cidade de Destruction Bay, tem mais de cem quilômetros de extensão, obrigando a rodovia a descrever uma enorme curva, para poder continuar seu rumo em direção ao Alasca.

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Depois de Beaver Creek, a estrada se torna irreconhecível. Volta a apresentar muitos trechos com "loose gravel", trechos em terra onde o pavimento há muito se acabou, e, de grande perigo para motos, grande extensão com depressões longitudinais na pista. O pior trecho de toda a viagem, que só melhora, depois de entrar no Alasca.
Enfim chegamos ao Alasca, com 58 dias de viagem. Já são quase dois meses que estamos na estrada, e só temos a agradecer, por tudo o que nos aconteceu até aqui. Nenhum acidente.

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E para não perder o costume, mais uma fronteira para cruzarmos: do Canadá para os Estados Unidos, já que o Alasca é um dos cinqüenta estados norteamericanos. E tudo aconteceu conforme esperado. Sem burocracia, sem fotocópias, sem propinas, sem tramitadores. Bastou apresentar o passaporte, responder a uma pergunta básica (guns?) e pronto. É só seguir. Sequer pediram os documentos das motos!

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Importante destacar a atenção que é dada ao turista, em todas as cidades do Yukon por onde passamos, e agora em Tok, no Alasca. Existem postos de atendimento, estrategicamente localizados na entrada das cidades, com funcionários atenciosos e dispostos a ajudar, e farto material de divulgação.

Em Tok ficamos hospedados no Snowshoe Motel. Simples e aconchegante.

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Por aqui o dia está amanhecendo por volta de 4 horas da manhã, e anoitecendo perto da meia noite.
Hoje viajamos em direção ao sul, para Anchorage, onde existe revenda Harley, para fazer revisão nas motos. E, mais uma vez, a paisagem nos surpreende. Agora, a cadeia montanhosa apresenta picos mais altos, e com maior cobertura de neve.

A temperatura sempre em torno de 40 a 50º F. E de repente aparece o primeiro Glaciar, o School. Bonito, bem distante, parece formar uma estrada de vidro a unir duas montanhas. A rodovia segue se afastando dele, para, logo em seguida, dar de frente com o Glaciar View, logo ali, bem pertinho, como um rio de gelo correndo paralelo à estrada.

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E nosso dia não poderia terminar melhor: já em Anchorage, fomos lanchar no MacDonalds, e para nossa surpresa, a gerente local, Elaine, é brasileira, de João Pessoa, na Paraíba.

Conforme programado, o dia de hoje foi dedicado à revisão das motos, essas heroínas que estão nos levando a concretizar o nosso sonho de aventureiros. Revisão de rotina, conforme programado pelo fabricante.

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Enquanto isso aproveitamos o dia de folga para um tour aéreo pela região. Fomos de hidroplano, muito comum aqui na região. Num primeiro momento, sobrevoamos região muito plana, coberta de vegetação rasteira, e alagada. Ali observamos vários caribus, ursos pardos, ursos marrons. Todos pareciam não se importar com a proximidade do avião.
Dali partimos para o ponto alto do passeio. Sobrevoar o Glacier Triumphet. Majestoso. Um verdadeiro mar de gelo a escorrer da montanha. E para completar, um pouso no Lake Coal, um pequeno lago de águas muito limpas e azuladas, perdido em meio a milhares de outros existentes no Alaska.

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Impressionante também, é a facilidade com que o pequeno hidroavião decola e pousa. Acho que necessita pouco mais de duzentos metros e pronto.

Já está no ar, ou na água.

Com toda segurança.

Dolor
23-08-12, 16:06
Fairbanks e Coldfoot

Quarta-feira 28/Jul, e 29/Jul (61º e 62º dia de viagem)

Com as motos totalmente revisadas, deixamos Anchorage em direção a Fairbanks pela AK 3. Exceto em alguns trechos com obras, o pavimento da rodovia em bom estado permitiu uma viagem muito tranqüila, apesar da chuva que nos acompanhou por muitos quilômetros.

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Inclusive chovia muito quando passamos pela região do monte Mckinley, o que nos impediu de admirarmos a beleza desse colosso com mais de vinte mil pés de altitude, ponto culminante da América do Norte.
Em Denali, nos deparamos com um verdadeiro Oasis. A pequena cidade tem uma grande concentração de lojas e hotéis. É ponto de partida para as excursões que visitam o Parque Denali, e para os alpinistas que buscam escalar o McKinley. As lojas parecem formar uma cidadezinha do velho oeste americano. Todas dispostas lado a lado às margens da rodovia, são unidas por passeio com piso e teto construídos em madeira. Tem até uma loja HD! E o seu simpático proprietário nos recebeu com o melhor dos sorrisos.

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Em Fairbanks fomos direto à loja HD, ponto de encontro dos motociclistas que vêm a essa região. Loja bonita, espaçosa, gente simpática, grande oferta de produtos. E atendem e vendem produtos de várias marcas de motocicletas. E o mais importante: conversamos com motociclistas que acabaram de chegar de Prudhoe Bay, onde foram com Harleys. Deles recebemos os melhores elogios pela nossa viagem até aqui, e principalmente, muito nos incentivaram a irmos até o nosso objetivo final.

Agora estamos todos aqui reunidos, na cozinha do acolhedor Blue Roof Bed & Breakfast (conceito cama e café da manhã), onde nos hospedamos, após termos sido recebidos pelo seu proprietário.

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O dia de hoje começou bem para nós, no Blue Roof Bed & Breakfast. Bem cedo, Joe (o proprietário) nos aguardava com o breakfast feito por ele mesmo, e, segundo ele, especialmente preparado para motociclistas. Então, ao ataque! Numa pequena frigideira, Joe preparava deliciosas panquecas, acompanhadas de generosas fatias de bacon e hamburguers. Na mesa da cozinha, os hóspedes iam se aproximando, good morning, sentando, conversando, comendo, e logo era uma miscelânea de línguas, mas todos se entendendo, mais por mímica do que por vocabulário.

Doravante, sempre que possível, vamos procurar mais esse tipo de hospedagem, pois o custo benefício é grande. De quebra, deixamos reservado três quartos para a volta, e mais, com ele deixamos os nossos pertences que não precisaríamos para a ida até Prudhoe Bay, aliviando assim, o peso em nossas motos. Houve quem levasse apenas a roupa do corpo e a nécessaire. E o notebook, naturalmente.

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O trecho planejado para hoje, até Coldfoot, em torno de 400 Km, segundo informações, era todo em asfalto. Entretanto, a partir de Livengood, em muitos longos trechos, o asfalto sumia, dando lugar a estrada de terra batida. Esses trechos sem asfalto estavam muito bem conservados, permitindo velocidades de até 100 km/h.

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O Abastecimento neste trecho é feito no Yukon River Camp, 221 km depois de Fairbanks. O local é bastante simples, mas dispõe de hotel e restaurante, onde degustamos uma excelente sopa de salmão.

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Durante anos a professora Terezinha ensinou aos seus alunos nas aulas de Geografia, a localização exata das linhas imaginárias que dividem a Terra: o Equador, os trópicos de Câncer e de Capricórnio, e os Círculos Polares. Agora, à medida que avançávamos em direção ao norte, da garupa ela acompanha pelo GPS a aproximação do Circulo Polar Ártico. As letras miúdas informam que estamos na latitude 66º 20´. Agora falta pouco. Ele está logo aí na frente, na latitude 66º 33´, avisa ela, já bastante emocionada. E pronto, ali está. Uma bela placa de madeira à beira da rodovia informa que exatamente naquele ponto passa o Círculo Polar Ártico.

Quem diria professora Terezinha, que um dia você iria cruzar essa marca, em moto!

Quanta honra, quanto orgulho, quanta emoção.

Parabéns, você é uma vencedora.

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Na metade da tarde, chegamos Coldfoot. Quase íamos passando sem perceber. A cidade é muito pequena. Na verdade, é um acampamento, com abastecimento de combustíveis, um hotel, e um restaurante. Algumas milhas à frente, em Wisemann, existem dois hotéis, que descobrimos mais tarde, já estarem lotados. É para lá que íamos, deixando para trás, o abastecimento, importantíssimo, porque é o único até Prudhoe Bay. Inclusive, para garantir, levaremos alguns galões extras, já que o próximo abastecimento estará no limite de autonomia das motos. E aqui aproveitamos para pernoitar no Slatter Creek Inn, típico hotel de acampamento, sem luxo, mas com o conforto necessário, a um preço “salgado”: USD$200,00 por apartamento. E no restaurante, um jantar especial, do tipo “all you can eat”, por USD$19,90. No cardápio, além de saladas, arroz, batatas, salmão e pernil suíno, e para sobremesa, deliciosa torta de amoras e peras.

Talvez um dos melhores jantares da viagem.

Dolor
23-08-12, 16:12
GCFC Osmar, que maravilha voltar a viajar através dos teus relatos e sentimentos.

Aproveito para pedir uma atenção especial dos leitores para o adesivo que está colocado nos pés das letras A e M, da placa da JA Mes W Dalton Highway, mesmo que incivilizadamente colocada, demarca o território como dos Fazedores de Chuva.

"Qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem..."

Diz o slogan dos Fazedores de Chuva.

Aprocheguem-se Fazedores!

Dolor
24-08-12, 12:31
Deadhorse

Sexta-feira 30/Jul (63º dia de viagem)

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Desde a nossa chegada a Coldfoot, ontem à tarde, ouvimos diversos comentários a respeito da estrada até Prudhoe Bay, do péssimo estado em que ela se encontrava devido a fortes chuvas, e, pior, que as Harleys não passariam.

Um verdadeiro terror.

E isto vinha principalmente de motociclistas que passaram, em suas bigtrails. Ouvíamos cada um deles atentamente, fazíamos perguntas, ficávamos a imaginar o que realmente nos aguardava.

Dormimos abraçados com a incerteza do próximo dia.

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Mas, durante a noite, o amigo travesseiro aconselhou: “Sigam! Vão conferir!

Afinal, vocês vieram de tão longe, e não vão desistir agora, vão?”

Amanheceu (se é que anoiteceu!) com tempo firme. Só um espesso nevoeiro cobria os morros vizinhos. Aqui e acolá já se via sinais do sol conseguindo furar o escudo formado pelas nuvens.

Bom sinal.

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Após dois meses de viagem, não precisamos de muita conversa para tomar uma decisão. Bastou olharmos uns para os outros, e num instante já estávamos prontos, decididos a enfrentar o último trecho a nos separar de Prudhoe Bay. Os cinco possantes motores roncaram e partimos. Os tanques foram enchidos até a boca, com a moto em pé (bem na vertical) para caber mais combustível, e ainda, alguns galões sobressalentes para enfrentarmos algum imprevisto, e ganhamos a estrada.

A rodovia AK-11, ou Dalton Highway, está em obras, em toda a sua extensão.

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E o terror dos motociclistas é a dupla, patrola e caminhão da água.

A primeira aplaina a estrada, deixando atrás de si, muita terra fofa. E o segundo, joga água, para que, com o movimento dos caminhões, compacte o piso.

Só que, enquanto não passarem os caminhões, e aquela água não secar, fica um lamaçal só.

Não há moto que resista.

É queda na certa.

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Nestes 390 Km que separam Coldfoot de Deadhorse, a rodovia está em boas condições, permitindo velocidades de até 100 km/hora, com toda segurança. Após Happy Valley, que alegria. Asfalto, o velho e bom asfalto, e por 45 Km.

À medida que avançávamos em direção ao Oceano Ártico, a paisagem ia mudando. Os bosques de pinheiros deram lugar a extensa pradaria coberta por capim. As montanhas sumiram. Muito longe, no horizonte, o céu azul e a terra se encontravam. Nenhum sinal de chuva. Agora nada mais era capaz de nos deter. Deadhorse estava bem ali, quase podíamos tocá-la com as mãos.

Às quatro da tarde, estacionamos as Motos em frente ao Artic Caribou Inn, em Deadhorse, depois de rodar 24.238 quilômetros.

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Amanhã iremos a Prudhoe Bay, de ônibus, pois não é permitida a entrada de veículos particulares. Somente excursões organizadas.

Dolor
28-08-12, 12:24
Prudhoe Bay

Sábado 31/Jul (64º dia de viagem)

Impossível não falar sobre o hotel que estamos hospedados em Deadhorse: o Artic Caribou Inn. Como todas as construções daqui, são compostas de vários conteiners ligados entre si, formando extensos corredores, em várias alas. Os apartamentos são pequenos, porém muito confortáveis. Tudo climatizado. A diária custa 190 dólares para duas pessoas, pensão completa: “all you can eat”. E a comida é da mais alta qualidade. Frutas frescas, saladas verdes, várias opções de carnes, sempre servidos em um bufê muito bem arrumado. Refrigerantes e sucos à vontade, o dia todo, que você mesmo se serve, na máquina. Eu chamaria isto de um verdadeiro centro de engorda. Precisamos “vazar” daqui, sob pena de sobrecarregarmos as motos na volta.

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Conforme previsto, hoje fomos conhecer Prudhoe Bay. A segurança é rigorosa. Veículos particulares são barrados. Somente podem circular por lá, os veículos das empreiteiras, e o ônibus do hotel que nos leva. O nosso guia, que é também o motorista, explica tudo detalhadamente. Em inglês. Nada compreendo. O MacGyver, nosso intérprete, traduz os tópicos mais importantes. Prudhoe Bay é uma base produtora de petróleo. Não tem moradores fixos. O regime de trabalho é de duas semanas aqui, e duas em casa. Os operários vão e vêm, sempre de avião.

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Rápida parada do ônibus, e nos é dada a rara oportunidade de termos contato com as águas do Oceano Glacial Ártico. Momento único que é festejado por todos. Alguns até ensaiam um mergulho, porém, mais parece uma cerimônia de “lava-pés”. Não tinha gelo boiando na água, mas estava um frio de rachar.

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Final de tarde, necessitamos aprontar nossas motos para a longa jornada de volta. Estão cobertas de lama. Uma delas, quase perdendo o suporte da sinaleira traseira; outra quebrou os dois suportes do morcego; outra perdeu a mola do pezinho, e outra rompeu os dois suportes das malas laterais.

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Os tanques estão vazios. Faremos o possível para que todas cheguem a Fairbanks, a mais próxima oficina HD, a 880 km daqui.

Dolor
15-09-12, 03:48
Começando o retorno

Domingo, 1º/Ago, a Terça-feira, 3/Ago (65º ao 67º dia de viagem)

Iniciamos nossa jornada de volta para casa, bem cedo, depois de um reforçado breakfast, e uma visita à loja de conveniências do hotel, onde cada um preparou o seu “catanho”, à base de sucos, salgadinhos, frutas secas, biscoitos e barras de cereal. Detalhe: tudo incluso no preço da diária.

E a rodovia. Como estará a rodovia até Fairbanks? Essa era a grande indagação entre nós. Ninguém tinha a resposta. A expectativa era grande. Não choveu nos dois últimos dias. Bom sinal. A torcida para que não chovesse no dia de hoje era grande. E nossas preces foram ouvidas, e atendidas. E mais que isso. Hoje é domingo, e nesse dia, os trabalhos de manutenção na rodovia são suspensos, exceto nas partes críticas. Isso significa que não encontraríamos aquela temível dupla, caminhão d´água & patrola, o grande terror dos motociclistas.

No geral, a estrada estava boa, e cobrimos o percurso de 912 quilômetros em 12 horas e trinta minutos.
O hotel que ficamos em Fairbanks (Blue Roof Bed & Breakfast) nos proporcionou a rara oportunidade de fazermos uma refeição do tipo “caseira”. Gentilmente nos cederam a churrasqueira a gás para assarmos o nosso próprio churrasco. No supermercado mais próximo e compramos os ingredientes necessários: salsichas, hamburgers (daqueles bem grandes, suculentos), pães, e cerveja. Bud Light, naturalmente.

Na manhã seguinte, enquanto uncle Joe preparava nosso breakfast, uma importante reunião entre os expedicionários: nossas motos necessitavam urgentemente de lavação (estavam cobertas de lama do Alaska) e inspeção mecânica (luzes, filtros, freios). A oficina Harley em Fairbanks não trabalharia naquele dia, segunda-feira. Então precisávamos tomar uma decisão: aguardarmos até amanhã para fazer esses serviços, ou tocarmos até Whitehorse, cidade mais próxima em nosso roteiro que tem oficina Harley. Conscientes de que nossas motos necessitavam urgentemente de inspeção técnica sobre as condições de viagem, decidimos seguir. Seriam 949 quilômetros, pelo trecho em que o asfalto apresentava as piores condições que enfrentamos até aqui: muito loose gravel (pedriscos sobre o asfalto), ondulações longitudinais, e grandes trechos em obras.

Na saída de Fairbanks, um instante de encantamento e magia, onde voltamos a ser crianças. Em North Pole, visitamos a Casa do Papai Noel.
Depois de algumas horas de viagem, a fronteira com o Canadá. Agora vamos para a aduana. Por aqui existe uma particularidade. Ao contrário das complicadas aduanas, onde, ao cruzar uma fronteira, é necessário “fazer” duas aduanas: uma de saída e outra de entrada, aqui só se faz uma. A de entrada. Então, tínhamos pela frente a aduana do Canadá. E para surpresa nossa, a funcionária que nos atendeu, falando em bom português, nos deu as boas vindas. Uau! Como é bom compreender todas as perguntas que nos fazem. E responder, e ser entendido. Explicou ela, que é nascida no Canadá, filha de portugueses. Que gosta quando tem a oportunidade de conversar com alguém, na língua de seus pais. Ficaríamos mais tempo conversando com ela, porém ela precisava trabalhar, e nós, seguir nossa viagem.

Neste trecho de estrada, nos chamou a atenção, a grande quantidade de ciclistas viajando. Sós, ou em duplas, bicicletas cheias de alforjes, pacientemente eles vencem grandes distâncias. Haja resistência.
E em Destruction Bay, às margens do Kluane Lake, lá está aquele carro de polícia, vigilante. É visível de longe. Instintivamente, todos diminuem a velocidade. Também pudera, a polícia está logo ali. Mas para surpresa geral, não passa de uma placa, em forma de carro. Carro de polícia. Mesmo quem conhece, quem já passou por ali várias vezes, fica na dúvida e diminui a velocidade. Vai que tiraram a placa e é polícia de verdade!

Chegamos a Whitehorse bastante tarde, e dedicamos o dia seguinte a cuidar das motos, e nos preparar para um passeio de trem a Skagway, para amanhã.

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Alaska Highway

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Parada para descanso...

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Chegando ao Canadá - Yukon Territory

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Electra com reboque, verdadeira febre dos viajeros

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Whitehorse - registrando a viagem

Dolor
20-09-12, 10:50
Skagway
Quarta-feira, 4/Ago (68º dia de viagem)

Um trem como nenhum outro...
Um trem nascido durante a Fiebre de Oro de Klondike e construído, apesar de todos os obstáculos, para levar a esperançados buscadores de minas, a seus sonhos de ouro.

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Hoje, cem anos depois, a White Pass & Yukon Route, ou simplesmente WP&YR, leva uma classe diferente de exploradores: aqueles em busca de grandes aventuras e de cenários que só pode oferecer a Última Frontera.

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Enquanto ouvimos o suave tac-tac ao longo das ladeiras de puro granito, e do silvo do apito do trem que cruza por abismos de profundos precipícios, pensamos naqueles famosos e destemidos aventureiros que fizeram essa viagem a pé, e damos graças à nossa boa fortuna por estarmos acomodados em tão confortável assento no vagão do trem.

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Para um dia de hoje, um passeio especial: de trem, até Skagway, no Alaska, às margens do Oceano Pacífico. Folga para nossas valentes motos.

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Um ônibus nos leva, de Whitehorse até Fraser, já na Columbia Britânica. Lá embarcamos no famoso trem. Serão 27 milhas através de montanhas com picos nevados, pontes, túneis, precipícios, ferrovia literalmente pendurada em paredões de pedra, até Skagway, às margens do Pacífico, cidade pertencente ao Alaska.

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Essa ferrovia foi construída para levar o ouro encontrado nas montanhas, até o porto em Skagway, e dali para o mundo. Retratos dessa época são vistos em toda parte. Nas casas antigas e conservadas até hoje, nos bares, saloons e a grande quantidade de joalherias.

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A cidade é pequena. Sua população é de 750 habitantes. Em 1898 chegava a 10.000. Entretanto, diariamente a cidade é invadida por milhares de turistas, que chegam de trem, de carro, de ônibus, ou de navio. No píer, quase dentro da cidade, contamos quatro transatlânticos atracados.

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E todos lotados de turistas ávidos na compra de lembranças.

Dolor
22-09-12, 12:37
Billings
Domingo, 8/Ago (72º dia de viagem)

A caminho de Fort Nelson, a rodovia cruza por imensa floresta de pinus, conhecidos por taigas, vegetação característica de áreas próximas ao Círculo Polar. São dias e dias inteiros, viajando dentro dessa vegetação. E para complicar, hoje tivemos um incêndio na mata. Longe da estrada, mas o suficiente para bloquear algumas rodovias, devido à intensidade da fumaça. Felizmente, por onde passamos, estava liberado o trânsito. Mas a visibilidade era pouca.

E de repente, um bisão solitário à beira da estrada. Algumas fotos e... espere, logo mais à frente, vários, dezenas deles, uma manada inteira tomando conta da estrada, das laterais, trânsito parado, fotos, suspiros. Ninguém buzina. Todos aguardam pacientemente, que os bichos liberem o trânsito. Mas eles não têm pressa. É terreno deles. Os invasores que aguardem. E o maior deles, o que parecia ser o grande chefe, tomava conta do asfalto. Parado bem no meio, ocupando toda a pista, olhava para um lado e para outro, e parecia dizer “daqui não saio, daqui ninguém me tira!” Desligamos os motores das motos para não assustar os bichos. Só então nos demos conta de que estávamos à mercê deles. E se de repente um deles resolvesse investir contra nós? Quem estava de carro, estava protegido. Nós não. Éramos alvos fáceis. Instintivamente, ligamos os motores e para nosso alívio, o poderoso bisão cedeu lado.

Ufa!

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Mais à frente, foi a vez dos caribus aparecerem. Muito ariscos e rápidos, não posam para fotos. Num piscar de olhos, somem na floresta.

E os ursos? Os amigos ursos ainda não deram o ar da graça. Estão em dívida conosco.

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Completando a jornada, chegamos a Forte Nelson. Finalmente. Foram quase mil quilômetros rodados hoje. Boa tocada!
Fizemos uma pequena alteração no roteiro, e iremos direto a Billings, Montana, nos Estados Unidos. Durante o trajeto, a chuva foi uma ameaça constante. Negras e carregadas nuvens sempre pairando à nossa frente. Porém, todos unidos numa corrente de pensamento positivo, e a estrada caprichosamente mudava de direção, levando-nos para longe do aguaceiro.

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Isso até parece estranho, mas às vezes, um verdadeiro Fazedor de Chuva se empenha ao máximo para que a chuva não venha estragar o passeio.

Temos observado também, grande mudança na paisagem. Deixamos para trás as florestas de pinus do Alasca e do Canadá, as espetaculares Montanhas Rochosas da região de Jasper e Banff, e agora rodamos por uma planície sem fim, de terras cultiváveis e de criação de gado em gigantescas fazendas, iguaizinhas àquelas que estamos acostumados ver em filmes.
Em Billings, fomos recebidos pelo simpático casal Magnus e Carole, e seu filho Nicolas, brasileiros que aí residem e que nos acolheram em sua casa.

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Ponte no Canadá

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Que belo bife!

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Monte Kitchner

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Passagem para animais silvestres

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Na loja HD em Billings

Dolor
22-09-12, 17:03
Yellowstone Park
Terça-feira, 10/Ago (74º dia de viagem)

Saímos de Billings em direção ao Yellowstone Park. Nossa primeira parada foi na simpaticíssima cidade de Red Lodge.

Pequena, bem ao estilo velho oeste, com muitos bares, saloons e lojas de artesanatos. Tem até uma lojinha HD!

Prosseguindo viagem, teríamos que cruzar o Beartooth Pass. A pequena estrada atravessa por região montanhosa, atingindo 10.947 pés de altitude. Já que iríamos tão alto, pensei em aproveitar a ocasião para ter uma conversinha com o grande mestre fazedor de chuvas, obter algumas dicas, aprimorar meus conhecimentos.

Péssima idéia. Acho que ele não gostou nada da minha intenção.

Ficou furioso. Num instante espessa nuvem negra cobriu o céu, raios, trovões, relâmpagos, e chuva. Muita chuva. E não foi só isso! A temperatura caiu para baixo de 30º F. Tremíamos qual varas verdes. E nada é tão ruim, que não possa ficar pior. Pois ficou. Granizo. Começou a cair granizo. Em grande quantidade. As pedrinhas de gelo batiam na bolha da moto e ficam grudadas. O trânsito seguia lento, muito lento, pois era grande o perigo de gelo na pista. E o frio cada vez apertando mais.

Que sufoco!

A chegada em Cooke City foi um alivio. Tirar aquelas roupas molhadas, tomar uma ducha quentinha, vestir roupas secas, beber um café fumegante, era tudo o que queríamos. A cidade é pequena, só tem uma rua e alguns poucos motéis, e nessa época, o movimento de motociclistas por aqui é muito grande, pois é caminho entre o Yellowstone Park e Sturgis, onde está acontecendo o grande encontro anual. E pelo mesmo motivo, muitos pararam por aqui para pernoite. Nos motéis que íamos encontrando, via-se a placa avisando “NO VACANCY”. Mas, no final, tudo se resolve. Conseguimos encontrar um que ainda dispunha de dois apartamentos. Hoosier´s Motel. Beleza. É tudo o que queremos. Nem perguntamos se tinha internet (não tinha), quanto custa, etc. Ficamos com eles.

Fomos atendidos por uma simpática senhora, miudinha, de cabelos bem branquinhos, fala macia, e muito atenciosa. Depois que preenchemos nossas fichas, ela nos presenteou com o mais inusitado dos presentes: para cada um, um balde com duas toalhas e um disco de madeira, de aprox. 10 cm de diâmetro, por 1 cm de espessura (um grande Sonrisal). “Para limpar as motos”, disse ela, num inglês fácil de entender, “e o disco de madeira é para apoiar o pezinho das motos, pois o piso do estacionamento é de pedras soltas”.

Queria ter visto minha cara nesse momento. Deveria ser uma mistura de espanto, estupefação, surpresa, alegria, admiração, e vai por aí afora. Depois de tudo o que passamos, encontrar um anjo, que nos acolhe, e se preocupa com nossas Harleys, é muito mais do que desejamos.

Com um belo sol da manhã, fomos para Yellowstone. Muitos bisões, manadas com 10, 100 ou mais animais. Todos muito calmos, pastando tranquilamente, sem se preocupar com os visitantes e suas máquinas fotográficas. Nada de ursos. Soubemos que recentemente uma ursa atacou um acampamento, matando uma pessoa e ferindo outras. Que por conta disso, ela será sacrificada, pois pode querer atacar humanos novamente. E seus filhotes, que a tudo assistiram, serão recolhidos a um zoológico, para evitar que tentem repetir o ataque da mãe.

Muitos geisers formando belas esculturas no chão, em formas e cores diferentes. E a imperdível visita ao canyon que deu nome ao parque, com imensos paredões amarelos.
Saindo do parque, passamos por Cody, cidade origem do famoso Bufalo Bill, e fomos dormir em Buffalo.

Dia seguinte, viemos até Gillette, onde estamos aguardando nossas motos serem revisadas. Loja HD grande, com bem montada oficina, e estrutura para os clientes ficarem aguardando o conserto das motos. Com café, donuts, sorvete, água, e muita, mas muita mordomia.

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Red Lodge

5018
Beartooth Pass

5019
Yellowstone National Park

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Yellowstone - North Rim - Inspiration Point

Dolor
23-09-12, 11:40
Sturgis
Quinta-feira, 12/Ago (76º dia de viagem)

Desde que saímos de Billings, temos notado intenso movimento de motocicletas, notadamente Harleys, nas estradas por onde passamos. E esse movimento vai aumentando à medida em que nos aproximamos de Sturgis, onde está acontecendo 70º Sturgis Motorcycle Rally.

Já nas cercanias da cidade, têm-se a impressão de que todos os motociclistas do mundo estão por ali, tamanha é a quantidade de motos trafegando em ambas as direções.
Ao se entrar na cidade, só se vê motocicletas. Estacionadas uma ao lado da outra, por quadras e quadras a fio. Um verdadeiro mar de motos.

Impressionante!

Fomos dormir em Rapid City. Os hotéis, em altíssima temporada, estão com os preços lá em cima. Fazer o quê?
Próxima etapa, visitar o Monte Rushmore, que tem esculpido em seu topo, as faces dos ex-presidentes George Washington, Abraham Lincoln, Tomas Jefferson e Benjamin Franklin.

Grande obra.

Com muita dificuldade, encontramos vaga em um hotel em Keystone (Estão todos lotados, por conta do encontro em Sturgis). Trocamos nossas pesadas roupas de viagem, usadas até aqui, por jeans e camisetas. Empacotamos essas roupas de frio, e fomos aos correios remetê-las para o Brasil. Conseguimos.

Espero que cheguem!

Agora estamos iguais a todos os motociclistas daqui: rodando sem capacete. A sensação é de muita liberdade. Puro prazer.
Assim fomos explorar a região conhecida como “The Black Hills & Badlands”. Nossa primeira parada foi em Hill City. Cidade pequena, tipo cenário do faroeste, com rua central completamente tomada por motocicletas. E para nossa surpresa, encontramos cinco brasileiros, nossos amigos, conhecidos de outras jornadas: Jacaré, de Guarapuava/PR; Marcos, de Francisco Beltrão/PR; Álvaro e Capitão Caverna, de Curitiba/PR; e André, de Florianópolis.
Vinham de Salt Lake City e iam para Sturgis participar do encontro.

Próxima parada, no Crazy Horse Memorial. Ainda em construção, trata-se da figura do grande chefe indígena montado em um fogoso corcel, sendo esculpida em uma montanha de granito. Sem dúvida, uma obra audaciosa.

Já quase escurecendo, visitamos Custer City. Rua principal completamente tomada por motocicletas, bares e saloons lotados, muita gente desfilando, com motos e roupas extravagantes.

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Na oficina HD em Gillete

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Tenda do HOG em Sturgis


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Ponte de madeira - Keystone

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Monte Rushmore

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Hill City

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Com amigos paranaenses, em Hill City

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Crazy Horse

Dolor
24-09-12, 16:54
Salt Lake City e Niagara Falls
Terça-feira, 24/Ago (88º dia de viagem)

Por sugestão dos nossos amigos brasileiros que encontramos em Hill City, resolvemos dar uma esticadinha até Cheyenne, a capital do estado de Dakota do Sul.

E continuamos até Salt Lake City, Utah.

Amanhã vamos ao "dealer" checar o pneu traseiro. Ontem quando vínhamos, senti-o meio baixo. Estava só com 25 libras. Também pudera. Já está com mais de 20.000 km rodados. Coloquei-o em Léon, no México. Valentão, hein! Foi até o Alasca e acho que ainda tem borracha para mais alguns quilômetros. Mas vou checar.

De Salt Lake fomos a Grand Junction, Aspen, Denver e Fort Morgan, no Colorado, e continuamos rumando para o Leste, em direção às Cataratas do Niágara. Com pneu traseiro novinho e tudo o mais.

Beleza.

Ontem viajamos por uma estrada muito bonita, sempre por dentro de intermináveis canyons, passando por Price, Green River, no Utah, e entramos no Colorado em Grand Junction. Cidade bonita, mas de hotéis muito caros. Escapamos e formos dormir na vizinha Clifton. Prá variar, pegamos uma chuva torrencial. Verdadeiro diluvio. Aquilo sim é que era chuva. Fiquei até com uma pontinha de inveja do fazedor dela.

Muita competência.

Hoje conhecemos Aspen, famosa estação de esqui, e depois cruzamos o Independence Pass, a 12.083 pés de altitude. Belas paisagens.
Prá finalizar, uma palavrinha sobre Ft. Morgan: localizada numa planície sem fim, a cidade cheira a dinheiro. É que, bem pertinho daqui, tem uma fazenda (enorme, grande como nunca vi) de criação de gado confinado, e o vento se encarrega do resto.

Nossa idéia para hoje era avançar bastante. Por isso, levantamos bem cedo. Oito horas da matina e já estávamos em pé. Um pouco mal humorados, naturalmente. Odiamos levantar cedo.
Em tempo recorde nós aprontamos e, pontualmente, nove e meia estávamos na estrada.

Primeira parada em North Platte, já no Nebraska, para visitar o museu do Buffalo Bill, e lembrar, com muito carinho, os bons tempos da infância, dos gibis do faroeste, e deste personagem que, sem dúvida, era um dos mais famosos.
Em Grand Island deixamos a I-80 (Hwy) para seguir por estradas secundárias, que nos levarão ao mesmo destino: Omaha.

A paisagem é mais bonita, e os hotéis mais baratos. Prova disso, estamos em Columbus, hospedados no Super 8, a US$47,00. Muita mordomia, quase de graça.

Por falar em paisagem, Nebraska é um estado com agricultura altamente mecanizada, destacando-se imensas plantações de milho, em forma de círculos, irrigada por grandes peões, de até 500 metros.

Retornamos ao Canadá.

Estamos indo em direção a Niagara Falls. Sábado acendeu a luz do ABS. A roda dianteira freia legal. Algo diferente na roda traseira. Evito usar o freio de pedal. Chovia bastante.
Então a solução foi parar, dormir, e torcer para que no dia seguinte, a tal luz não acendesse.
O domingo amanheceu sem chuva. Mas a luz acendeu novamente. Acho melhor procurar uma oficina Harley. Tem uma em Blenheim, 50 km a frente. Toca prá lá.

Estava fechada.

Tem outra em London, 100 km mais. Vamos para lá.

A meio caminho, para nossa alegria, o ronco do motor foi se tornando mais forte, digo, mais alto, mais esquisito, bastante indesejável. O escapamento se partiu. Arame daqui, alicate dali, chave de fenda d'acolá, e pronto. Dá prá chegar até a oficina, sem muito escândalo.

Em London, a loja da Harley estava aberta. Ufa! Só para venda. Ahhhh!
Fomos atendidos pelo Rick, que prontamente foi até a moto, e viu nosso problema. Num instante já estava com prancheta na mão, abrindo uma ordem de serviço.
E mais. Moto na oficina (primeira na fila para amanhã) transferimos nossa bagagem para seu carro, e ele gentilmente nos levou a um hotel.
E não foi só isso! Procurou o hotel melhor custo/beneficio nas proximidades, pechinchou e a diária de $79 baixou para $59.

Beleza!

Hoje pela manhã fui atendido pela "service manager" Lori Burke. Com muita paciência me explicou o que foi feito. O cano da descarga foi soldado, porque eles não dispõem em estoque do modelo (trata-se de item especial para exportação), e a luz do ABS necessita trocar o sensor. Também não tem em estoque. Fizeram o pedido. Chegará amanhã. Mas para me liberar hoje, sacam de outra.

E a conta? Nada. Tudo por conta da garantia. Maravilha!

Moto pronta, lá fomos nós, faceiros da vida, em direção a Niagara Falls, sempre pela Rodovia 3, uma Scenic Route, que margeia o lago Eire. Maravilha de estrada.
Hoje pela manhã visitamos as Cataratas do Niagara. Muito bonitas, principalmente quando vistas do Canadá. Não cruzamos a fronteira. No lado canadense, a cidade tem muita estrutura para atender a grande quantidade de turistas que visita a região.

Cumprida essa etapa, tocamos em frente, agora margeando o lago Ontário. Passamos por muitas cidades interessantes: Hamilton, Toronto, Oshawa, Bellevile, e agora estamos em Kingston.
Amanhã pretendemos continuar margeando o Rio St. Lawrence até Quebec, passando pela região conhecida por Mil Ilhas.

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Cheyenne

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Salt Lake City

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Parece que vai chover!

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Independence Pass

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Consertando o escapamento partido

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Niagara Falls, vistas do Canadá

Dolor
25-09-12, 11:39
Québec e North Conway
Sexta-feira, 27/Ago (91º dia de viagem)

Estamos quase chegando a Québec, capital do Estado do mesmo nome, no Canadá. Faltam só uns 50 quilometrinhos. Conseguimos finalmente cruzar o Estado de Ontário. Parecia que nunca acabava! Mas por outro lado, nem sentimos o tempo passar, tal a beleza da estrada. O tempo todo viajando por entre jardins muito floridos que enfeitam as casas que margeiam a estrada, aqui conhecida com 1000 Islands Parkway.

Meu problema com a lingua inglesa, agora, finalmente foi resolvido. Isto é, foi substituído por outro maior ainda: aqui só se fala francês! Muito estranho, neste país ter duas línguas oficiais, inglês e francês. No oeste, só se fala inglês. E aqui, só francês. E a sensação é de que por aqui, o pessoal faz questão de não entender inglês.

Complicado!

Mas por outro lado, quanto à alimentação, não temos problemas. Temos várias opções: Tem a rede Tim Horton’s para o breakfast, depois tem o Tim Horton’s para o almoço, o TH para o lanche das 4, e prá variar, TH para o jantar. Loucura, loucura.

Hoje retornamos aos Estados Unidos, depois de uma agradável visita à cidade de Québec, e à revenda Harley local. Gente muito atenciosa, nos receberam com largo sorriso, fotos, lembranças e até algumas dicas sobre a língua francesa, na qual, aliás, já me considero quase fluente. Quase sei falar, quase sei escrever, quase consigo entender.

Visita aos principais pontos turísticos da cidade, principalmente ao castelo de Fairmont-Château Frontenac. Muito bonito e com vista maravilhosa do rio Saint Lawrence.
Agora estamos alojados em um simpático motel de beira de estrada (quase do tipo daquele do filme Psicose), na cidade de Rumford.

O tac-tac provocado pelas rodas de um trem são para mim, o melhor sonífero. Durmo como uma pedra quando estou viajando num trem. Chego a sonhar. Mas hoje, enquanto viajávamos (na verdade, um pequeno passeio de uma hora) num confortável vagão do CONWAY SCENIC RAILROAD, e o sono não chegava, me deliciei lembrando do passeio que fizéramos pela manhã, ao topo do Monte Washington. Não é muito alto, quase dois mil metros, e a gente vai lá em cima, de moto, por uma estradinha estreita, cheia de curvas, sem guardrail, e com muita adrenalina.

De repente, o asfalto acaba.
- Olha o loose gravel aí gente!

Lá de cima a paisagem é de tirar o fôlego, ainda mais que a intensa nuvem que encobria o topo do morro quando chegamos, se dissipou, deixando à mostra, 360 graus de puro verde.

Temos viajado sempre que possível pelas chamadas “scenic routes”, identificadas nos mapas do “Touring Handbook” por uma linha hachurada em verde. São estradas de pouco movimento de caminhões, muitas motos, automóveis e RV (traillers) e cortam por regiões de belas paisagens, pequenas cidades, e com velocidade limitada a 50 milhas por hora. Portanto, se está com pressa de chegar, não deve viajar nelas. Nem de moto.

Vá de avião.

No início da tarde chegamos a North Conway. Fomos direto ao dealer HD e agendamos revisão dos 40 mil para amanhã.

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HD Prémont, em Québec

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Castelo Prémont, em Québec


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Ponte de acesso a Québec


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Em algum lugar do Maine...

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No topo do Monte Washingt

Dolor
26-09-12, 19:23
Bennington/VT a Elberton/GA

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Em North Conway fizemos pelo menos dois grandes amigos.

Um deles foi o Marcos, brasileiro que mora e trabalha nos Estados Unidos. Encontramos-nos no hotel, e depois de longo papo para matar as saudades da pátria amada, ele nos acompanha até o dealer - WHITE MOUNAIN HARLEY - e nos presta um grande favor, servindo de intérprete nas conversas com o mecânico que fará a revisão na moto.

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Com Marcos (de azul) e os mecânicos da HD/North Conway

Na oficina somos recebidos pelo chefe Alfred Snow (outro grande amigo) e equipe. Gente do mais alto gabarito e seriedade no que fazem. Na hora exata agendada, iniciam o trabalho. Em duas horinhas, estou pronto para partir.
Nosso destino agora é York, na Pennsylvania, onde, por sugestão do nosso amigo Magnus, de Billings, faremos um tour pela fábrica da Harley naquela cidade, na próxima segunda-feira.

Hoje vamos pernoitar em Bennington, no Vermont. Cidade pequena, mas como todas, muito bem arrumadinha, limpa, casas com jardins, e gente pacata.
E andamos na linha. Na linha de produção das motocicletas Harley-Davidson, na fábrica em York, Pennsylvania, onde são fabricadas as Electras e os triciclos.
Fomos recebidos e conduzidos na visita, por Larry, um simpático senhor, com mais de quarenta anos de serviços dedicados à marca. Sabe tudo de Harley. E pela maneira como ele conduziu nossa visita, percebe-se claramente tratar-se de um grande vibrador, por motocicletas, e pela marca.
Às vezes precisava pedir para ele não correr tanto, digo, falar tão rápido, porque não queria perder nenhum detalhe, e meu inglês...

Aqui as motos são fabricadas e montadas. Vimos, por exemplo, uma barra de ferro ser transformada em um pezinho para descanso da moto. Vimos uma chapa, digo duas chapas serem transformadas em um tanque. Outra chapa em um paralamas. Vimos o início de uma linha de montagem, quando o quadro recebe o motor e prossegue pendurado na esteira, recebendo partes e peças aplicadas por mãos ágeis e precisas, até que finalmente, duas horas depois, lá está ela, prontinha e acabada, para fazer a felicidade de mais um entusiasta.

À tarde fomos para Gettysburg, pequena cidade a oeste de York, onde em julho de 1863, aconteceu uma das mais sangrentas batalhas da Guerra Civil Americana, com 51.000 baixas.
A cidade é pura história, e é invadida diariamente por milhares de turistas ávidos em conhecer os detalhes daquela guerra.
A visita ao campo de batalha é a principal atração. Está à disposição dos turistas o “Autotur”. Com um mapa e um folheto explicativo (disponível em espanhol), é possível percorrer o campo de batalha no próprio carro, digo, na própria moto. Basta seguir as placas indicativas. A rota contempla dos três dias de batalha, em ordem cronológica. São 24 milhas de muita história, relatos, e monumentos em homenagem aos que tombaram.
Continuando nosso tour pela história desse país, visitamos o forte Ligonier, na cidade do mesmo nome, ainda na Pennsylvania.

Esse forte foi fundado em 1758 durante o conflito que se chamou “Guerra dos Sete Anos” e é preservado intacto até hoje, em todos os seus detalhes.
No local, fomos recebidos por Jeffrey W. Graham, Capitão do Royal American Regiment, que pacientemente nos explicou detalhes do funcionamento do forte: estratégias de defesa, logística, localização.
Continuando nosso roteiro em direção ao oeste, passamos por Pittsburgh, conhecida como a Cidade do Aço. Também pudera. Gigantescas siderúrgicas são vistas por todos os lados. Algumas já fechadas.

De quebra, ainda rodamos boa parte da viagem numa belíssima “Scenic Route” entre East Liverpool e New Philadelphia/Dover (estas duas cidades são praticamente juntas), onde mais uma vez pudemos observar extensas fazendas de criação de gado, e de plantação de soja, localizadas nas margens da estrada. As casas à beira da estrada, nessas rotas, são muito bem conservadas, rodeadas de grandes extensões de grama verdinha muito bem cuidada, e floridos jardins.

Hoje mudamos de direção. Vamos para Knoxville, no Tennessee, e continuar a viagem de volta ao Brasil. Então toca para o sul!
Logo cedo, nos deparamos com uma cena inusitada. Numa cidade chamada Berlin, usos e costumes diferentes. Pessoas vestidas à moda antiga, usando carroças e charretes, pareciam fazer o seu trabalho normal, do dia a dia. A localidade é habitada pelos Amish. São pessoas que levam uma vida bastante simples, usam roupas simples, e relutam em adotar as conveniências da vida moderna, como o automóvel, a televisão, o telefone. Lá não tem MacDonald´s.
Ao final da tarde, cruzamos a ponte sobre o rio Ohio, e entramos no Kentucky. Estamos em Maysville.

Nestes dias de viagem por estradas do interior dos Estados Unidos, dois fatos nos têm chamado atenção, além da beleza das paisagens:
- na maioria das casas, simples ou sofisticadas, Bandeira Nacional hasteada.
- mesmo nas menores cidades, as escolas são enormes, prédios novos, amplos pátios, estacionamentos lotados, grande movimento de ônibus escolares (aqueles amarelos, cheios de luzes).

Me parece que nesse país, efetivamente se dá muito valor ao civismo, ao patriotismo, e à educação.
Ontem fiquei sem inernet, por conta de um problema ocorrido no hotel onde ficamos, em Williamsburgo. Menos mal. Problemas no equipamento deles, e não no meu netbook. Ainda bem!

A princípio fiquei meio perdido, sem saber o que fazer, porque, como é de costume, ao chegar no hotel, passo a um breve relato do acontecido durante o dia. Ontem isso não foi possível. E isso me fez pensar, o quanto somos dependentes da tecnologia, de como eram bons os tempos sem internet, sem celular, sem Xerox, sem fax, sem televisão, sem moto... opps, sem moto não!

No Tennessee aproveitamos para conhecer o Parque Daniel Boone National Forest. Bonito parque, em homenagem a este grande indigenista americano.
Cedinho entramos no Tennessee. No centro de recepção aos turistas, fomos muitíssimo bem atendidos por duas simpáticas senhoras, que não pouparam esforços para entender meu “fluente” inglês. Municiaram-nos com vasto material de divulgação do Estado, mapas, folderes e dicas. Notei nelas sinal de surpresa, quando pedi onde é a fabrica do uísque Jack Daniels. Mais mapas, folderes, e, que pena, a destilaria está localizada na cidade de Lynchburg, no extremo oeste do estado, bastante fora do nosso roteiro. Fica para a próxima.

Passamos Knoxville e chegamos em Maryville, na loja HD Smoky Mountain, onde fomos atendidos pela Rebeca, falando o bom e velho espanhol. Maravilha! Mais mapas, folderes, e em detalhes, os passeios pelo “The Tail of Dragon”, pela “Cherohala Skyway”, e pelo “Great Smoky Mountains National Park”.

Fizemos um dos passeios mais procurados pelos motociclistas norteamericanos: visitamos o “Great Smoky Mountains National Park”. Estradas muito bem conservadas circundam esse grupo de montanhas (que fazem parte dos Montes Apalaches), são repletas de curvas, muita emoção, e belíssimas paisagens.

Subimos (de moto, naturalmente) até o Clingman´s Dome, que é o ponto culminante da região, com 6.643 pés, donde é possível avistar pontos até 100 milhas de distância.
Essa é a região onde viviam os índios Cherokee. É grande a oferta de artesanatos confeccionados pelos descendentes deles.
Na extremidade oeste do parque está o trecho da US Highway 129 conhecido com “The Dragon”, com 318 curvas em apenas 11 milhas de estrada.

Destaque para a cidade de Pigeon Forge. Pequena, mas muito movimentada, com dezenas de atrações para todas as idades para distrair a grande quantidade de visitantes que a procuram. Seria algo semelhante à nossa Gramado.
Ao final da tarde chegamos a Elberton, na Georgia, onde participamos de um jantar especial, num restaurante mexicano, com cardápio mexicano naturalmente, onde não faltaram as famosas tostadas, quesadilhas, frijoles e carnitas, temperados com uma pitada de salsa picante.

O jantar foi em comemoração aos nossos 40 anos de casamento.

Era domingo, 5 de setembro, e estávamos no centésimo dia de viagem.

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Casa típica às margens de uma Scenic Route, em Vermont





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Com Lary, guia na fábrica HD em York

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Scenic Route, na Pennsylvania

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School bus pára, trânsito também pára.

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Clingman´s Dome, Great Smoky Mountains/TN.

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Jantar comemorativo dos 40 anos, Elberton/GA

Dolor
27-09-12, 11:29
Jacksonville, Key West, Laredo, México DF

De Elberton fomos a Jacksonville, Flórida, passando por Augusta e Savanah, e daí a Kay West.
Uma das rodovias mais vigiadas pela polícia, controlando a velocidade dos veículos, é a que liga Miami a Key West. Também pudera. É uma estrada simples, com muito movimento, e quando não é ponte, está atravessando região povoada. Ela liga várias ilhas, até a mais extrema, Key West, onde estão também, a milha zero, e o ponto mais ao sul dos Estados Unidos.

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Mas a região é muito bonita, repleta de hotéis, restaurantes e um sem número de atrações para satisfazer e deleitar a enxurrada de turistas que a procura. Sem dúvida, um lugar para visitar com bastante tempo para poder aproveitar tudo o que ela oferece.

Deixando Key West, retornamos a Miami, e na loja HD Peterson conhecemos o Marcão e sua esposa Mirta e o Laranjeira (brasileiros que moram e trabalham em Miami). Eles estavam ali nos esperando! Fantástico! Aí é que comecei a ligar os fatos. O Laranjeira é o homem do Neverflat, e o Marcão importa peças de motos para o Brasil.

Dali fomos para a casa do Laranjeira, em Boca Raton, onde tivemos o privilégio de conhecer sua querida Heloisa, que mui gentilmente nos receberam e nos hospedaram em sua casa. Ficamos por três noites.
Um churrasco na casa do Marcão, para marcar (parece redundância) o momento. Picanha, linguicinha, cerveja gelada, e um delicioso feijão preto especialmente preparado para nós, pela Mirta.

De babar!

Prosseguindo nossa viagem de retorno, de Boca Raton fomos a Pensacola, e daí a Houston e Laredo, no Texas.
Chuva. Muita chuva. Verdadeiro dilúvio foi o que enfrentamos hoje na estrada. Mas conseguimos chegar a Houston, no Texas. Agora já estamos bastante próximos da fronteira com o México, que pretendemos cruzar amanhã. Ainda não definimos por onde, mas será em qualquer ponto em direção a Léon, onde os nossos amigos Manuel e Sandra nos aguardam.

O trecho de estrada percorrido hoje é um tanto curioso. Em 870 quilômetros, a I-10 passa por cinco Estados (Flórida, Alabama, Mississipi, Louisiania e Texas), e muitas pontes. São quilômetros e quilômetros delas, sobre rios, lagos, e principalmente, sobre um interminável terreno alagado, algo semelhante ao nosso pantanal, na extensa região formada pela foz do rio Mississipi, que fica ao nível do mar.

Enquanto venciamos os últimos quilômetros que faltam para entrarmos no México, deslizando suavemente pela Interstate 35, que liga San Antonio a Laredo, no Texas, lembrei de como foi marcante a nossa estadia em Boca Raton, na Flórida. A recepção que tivemos foi muito calorosa, graças à hospitalidade dos amigos Laranjeira e sua querida Heloisa, e do Marco e sua querida Mirta.

Essa rodovia com intermináveis retas corta extensa planície, que fica bem frontal ao Golfo do México, e bastante vulnerável a fenômenos climáticos como furacões e tornados. Em caso de ocorrência, existem rotas de evacuação que conduzirão os transeuntes a abrigos.

À medida que nos aproximamos da fronteira, é notório o aumento da vigilância policial sobre a rodovia, por terra e por ar.
Uma rápida parada na loja da Harley em busca de alguma oferta imperdível, e em seguida nos enfiamos num hotel para prepararmos o roteiro de amanhã, pois pretendemos chegar a León.

Nossa entrada no México foi tranqüila. Num instante já fazíamos os trâmites de entrada. Simples e sem filas. Também não necessitamos fazer novamente o “Permisso de Importacion Temporal de Vehiculos”. Esse documento fizemos em Tapachula, em 23 de junho, quando entramos no México, na ida, tem validade por um ano, e nos custou USD$35,52. Ainda bem que o guardamos.

Agora a orientação é nos afastarmos da região de fronteira o mais rápido possível, tendo em vista os recentes conflitos ocorridos por ali. Seguimos em direção a Monterrey, depois Saltillo, até León, sempre que possível, utilizando as pistas por aqui conhecidas por cuotas. Como já informamos antes, são estradas construídas com capital privado, mantidas em excelentes condições, onde se paga pedágio. O valor do pedágio não é barato, mas em compensação, ganha-se em segurança, rapidez e economia de combustível e pneus.

Mas também existem as carreteras libres. São as estradas tradicionais, mantidas pelo governo, com os velhos problemas de sempre: lombadas, curvas, trechos mal conversados, intenso movimento de caminhões, atravessam povoados, etc. Em alguns trechos que fizemos por essas estradas, pudemos observar um fato, no mínimo curioso: placas informavam que é delito comprar espécies em extinção, e bem embaixo delas, dezenas de barracos improvisados expunham, oferecendo para venda, couro de cobras e de outros animais da região.

Ofereciam animais vivos, também.

Ao final da tarde, chegada a León onde já nos aguardavam nossos amigos Manuel e sua querida Sandra. E pela terceira vez nesta viagem, nos receberam em sua residência.
Deixamos nossas bagagens na casa deles e corremos levar nossas motos para o dealer local, para revisão e troca de pneus, que eles farão amanhã.
Em León participamos de uma autêntica festa mexicana. O México todo está em festa, comemorando duzentos anos de independência. Uma semana inteira de festas. Nossos amigos Manuel e Sandra nos levaram a uma festa organizada por amigos, onde os participantes levavam suas próprias comidas e bebidas. Não tinha muita gente, talvez umas cinqüenta pessoas, todos conhecidos entre si, e muito animados. A comida eram deliciosas tortilhas e tostadas, com os mais variados acompanhamentos, e tacos. Para beber, tequila. Pura, ou misturada com refrigerante de limão.

As pessoas, principalmente as mulheres, estavam vestidas com alguma peça de roupa nas cores da bandeira mexicana: verde, vermelho e branco. Afinal, todos estavam ali para comemorar dois séculos de independência.
Animando a festa, a mais autêntica e tradicional música mexicana, que os participantes acompanhavam cantando a plenos pulmões, de peito estufado. Algumas delas nós até conhecíamos parte da letra, e ousávamos cantar juntos.
Lá ficamos até tarde. Tão tarde, que atrasou nossa saída na manhã seguinte. Pretendíamos sair cedo para chegar a Poza Rica, já na costa atlântica, muito próximo a El Tajin.

Era quase meio dia quando finalmente acionamos os motores das motos. E aí apareceu o primeiro problema. Óleo embaixo da minha moto. Caramba, não pode! Ela veio da revisão dos 48 mil quilômetros ontem à tarde. Isso não pode estar acontecendo. Mas estava.

Levamos as motos ao “dealer” em León, na terça-feira à tarde, para a revisão normal feita a cada oito mil quilômetros, e troca dos pneus. Não apresentavam nenhum problema. Então porque agora uma delas começa a pingar óleo? O que fizeram (ou não fizeram) naquela oficina?

Mas finalmente estamos na estrada.

Mais à frente, outra novidade. O escapamento direito estava solto.
Arame, alicate, e pronto. O escapamento está suficientemente preso para chegar até a oficina mais próxima, que fica na cidade do México. Estávamos evitando passar por lá, devido ao intenso trânsito nessa cidade. Mas não temos outra saída. Toca para lá.

Manuel que nos monitora pelo Spot, percebeu nossa mudança de rumo, e nos envia mensagem dizendo que um furacão está se dirigindo para a região onde íamos.

Era quinta-feira, 16 de setembro, e estávamos no 111º dia de viagem.

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Com os amigos Laranjeira e Ig

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Amigo Marcos, preparando aquela picanha...

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Mirta preocupada com o jantar

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Com Helô e Laranjeira, no Sea Aquarium, em Miami

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Entrando no México, por Nuevo Laredo

Dolor
30-09-12, 12:51
México-DF, Guatemala, San José, Panama City

Não estava em nossos planos visitar a cidade do México, mas as circunstâncias nos obrigaram. A oficina HD, por conta das comemorações pelos duzentos anos de independência do México, abrirá somente na próxima segunda-feira. Então ficaremos por aqui neste final de semana.

À tarde, Manuel e Sandra nos levam para almuerzo (ou seria jantar?) num dos mais famosos restaurantes típicos da cidade: Caballo Baio. Impressionante! Ambiente aconchegante, fina decoração, e comida muito saborosa. Picante, naturalmente. E “mariachis” a nos deleitar com as mais românticas canções mexicanas, que acompanhamos cantando e bebendo tequila. Ah! E provamos “escamoles” (ovos de formigas), a comida da nobreza azteca.

O sábado foi reservado para visita à “Zona de Monumentos Arqueológicos de Teotihuacan”, considerada a maior cidade de todas as culturas pré-hispânicas, onde se destacam a Pirámide Del Sol, e a Pirámide de La Luna.
Continuando nosso tour pela cidade do México, no domingo Manuel e Sandra nos levaram a conhecer o Centro Histórico, onde se realizava cerimônia lembrando os mortos no grande terremoto ocorrido em 1.985. Milhares de pessoas perderam a vida.

Ainda, no Centro Histórico, visitamos o Templo Maior (Catedral), que foi construída onde antes era uma grande pirâmide; museus, o magnífico prédio que abriga a agência dos correios por mais de cem anos e a Calle Brasil. Sim, aqui tem a Avenida Republica Del Brasil (com “S”).


Ao sair da cidade, passamos por dois vulcões, Itztlacihuatl (La Mujer Dormida), Popocatepetl – mas não pudemos vê-los, porque estavam encobertos por nuvens.

Ao final da tarde, chegamos a Oaxaca, que para nós, desta vez, estava triste, sem Braga, e com chuva.

Em Tehuantepec, as conseqüências das últimas chuvas eram vistas em toda parte. Alagamentos, lavouras destruídas, estradas esburacadas, desbarrancamentos, deslizamentos de terra. Até mesmo a rodovia pedagiada estava fechada, por conta de uma ponte destruída pela enxurrada. E lá fomos nós desviados para o centro da cidade. E aí, outro grande problema: piqueteros.

A chegada no “dealer” na Ciudad de Guatemala nos fez esquecer as dificuldades enfrentadas no dia de hoje. Fomos recebidos pelo proprietário da loja, pelo proprietário da loja HD em San José da Costa Rica, e pelo Sr. Fernando Cortez, District Manager Latin America Operations da HD. Depois de animada conversa sobre a nossa expedição, fomos presenteados com camiseta da HD Guatemala e convidados para conhecer San Jose da Costa Rica.

Mas, no dia de hoje, os problemas começaram logo cedo. Saindo do México, na aduana nos exigiram um imposto de turista (USD$22,00), que deveríamos ter pago na entrada, em Nuevo Laredo. Depois, prá não perder o costume, uma cuota (pedágio) para cruzar a ponte fronteiriça.

E no lado da Guatemala, os problemas só aumentaram.

Primeiro, tivemos que pagar para fumigar as motos. Depois, para fotocopiar o passaporte, certificado de propriedade do veículo, e carteira de motorista, e por fim, pagar uma licença de turismo. Mais ou menos duas horas nessa burocracia, calor insuportável, e pronto. Já estávamos rodando em estradas guatemaltecas. Ou o quê sobrou delas.


Finalmente chegamos à Ciudad de Guatemala, enfrentamos um dos maiores congestionamento que já vimos. Caminhões, automóveis e motocicletas disputavam espaço na rodovia, onde a lei era a do mais forte. Ou do mais astuto.
Aproveitamos o dia seguinte, de folga, para fazer o Visto para Honduras, já que a embaixada fica próxima ao nosso hotel. Uma foto, comprovante de situação econômica e cinqüenta dólares americanos.

Para completar o dia, planejamos uma visita ao Volcan Água, o mais famoso do país, e ao Volcan Pacaia, em plena atividade, ambos próximos daqui. Porém, uma forte chuva atrapalhou nossos planos.

Na saída da Ciudad de Guatemala enfrentamos outro grande congestionamento, apesar de ser bem cedo – antes do horário do rush matinal – e estarmos indo no sentido contrário ao grande fluxo de veículos que já se dirigiam ao centro. Verificamos que a causa de tamanho congestionamento eram obras, para recuperar a pista dos estragos causados pelas recentes chuvas, e para prevenir futuras enxurradas.

Em pouco tempo chegávamos a San Cristóbal, já na fronteira com El Salvador. Apesar do grande movimento de populares, da tradicional feira de produtos variados praticamente trancando toda a rua, conseguimos rapidamente fazer todos os trâmites de saída. Agora vamos para El Salvador.

A aduana de El Salvador, em Piedras Azules é um teste para a paciência de qualquer viajante. Depois de esperarmos quase uma hora (o funcionário estava almoçando), fomos atendidos. Gentilmente ele forneceu um formulário a ser preenchido com os dados da moto, e pediu fotocópia do passaporte (só os dados de identificação), da carteira de motorista, e do certificado de registro do veículo. Fácil. Fotocópias na mão, voltamos para a fila. Esperamos mais um “ratito” e ele nos atendeu. Carimbou e rubricou o verso do tal formulário, e os encaminhou para outro guichê.
Depois de perambularmos por vários guichês, e mais fotocópias, finalmente somos liberados.

A rodovia em El Salvador é boa. A maior parte do percurso é em autopista, dupla via, asfalto em boas condições, mas com um detalhe: vez por outra atravessa regiões povoadas, com os problemas de sempre, como lombadas, pessoas cruzando a pista, e as inevitáveis feirinhas, vendendo de tudo, desde comida a iguanas. Iguanas? Sim, iguanas. Verdes, negras, grandes, pequenas, quatro por trinta dólares.

Uma pechincha!

Em San Miguel, El Salvador, no restaurante do Hotel Florência, travamos luta com um bifinho de lomo, de apenas uma libra. Ao ponto. Delicioso!
Entramos em Honduras por El Amatillo. Mais espera, mais burocracia, mais fotocópias, mais dificuldades, mas conseguimos cruzar este país, entrar na Nicarágua, e ao final do dia, chegar a Manágua, e no dia seguinte, a San José, na Costa Rica.
Nosso primeiro compromisso em San José foi visitar o dealer HD na Costa Rica. Na loja fomos recebidos pelo seu proprietário, Sr. Eric Vincent e por toda a sua equipe. Gente muito simpática. Em seguida ele nos encaminhou, a nosso pedido, a um hotel, para que pudéssemos lavar (e secar) nossas roupas.

Bem, agora é hora de partirmos em direção ao Panamá. Temos duas opções de estrada: pela Costanera ou pela Panamericana. Optamos pela Panamericana, por ser de menor trajeto, e onde teríamos a oportunidade de conhecer o Cerro de La Muerte e a beleza de uma rodovia que cruza a mais de 3.300 metros de altitude.

Em pouco tempo, apesar de fortes chuvas, intercaladas por pequenas aberturas de sol, estávamos na aduana, em Paso Canoas. Fácil para sair da Costa Rica, mas complicado para entrar no Panamá. Ainda bem que tínhamos providenciado algumas fotocópias do passaporte e do certificado de propriedade das motos. Agilizou bastante. Mas não escapamos de pagar por um selo de turismo (um dólar), fazer seguro das motos (quinze dólares) válido por três meses, e fumigação (um dólar). Vistorias de praxe, uma propina para o tramitador que nos ajudou e pronto. Já estamos na estrada.
Nosso objetivo para hoje era Panamá City, porém, devido às fortes chuvas e às reduzidas velocidades na Costa Rica, faltando duzentos e cinqüenta quilômetros, paramos em Santiago para pernoite. Hotel Davi (3B).

Enquanto isso, vamos contactando com o Sr. John Agudelo da Air Cargo Pack, para providenciarmos o transporte das motos, de Panamá para a Colômbia.
Finalmente um dia sem chuva. Em pouco mais de duas horas de viagem, através de excelente autopista, chegávamos à cidade do Panamá. Fomos direto para o “dealer”, onde fomos recebidos pelo proprietário, Sr. Iván A. Perez, que imediatamente colocou sua equipe à disposição para nos atender. Gente muito simpática.

Enquanto isso, aproveitamos a oportunidade para conhecer o funcionamento do Canal durante o dia, já que, quando por aqui passamos, na ida, o visitamos à noite.
No Centro de Visitantes de Miraflores, visitamos o museu da construção, um simulador (me senti o timoneiro de um grande navio cruzando o canal), vimos um filme sobre a construção, funcionamento e importância desta grande obra. Depois fomos assistir a passagem de um grande navio pelas Eclusas de Miraflores.

Ao final da tarde, fomos ao terminal de carga aéreo, entregar as motos à empresa Air Cargo Pack, para serem transportadas para Bogotá, na Colômbia. Foi tudo muito fácil. Bastou apresentar o “Formulario de Control Vehicular” que nos foi fornecido ontem quando entramos no Panamá, em Paso Canoa, o certificado de propriedade do veículo, e passaporte. Eles mesmos fizeram as cópias que necessitavam e nos devolveram os originais.

Agora vamos providenciar as nossas passagens aéreas. Provavelmente seguiremos viagem amanhã à tarde, com previsão de retirarmos as motos em Bogotá, na próxima sexta-feira.

Era quarta-feira, 29 de setembro, e estávamos no 124º dia de viagem.

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Zona de Monumentos Arqueológicos de Teotihuacán

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México, DF

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Aduana em El Salvador




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San José, Costa Rica

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Eclusa de Miraflores, Canal do Panamá

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Panamá Cit

Dolor
01-10-12, 17:49
Bogotá, Cúcuta, Caracas, Boa Vista

Conforme previsto, a liberação das motos em Bogotá foi rápida, graças ao auxílio do pessoal da Air Cargo Pack, e ao final da tarde da sexta-feira, dia 1º de outubro já estávamos liberados para seguir viagem.
De Bogotá seguimos direto para Bucaramanga, onde chegamos já noite, devido a um bloqueio na rodovia para realização de prova ciclística.

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A rodovia que liga Bucaramanga a Cúcuta é uma das mais sinuosas que já vi. Simplesmente não existem retas. Ora subindo, ora descendo, mas sempre fazendo muitas curvas. Aliás, assim é a maioria das rodovias na Colômbia. Curvas muito fechadas, intenso trânsito de grandes caminhões que ocupam as duas pistas para contorná-las. E as condições do pavimento nem sempre são as melhores. E nesta época de chuvas, muitos “derrumbes” obrigam o fechamento de uma das pistas, congestionando o trânsito.

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Bucaramanga

O curioso, é que nessa rodovia é cobrado pedágio. Motos não pagam. Oba! Mas em nenhum momento vimos vestígios de algum trabalho de manutenção, de fechamento dos buracos (que são muitos), de limpeza de pista, de remoção de material desmoronado. Parece um lugar esquecido por Deus.

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E ciclistas, muitos ciclistas, em grandes grupos, subindo ou descendo, sempre com os carros de apoio a lhes seguir, dificultam ainda mais a passagem.
Mas tem trechos espetaculares, como o altiplano de Berlin. Às margens da rodovia, extensas plantações de cebolas, muito bem cuidadas, quebram aquela imagem de densa floresta e profundos abismos que só se via até então.

Uma breve parada num quiosque à beira da estrada nos revela que o sofrido povo colombiano é muito hospitaleiro, e de fina educação. Banheiros simples e limpos é o cartão de visitas. Então pudemos saborear uma deliciosa empanada de arroz com carne (e molho picante), acompanhada de café com leite quentinho, enquanto conversávamos com eles, contando nossa aventura até as longínquas e geladas terras do Alasca.

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Em seguida cruzamos por Pamplona, já no pé da serra. Pelas informações, sabíamos que doravante a estrada melhoraria, o pavimento é melhor, menos curvas. Já conseguíamos andar a oitenta, ou até noventa por hora. Os motores das motos agradecem o vento que agora recebem para poderem se refrescar.

Finalmente chegamos a Cúcuta, na fronteira com a Venezuela. Fomos direto para a aduana. O trâmite de saída é rápido. Enquanto aguardávamos as verificações de praxe, notamos grande quantidade de “pimpitas” (bombonas de vinte litros), bem ao lado da aduana. Curioso, perguntei ao policial o que era aquilo. Gasolina, explicou ele. Ali na Venezuela, o combustível é muito barato, então o pessoal trás de lá para vender do lado de cá.

- Mas isto é legal? Insisti curioso.
- É proibido – diz ele – mas nada fazemos, porque já faz parte da cultura do povo.
- Ah! Entendi – respondi, sem ter entendido nada.

Então, se o combustível na Venezuela é barato, vamos abastecer nossas motos por lá. E tocamos em frente, cruzando a Puente Internacional Simon Bolivar.
A imigração na Venezuela foi muito fácil. Agora só falta fazer a documentação de entrada das motos. Problema. A aduana não trabalha aos domingos. Só amanhã, pela manhã.

E assim estamos agora hospedados em San Antonio, porta de entrada da Venezuela, aguardando a abertura do guichê da aduana para podermos circular livremente por este país.

Às oito em ponto estávamos no prédio da aduana venezuelana para fazermos a documentação de entrada das motos no país. Não havia filas. Tudo parecia perfeito para, em poucos minutos, seguirmos viagem. Ledo engano. Foi-nos apresentada uma extensa lista de exigências, fotocópias disto e daquilo, e um seguro de responsabilidade civil. Não aceitaram o nosso DPVAT e tampouco o nosso seguro total. Estes não têm validade na Venezuela.

E lá fomos nós ao centro da cidade em busca de alguém que fizesse o tal seguro para nós. Depois de muita procura, encontramos um corretor que faz seguros para motos estrangeiras. O Gregório. Rapaz simpático, motociclista praticante, piloto de uma esportiva GSX 1000. Enquanto sua secretária providenciava as apólices, conversamos muito sobre motos, carreteras e atualidades. Em pouco menos de três horas (sim, esse foi o tempo para fazer o seguro) ficamos sabendo algumas coisas sobre este país:

Que desde 2008 não se pode importar veículos. O governo não autoriza.
Que existe câmbio oficial e paralelo (já tivemos isso no Brasil) para o dólar: B. 4,30 e B. 7,50, respectivamente. Por isso, não deveríamos pagar em dólar, e muito menos em cartão de crédito, pois em ambos os casos, seria usado o dólar oficial. Aconselhou-nos a procurar um cambista.

Que o preço da gasolina é simbólico. Que para cruzarmos toda a Venezuela pelo roteiro que apresentamos, em torno de dois mil quilômetros, gastaríamos em torno de dois dólares (no paralelo) em combustível. Confirmamos isso. Um litro de gasolina custa na bomba, BS. 0,07 (sete centavos de Bolívares). Isto significa que, com apenas um dólar, se compra 107 (cento e sete) litros de gasolina.

Bilhetes de seguro e fotocópias nas mãos corremos de volta para a aduana. Documentação conferida e... opps, faltam as estampilhas. Dezessete Bolívares em estampilhas para cada moto, está aqui, cavalheiros, na relação de documentos que lhes entreguei. Oh! Deus, daí-me paciência para prosseguir. Agora falta pouco. Em breve estaremos em nosso país.
Estampilhas providenciadas, documentação conferida, tudo certo para emitir a AUTORIZACION VEHICULAR – permissão para introduzir nossas motos no território venezuelano. Porém, o funcionário (chefe) que assina tal documento saiu, está em horário de almoço. Retornará às treze e trinta.

Isto já é demais. Estão a abusar de nossa paciência. Não se trata assim os fazedores de chuva. Tomamos uma atitude radical: convidamos a funcionária a ir almoçar conosco. E ela aceitou! E assim tivemos a rara oportunidade de conversar e conhecer melhor uma funcionária da aduana venezuelana. Brenda (esse é o nome dela) nos contou de sua carreira, de sua família, de seu trabalho, que no próximo ano visitará o Brasil.
Na hora marcada, nossa permissão foi assinada. Agora podíamos ir, antes porém, passar no Departamento de Trânsito para visar a autorização.
E assim conseguimos passar por aquela que foi, sem dúvida, a mais complicada e demorada das aduanas enfrentadas em nosso roteiro.

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Parque Nacional Del Chicamocha (Panacchi), Colombia

Dolor
02-10-12, 11:04
Bogotá, Cúcuta, Caracas, Boa Vista - Parte 2

Vencido o primeiro obstáculo, vamos para o seguinte: a auto pista que liga San Antonio a San Cristobal estava interditada por conta de um derrumbe. Então todo o fluxo foi desviado para a antiga, sinuosa e mal conservada carretera. Congestionamentos intermináveis causados por desvios, veículos avariados parados na pista, por ônibus que param na pista para subida ou descida de passageiros, ou por motoristas despreocupados, que simplesmente param seu veículo sobre a pista para comprar comida, vendida por ambulantes estrategicamente parados em lombadas.

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Os veículos que circulam por aqui, em sua maioria, são automóveis antigos, grandes, beberrões, e mal conservados.
Outro fato curioso que nos chamou atenção foi que muitos postos de combustível estavam fechados. E noutros, grandes filas controladas por militares do Exército. Foi-nos informado que o governo federal restringiu a remessa de combustível ao Estado de Táchira, porque os dirigentes estaduais não estavam alinhados ao poder central. Coisas do socialismo.
Pretendíamos pernoitar em Barinas, mas por conta de tantos imprevistos, conseguimos chegar a Santa Bárbara antes do anoitecer, onde nos “quedamos”.

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Rodovia na Venezuela

Dormimos em um simpático hotel à beira da estrada, com espaçosas e confortáveis cabanas – Complejo Turistico Las Palmeiras. Muitas cabanas ainda inacabadas. O proprietário nos informou que parou a obra, porque o governo socialista ameaçou desapropriar a metade. E por muito tempo desabafou, que os empreendedores não dispõem de nenhum incentivo. Citou exemplo dos criadores de gado: que o governo lhes paga em torno de quatro bolívares por quilo, enquanto importa carne do Brasil e Argentina pagando dezesseis bolívares.

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A propósito, quando entramos no estado de Portuguesa, uma enorme placa avisava: “Estado Portuguesa, um estado ganadero”. Rodamos dezenas de quilômetros, atravessamos o estado de ponta a ponta, e não vimos uma cabeça de gado sequer. O que vimos, foram várias fazendas abandonadas.

Hoje a maratona de congestionamentos continuou. O trânsito é um verdadeiro caos, mesmo nas chamadas autopistas. Muitas barreiras policiais, ora feitas pelo exército, ora pela guarda nacional, congestionam o trânsito, já que os veículos são obrigados a diminuir a marcha. Não nos incomodaram. Houve um caso em que pediram para acelerar, para ouvirem o ronco das motos.

E muitas lombadas. Quando a rodovia atravessa pequenos povoados, existem lombadas a cada cem metros. E em cada uma delas, no centro da pista, um vendedor estrategicamente instalado. De cadeira e guarda sol. Vendendo de tudo. Cafezinho, água, salgadinhos, palomitas (pipoca), chips de plátano, e por aí vai.
Ao final da tarde, chegamos a Caracas. Cidade movimentadíssima, trânsito intenso, mas fácil para motos transitar, já que os veículos deixam o corredor aberto.

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A saída de Caracas foi muito tranqüila, isto porque pernoitamos em um hotel estrategicamente situado na saída para o ocidente, conforme o nosso roteiro. Eram sete horas da manhã e o movimento era intenso, mas no sentido arredores-centro, formando extensos congestionamentos. Para nós que saíamos da cidade, pista livre. Beleza.

De Caracas fomos a Barcelona, no Estado de Anzoátegui, margeando o Mar do Caribe (águas de um azul turquesa maravilhoso) e depois tomamos rumo sul até Ciudad Bolivar, no Estado de Bolivar, aonde chegamos depois de cruzar por magnífica ponte – Puente Angostura - sobre o rio Orinoco. Vista de longe, ela aparenta tanta leveza que seria incapaz de suportar o intenso tráfego que por lá transita.

Em todas as rodovias por onde passamos, existem as “casetas de cobro” do pedágio. Mas veículos leves, e motos, estão isentos. Somente os caminhões pagam. Aliás, sobre isto, ontem vimos o Presidente falar na TV. Disse ele que os caminhões devem pagar o pedágio, pois com seu peso destroem as rodovias, e o valor arrecadado, é para a manutenção. Que muitos caminhões insistem em passar sem pagar, mas que ele iria colocar o Exército e a Guarda Nacional para controlar isso. E foi o que vimos hoje. Nas praças de pedágio, muitos militares cuidando para que os caminhões pagassem o pedágio.

Com efeito, as estradas não estão em boas condições. Muito lixo acumulado nas margens, e muitos buracos na pista.
Mas a quantidade de outdoors com propaganda do governo, às margens da rodovia, é grande.
Já próximo a Barcelona, passamos por uma das obras que é a menina dos olhos do País: a refinaria de petróleo “Complejo Petroquimico José Antonio Anzoátegui”.
Temos visto por aqui, muitas escolas. Boas instalações, quadra de esportes, e alunos bem uniformizados.
Porém, tivemos muita dificuldade em conseguir um mapa rodoviário. Não encontramos nenhum ponto de atendimento ao turista.

A auto pista que liga Ciudad Bolivar a Puerto Ordaz é uma das melhores que passamos na Venezuela. Construída às margens do rio Orinoco, corta por uma região de belas paisagens, revelando extensas planícies e muito verde. Sem congestionamentos, sem lombadas, sem buracos.
Em Ciudad Guayana, mais uma surpresa: cidade moderna, largas avenidas, modernos edifícios, Shoping Center, trânsito disciplinado.

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Em Guasipati, pequena cidade em nossa rota, duas constatações ao abastecer numa gasolinera:
- Extensas filas de carros nas bombas. Menos numa. Pessoal do exército controlando os abastecimentos. Faço sinal para ir naquela bomba vazia. O militar me responde positivo e me explica: nesta a gasolina é mais cara. Noventa e cinco octanas. Custa nove centavos de Bolívar. Eles preferem a outra, noventa e uma octanas, que é mais barata, custa sete centavos de Bolívar. Incrível! (Só para lembrar, um real é igual a quatro bolívares).

- Durante o abastecimento, converso com o frentista, e pergunto por que o exército está ali, controlando os abastecimentos. Para impedir que os mineiros comprem gasolina nesse preço subsidiado e o contrabandeiem para fora do país. Com efeito, estávamos entrando numa região rica em minerais preciosos, principalmente ouro.
No início da tarde, entrávamos num território conhecido como Gran Sabana. Imenso, de beleza indescritível. Extensas pradarias de verdes campos e capões de mato que lembram a savana africana.

Ao final da tarde, quase chegando em Santa Elena de Guairen, uma placa às margens da rodovia indicava que estávamos a apenas setenta e quatro quilômetros do Brasil. Enquanto fazíamos uma foto para guardar o momento, me veio à lembrança que já estou há cento e trinta e dois dias fora do meu país. Quanto tempo, e parece que foi ontem que saímos por Dionisio Cerqueira em direção ao Alasca. Como passou rápido!

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Nosso próximo compromisso era um dos mais esperados: conhecer o famoso Salto Angel, a maior queda d´água livre do mundo.
No aeroporto de Santa Helena do Uairen conseguimos um piloto disposto a nos levar até lá, olhar o salto e voltar. Isso não é normal. O usual é os turistas usarem dois ou três dias para fazer esse passeio. Não dispomos de tanto tempo assim. Temos pressa em voltar para casa, que começa logo ali. Posso até sentir o cheiro do meu Brasil.

José do Nascimento, um simpático venezoelano com quatro anos vividos no Brasil, concordou em nos levar no seu Cessna 182, quatro lugares incluindo o piloto, por oitocentos dólares. Em cinco minutos já estávamos voando.
Como é bela a Gran Sabana vista de cima. Um imenso tapete verde se estendia sob nossos pés, desfilando a duzentos e sessenta quilômetros por hora. Lá embaixo, rios serpenteavam em todas as direções. Nas suas margens, choças habitadas por índios. Aqui e ali, focos de fumaça. José nos explica que os índios, desobedecendo as normas do Parque Canaima, ateiam fogo no campo.

De repente, a imensa planície dá lugar a altas montanhas, separadas por vales profundos. Densas nuvens escondem parte delas. Estamos na torcida para que não atrapalhem nossa visão. Para que não escondam aquela rara beleza que aqui nos trouxe.

Lá está, aponta José. Bem à nossa frente, despencando de quase mil metros de altura, o famoso Salto Angel. Devido a falta de chuvas, o volume de águas é reduzido, mas não tira a beleza nem a imponência do salto.
José fez vários sobrevôos em diversas direções, para que pudéssemos apreciar a beleza do salto de vários ângulos. Fantástico!

Liberados para voltar ao Brasil. A fronteira estava logo ali. A saída de Venezuela foi tranquila. Nada de burocracia. Muito menos na imigração brasileira. Fomos muito bem atendidos pelo Agente de Polícia Federal Miguel. Baiano simpático, de gestos calmos, olhar tranqüilo, nos deu as boas vindas.

E depois de cento e trinta e três dias, novamente pisávamos solo pátrio. Como é bom respirar o teu ar, minha pátria querida. Prá comemorar, um almoço básico, na churrascaria do Negão: espeto corrido!

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Ao final da tarde, chegamos a Boa Vista, capital do Estado de Roraima. Cidade moderna, planejada, largas avenidas, gente hospitaleira. E por aqui, reencontrei alguns parentes, o casal Carlos e Eliana, e com eles fomos jantar. Levaram-nos a saborear um delicioso peixe na telha, prato típico da terra. Mas quem alegrou verdadeiramente a nossa noite, foi a pequena Ana Luiza, filha do casal, com sua alegria e simpatia.

Era Sexta-feira, 8 de outubro, e estávamos no 133º dia de viagem.