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Ver Versão Completa : Salta, Argentina - Linda, transborda cultura



Renan Xavier
05-09-11, 11:15
Para bom conhecedor do idioma indígena Aimara, "Sagta" significa linda. Esta é a origem do nome de Salta, cidade de 460 mil habitantes e a 1200 metros do nível do mar. Situada perto dos Andes, a região foi habitada por indígenas - entre eles os Diaguita-Calchaquis e os Incas - até a chegada dos espanhóis. Sua fundação em 1582 se liga à extração da prata nas minas de Potosí, Bolívia, quando serviu de entreposto para tropas que seguiam aos portos de Buenos Aires. O passado trágico de terremotos fortaleceu a religiosidade da população, hoje refletida na preservação das igrejas e nas concorridas procissões (Semana Santa e do Milagre, em 15 de setembro). Mais que prédios históricos, Salta é ponto de partida a passeios únicos, como do Trem das Nuvens, o terceiro mais alto do mundo. É lugar também de se comer bem: os pedaços de carne são grandes, suculentos e baratos. A dica é ficar dois dias na cidade e três explorando os arredores.

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No centro de Salta, aproveite para conhecer a história da região. Destaque para o Museo Arqueológico das Montañas (MAAM) que traz a trajetória pré-colombiana e possui múmias incas de mais de 500 anos. Já o Calbido (casa do governo colonial), em frente à Plaza 9 de Julio, revela a história da colonização espanhola. É a construção mais antiga da cidade, de 1780, e abriga um importante Museu Histórico. A Iglesia San Francisco, um dos cartões postais, guarda relíquias dos séculos XVII e XVIII, como as “milagrosas” santas que protegem Salta de novos terremotos. Para passeios, vá ao Parque San Martín, que tem teleférico ao Parque San Bernardo. Este é o preferido dos salteños e fica a 1,5 mil metros de altura. Considere-o para um final de tarde ou para o fim de semana.

Aproveite para comer bem. Um pedaço gigante de carne sai por menos de 10 dólares. Há suculentos filés no El Solar del Convento (c. Caseros, 444) e no Doña Salta (c. Córdoba, 46). Não perca as humitas, que são embrulhos de milho e queijo. Os restaurantes servem ainda as tradicionais parrilladas e empanadas (prove as picantes). A bebida tradicional fica por conta do mate, bebido quente. Para acomodações, há opções de albergue na c. Buenos Aires e na S. Juan, com preços que variam de $30 a $110. Para maior conforto, tente a Posada del Sol (c. Alvarado, 646) ou o Hotel Munay (c. San Martin, 656). A c. Barcace apresenta boas opções para a noite, como La Vieja Estación, com atrações culturais e boa comida. Também típica é a Casona del Molino (c. Luis Burela, 1). Para quem curte poker e caça-níqueis, há o Casino de las Nubes (c. Caseros).

De Salta parte o Tren de las Nubes, que chega a mais de 4 mil metros do nível do mar. Seu percurso
é de 434 km e leva 15 horas (ida e volta). Para aqueles que não quiserem pagar mais de cem dólares por um assento confortável no trem turístico, um trem de carga faz o mesmo trajeto, indo até Socompa, na divisa com o Chile. Sai a pela metade do preço, mas pode durar 3 dias. Como bônus, pode-se ver salares, cactos gigantes e o deserto do Atacama mais de perto.

Um bom mês para visitar Salta é abril, mês de intensa atividade cultural. Evite janeiro e fevereiro, pois são meses chuvosos, e a primavera, que reserva tempestades de areia.

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* As três últimas fotos são de nossos companheiros Osmar e Terezinha, que estiveram recentemente na cidade.

Renan Xavier
30-09-11, 13:05
GCFC Artur também esteve em Salta, quando estava a caminho de San Pedro de Atacama, no Chile. Confira fotos e relato.

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Salta – San Pedro de Atacama= 637 km (Fotos 2011 06 09 Salta)

Com o tanque cheio, partimos de Salta às 08:30 h com o dia nublado, 40º F (termômetro da Electra), equipados com a segunda pele e capa de chuva, abandonando a cidade por La Caldera, que é uma estradinha de mão dupla ladeada por uma vegetação muito densa e de beleza deslumbrante, que nos leva até El Carmen. Em boas estradas chegamos até o Trevo Purmamarca – Tilcara, e seguimos para Tilcara, por mais 22 km, ao invés de seguirmos no rumo desejado do Paso de Jama e abastecer na única bomba, que é o “posto” de combustível de Paso Chico, lugarejo próximo a Susques. O desperdício de tempo e combustível, nesse desvio de rota, deveu-se a insegurança quanto a existência de gasolina em Paso Chico. Ali, em Tilcara, nos separamos do Robertinho, que estava preocupado com a distância que faltava percorrer e a possibilidade de anoitecer na estrada, devido a sua dificuldade de visão noturna. Pouco depois, eu e Edinho retornamos ao trevo, refazendo os mesmo 22 km, por volta das 12:20 h, e iniciamos a subida. O tempo estava muito bom e eu já tinha me livrado da capa de chuva, mantendo apenas o colete recém comprado sob a minha velha jaqueta de couro. Belas curvas e mais curvas ascendentes se sucediam, porém fechadas e temperadas com cascalho, areia e óleo na pista, dificultando e prejudicando o prazer de pilotar na Cordilheira dos Andes. Nas subidas, a minha Electra pedia 3ª e 4ª marchas e nos altiplanos, não passava da 5ª.

O Edinho com a sua “Evolution carburada”, permanecia limitado a 2ª marcha, nas subidas, não passando de 50 km/h, piorando o seu desempenho a partir dos 2.800 m de altitude, comprometendo drasticamente o consumo de combustível, chegando a média de 9,5 km/l. Então, resolvi acompanha-lo até ao altiplano (4.600 m), onde imaginei que ele não teria mais problemas. Mesmo com o céu totalmente azul, a temperatura começou a baixar (30º F) e o vento poderoso começou a se mostrar, potencializando a sensação térmica para mais frio. Comecei a exercitar os dedos das mão que pareciam queimar. Preocupado com o frio crescente e a possibilidade de ainda estar à noite na estrada, acelerei a Electra, deixando o Edinho em seu próprio ritmo, consequência de seu prévio conhecimento e decisão. Na frente de meu pára-brisa, se estendiam retas sem fim, cortando uma paisagem assombrosa de um imenso altiplano cercado por montanhas descomunais.

Cruizer Control em 120 km/h, máquina na mão direta para registrar momentos mágicos de total solidão e rara beleza. O deslumbramento com a paisagem é constantemente solapado pela luta com as fortíssimas rajadas de vento que, conforme as palavras do Robertinho, “transformava as motos em touros brabos”. Ao cruzar com os grandes ônibus e longos caminhões, pilotar a moto chegava ao limiar do impossível. Mas, tudo valia a pena, porque nossa alma estava enorme. Passa-se o tempo e repentinamente, se descortina no horizonte um resquício de civilização. Pensei com os meus botões: “El Paso de Jama! Vencemos! Depois do abastecimento, a curta descida para San Pedro de Atacama, onde vamos pernoitar”. Fiquei satisfeito porque não achei difícil esse primeiro ponto crítico e a roupa que eu estava usando – segunda pele, calça jeans, colete de frio, luvas e jaqueta de couro – foi suficiente para enfrentar o frio tão temido naquela região. Às 15:20 h, cheguei ao Paso de Jama e me dirigi imediatamente para o posto YPF para abastecer. Fiz a aduana e emigração no setor da Argentina e parti para a esperada descida até San Pedro de Atacama, todo satisfeito.

Após uma longa descida de muitas curvas, qual a minha surpresa; mais altiplano e retas sem fim. O senhor vento começou a piorar, mas como bom motociclista, comecei a me acostumar com ele. Depois de algum tempo, começou outra ascensão. E de repente, mantos de gelo ladeavam a estrada. Em pouco tempo o termômetro da Electra já registrava 20º F e já era impossível conter o tremor das pernas colidindo com o tanque da moto. Minhas mãos ardiam cada vez mais, me impossibilitando de fotografar. Paredões de gelo se erigiam aqui e acolá, naquela altitude de 4.800 m. Não senti o Mal da Altitude, talvez porque o frio já estava fazendo todo o mal que eu podia suportar ou o exercício de hiperventilação – dos tempos da caça submarina – que eu vinha praticando durante a subida tenha surtido o efeito esperado. Mas, minha preocupação já focalizava o Edinho e a sua teimosa Evolution carburada, que relutava em desenvolver mais velocidade para tirá-lo logo daquele sufoco. De repente, ao olhar para os cimos das montanhas, fiquei extasiado com tanta grandiosidade e beleza.

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Me esqueci do frio e das preocupações e caiu a ficha sobre o privilégio que eu estava tendo, em participar desta viagem magistral. Como em Ushuaia, percebi que minha alma começou a se enlevar. Eu estava no cerne de mais uma catedral da natureza, outra vez na Cordilheira dos Andes e como na experiência que vivenciei em meio a tempestade no Paso Garibaldi, senti que Deus também estava lá. Enquanto o TwinCan da minha Electra rugia ascendendo as montanhas sem fraquejar, minha mente em estado de contemplação e oração agradecia ao Supremo Criador – O Grande Arquiteto do Universo – que está muitíssimo além das religiões – artifícios de dominação e submissão humana – pelo privilégio de perceber e vivenciar tanta beleza e por tantas vitórias improváveis que consegui alcançar. Em estado de comunhão, implorei Luz e Proteção para a minha amada Paixão, para os meus queridos filhos, minha família e meus caros amigos, a fim de que tenham tudo que precisam para superar os desafios e armadilhas, e nada de essencial lhes venham a faltar. Ainda com os olhos marejados e a respiração ofegante, divisei ao longe, no fim de mais uma estrada infinita, já acolhido pelas sombras que as montanhas projetavam, durante o por do Sol, o que deveria ser o povoado de San Pedro de Atacama.

Diminui a velocidade e parei no acostamento mínimo, a mais ou menos a meia distância dos extremos visíveis da longa estrada, para esperar o valente Edinho concluir sua travessia, enquanto contemplaria mais um esplendoroso pôr-do-sol se realizar. Eram 17:45 h, quando acendi o primeiro cigarro, o tempo passava e nada do companheiro chegar. Fiquei admirando o predomínio do vulcão Licancabur sobre a bela paisagem, lembrei da minha Paixão, dos meus filhos, da minha família e dos meus amigos, em como seria bom se eles também estivessem lá. Voltado para o Sol poente, murmurei solenemente a oração do Pai Nosso, Feliz, coloquei um dos CD – gravados pelo meu filho – para tocar, Dancei ao lado da minha Electra, ao som de Hotel California, enquanto a noite caia sobre as montanhas; e nada do amigo Edinho chegar. No horizonte, uma linha tênue de luz sobre a cadeia de montanhas e as luzes de San Pedro de Atacama começavam a faiscar. A noite ainda estava clara, quando divisei um único farol ao longe; era a moto do alegre guerreiro a se aproximar. Nos abraçamos e seguimos juntos, bem devagar, tagarelando pela estrada como se não tivéssemos mais nada na vida para nos preocupar.

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