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Ver Versão Completa : Olhando o Mundo - Relatos portugueses



Renan Xavier
05-01-12, 10:37
Vamos iniciar a acompanhar a caminhada de dois novos amigos portugueses, que resolveram conhecer e desbravar este continente americano em toda a extensão. Sem dependerem de moto, pretendem utilizar os mais diversos meios para fazer esta travessia. Por isso, bastante interessante toda a percepção. A saída de Portugal de João e Alexandre foi após os festejos natalinos, no dia 26 de dezembro. Vamos acompanhá-los, então, já que pretendem, um dia, alcançarem o título de Grandes Caciques Fazedores de Chuva. Os relatos são retirados do sitio próprio que mantém, em http://www.olhandopelomundo.com/ .

Partida do Largo de S. João - Alcochete

Chegou finalmente o dia da partida.

Por volta do meio dia fomos recebido na CMA pelo presidente Dr. Luís Franco e vereadores Dr. Paulo Machado e Sr. Jorge Giro.

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Tínhamos também os Médicos do Mundo (Paulo) e muitos amigos, conhecidos e desconhecidos, a despedir-se de nós.

Feitos os discursos da praxe e bebido o Moscatel de honra seguiu-se a sessão fotográfica. Desta vez estávamos do lado contrário da câmera.

Foram-nos oferecidos 2 polares e 2 blusões (com os logos dos patrocinadores), bem como duas bandeiras da Vila de Alcochete que irão representar o município e ficar gravadas em todas as fotografias que tiraremos em locais património da UNESCO.

Obrigado a todos. E até breve!

Renan Xavier
05-01-12, 10:44
sexta-feira, 30 de Dezembro de 2011

Dançando em Buenos Aires

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Não estamos na capital da Argentina, estamos numa sala de baile com 14 milhões de dançarinos, embora muito poucos o sejam no sentido coreográfico do termo, mas o ambiente sentido faz-nos dançar, é como se algo dentro de nós despertasse, e o nosso corpo fosse levado pela sensualidade de movimentos e jogos de sedução, sentimentos estes, só possíveis em Buenos Aires (Mi Buenos Aires querido - Carlos Gardel).

Na esplanada onde nos encontramos, com a vista do Puerto Madero na nossa frente, uma jovem loura vestindo de negro e de chapéu, versos Carlos Gardel, serve-nos um café.

Perdendo-nos pelas avenidas na descoberta da cidade, encontramos no pavimento lajes com letras de tangos famosos, conhecidos de várias gerações.

Num jardim, onde nos sentamos para descansar, um par a troco de umas moedas dança milongas, versão mais rápida do tango, com movimentos muito sincronizados e algo eróticos.

Mais à frente, em La Boca, uma jovem vestida a preceito, convida o turista ou passeante a fazer com ela um passo de tango, posando para a foto testemunhando a passagem por estas terras.

A nossa aventura começou, tal como o tango, em BUENOS AIRES.....

Renan Xavier
05-01-12, 10:46
terça-feira, 3 de Janeiro de 2012

"Qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem..."

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Chegámos ao “Fim do Mundo” no início do ano e no dia em que entra em vigor o acordo ortográfico com o Brasil. Sendo assim decidimos entrar também – virtualmente – para o grupo brasileiro denominado “Fazedores de Chuva”. Para fazer parte deste restrito grupo é necessário ter mota e já ter atravessado o continente Americano, desde Ushuaia, até ao extremo boreal norte-americano, no Alasca. A Angela e o Dolor da Silva fazem parte e é com eles que saímos de mais uma visita ao Museu “Antigua Casa de Gobierno”.

Ushuaia tem quatro museus, todos eles contam a recente (para nós portugueses, pois para eles duzentos anos é muito antigo) história do nascimento da cidade, desde a instalação do presídio militar até à recente vaga de expedições antárticas. É impressionante ver a força e coragem que tinham os habitantes (alguns presidiários) desta terra para erigir construções como o presídio e montar uma linha de comboio para ir buscar lenha à floresta (agora Parque Nacional Tierra del Fuego). O Comboio do Fim do Mundo (ou Comboio do Presídio) entra pelo parque adentro e mostra uma beleza estrema mas também alguma desolação como o cemitério das árvores – restos de troncos cortados – os curtos, cortados no verão, e os maiores, cortados no inverno....no meio da neve.

A Argentina, e o fim do Mundo não é exceção, está repleta pessoas a falar português segundo o novo acordo ortográfico. É perto e relativamente barato vir do Brasil para sul, agora de Portugal é mais raro. Mas tal não impediu a Ana, natural de Coimbra e viajante mundial, de se aventurar por estas bandas austrais sozinha! Conhecemo-la através de David, o dono da nossa “hosteria” que, assim que sabe que somos portugueses, nos diz logo que está cá mais uma. Não passam 5 minutos e aparecem os dois à nossa porta!

A Ana, que já cá está há dois dias, acompanha-nos ao almoço e mostra que o mundo é seguro para se viajar sozinho...mesmo sendo uma mulher, pois a lista de países que já visitou o mostra. É verão, e apesar do frio, muitos andam de manga curta e calções. Nós não conseguimos. Separámo-nos e visitamos partes diferentes da cidade. Para “Fim do Mundo” estamos muito bem! Grandes avenidas, muitas lojas de marca, navio de cruzeiro atracado na doca! É nesta doca que apanhamos Elisabete, o barco que nos leva a visitar o canal Beagle (nome dado em honra do barco comandado pelo capitão Robert FitzRoy e que tinha como companhia Charles Darwin) e circundamos o desativado farol Les Eclaireus....a mil quilómetros da Antártida.

Mil quilómetros da Antártida e quatro mil quilómetros do Pólo Sul! Estamos mesmo no “Fim do Mundo”, mas no início da nossa subida. Será que chegaremos a ser uns “Fazedores de Chuva”... sem mota? O Alasca o dirá.

Renan Xavier
09-01-12, 12:04
Experiência de vida
domingo, 8 de Janeiro de 2012

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Dei por mim a pensar – “Porque é que estamos a viajar duas pessoas que aparentemente não têm nada em comum?”

Eu, filho de pai operário e mãe doméstica, ambos analfabetos (minha mãe fez a 4ª classe aos 72 anos). Comecei a trabalhar criança, com 10 anos, executando várias tarefas até que me fixei na metalurgia aos 16 anos. Profissões: fresador mecânico, desempregado, cooperante, vendedor, formador profissional. Situações extremas de vida levaram-me a que me tornasse empresário. Aos 65 anos concluo o ensino secundário. Compro casa em Alcochete, no prédio em que o João residia e, na condição de vizinhos, aproximamo-nos. Tenho 67 anos.

O João é filho de pai engenheiro e mãe formada em germânicas. É licenciado em engenharia com pós graduação em ecoturismo. Trabalhou em multi-nacionais e PME´s, acabando por criar a sua empresa. Tem 39 anos (a idade do meu filho). O pai do João se fosse vivo teria a minha idade (algo em comum).

O que nos aproximou? Gostar de viajar, fotografar, contactar com outras realidades, cultivar amizades, em suma viver e partilhar a vida.

Fizemos duas viagens com outros companheiros, uma ao Reino do Mustang no Nepal e outra à Índia. Durante estes anos temos convivido e tornámo-nos amigos, argumento fundamental para nos lançarmos neste projecto.

Estamos a terminar a segunda semana de viagem. Uma infinidade de enormes questões e pequenas coisas se põem entre nós todos os dias. Algumas de resolução simples, outras mais complicada, mas que requerem: humildade, bom senso, entre ajuda, decisão, energia partilhada, ceder espaço, momento de privacidade com alguém muito intimo, puxar pelo outro num momento de fraqueza. Não é fácil um empreendimento destes. Mas se conseguirmos, como acredito, levaremos até ao fim esta viagem pelo Continente Americano. Mas em simultâneo faremos outra, essa mais importante, porque é uma viagem ao interior de nós.

E de pessoas que tinham pouco em comum terminaremos mais enriquecidos como seres humanos e mais próximos.

Nota: Foto de hoje no Glaciar Perito Moreno

Renan Xavier
22-01-12, 14:01
Rotas míticas, estradas de “rípio, dores de costas… e …
15 de janeiro

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A Argentina e o Chile mereciam só por si uma viagem. Melhor, cada um deles merece uma viagem! Mas como não é esse o nosso propósito, a Argentina e o Chile vistos até ao momento resumem-se à Terra do fogo e à Patagónia! E isso sim, também é uma viagem!


Se quisermos fazer rotas míticas temos duas nestes países. Na Argentina a “Ruta 40” que liga o norte ao sul do país por mais de 5000 quilómetros desde La Quiaca até Cabo Vírgenes. No Chile a “Carretera Austral” que liga a cidade de Puerto Montt à vila de O´Higgins numa extensão de 1240 quilómetros.

Não fizemos nenhuma por completo, mas fizemos um pouco de cada uma. E apesar de cada uma ser no seu pais, têm muitas coisas em comum. A paisagem é deslumbrante, as horas que passamos dentro do autocarro são muitas, o piso varia entre asfaltado e “rípio” (terra batida mais pedras, o nosso macadame), e o resultado é o mesmo...dor de costas!


É impossível querer ver o pais e não o fazer desta forma. Se entrarmos num avião perde-se muito da paisagem, muito das pessoas que encontramos nos pontos de paragem, parte das conversas com outros viajantes que fazem o mesmo, ou em sentido inverso, parte das recomendações para ir ver locais especiais. Foi isso que aconteceu connosco ao conhecermos a Lorena e a Alejandra. Argentinas de Buenos Aires que se cruzaram connosco pela primeira vez à entrada do autocarro em Rio Grande. Daí e por mais 4 cidades e outros tantos autocarro fomos nos encontrando, falando, ajudando (elas com a marcação de hotéis, nós com a subida ao Monte Fitz Roy). E foi através delas que soubemos da existência da Cueva de las Manos, sítio arqueológico classificado pela Unesco como património da Humanidade. Impressas em rocha estão “mãos” que datam de 9300 até1200 anos atrás. Impressionante o estado de conservação (aparte de uns quantos vandalismos).


Chega a altura de nos separarmos, nós seguimos viagem para o Chile e elas regressam ao lado do Atlântico. Combinamos um jantar de despedida, tiramos a foto da praxe, trocamos emails e agradecemos mutuamente a ajuda. “Obrigado, sem vocês não teríamos conseguido subir ao Monte Fitz Roy” dizem elas. E nós teríamos subido se não tivesse sido preciso puxar por elas?


As viagens são assim, e todos os países do mundo merecem ser vistos, pois têm uma coisa para além da paisagem e da comida.....pessoas.


Mais informação sobre as rotas em:

www.carreteraustral.net e

www.turismo.gov.ar/esp/atra/ruta/mruta.htm


João

Renan Xavier
22-01-12, 14:02
Encontro com o poeta.
19 de janeiro

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Ao entrar na casa museu de Pablo Neruda, na Isla Negra, a minha memória é assaltada por pesadelos e dores antigas. “Chove em Santiago” e choveu durante dias, meses e anos. Não vou falar dessas dores, vou falar de hoje, do que senti quando visitei a sua “Casa Museu”.


Confesso que estou vivendo uma emoção muito forte ao entrar neste espaço. Venham comigo.


Casa pequena quando a comprou em 1938, “...foi crescendo, como as pessoas e as árvores...”, tinha a seus pés o “oceano pacífico, não cabendo no mapa, por ser tão desordenado e azul, e não havendo espaço para ele o puseram em frente há janela da sua casa”.


A decoração evoca o mar, a terra, onde nasceu, a amizade, o espaço para estar com amigos, a cozinha (espaço quase secreto, donde saiam os argumentos que cultivavam os afectos à mesa), os bordados feitos pelas mulheres do lugar Las Gaviotas rebaptizado de Ilha Negra pelo poeta e ainda a colecção de conchas. Os sinos existentes no jardim que ele tocava avisando os vizinhos da sua chegada.


Em Temuco, cidade onde passou a infância, havia uma loja de arreios que tinha um cavalo em tamanho real. Neruda com 6 anos dizia ao dono: “Quero comprar o cavalo”. Muitos anos depois sabendo de vicissitudes da loja e do dono, adquiri-o, realizando o seu sonho de infância. Todo o ser humano que não mata a criança que há em si, como ele sempre fez, é especial.


Poeta que escreve odes ao congro, à alcachofra e ao vinho, é um ser humano de excepção, narrando as coisas simples e belas da vida, essas sim, geradoras da felicidade.


Neste espaço e tempo que privei com o poeta, emocionei-me e senti-me criança, porque hoje já não “Chove em Santiago”



Así cada mañana

De mi vida

Traigo del sueño

Otro sueño



PABLO NERUDA




Mais informações sobre a fundação:

http://fundacionneruda.org/


Alexandre

Renan Xavier
06-02-12, 11:57
A Artéria Aorta Americana!
domingo, 29 de Janeiro de 2012

Já vos falei de estradas míticas uma vez, e sem querer parecer repetitivo vou falar novamente de uma, da “Senhora” estrada deste continente – A Pan-americana. Esta estrada com cerca de 48.000 quilómetros começa a sul no Chile em Quellón, ilha de Chiloé e vai até Fairbanks no Alasca. Tal como dizem os andes ser a coluna vertebral do continente sul americano, eu digo que a Pan-americana vai ser a nossa artéria aorta até ao destino final – Alasca.

http://www.olhandopelomundo.com/Olhando_pelo_Mundo/Diario/Entradas/2012/1/29_A_Arteria_Aorta_Americana%21_files/shapeimage_2.png

Pisámos pela primeira vez o seu alcatrão, uns quilómetros atrás, na cidade de Quellón, património da Unesco, tal como toda a Ilha de Chiloé, devido às suas igrejas de madeira. Ficámos uns dias em Castro, capital da ilha, e percorremos as redondezas à procura de tais monumentos. São vários e lindos, uns quantos a necessitar de verbas para restauro.

Para se continuar na Pan-americana e chegar a Puerto Montt tivemos de apanhar um ferry e abandonar a ilha. O autocarro até parecia que conhecia o caminho sozinho e entrou nos braços bem aberto e metálicos deste gigantesco monstro dos mares. Minutos depois esperávamos o continente e a Pan-americana.

Chegámos a Puerto Montt.... e nada mais do que um porto achámos ser. Feio, barulhento e triste corre connosco de novo para a estrada. Desta vez, e para termos algo de novo, um autocarro cama que demorou 12 horas a percorrer 1020 quilómetros até Santiago do Chile. Para quem nunca tinha tido este tipo de experiência foi óptimo porque saímos perto das 21 horas, dormimos e no outro dia de manhã estávamos na capital do Chile. A Pan-americana tinha-se revelado à altura das expectativas...foi pena foi não termos visto muita paisagem!

Os dias em Santiago do Chile foram calmos e citadinos. Para alem da crónica anterior do Alexandre sobre Isla Negra, visitámos ainda Valparaíso, património da Unesco pelo seu centro histórico com casas do século XIX, percorremos as ruas e cerros de Santiago. Cerro Santa Lúcia, bem perto do nosso Hostal Santa Lucia e Cerro San Cristobal onde subimos de funicular e descemos pelo percurso pedonal no meio da vegetação. Almoçámos no Mercado Central, no meio de apregoadores de peixe e marisco, visitámos a Plaza de Armas com os seus cartonistas e jogadores de xadrez e vimos azulejos portugueses, doados pelo Metro de Lisboa ao Metro de Santiago, agora colocados na estação de Santa Lúcia.

Santiago tinha muito mais para nos dar, mas a Pan-americana estava à nossa espera. E outro autocarro, desta vez semi-cama (pois a cama estava esgotada) levou-nos até Antofagasta percorrendo mais 1377 quilómetros dos seus canais, os últimos dos quais já no deserto. Pouco se pode dizer desta cidade, dum lado o oceano pacífico do outro um monte que a separa do deserto, o deserto do Atacama, o mais árido do mundo, onde não chove há séculos!

Deserto para onde iríamos. Deixámos a Pan-americana por uns dias e rumámos ao deserto, a San Pedro do Atacama. Cidade oásis, de preços elevados e onde abundam muitos turistas foi nossa casa por três dias de modo a visitarmos o Valle de la Luna, o Valle de la Muerte (deveria ser Marte mas os Chilenos confundiram o fonema), o Géiser do Tatio, o Salar de Atacama com os seus flamingos e as Lagunas Altiplanicas. Foi nesta altura também que começamos a subir. Atacama está 2400 metros acima do nível do mar e os passeios que fizemos levaram-nos aos 4200 metros. Seriam um bom aquecimento para os dias que se seguiriam pois a travessia para a Bolívia seria um teste à nossa resistência e ao “mal de altitude”. Mas disso falará o Alexandre na próxima crónica.

Eu apenas vos posso dizer que não esqueci a Pan-americana e ela não se vai esquecer de nós pois ainda teremos muito tempo para por a conversa em dia....mas só no Peru nos voltaremos a encontrar.

Até já.

Mais informação sobre a Pan-americana e o Património da Unesco:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rodovia_Pan-americana (http://pt.wikipedia.org/wiki/Rodovia_Pan-americana)
http://whc.unesco.org/en/list

Renan Xavier
07-02-12, 10:27
Enquanto ainda aguardamos algum texto da dupla João e Alexandre, que está na Bolívia neste momento, podemos ver algumas fotos que estão no site deles. Apenas para dar água na boca, já que fazem um trabalho fantástico.

http://media.tumblr.com/tumblr_lz0vukNLsD1r0sg24.jpg
http://media.tumblr.com/tumblr_lz0vv0aX1X1r0sg24.jpg

Renan Xavier
20-02-12, 13:14
Salto em altura ou salto das alturas?

Parece que só me calha a mim falar de estradas...mas já lá vou!

Vou começar por mais um recorde. La Paz é a capital recordista de “salto em altura”. Com 3600m é a capital mais alta do planeta. Nela habitam cerca de um milhão de habitantes, de várias etnias, não fosse a Bolívia um estado plurinacional desde a sua última mudança de constituição o ano passado. Encontra-se afundada no meio de um vale entre La Cumbre com 4670m e El Alto com 4100m. Esta última, cidade à poucos anos, têm tantos habitantes como La Paz e serve de artéria principal de entrada para a capital. Na descida para o centro podemos ver casas e mais casas por acabar, dando ideia de uma favela, mas mostrando uma realidade de casas em construção...há anos. O transito, as buzinadelas, as vendedoras de rua e o fumo a juntar à altitude fazem com que se esteja um dia ou dois para se habituar a tudo.

http://www.olhandopelomundo.com/Olhando_pelo_Mundo/Diario/Entradas/2012/2/7_Salto_em_altura_ou_salto_das_alturas_files/shapeimage_2.png

Outro atrativo, principalmente para os amantes de downhill (descidas de bicicleta), é a desactivada estrada mais perigosa do mundo, também conhecida como estrada da morte ou estrada dos Yungas. Como não nos sentíamos capazes de a fazer de bicicleta, alugámos um táxi que nos levou pelas suas curvas apertadas, estreita largura (algumas vezes apenas 3,2m para os dois sentidos) e ravinas de 800 metros. A maior aventura para nós foi fazê-la no táxi de Don Elias, um carro velho, com os pneus traseiros carecas, sem pára-choques e com a 2º mudança sempre a saltar. Nesta estrada morreram centenas de pessoas nos últimos anos até ser construída a nova, inaugurada no ano de 2007. Agora só lá ficam alguns turistas incautos que exageram na velocidade ou contratam uma empresa que tenha bicicletas com falta de manutenção...ou travões! Mas chegámos salvos a Coroico, depois de 61 quilómetros e 3500 m de desnível, pudemos desfrutar do almoço e do clima tropical dos 1500m. A paisagem aqui é de floresta, verde e com pássaros a cantar. “Será que já estamos na Costa Rica?”- Pensámos nós, mas não, havia que voltar a subir para La Paz, desta vez pela estrada nova, com menos aventura.


Aventura também é andar pelas “calles” desta capital. De táxi, a 4 bolivianos a corrida ou mini bus, a 1 boliviano (1€=8,8bolivianos), para nos misturarmos com a gente local, todas as ruas, igrejas, museus ou miradores merecem ser vistos, fotografados e recordados. Realçamos o museu nacional de etnografia e folclore, pelo seu espólio de tecidos e máscaras e o mirador Killi Killi com uma vista 360 sobre a cidade donde podemos perceber a sua geografia e analisar a sua construção.


Em reconstrução está Tiwanaku (Património da Unesco), sítio arqueológico que podemos fazer numa visita de um dia desde La Paz. Este local representa a cultura pré-colombiana que existiu antes dos Incas (1500ac a 1200dc) e que povoou todo o altiplano andino. Este povo que falava a língua aymara, uma das actuais línguas oficiais do pais (juntamente com o espanhol, o quechua, o guarani e mais 396) dispersou-se e deu origem a vários sub-povos. Neste local existiu uma população de 100.000 habitantes numa área que cobria cerca de 6 quilómetros quadrados. São ainda conhecidos pela sua escultura de megalíticos e pela cerâmica que se espalhou pelo norte do Chile e Argentina e pelo Peru.


É verdade, ainda não me esqueci da Pan-americana e já estou mais perto de a alcançar...mais uns 2000 quilómetros!


Até já.

Mais informação sobre Tiwanaku e a estrada dos Yungas:

http://en.wikipedia.org/wiki/Yungas_Road

http://whc.unesco.org/pg.cfm?cid=31&id_site=567


João

Renan Xavier
24-02-12, 11:01
BOLÍVIA – Um encanto sofrido...
em 03 de Fevereiro de 2012

O pequeno autocarro vai percorrendo caminho de montanha. O Chile fica para trás, já faz parte das nossas memórias recentes, registadas nas nossas câmaras fotográficas, não permitindo assim lapsos ou omissões no livro a criar, relatando em imagens as nossas vivências. Estamos na terra de ninguém. A caixa metálica pomposamente chamada mini autocarro, atira-nos de um lado para outro, sem respeito pelos nossos doridos corpos. O caminho não permite conforto. Opções de uma certa forma de viajar.

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Paramos junto a um contentor. À volta, um amontoado de veículos 4x4, nalguns arrumam-se bagagens, pessoas movimentando-se com mochilas. Lugar clandestino de montanha? Espaço de contrabando? Movimentos suspeitos! Jovens de rostos imberbes e inocentes tendo como seus haveres uma mochila às costas, esperando entrar neste país, mas dependentes de alguém que tratará da sua entrada. Esses homens munidos de expedientes, nas suas expressões duras, reflectem a violência em que a vida nos pode transformar quando a sobrevivência é posta em causa. Aqui tudo se resolve com dólares, pesos ou bolivianos. O contentor é o posto fronteiriço onde dois funcionários, vão recebendo formulários preenchidos, não entendendo por vezes, mas necessário ver, carimbar e dar ordem para seguir. Um homem de semblante carregado que nos trouxe de San Pedro de Atacama, leva-nos até junto de um outro homem, já entrado na vida e na idade, apresentando-o como Don Pedro. Ele será o nosso motorista e guia, a quem ficaremos entregues durante três dias até terminar os seus serviços em Uyuni. Foram-nos apresentados dois casais, Um chileno, Carina e Filipe, outro argentino, Cecília e Mariano. Estes serão os novos companheiros de viagem. Começamos a nossa descoberta deste país pelo sul.

Num Toyota Land Cruiser vamos rolando por trilhos, que não podemos chamar estradas, e estamos em altitudes entre os 4200 e os 4980 metros. As dificuldades respiratórias fazem sentir-se, mas os lugares que vão passando diante dos nossos olhos enchem-nos os sentidos de belo e mágico. Este encontro com o mais primário e profundo que a natureza nos presenteia, Laguna Blanca, Laguna Verde e Laguna Colorada com os seus flamingos andinos de tons rosa contrastando com a cor da lagoa, Vulcão Uturuncu, Montanha das cores e Géiser Sol da Manhã.

Não encontro palavras nem descrição para o que vi. As formas, reflexos, uma miscelânea de cores, cheiros, confundindo-me os sentidos, deixando-me em estado de hipnose.

Mais à frente o cemitério dos comboios. Como a tecnologia obsoleta pode transformar-se em algo que nos encanta e prende os nossos sentidos, levando-me a imortalizar com a minha câmara, outra tecnologia a quem presto a minha homenagem. Sendo um dos países mais pobres da América do Sul foi dos que me tocou profundamente. O Salar de Uyuni com os seus 12.000 quilómetros quadrados, no seu branco imaculado, os seus raios cristalinos transformam-nos, em arco-íris, irradiando todas as cores que quisermos imaginar.

Mas a cidade de Potosi e a mina Cerro Rico, marcaram e trouxeram recordações de tempos passados, de relações de trabalho duras em que o termo, “comer o pão que o diabo amassou” entra na perfeição e assenta como luva. A exploração mineira é feita em moldes cooperativos, mas a sua produção é comprada por consórcios mineiros que estabelecem as cotações em mercado. Não vou abordar este tema porque a sua dimensão me transcende, embora o resultado seja sempre o mesmo. O poder subjuga o trabalho. Aquilo que vi, respirei e andei dentro das galerias que percorremos e descemos até ao 3º nível de profundidade, disse-me tudo. O equipamento com que trabalham as condições e os meios que dispõem para movimentar o minério lembrou-me a obra literária de Emile Zola - “Germinal”. São condições de escravatura. Saí revoltado e triste, senti vergonha dos meus queixumes, pelo transporte que nos foi amaçando os corpos, daqui a alguns dias no conforto e comodidade da minha vida esquecerei o desconforto do mini-bus. Mas o Rolando, agora guia, e seus companheiros trabalhadores da mina Cerro Rico, continuarão a viver e a trabalhar em condições que desrespeitam toda a condição de ser humano.

Alexandre

Renan Xavier
15-03-12, 11:29
Navegando até ao sonho

Saímos de Copacabana(Bolívia), já num autocarro peruano. A passagem da fronteira foi feita a pé para sermos benzidos pela santa autoridade da fronteira, não nos ligaram nenhuma. Já no Peru esperava-nos o mesmo autocarro, levando estes mochileiros até Puno. Para contactar com a realidade deste país começámos por navegar no imenso lago de montanha a 3810 metros de altitude.

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Apanhámos um barco (não sei se andava mais para a frente ou para trás) para contactar uma realidade muito antiga do lago Titicaca, os Uros (ilhas flutuantes), forma arranjada pelos seus antepassados para se defenderem dos inimigos. Viver sobre uma plataforma ancorada como se fosse uma jangada, é difícil imaginar! A conservação permanente e a própria forma de viver nestas ilhas desafia a nossa imaginação. O peixe que pescam, o artesanato produzido e as visitas de turistas são algumas das bases da sua economia. Navegamos mais de três horas para chegar à Ilha Taquile. Aqui não existe outro meio de transporte que não sejam as pernas. As regras de vida desta comunidade são ancestrais e rígidas. Os gorros (formato idêntico aos barretes dos campinos) usados pelos homens são feitos por estes com cinco agulhas e se são solteiros, a metade superior é branca, se são casados é todo de padrão igual com predominância do grenat. Os homens passeiam-se pela rua fazendo os seus gorros. As jovens vão guardando o cabelo que cortam e quando ficam noivas fazem com esse cabelo a decoração de umas bolsas que os namorados usam na cintura e onde transportam as folhas de coca para mascarem, provando assim a sua fidelidade ao casamento. O regresso a Puno foi uma seca de cinco horas e meia de barco.

Em Puno o ambiente é festivo ouvem-se tambores rufando, sons que chamam as pessoas para a festa. Que festas são estas? São as “Festas da Virgem de la Candelária”. Não sendo crente, o vírus fotográfico e a curiosidade de forasteiro falaram mais alto. A rua é local para viver estes momentos. Espanto meu! Desfile carnavalesco. Grupos dançando vestidos com fatos coloridos, mulheres jovens com roupas reduzidas lembrando o carnaval brasileiro, homens com vestes adornadas com guizos dando som e criando ritmo frenético contagiando-nos. E a “Virgem de la Candelária” quando é que entra nisto? O desfile continua. Os grupos estão identificados com pendões, ficamos a saber donde vieram, bandas acompanham-nos tocando e mantendo a alegria de um carnaval, ou de uma manifestação religiosa! Os grupos sucedem-se. Surge diante dos meus olhos uma fila de jovens com saias muito reduzidas perfeitamente enquadradas no ritmo carnavalesco, quer pela juventude, quer pelo sorriso estampado no rosto, ocupam toda a largura da rua, seguindo grupos de pessoas, que, pelo aspecto, são o início da procissão. Mulheres de mantilhas, criancinhas, pessoas idosas, militares, as autoridades locais e finalmente o clero e o andor da Virgem. Não vou tentar entender, limito-me a aceitar e viver o momento. Sinto-me bem mas a próxima terra espera por nós. O nosso destino é Cusco.

A viagem de Puno para Cusco é feita num comboio de meados do Século XX. Instalo-me e a minha imaginação é transportada para o “Expresso do Oriente”. Somos personagens de filme nascidas na imaginação de uma escritora. O som “pouca terra... pouca terra... pouca terra...” leva-me à minha infância e ao sonho. Sou despertado pelo som das flautas andinas. Um grupo musical no bar-vagão, faz-me sentir a realidade: estou no Peru, mais precisamente em Juliaca. Ao olhar pela janela, espero ver uma paisagem fugindo de mim. Pura ilusão! Estamos dentro de uma feira. O comboio abranda a marcha. Estou na última carruagem e de boca aberta. Os carris, suporte e caminho do nosso transporte, são também as bancas onde estão laranjas, sapatos e uma infinidade de coisas para comércio “entre carris”. Umas de pequena dimensão a que a passagem do comboio é indiferente, outras que simplesmente foram retiradas para passar o comboio e que depois se repõem de imediato. O comboio passa, os carris são tapados com uma panóplia de artigos e as linhas novamente desaparecem. Um ilusionista transportado na última carruagem, empunhando uma varinha mágica, repõe a tranquilidade de compradores e comerciantes, abalada pela passagem do comboio.

Mergulho no som do pouca terra... pouca terra... pouca terra... adormeço. Sonho com outros espaços e lugares, navego para outras paragens: mares, rios ou lagos. Onde acordarei...?


Alexandre

Renan Xavier
19-03-12, 12:12
Uma das novas maravilhas do mundo

Dizem que por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher e eu vou utilizar o mesmo paralelismo dizendo que por trás de uma grande maravilha do mundo está uma grande civilização. O complexo arqueológico de Machu Picchu, que se localiza a mais de 2400m de altitude, no meio dos Andes, só poderia ter sido construído por um civilização avançada em todos os aspectos, começando pelos conhecimentos de engenharia, passando pelos astronómicos e acabando nos sociais.

http://www.olhandopelomundo.com/Olhando_pelo_Mundo/Diario/Entradas/2012/2/24_BOLIVIA_Um_encanto_sofrido..._2_files/shapeimage_2.png

Foi com grande entusiasmo e expectativa que nos levantámos cedo para fazer o percurso que liga Cusco a Machu Picchu. Foram 5 horas da combinação autocarro-comboio-autocarro que separaram os dois pontos. “Quando chegares a Machu Picchu, sobe até ao cimo sem olhar para baixo e para trás, vais ver que a surpresa é maior” – disse-me um amiga antes de sair de Portugal. Confesso que tentei, mas a poucos degraus do topo não aguentei mais e tive de olhar! “Uau....como conseguiram fazer isto, aqui!” – foi o meu pensamento depois dos últimos 25 minutos de autocarro a subir a encosta desde Águas Calientes (ou Machu Picchu pueblo) até ao ponto de entrada do complexo....como trouxeram estas pedras até aqui! A foto que vêem foi a primeira que tirei quando me virei. O que terá pensado o Hiram Bingham quando aqui chegou há 101 anos atrás? O mesmo que eu?

Pensa-se que Machu Picchu foi construído em meados dos anos 1400 e abandonado 100 anos depois. Porque se teriam dado ao trabalho para tanto e usufruído tão pouco? Terão abandonado devido à invasão espanhola ou terá sido por doença? Muito se questiona e pouco se sabe. Só se sabe mesmo que era uma civilização ultra avançada. Só teve uma falha, não deixou nada escrito. Tudo passava oralmente de geração em geração.


Tivemos a sorte e o azar de permanecer quatro horas no complexo, duas de sol e duas de chuva. Os visitantes são muitos, mas como viemos em época baixa, dos 2500 permitidos por dia, estavam pouco mais de 1000. Mesmo assim é difícil tirar fotos sem aparecer um japonês ou um russo! O que o mundo se tornou? Uma grande agência de viagens... Gostaríamos de ter feito o trilho inca, 4 dias de trekking até Machu Picchu, mas em Fevereiro está fechado devido à chuva....teremos de voltar noutra altura. A viagem de volta para Cusco foi o contrário da ida.


Cusco deixou-me igualmente boquiaberto. Que praça, que energia, que altitude, que movimento, que vontade de aqui voltar. Almoçámos várias vezes na Plaza de Armas e recomendamos o restaurante “Limo”...e a limonada deste! Para além da catedral e edifícios envolventes, Cusco têm muito à volta que se veja. Seja num autocarro de dois andares, estilo britânico, de sightseeing, seja numa excursão organizada a Saqsaywaman, a Qorikancha, a Tambomachay, a Pukapukara e a Q'enqo (todas incluídas no City Tour). No centro têxtil de Chinchero fomos recebidos por uma menina de 12 anos, que no seu perfeito inglês, explicou o processo de feitura da lã desde a sua fiação, passando pelo tingimento até ao produto final, fosse este toalha, bolsa, estojo, tapete, etc. Moray, o complexo arqueológico dedicado à experiência e produção de espécies de batatas e outros tubérculos voltou a maravilhar-nos pela sua construção em círculos de socalcos e por fim as salinas de Maras onde a cerca de 4000 metros se produz o sal dos Incas a partir de água dos Andes e elementos minerais do solo.

E antes de deixar Cusco para trás não podíamos deixar de passar junto à famosa pedra de 12 faces que maravilha pelo seu formato e tamanho perfeitamente encaixado entre 11 outras pedras.


Um “pedra” foi também a viagem de 14 horas até Nasca. Curvas e mais curvas, derrocada, 3 horas parados, tentativa de dormir e sair das alturas e “aterrar” no calor do deserto! Chegámos a Nasca com o objectivo de ver as suas famosas linhas e para tal teríamos de voar sobre estas. Na hospedaria que marcámos pela net, fomos recebidos por um simpático casal peruano/italiano que tratou de tudo por nós. No dia seguinte, bem cedo, lá fomos nós para o aeródromo e 30 minutos depois já voávamos num “teco-teco” de 6 lugares para ver os geoglifos. Muita luz, muitos reflexos e alguma falta de nitidez das imagens, mas ficámos com uma ideia destas. O colibri e o astronauta são as que se viram melhor. Às 10 horas estávamos de volta à hospedaria para tomar o pequeno almoço...pois recomendaram-nos, e muito bem, para fazermos o voo sem nada no estômago! E é verdade, aqui finalmente bebemos um bom café expresso, não fosse o Enzo um verdadeiro italiano que têm uma máquina de café e encomenda café lavazza de Itália. Na Hospedaje Nasca em Roma sentimo-nos em casa. Obrigado Lourdes e Enzo.


Do Peru já só pudemos parar para visitar Lima pois o tempo começava a escassear... daqui a uns dias tinha voo para Lisboa. A capital do Peru impressiona pelo tamanho, quantidade de gente (mais de 8 milhões) e movimento. No palácio presidencial, situado na Plaza de Armas, vimos o render da guarda ao som de uma banda, calcorreamos as ruas e visitámos as igrejas, tudo património da Unesco. No convento de Santo Domingo testemunhámos o passar do tempo em azulejos quinhentistas. Em Barrancos, jantámos corvina e vimos o oceano que de pacífico pouco têm. Do cimo do Cerro de San Cristobal, através do “smog” vimos o viver da cidade e a morte que ocorre na praça de touros.


O Peru desfilou durante 14 dias ao alcance das nossas máquinas fotográficas, agora era tempo de ir ver a família e o projecto ficaria em “standby” duas semanas. O Alex, esse continuaria por cá e mandaria saudades e fotos das Ilhas Galápagos.

Maravilhas no mundo há 7! Aqui passou uma pelos nossos sensores. No México outra passará....

Até já.


Mais informação sobre Machu Picchu e as Linhas de Nasca:


http://whc.unesco.org/en/list/274

http://en.wikipedia.org/wiki/Nazca_Lines


João

Renan Xavier
02-04-12, 12:06
Equador com memórias

O nosso projecto levava-nos a passar por este país. Tinha-o percorrido em 2004 com um grupo de gente conhecida de caminhadas, e de outras andanças, mas todos com o gosto por viajar. A chegada ao Equador, por razões de calendário, obrigou-nos a ir para Guayaquil de avião vindos de Lima, Peru. O João seguiu para Lisboa, eu fui para Galápagos de férias. Duas semanas passaram, recomeçamos a viagem que nos levaria por Guayaquil, Cuenca(PM-Património Unesco), Riobamba, Quito (PM), Mitad del Mundo e Otavalo.

Mas viajar para mim é contactar pessoas. Não dominamos a língua, é certo, mas há tanta forma de comunicar, pequenos gestos quebrando o gelo, brincar com uma criança, ajudar a arrumar uma mala, dar a passagem alguém para se acomodar no autocarro, perguntar o nome da terra onde paramos. E utilizando transportes públicos, estas situações são fáceis de provocar.

http://www.olhandopelomundo.com/Olhando_pelo_Mundo/Diario/Entradas/2012/3/29_Equador_com_memorias_files/shapeimage_2.png

No aeroporto de Guayaquil, a espera de passageiros, resultado de voos atrasados, puseram-me em contacto com um equatoriano de nome Cristiano Murillo. O tempo passa e as pessoas sentem necessidade de comunicar. Perguntou-me o que estava a fazer no seu país, nossas ocupações, conversa de tudo e de nada, de interesse, curiosidade, pequenas passagens de viagem. No regresso ao hotel ofereceu-se para me dar boleia, quis retribuir a atenção e ficou combinado voltarmos a encontrar-nos. Dias depois, um telefonema a marcar encontro. Foi ter connosco ao hotel, onde jantámos, e após este convidou-nos para ir visitar o seu local de trabalho. Trabalha nos jornais “Expresso” e “Extra”. O primeiro dentro do espírito do nosso homónimo e o segundo sensacionalista. Visitámos a rotativa e todo aquele universo de execução de um jornal a cores, com prazos muito apertados para ser feito e ser distribuído. Explicou-nos o processo moderno de execução destes, nada tendo a ver com os velhos jornais ( lembranças do Diário de Lisboa, República, Diário Popular e os ardinas apregoando – “Lisboa, República, Popular”). Também a informática revolucionou a sua execução. Tirámos fotos, trocámos emails e assim se estabeleceram laços, duradoiros ou não o tempo o dirá, mas na minha vida entrou um Cristiano Murrillo, passando a fazer parte dela, do meu álbum de recordações, fotografias vividas e que está do outro lado do Mundo.

Enquanto passeávamos pelo Bairro La Peña somos abordados por um graduado da polícia, de seu nome Reinaldo Jimenez, capitão, interpelou-nos sobre a insegurança do local e as cautelas a ter com bens, nomeadamente o equipamento fotográfico, pois segundo ele, todas as cidades têm zonas problemáticas, requerendo algum cuidado. Perguntou-nos para onde íamos e prontificou-se para nos acompanhar. Explicámos porque estávamos no Equador, o nosso projecto e ele foi o nosso guia, simpatiquíssimo. Durante o trajecto foi abordado por colegas e cidadãos a quem respondia de uma forma cortês. Foi-nos mostrando toda aquela zona do bairro que tinha sido recuperada, fomos até ao cimo, até ao farol. Já descendo tirámos uma fotografia para recordação. Fomos para o lado do rio onde era a fábrica da cerveja “Casa Pilsener”, os silos da cevada e outras estruturas produtivas, foram convertidas em habitações de qualidade e para extractos sociais mais elevados... tudo isto ia sendo explicado pelo nosso guia. Mais adiante o lugar onde um cantor romântico, mas com preocupações sociais, Júlio Jaramilo fazia serenatas. Não sendo uma figura bonita, destroçava os corações com os seus poemas. Tocou o telefone, disse serem os filhos, falou com uma expressão carinhosa. Falou-nos da necessidade que o departamento dele tinha de dar uma imagem de/e para servir os cidadãos. Perguntámos-lhe onde poderíamos almoçar, indicou-nos um restaurante, com boa relação qualidade preço. Convidamo-lo para nos fazer companhia, aceitou por cortesia. Após almoço, nós com a visita terminada e o nosso anfitrião com os seus afazeres, despedimo-nos, perguntando-lhe se permitia a publicação no nosso site e no facebook da fotografia tirada conjuntamente, anuiu dizendo não haver problema algum. Adeus capitão Jimenez! Até sempre. Mais uma pessoa que horas antes não sabíamos da sua existência, entra nas nossas vidas e quando sai deixa-nos mais ricos e gravado em nós a sua existência.

Seguimos para Cuenca, Património da Humanidade, mas não vou falar desta, vou falar do património dos afectos. Ao visitar a célebre “fábrica” de panamás Homero Ortega fomos recebidos por uma jovem de nome Estefânia Vasquez. Mostrou-nos as instalações onde recebiam os chapéus feitos pelos artesãos. Depois de controlada a qualidade, há um complexo caminho a percorrer: acabamento, coloração, forma, decoração, embalagem. Outros produtos também são criados, pela descendente da família que é designer. Estes artigos são exportados para todo o mundo, levando o nome desta família para bem longe e ela é conhecida por famosos deste mundo: Sean Connery, Brad Pitt, entre outros, todos eles fotografados com chapéus desta casa. Fotografias da família Ortega e de celebridades deste mundo decoram as paredes do museu. A Estefânia continua a explicar, espera quando tiramos fotos, às vezes demoramos um pouco, mas é o desejo da foto quase perfeita. Propomos tirar uma com chapéus, concorda! Um chapéu de homem para ela, dois de senhora para nós, mais a bandeira de Alcochete. E temos a fotografia para a posteridade. Demos a conhecer o projecto “Olhando pelo Mundo”, explicando-o e deixando os nossos cartões de visita. Quando publicarmos o nosso livro após a viagem, enviaremos um exemplar para espólio do “Museu Homero Ortega”, pois um descendente é fotografo amador tal como nós. Despedimo-nos. Nesta contabilidade, sem deve nem haver, contabilizam-se afectos. Na vida da Estefânia Vasquez e da família Ortega, surge num toque de mágico, Alexandre Costa e João Vicente e um projecto “Olhando pelo Mundo”, nas nossas vidas surgem nomes, rostos, sorrisos, pessoas que abrindo a porta de sua casa, nos receberam com simpatia falando do seu labor, para todos vós o nosso obrigado. Para Portugal levamos esses momentos que viverão em nós, a sua lembrança nos trará um sorriso e bonitas recordações. Adeus Estefânia, um beijinho e até sempre.

Autocarro para Riobamba, vai cheio! Algumas pessoas vão de pé.

Otavalo a última cidade para visitarmos neste país. O mercado alimentar e de artesanato funciona todos os dias mas e o mercado do gado? Esse só ao Sábado! Era segunda-feira, esperar tantos dias causava-nos alguns problemas de tempo. Resolvemos ir explorar a cidade após o almoço e continuar viagem no dia seguinte. Tentei tirar fotos no mercado e sempre as pessoas se fecharam, não permitiam tal, já no artesanato, foi um pouco diferente, quando falei do nosso projecto, da ligação com as escolas, as pessoas foram mais receptivas, deixando-se fotografar. Em toda a zona de Otavalo os hábitos, a forma de vestir tradicional, está muito presente. Mas passaram sete anos, desde que visitei esta terra pela primeira vez. Nessa altura ainda não tinha feito muitas viagens para o estrangeiro, deslumbrava-me perante mundos e gentes, de muito longe. No passado a minha imaginação era saciada por filmes, documentários e livros. Viajar é a novidade, descoberta, tudo é diferente e a fome de registar essa experiência na minha câmara fotográfica é imensa. Fotografar é a paixão antiga, forma de estar só estando com o mundo. Voltemos às memórias e afectos em Otavalo. A feira do gado era um pouco distante, o caminhar na sua direcção. Ir entrando aos poucos nesse mundo, toda essa experiência deixou em mim marcas. A receptividade dos naturais era maior? A abordagem mais fácil, os artesãos ofereciam-se para ser fotografados. Não estarei a ser vítima da minha imaginação e de memórias apagadas pelo tempo, tornadas insignificantes, realçando outras ampliadas pelos nossos afectos, passando a importantes com o passar dos anos? Não serei eu a querer agarrar o tempo? Não serão os meus mecanismos mentais, pregando-me partidas para fugir à realidade de estar mais velho, mais sensível? Nos contactos que vou tendo ao viajar sinto alegria, conheço gentes, registo rostos a quem pedi para fotografar, tendo comigo momentos de cumplicidade, entrámos na vida uns dos outros, para desaparecermos momentos depois. Mas essas pessoas tocaram-me e fazem de mim um homem que vive intensa e apaixonadamente a vida! Recuso-me a passar pela vida.....

Alexandre

Renan Xavier
03-05-12, 12:12
Colômbia – o único risco é querer ficar

Ao entrarmos na fronteira de Ipiales, vindos de Tulcan-Equador, fomos abordados por uma simpática rapariga que se prestou a ajudar-nos a tratar dos vistos, câmbio de dinheiro e transporte para a primeira localidade, de seu nome Pasto! Sim, porque chegamos a um lado da fronteira num táxi equatoriano, passámos a dita a pé e voltámos a apanhar um táxi do outro lado! Mas tudo pacífico. É mesmo assim e já nos habituámos a estas andanças! Voltando à rapariga.... ao início começámos por desconfiar; quais seriam as intenções dela? Como nos iria tentar enganar? E no fim chegámos à conclusão que ....nada! Olha!..., não fomos enganados...no máximo recebeu uma comissão pelos bilhetes que vendeu!

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O autocarro até Pasto baixou na qualidade, subiu na velocidade e no tom da buzina! Por curvas de um verde absoluto e com ravinas de fazer inveja à estrada da morte na Bolívia, chegámos a Pasto, mas não nos convenceu e decidimos continuar viagem para Popayán logo no dia seguinte.


Os 250 quilómetros até Popayán demoraram 6h45m a percorrer. E porquê? Porque há muito que fazer no caminho. Muitas curvas a enrolar, muitas bananas para exportar, muitas obras para ajudar a construir, muitas ultrapassagens para tentar, muitos rios a sobrevoar, muitas canas da açúcar a saborear.... E, no meio de isto tudo, ainda tivemos tempo para parar e almoçar uma sopa de toucinho e de ovo no famoso restaurante de Majarras. Não conhecem? Fica logo ali, à beira da estrada, atrás da bomba de gasolina.

Popayán foi parcialmente destruída no terramoto de 1983 e agora apresenta um branco imaculado em quase todos os seus edifícios da zona histórica. É um bom exemplo de arquitectura colonial espanhola que soube sobreviver ao passar dos séculos e a 18 segundos de abanão. 30 anos depois quase não se dá por isso e prestes a chegar que está a Semana Santa e com ela as procissões consideradas Património Imaterial da Humanidade. Tivemos o azar de passar pela cidade antes de tempo e não assistimos às mesmas, mas tivemos a sorte de conhecer o Sr. Edgar Ordoñez Lopez que nos guiou por todo o complexo onde são preparadas. Ele é um dos muitos homens que transporta os andores e por fazê-lo há mais de 35 anos, ininterruptamente, vai receber uma “Alcayata de Oro en Primer Grado”. São dois os eleitos este ano e via-se que o orgulho era enorme. Enorme foi também a nossa gratidão pelo seu gesto que nos deu a conhecer algo que não esperávamos. Vimos alguns andores, vimos trabalhos de restauro e ainda recebemos o plano das festas.


Mas para festas está Cali. É a cidade capital da Salsa! E que bem que se dança por aqui....é um desfile de 3,5 milhões de habitantes nas ruas, praças e mercados. Fomos conhecer o Mercado El Povenir! Que maravilha! Depois de um Peru difícil de fotografar e um Equador quase impossível, chegámos ao local onde nos pedem para o fazer! Mais uma vez sentimos que têm necessidade de limpar o nome do país e mostrar que são “bons”. Imaginem que até para beber um “copo” às 11h da manhã nos convidaram.... Provámos frutos com nomes como manocillo e chontaduro e com sabores ainda mais estranhos.


Manizales é uma das 3 cidades do eixo cafeeiro do país. Era nossa intenção visitar uma “Hacienda” produtora de café, mas quando chegou o dia chovia tanto que desistimos e continuámos viagem para Medellín. Outrora capital do Império Escobar e considerada a cidade mais “assassina” do mundo, hoje apresenta-se como uma cidade moderna, industrial e virada para o futuro, cheia de espaços verdes e com um sistema de metro aéreo. Foi neste ecológico meio de transporte que visitámos o Jardim Botânico e o seu Orquideorama – estrutura metálico-madeira que pretende ser uma obra de arte e um meio de protecção às orquídeas que aqui sob-vivem! Parecem também ter vida as esculturas de Fernando Botero que estão espalhadas pela Plazoleta de las Esculturas. São cerca de vinte formas, mais ou menos voluptuosas, que recriam a sua visão do ser humano. E que poses os seres humanos fazem para tirar fotografias com elas...eheh!


Cartagena de Índias.....fim do nosso percurso no continente sul americano e local de calor, praia e oceano atlântico finalmente. Depois de 13000 quilómetros de Pacífico, chegámos às Caraíbas! E o som mudou, as vestes mudaram e as feições também! Dos 5 dias de Cartagena, e tirando o usado para descansar e ir ao hospital (primeira e espero única vez...), utilizámos o tempo para relaxar, para fotografar ruas, janelas e portas, pessoas e movimento! É uma cidade colonial abaluartada, sim é incorrecto dizer amuralhada como nos explicaram, cheia de história de invasões de piratas e saques à prata aqui guardada no tempo da conquista espanhola. É uma cidade alegre e que se renova e reconstrói todos os dias à espera de mais e mais turistas. É uma cidade cara, a mais cara desde que partimos de Portugal. É a cidade que será o fim da minha epopeia sul americana....


O slogan do turismo local é bem verdade. Estivemos 14 dias na Colômbia, na capital da droga, do terrorismo, das FARC e mais uma série de coisas más! E o que vimos, sentimos ou testemunhamos disso? Nada, absolutamente nada! Antes pelo contrário...vimos pessoas alegres, sorridentes, compreensíveis e dispostas a tudo para alterar a imagem que passa deste belo país para o exterior. Ou melhor, que alguém faz com que passe...


Queríamos ficar....mas não pudemos!


João

Dolor
14-05-12, 17:13
Panamá

Panamá.....este o ponto de inicio da minha aventura no continente americano, juntando-me ao projecto “Olhando pelo mundo”, gizado pela mente fértil, espírito de aventura, paixão pela fotografia e desejos altruístas do Alexandre Costa.

Nem sempre a vida e os projectos que a acalentam, são fáceis de atingir nos seus propósitos mais nobres.

Para alguns ainda tem grande significado a palavra dada....a sua palavra!

Essa terá sido a principal razão, para aceitar o repto, para, sem sequer ter tempo para olhar ao que preparar, informar, e organizar, me lançar nesta aventura, de cerca de dois meses e meio, que nos levará por toda a América Central, e de seguida mais a norte, começando precisamente aqui...o Panamá.

1546

Este nome faz-nos imediatamente pensar no Canal, fabulosa obra de engenharia, que permite a passagem entre dois oceanos, o Atlântico e o Pacifico, e é a base da economia deste pais, pelas taxas que cobra de utilização e que segundo a informação fornecida se cifra em algo como 7 milhões de dólares por dia.

Aparentemente esses valores, não permitem ainda que toda a população usufrua de boas condições de vida pois que, uma vez saídos da capital, a pobreza está bem presente.

No momento em que escrevo esta breve crónica, procedem ao alargamento e aprofundamento do mesmo, para permitir a passagem dos novos porta contentores, cada vez de maior calado, para satisfazer as economias em crescimento no Oriente, na costa Atlântica da América do sul e na Europa.

Talvez que o objectivo de evitar o Suez e algumas duvidas sobre a situação que decorrerá certamente das transformações no Egipto e todo o restante norte de África e médio Oriente apressaram a decisão....

A capital, Cidade do Panamá, é no seu aspecto o espelho dessa pujança económica, qual Miami ou Nova York, quando vista à distância a partir do Casco Viejo, assim denominada a parte antiga, que está neste momento sujeita a obras de recuperação, já que se encontrava num estado de quase total ruína.

Aqui a influência colonial espanhola é bem visível na arquitectura,e facilmente poderíamos pensar estar numa vila ou pequena cidade da Estremadura espanhola...

O peixe e marisco estão muito presente na culinária, pois sendo um país pouco largo, e virado por um lado ao Mar do Caribe e por outro ao Oceano Pacifico, aí se encontram em profusão os ingredientes para o “ceviche” de peixe, camarão, caranguejo, lagostins e outros deliciosos ingredientes. A qualquer momento do dia os panamenhos não se fazem rogados, a come-lo quer como uma refeição ligeira ou “petisco”, entre dois dedos de conversa, acompanhada de muita alegria de um povo mestiço, de várias etnias indígenas, europeus e negros, trazidos como escravos.....

Portobelo, Património da Humanidade, cidade fortificada em enseada profunda e protegida, com a principal aduana, desempenhou nos anos idos do Império colonial espanhol, a função de depositária do saque das riquezas indígenas, para sustento da corte na Europa. Pela sua importância estratégica e riqueza ai contida, foi inúmeras vezes saqueada e destruída por corsários ingleses nomeadamente Drake, que com o beneplácito da coroa, podiam assim fazer o trabalho sujo, não expondo a marinha de sua majestade ...

Ontem como hoje, mil versões são encontradas, para perpetuar a exploração de riqueza e mão de obra barata.

Nos contactos que tivemos, nomeadamente com Don Luís, proprietário do táxi que aí nos levou e proporcionou na praia de La Angosta um magnífico almoço de corvina frita, acompanhada de banana frita, iuca e arroz, a memória de Omar Torrijos, perdura ainda, como símbolo de liberdade e dignidade do Panamá.

Escusado seria dizer que desapareceu subitamente, quando o helicóptero militar onde se deslocava, explodiu em pleno voo, tudo indica, até por documentos entretanto desclassificados e tornados públicos, obra dos donos do “back yard”!

Também aqui a estruturas fortificadas e o edifício da alfandega estão em vias de ser recuperados, mas por certo o trabalho será moroso....

Seja na grande urbe ou em pequenas cidades ou lugares, a contagiante simpatia e melosa forma de entoar o castelhano, permitem usufruir de uma alegria contagiante nas pequenas conversas de ocasião.

As diferentes etnias são hoje respeitadas e dedicam-se nomeadamente ao artesanato, actividades ligadas ao turismo ou à agricultura.

A “mola”, tradicional peça da etnia Kuna, facilmente se encontra, exposta para venda nesta zona do Panamá.

O turismo, ainda algo incipiente, apresenta grande potencial, nomeadamente em Bocas del Toro, miríade de ilhas paradisíacas, perfeitas para o mergulho, canoagem, surf, ou simplesmente ”pasmar”, olhando o mar transparente....

António Herrarte

Dolor
07-06-12, 12:21
Costa Rica - A viagem “Ticos” e “Pura Vida”

sábado, 19 de Maio de 2012

1946

Com a saída de cena do João Vicente por razões de todos vós conhecidas, havia que continuar. Regressámos a Portugal nos primeiros dias de Abril e para prosseguir com o projecto “Olhando pelo Mundo”, muitas questões se punham. Viajar com quem? Disponibilidade, brevidade na decisão. Não falando num aspecto importante: informática e computador, da qual não tenho noção nenhuma. Mas adiante o que nos interessa é continuar a viagem. A outra, ao interior de mim, continua a ser feita ao longo dos meus sessenta e sete anos.

O António Herrarte, disponibilizou-se para me acompanhar durante dois meses e meio, com alguns sacrifícios familiares. Obrigado António! O tempo perdido obrigava a alguns ajustes de percurso. Faltava concluir pós-projecto: México e parte dos E.U.A.. O Álvaro Barcelos e Fernando Pereira vieram em meu auxilio, obrigado aos três pela vossa amizade. A decisão foi tomada uma semana antes da partida.

Cá estamos a viajar, com as limitações, muitas... mas a fazer por cumprir a palavra dada. Viajar ao longo de dezasseis países do Continente Americano, de Sul para Norte.

Mas vamos aos “Ticos” e “Pura Vida”

Entrámos na Costa Rica pela fronteira de Xixaola e assim comunicámos com os “Ticos” a pé e de mochila às costas. Um autocarro confortável levou-nos até San José, a capital.

Dia seguinte conhecer a cidade. Começámos por tentar adquirir moeda local. Não cambiavam euros. Levantamento automático, podendo ser em bolívares ou dólares (o império financeiro a impor-se). Já com dinheiro para as necessidades mais prementes, visita ao Museu do Ouro Pré-colombiano, Praça da Cultura e Teatro Nacional. Esta cidade pouco tem que desperte o interesse do viajante ou turista.

Numa agência de turismo confirmamos a informação dada no hotel para uma visita próxima da capital. Agarrámos a ideia e no dia seguinte, bem cedo, fomos visitar a plantação de café onde tomámos o pequeno almoço, seguindo-se a visita à finca(quinta) café “Doka”. Acompanhámos o ciclo da plantação: desde a disposição do pé, até à colheita, continuando com o processo de lavagem e secagem. Torrar tem tempos determinados, dando sabores e aromas diferenciados. Geralmente o café é vendido em cru cabendo a torrefacção ao critério e técnicas do cliente/fornecedor. O Donald, nosso guia, chamou-nos a atenção para um pormenor: a qualidade de café que resulta de uma má formação, i.e. grosso modo o grão tem forma de meia esfera, as más formações resultam num grão esférico (oval) e geram uma quantidade de 5% da produção total. Este café só é produzido pela casa “Doka” com o nome Peaberry, com um aroma muito especial. O meu palato é pobre e não tenho sensibilidade para grandes diferenciações, gosto ou não? Questão encerrada.

O Vulcão Poas e o parque da Paz esperavam por nós. A cratera, com a sua lagoa não se deixou ver, tal era a neblina. Mas o lago Boto, deixou-se ver e não se rogou a umas fotos do varandim, donde desfrutámos a paisagem e também da companhia de dois esquilos que foram as vedetas/modelos não remunerados, para satisfação dos fotógrafos, aproveitando alguns destes, com excesso ecologista, desatar à flashada aos pobres bichos.

Almoçámos no parque da Paz, seguindo-se uma visita pelo seu interior. Este parque possui em cativeiro, aves, borboletas, repteis e felinos. Tudo isto foi mal visto, não por desinteresse, mas por uma chuva diluviana, ensopando-nos até aos ossos, tornando as cascatas que fazem parte do citado parque, concorrentes insignificantes da grandessíssima molha. Desconsolado e pingado até à alma, tomado por uma tristeza climatérica saí da Costa Rica com um amargo de boca, não real, mas resultante, do período do ano escolhido para visitar este país.

Hei-de voltar à Costa Rica para calcorrear os parques naturais, esses sim, o cartão de visita deste país e dizer aos “Ticos”... “Pura Vida”!

Nota:
“Ticos” como são chamados, pela forma como constroem os diminutivos;
“Pura Vida” expressão utilizada para: está tudo bem, é normal, gosto, adorei, fabuloso.

Alexandre Costa

Dolor
18-06-12, 22:04
Nicarágua

segunda-feira, 11 de Junho de 2012

2177

Nicarágua, um dos países de que tenho maiores expectativas.....o imaginário funciona de uma forma por vezes apaixonante, criando até uma diferente disposição....

A dúvida assaltou-nos ainda na Costa Rica......as fortes chuvadas, nomeadamente a do dia anterior, que nos deixou encharcados sem poder vislumbrar o que quer que fosse, e sem poder utilizar as máquinas fotográficas, levou-nos a decidir seguir viagem sem ir ao vulcão Arenal, um dos locais de referência ....mas seguimos, e na verdade para nossa sorte, logo que nos começámos a aproximar da fronteira, a vegetação alterou-se, o tempo melhorou, ficou mais quente e o sol surgiu...achámos que talvez tivéssemos feito uma boa opção...o Arenal terá de esperar!!!

O autocarro, que nos trouxe desde San José, confrontou-nos com uma enorme e aparentemente infindável fila de camiões ao chegar à fronteira.... pensámos que levaria horas até chegar a nossa vez...mas surpresa das surpresas, passámos à frente de todos, seguindo pela faixa contrária, levando a que gigantescos camiões fizessem nova fila, aguardando a nossa passagem.
O local a que designam de Peñas Blancas é a fronteira, possuidor de todos os serviços que se possa imaginar, numa fabulosa desorganização digna de registo, mas que funciona...barracas, muitas barracas de comida, barbeiros/cabeleireiro oficinas, farmácias, tudo o que é necessário existir num local, onde centenas de camiões aguardam passagem, por certo com estadia prolongada...
A simpatia é contagiante e, ainda que um primeiro olhar possa parecer algo duro, rapidamente se transforma num sorriso e “buenos dias” melado!!!

E que melhor local para de imediato nos habituarmos a essa realidade, do que viajar num autocarro público, que nunca tem lotação definida, e onde tudo pode ser transportado, amalgamando-se os corpos, numa espécie de milagre de multiplicação do espaço, sempre acompanhado de um sorriso e olhar cúmplice...
As opções são muitas, e todos referem San Juan del Sur,, como local a não perder, e primeiro destino de praia na costa do Pacifico, nos dizem, com boas ondas, animação, barato, nova Meca dos locais e de “back packers”.
A exemplo do que sucede em muitos dos melhores locais a visitar em todo o mundo, quando um país se abre ao turismo, são os mochileiros os primeiros a aderir, descobrindo locais fantásticos... No nosso caso e atendendo ao facto da viagem já estar estruturada anteriormente, sem qualquer referência a este local e porque nos interessava tentar chegar à Ilha de Ometepe, no Lago Nicarágua, optámos por seguir em frente....quem sabe com o dissimulado objectivo de ter um pretexto para voltar, como se começava a afigurar no meu espírito, tão agradável eram os primeiros sentimentos....

Chegámos a David, cientes que já não teríamos barco para a ilha...teríamos ainda de apanhar um triciclo para nos levar a San Jorge...pequeno porto lacustre, onde pernoitámos, não sem antes devorar um fabuloso jantar, preparado por duas sorridentes e diligentes cozinheiras de um tasco, que só nos tinha a nós como clientes...
À pergunta o que beber, a resposta fez com que me apaixonasse....que me desculpe a Rami, por esta infidelidade ao fim de tantos anos, mas a “toña” geladinha era irresistível!!!
O percurso de barco é uma maravilha....a presença dos vulcões Madera e Concepcion, como duas corcundas de um corpo que se espraia nas águas azuis do lago, no primeiro alvorecer em terras de Sandino, fez surgir a magia... fez com que me enamorasse à 1º vista...
De facto é uma ilha muito aprazível, com vários pequenos hotéis muito bem localizados, e que permite agradáveis passeios para subir os vulcões e assistir a soberbo pôr do sol....
Pena que a água do lago seja tão quente.....mas deu para matar saudades de uma banhoca!!!!!!

O regresso foi feito no ferry “Comandante Che Guevara”... nem de propósito....o ambiente estava criado!!! E lá fomos a caminho de Granada , no bus público, que, aí sim, sabe bem...com serviço de catering ( milho assado ou cozido, empanaditas, e fruta fresca)sempre que a paragem se prolonga por alguns minutos....
Chegar a Granada, é como ir de férias à Andaluzia.....não será por acaso que assim se chama....
Por certo, os primeiros colonizadores seriam dessa região em Espanha...essa atmosfera de cidade andaluz...até as caleches circulam pela cidade...tranquila, pequena, colorida, com monumentos interessantes, com a “calle calzada”, que nasce na Praça Mayor com a sua catedral, e desce para o Lago, repleta de restaurantes e esplanadas, e onde ao entardecer, com o fresco da brisa que corre vinda do lago, a música ao vivo, torna possível agradáveis momentos, acariciados pelos corpos sensuais, que dançam numa pausa da refeição.....
Tivemos a oportunidade de conhecer Donna Tabor, norte americana radicada nesta cidade, e que promove vontades, no apoio a crianças com problemas vários e no tratamento a cães abandonados/vadios.
Com o seu filho e um amigo, fomos levados ao mirador de Catarina, de onde se avista o lago formado pela cratera do vulcão, e aos “pueblos blancos”, sucessão de pequenas aldeias, cada uma com a sua característica artesanal, incluindo Niquinohomo, onde visitámos a casa onde nasceu Augusto César Sandino, que se tornou chefe da guerrilha,(representando ainda hoje em toda a América Latina um símbolo de independência face à tutela norte-americana), resistindo à invasão norte americana de 1933, assassinado pelo futuro ditador Somoza, criador de uma “dinastia familiar”, que se manteve no poder por 40 anos. Tivemos ainda tempo para dar uma olhadela ao mercado de Masaya, fazendo uma pequena viagem de autocarro, que quase pedia que empurrássemos, tal era a lentidão....mas talvez devido a isso, enorme e contagiante foi a relação que se estabeleceu, com Joselina, que passados dois sorrisos já me estava a oferecer churros, de um pacote acabadinho de comprar....e não foi essa a única prenda até ao fim da viagem....beijinhos, festas, e até uma pulseira que retirou do seu bracinho lingrinhas.....gosto...é disto que eu gosto...a Nicarágua não me estava a decepcionar....!!!!

O roteiro indicava como próxima paragem....Manágua. Como todas as capitais desta Centro América deixa muito a desejar... como beleza e monumentos a visitar... mas lá cumprimos, prontinhos para rumar a Léon.....

Chegados... e embora se mantenha a característica colonial, também aqui o nome não engana... Léon em Espanha fica mais a norte, talvez que isso tenha caracterizado a sua atitude.... pois se em Granada, a cidade é conhecida por ser mais conservadora, de grandes famílias, (Chomorro e outras), de “tierra- tenientes”, criadores de gado, já Léon sempre se afirmou como cidade da intelectualidade, liberal, de grande pendor humanista e promotora de liberdade....Núbia, uma bela índia, que conhecemos no bus público, logo se disponibilizou para mostrar a “21”, agora museu, mas anteriormente local de tortura e assassinato ás mãos dos esbirros de Somoza, último da família derrubado pela guerrilha da Frente Sandinista, em 1979... A visita ocorreu apenas no dia seguinte, mas não pude deixar de recordar tempos idos, não tão distantes, em que em Portugal, na devida proporção vivemos dias tão sombrios... contudo e essa é a grande esperança, sempre os homens souberam em algum momento dizer basta...dizer não!
Também aqui em Léon, viveu um dos “Homens” deste país, que marcou gerações e permitiu conhecer o sentir deste povo...o poeta Rubén Dário, iniciador e máximo representante do modernismo literário em língua espanhola. É possivelmente o poeta que tem tido uma maior e mais duradoura influência na poesia do século XX no âmbito hispânico. É chamado de príncipe de las letras castellanas. Visitámos a casa onde morreu... agora museu com o seu nome.

Tínhamos que seguir o nosso caminho.... a Nicarágua merece que regressemos... Núbia gostaria de nos mostrar mais....

António Herrarte

Dolor
30-06-12, 09:39
Guatemala - Civilização Maia vista por um português

segunda-feira, 25 de Junho de 2012

2572

A Guatemala merece uma visita. Descobri-la, porque não, ser seduzido(a) pela cor, pela afabilidade, pela frase sempre presente “Bien venidos”. Quiriguá(P. M.), Lago Atitlan, Tikal(P. M.), Iximché, Antigua. Mas o fervilhar de vida, cultura, religião vivido ao domingo em Chichicastenango, é imperdível. Acima de tudo, as pessoas, essas sim, matéria viva, que vale a pena registar.

Todos os lugares, onde a civilização Maia se instalou, são dignos de visita guiada. Tivemos a sorte de ter José (Guatemala) como nosso guia. Quando visitámos o Parque Nacional Tikal (P. M.), o nosso grupo era composto por um casal dos EUA, outro da Costa Rica, nós Portugueses, e Gilberto Barizon do Brasil. Mescla de Gringos, Ticos, Portugas, Brazuca e Chapine(o guia). O Gilberto Barizon, pessoa divertida, bem disposta e com uma noção de vida, para viver. O José foi debitando informação sobre esta enigmática civilização a sua ascensão, organização social, lazer, hierarquia, religião, mas também, a razão do seu declínio.

Mas não vos vou massacrar com informação civilizacional.

Vou contar o meu sentir, no domingo dia vinte e sete de Maio deste ano em Chichicastenango. O dia fazia algumas caretas, mas não impedia que as ruas estivessem repletas de feirantes a montarem os seus negócios, onde tudo se transaccionava. Pedi ao Carlos, um dos feirantes, para fotografar o seu estabelecimento improvisado. Acedeu, pedindo-me não o fizesse a ele pessoalmente. Fotografei o seu modo de vida, ficando à conversa com ele. Falámos da vida, das coisas do dia a dia, a importância dos filhos, do nosso empenho para irem mais longe. Expliquei a razão porque estava na Guatemala. No final disse-me que o podia fotografar.

Tocado pela razão da minha viagem? Não sei! Mas não fiz clique para o registo fotográfico. Trocámos um sorriso e um aperto de mão. A sua expressão foi de agradecimento, adeus Carlos. Continuei. Mais adiante um homem queria comprar milho (maiz), havia qualidades e tamanhos. Falavam em dialecto provavelmente com raízes na cultura Maia. A discussão era pacífica, mas esgrimindo ambos argumentos de ordem técnica. Um menino pediu-me uma foto, estava com a irmã. Perguntei-lhe o nome, disse-me algo, que não percebi. Fiquei sem saber o nome, mas ele sorriu quando lhe mostrei a foto com menina, ficaram os dois sorridentes.

Num monte, já um pouco afastado do bulício da feira, são feitas as cerimónias religiosas. Mistura do cristão, com cultos Maia? Com acompanhamento de um/uma Xamã. Várias pessoas vão-se deslocando para lá, fazendo suas promessas/oferendas. Uma família estava reunida com uma Xamã, praticando os seu rituais. Permitiram-nos que os fotografássemos, não perturbando. Fiz alguns registos.

A Xamã fez o seu trabalho, e todos estavam com esperança de saúde e bons negócios para todos. Estavam sorridentes. Deixei-os, pensando, o que move esta gente? Em que acreditam ? Pensei em Fátima. Nas promessas que muitos fazem e se socorrem em momentos de sofrimento, angústia, doença, sempre com o propósito de aliviar dores, e desejo de melhor vida. Afinal não somos muito diferentes dos Guatemaltecos. Quando não encontramos as soluções que gostaríamos para os nossos problemas, agarramos em algo que nos dá força e nos leve a continuar nesta luta dura, para nos mantermos vivos, com horizontes e sonhando um pouco.

Já em Panajachel, passeando nas margens do lago “Atitlan”, um jovem que vim a saber chamar-se Carlos Vielman, ia fotografando tal como eu, abeirou-se de mim, perguntou-me com tom irónico, se eu queria trocar com ele as nossas câmaras fotográficas. Sorri e retorqui-lhe.—O mais importante na fotografia, não é o equipamento, mas sentir a vida e fotografar com o coração. Trocámos endereços, falei-lhe do projecto “Olhando pelo Mundo”.

Dias depois no Facebook, o Carlos comentava as minhas palavras “Sábias”, que não são sábias, mas sim velhas. Agora vai vendo as fotos que eu e o António pomos nesta nova tecnologia a que dezenas de “amigos” têm acesso.
Éramos desconhecidos. Quem era o Carlos Vielman? E o Alexandre? Hoje comunicamos diariamente. O fascínio da fotografia, registando imagens de vida e de pessoas, com luz e com o coração.

Alexandre Costa

Dolor
24-07-12, 21:48
Belize

3222

segunda-feira, 9 de Julho de 2012

O que fazer....a Guatemala, com alguma sorte à mistura relativamente ao tempo de sol de que podemos desfrutar durante a nossa estadia, permitiu uma alargada percepção do mundo Maia...passado e actual... contudo, na véspera da nossa partida, mais parecia que alguma coisa tínhamos feito de mal, pois a chuva era tanta, que nos questionávamos se seria possível transitar por aquelas ruas e estradas como que transformadas em ribeiros!!!!
Tínhamos a referência de que, uma vez passada a fronteira para o Belize, poderíamos ficar perto de San Ignacio, num local peculiar... a Parrot Nest Lodge, para uma estadia em quartos construídos no cimo das árvores. Esta povoação fica junto ao rio Mopan e a vários sítios arqueológicos, nomeadamente Xunantunich e Cahal Pech.

Contudo e porque continuava a chover, achámos que não seria conveniente fazer essa paragem... não teríamos qualquer hipótese de fazer o que quer que fosse... e para ter de nadar, melhor rumar à capital e aguardar....
A caminho e entre conversa de circunstância com a parceira de viagem, foi-me dito que a capital nada tinha de interessante, a menos que estivéssemos interessados em alguns bares e fazer a visita ao centro administrativo do país....
De acordo com a opinião dos presentes, melhor seria rumar a uma das muitas ilhas (Caye)... e esperar que junto ao mar estivesse melhor.... Assim fizemos... Ficará para próxima oportunidade a estadia em hotel casa na árvore.....o autocarro acabou o seu percurso junto ao cais do ferry e, motivados pela descrição, optamos por Caye Caulker.

A informação é que seria mais informal que San Pedro, a “Isla Bonita” da canção de Madona, mais barato , e teria praia estupenda......
Não foi de todo desajustada a ideia, pois, ao afastarmo-nos de Belize City, o tempo de facto melhorou.... e quando chegámos a Caye Caulker já tínhamos sol, para poder correr de seguida para a praia... Não foi preciso... Na ilha, dada a sua dimensão (no que é a área possível de ser utilizada, pois o resto é mangal) a praia é já ali... É uma ínfima parte da sua superfície, e é agora o destino preferido de backpakers, um pouco à imagem do que sucede onde estivemos no Panamá...
Sendo um destino preferido por backpackers, tem um ambiente de facto informal, com pequenos restaurantes, bares, muita música, ruas de areia e muitas e variadas “guest houses” ....quase todos à beira mar, pois a língua de areia é de uma largura reduzida....com palmeiras a bordejar o mar...

O pequeno hotel, com meia dúzia de quartos, por nós escolhido, era mesmo em cima da praia... só que a praia, não tinha mais de 100 metros de uma espécie de molhe, onde apenas com a maré vazia, existia areia para aceder ao mar... com a maré cheia entrava-se directamente da rua de areia para dentro de água ... o pequeno molhe dava para colocar as toalhas... os que estávamos nos “hotéis” à beira mar tínhamos ainda à disposição plataformas, com cadeiras e redes, onde nos podíamos estirar, entre cada um dos banhos, que por natureza eram muito longos, tão quente era a água. Claro que nem pensar em ondulação... a barreira formada pelo recife de coral, que parece ser a mais extensa do mundo, faz com que o mar tenha um aspecto de uma banheira... enorme, de fundo branco e translúcido e que vai mudando gradualmente de cor, conforme a profundidade, mas com o verde dominante.

Esta era a praia, não como a idealizava-mos numa ilha, mas com um mar esmeralda lindíssimo, quente, e um sol que rapidamente se tornou escaldante... a chuva tinha ido embora!!!!

Não havia muito a fazer... estar dentro de água, nadar, descansar, nadar....beber uma cervejita gelada, e ir comer.....peixe que era apanhado ali mesmo...e voltar a ir para a água na vã esperança de refrescar... Só ao fim do dia, com a chegada da noite, uma brisa, vinda do mar, fazia ondular as palmeiras e refrescava um pouco o ambiente, permitindo desfrutar de uma agradável música e de mais uma cervejinha gelada.

E seriam assim todos os dias, não fora o caso de a chuva ter decidido vir a banhos, e ao fim de mais um dia de intenso sol, transformar totalmente a paisagem, entrando a noite com uma formidável tempestade, com todos os ingredientes... vento , relâmpagos, trovões e muita, muita chuva, e calor!!!!!

Noite dentro, não deixou de ser um espectáculo fabuloso , ouvir o mar, que embora mantendo a pequena ondulação, estava um pouco mais ruidoso, o barulho das palmeiras agora gingando de uma forma frenética e a luz constante, fruto dos relâmpagos, que permitia ver o esmeralda do mar e o branco da areia no seu fundo... sempre com o verde esmeralda a tomar conta daquela imensidão...

Tão intensa era a tempestade, que nos assaltou a preocupação de quantos dias teríamos de ficar ali, até que nos fosse possível apanhar o barco para Chetumal, no México, não sem antes passar por San Pedro... para deixar passageiros provenientes da capital e apanhar outros rumo à fronteira... essa tinha sido a nossa opção para chegar ao próximo destino... ir por barco e evitar voltar à capital, para fazer um percurso por terra mais longo e por certo mais saturante em termos paisagísticos, já que, à nossa chegada ao aproximar-nos do mar, tudo era uma espécie de charneca, pantanosa....

Tal não aconteceu e, já com o Sol a despontar, a tempestade amainou e a chuva passou a ser uma ”espécie de molha tolos”... que sem dúvida nenhuma éramos nós, pois deve ter sido isso que hordas de melgas pensaram por certo daqueles dois “portugas”, que não tinham para onde escapar, cada vez que se abria a porta, e elas aproveitavam para nos sugar tanto quanto podiam... uma espécie de pequeno almoço buffet... pernas, braços, orelhas, cabeça, peito, costas... nem as calças e camisa o impediam...

Assim, foi agarrar nas mochilas e correr para o cais do ferry... e esperar que o mesmo partisse o mais depressa possível....

Não que o Belize não mereça uma visita... especialmente para os amantes das actividades subaquáticas.....pois muitas e diferentes serão por certo as ilhas que constituem este rendilhado a pontuar o Mar do Caribe...

Ficou um vislumbre de como é bom este “quente” ambiente caribenho!

António Herrarte

Dolor
03-12-12, 19:32
México - San Juan Chamula

8805

sábado, 25 de Agosto de 2012

Não vou falar da civilização Maia ou Azteca, nem tão pouco da Riviera Maia ou de estâncias de veraneio; não falarei da revolta no Estado de Chiapas, dos raides aéreos, das mortes que esta rebelião causou, nem da liderança do sub-comandante Marcos, pedindo um pouco para este povo - o direito a uma vida mais digna. San Cristóbal de las Casas foi o cenário desta tragédia.

Bem perto de San Cristóbal fica San Juan Chamula.

Neste pueblo, fotografias a pessoas estavam proibidas. Se o fizéssemos, estávamos por nossa conta e risco. Fotografias de paisagem tudo bem! Resumindo, teria que ter muitas cautelas, embora esta proibição tenha fronteiras difíceis de definir, ficando eu com o espaço para fotografar balizado pelo bom senso e respeito pela cultura, hábitos, crenças de um povo que, apesar de tudo, abria as suas portas para me receber.

Vou usar a imaginação como câmara fotográfica.

A 25 de Agosto, comemora-se o dia de Santa Rosa. Não se nota grande movimento festivo. Pelas ruas de San Juan Chamula, alguns comerciantes vendiam vários artigos de artesanato, bolsas para dinheiro, para telemóveis, postais ilustrados, mas predominava a fruta - mangas, peras abacate, ananás, nopales (folha de cacto, sem pele e picos, ingrediente para fazer omeletas e outros pratos regionais). Encheram-me o olho fotográfico as melancias descascadas, bem vermelhas, apelando a quem passava: - Compre-me e mate a sede!

Um som misto de clarim e trompete chegava aos meus ouvidos. Também a batida de um tambor entra nesta sinfonia ou cacofonia – sou surpreendido por um grupo de cerca de umas vinte pessoas vestidas de diversas formas que concluí serem trajos tradicionais. Uma vestia uma capa negra, de pêlo comprido (não sei se o homem se parecia com um urso, se o urso se transmutava em homem). Outra, com chapéu de palha com umas fitas de cor: a camisa tinha uns bordados e uma cinta segurava uns calções que mais pareciam um saco com duas aberturas para poderem ser vestidos. Não faltavam as sandálias bem artesanais, todas. O grupo seguia em fila indiana tocando viola, clarim, pandeiretas, tambores, etc. Nesta procissão, dirigiram-se para a entrada da igreja. Fui informado de que não poderia entrar com máquina fotográfica. Ficou arrumada num saco de plástico negro. Aguardámos a entrada dos religiosos orando com pandeireta e afins. Espanto meu! A igreja não tinha assentos. Como e onde oravam os crentes? Havia no ambiente uma névoa resultante do fumo das velas que iam sendo colocadas no chão, todo repleto de uma caruma verde, fresca e cheirosa, que era afastada para dar lugar às velas. O chão, no passado, era de madeira, mas um incêndio levou à sua substituição por mosaicos. Sentados ou ajoelhados no chão, punham garrafas de coca cola e outras bebidas (o guia informou-nos ser álcool), que iam ingerindo, e deixando parte para os santos a quem faziam as suas preces. Cinco faixas, brancas e rosa, presas ao tecto e paredes tendo a forma de V invertido, simbolizavam as montanhas que circundam San Juan Chamula.

Nas suas celebrações religiosas, os forasteiros são tolerados. Encostados às paredes, dezenas de oratórios com cerca de dois metros de altura e uma largura que não excedia um metro; cada um com seu santo dentro, com as decorações e vestimentas apropriadas às circunstâncias. As cores, essas variavam do branco ao roxo e de acordo com o respectivo santo. Mas, algo me chamou a atenção, pois não tenho ideia de alguma vez ter visto, na zona entre a barriga e o peito, um espelho contornado com rendas… Porquê? O momento e o lugar impunham respeito e silêncio, mas a curiosidade falou mais alto e fui procurar resposta. Abordei um crente, num diálogo com o meu portinhol e o seu castelhano misturado com o dialecto chiapa. Respondeu à minha curiosidade. – “Quando estamos orando, ou simplesmente olhando para o santo, pensamentos passam pela nossa cabeça: o bem, o mal, a generosidade, a inveja, tudo o que o ser humano arrasta consigo. O espelho é para que tudo isso se reflicta em nós!”. Não sendo crente, vi nisto uma lição de vida. Quando tomamos alguma atitude, pomo-nos do outro lado, para sentirmos o efeito das nossas decisões?

Nota: San Cristobal de Las Casas, dista de San Juan Chamula dez quilómetros. Este povo pertence ao grupo étnico Tzotzil, são cerca de oitenta mil pessoas, orgulham-se da sua independência. Têm práticas religiosas únicas.

Alexandre Costa

Dolor
03-12-12, 19:37
Uma grande alegria voltar a receber notícias do Alexandre, agora na companhia do Álvaro Barcelos, que conhecemos em Ushuaia, percorrendo a América por todos os seus quadrantes.

Como sempre, muita sensibilidade nos seus relatos.

Aproveitem!

Dolor
03-12-12, 19:41
10 pesos

8808

terça-feira, 28 de Agosto de 2012

Se estabelecermos um paralelismo entre a Cidade do México e Lisboa, falaremos de megalopolis e micropolis. Do Metro diremos metro e centímetro!

Não se faz uma viagem de Metro na Cidade do México sem que nos sejam apresentados pelo menos 10 produtos diferentes ou semelhantes, mesmo numa viagem curta; mas com deontologia, cada marketeer (dos 7 anos em diante) apresenta à vez o seu produto na mesma carruagem! Por vezes assistimos a verdadeiras aulas de marketing e representação. Os preços dos produtos raramente excedem 10 pesos (€ 0,60).

Vendem CD’s (da música clássica à popular), carteiras à prova de ladrão, batons, pasta de dentes, canetas e cadernos escolares, ventoinhas portáteis, memórias USB, leques, balões, guarda-chuvas, bonés, etc., etc. Os pregões são feitos com amplificadores portáteis com um som altíssimo, tal como permitem as actuais tecnologias.

Também se mendiga, mas muito pontualmente para a dimensão da rede.

Muito mais se passa nos trajectos do metro: é como se se passasse do pijama ao traje de noite, tal o engenho das transformações mesmo à nossa frente e perante balanços e travagens incríveis: maquilhagem completa (olhos, pestanas, rimel, retorcer pestanas, baton, etc.) tudo com uma agilidade e arte inimagináveis. E ainda há lugar à troca de sapatos! Ah e também refeições: iogurtes, frutas, coca cola, imensa coca cola. Aquele amor inevitável pelo consumo do grande vizinho...

Muitos lêem, dormem ou observam como eu.

Segundo um taxista, e eles sabem sempre tudo sobre tudo, alguns habitantes da Cidade do México levam 3 h para chegar ao emprego.
Para esta enorme metrópole com 21 milhões de habitantes, a rede de Metro é extraordinariamente bem organizada e vasta. São mais de 10 linhas, devidamente identificadas com cores, nomes e belos ícones, com centenas de estações. Cada estação tem zonas reservadas ao sexo feminino e pessoas idosas. No entanto, nem toda a gente parece dar importância a tal situação, excepto em horas de ponta.
Allende, Garibaldi, Indios Verdes, Universidad, San Antonio, La Raza, Pino Suárez, Sevilla, Tacuba, Moctezuma, Tasqueña, Etiopia, Chapultepec, Guerrero, Talismán, Tlatelolco, Insurgentes, Barranca del Muerto, Zapata, Revolución, Zócalo, Salto del Agua, Niños Heroes, Coyoacán,... alguns dos belos nomes das estações.

Álvaro Barcelos

Dolor
03-12-12, 19:56
Fico pensando com os meus botões, se um bilhete para o metro da Cidade do México, com uma vasta rede, custa menos de U$1,00, por que em São Paulo custa U$1,50?

De certo porque somos milionários!

Dolor
03-12-12, 22:38
Azul, Azul

8853

sexta-feira, 31 de Agosto de 2012

Azul, como o céu na maior cidade do planeta.

Nesse dia, uma 4ªfeira, fomos visitar as monumentais ruínas de Teotihucán, a 50km do centro. No programa delineado, estava ainda uma visita a Coyoacán.

As ruínas aztecas revelaram-se extraordinárias: pirâmide do Sol e da Lua, Calçada dos Mortos, Cidadela, Templo de Quetzalcóatl e muito mais, numa extensão inimaginável à partida (2 km só a Calçada dos Mortos) - portanto, ruínas com uma área visitável fora de comum.

Viajámos normalmente em transportes públicos, o que nos permitia permanecer o tempo necessário para fotografar e contemplar a gosto.

Como nos demorámos mais que do que imaginávamos, quando regressámos à Cidade do México, já só dava para incluir uma breve visita a Coyoacán. Autocarro de carreira e mais 15 estações de Metro nos separavam. Apesar de considerarmos que deveríamos voltar noutro dia, resolvemos fazer o reconhecimento que nos facilitaria a futura visita.

Mas a fome apertava!

Para além do pequeno almoço, só um granizado de tamarindo: raspa de gelo com concentrado deste fruto.

Quando chegámos a Coyoacán a fome era tanta que não resistimos a entrar, de imediato, num moderno Centro Comercial.

O que nos levava a Coyoacán? A Casa Azul de Frida Kahlo, a casa Trotsky e uma arquitectura colonial espanhola bem preservada.

Ao chegarmos à Casa Azul deparámo-nos com uma aglomeração, pouco usual para uma hora de fecho. A casa museu fechava no horário, mas reabriria pela 19h por ser 4ªfeira. O mesmo para a casa Trotsky. Como viajantes tentamos não programar museus à 2ªfeira, mas aberturas tardias não esperávamos. Persistência.... e sorte!

Este breve intervalo ainda nos permitiu um rápido olhar pela bela Coyoacán, cheia de igrejas e edifícios coloniais, com belas cores saturadas.

Por acaso ou pelo desejo e cheiro, chegámos ao melhor e mais interessante café que encontrámos no México. Neste café de esquina, torrava-se, moía-se, confeccionava-se e bebia-se um óptimo café, sentados em bancos, tipo jardim, existentes no passeio.

Ainda deu tempo para visitar o animado centro histórico e a Casa-Museu Léon Trotsky.

Trotsky, ideólogo e activista comunista, exilado no México, viveu inicialmente na Casa Azul, tendo posteriormente habitado esta casa, hoje Museu. Visitá-la foi emocionante, face ao “congelamento” dos espaços, objectos e memórias aí contidos.
Mais e melhor, a Casa Azul ia ser habitada de novo pela sua personagem principal - Frida, maravilhosamente interpretada pela actriz María Elva Zermeño. A actriz percorreu os espaços mais emblemáticos da casa e jardins, pontuando a vida e amores de Frida* , Diego**, e outros, com música do folclore mexicano. Começou com LLorona!
Tarde, após um copo de mescal, abandonámos a Casa Azul e Coyoacán...

Notas:
* Frida Kahlo (1907-1954), artista multifacetada. Pintou angustiantes auto-retratos e imagens surrealistas.
** Diego Rivera (1885-1957), artista multifacetado. Muralista famoso da pós-revolução mexicana.

Álvaro Barcelos

Dolor
04-12-12, 16:52
Entre Querétaro e Mazatlán

8864

sábado, 8 de Setembro de 2012

O contacto com o grupo de “Forcados Amadores de Mazatlán”, em Alcochete, levou- nos a visitá-los aquando da nossa passagem pelo México. Primeiro, em Querétaro e depois em Mazatlán. Não consigo descrever como o Álvaro e eu fomos recebidos e tratados.

O carinho e amizade, com que falam de Alcochete, é enternecedor. Falam desta nossa terra como sendo sua. Para descrever os dias passados com eles, seriam necessárias algumas páginas.
Ao Arturo, Fernando, Alfredo, Alejandre, René e Noel e seus familiares, deixo três frases:

Arturo: “A vida é a arte do encontro” (Apesar dos desencontros da vida – acrescento eu);

René (Cabo do Grupo de Forcados de Mazatlán): “Se fizer por vós, metade do que nos fazem os Alcochetanos, fico feliz”;

Alexandre: “A amizade é a minha bandeira”.

Nada disto teria sido possível, se não fosse a colaboração da Câmara Municipal de Alcochete, do Grupo de Forcados Amadores do Aposento do Barrete Verde e do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete.

Alexandre Costa

Dolor
05-12-12, 10:39
Zion, Bryce

8945

quinta-feira, 13 de Setembro de 2012

Estes belíssimos parques do Utah permanecem um pouco subvalorizados, face à dimensão e importância do Grand Canyon e do Yosemite. Talvez em dimensão, mas não em beleza!

O Zion National Park visita-se junto à linha de água, na parte inferior do desfiladeiro; o Bryce Canyon apresenta-se em todo o seu esplendor quando se visita pelas cristas montanhosas.

O primeiro resulta da erosão do rio Virgin, e respectivo sistema, cujo caudal é balizado por altos rochedos, por vezes a curta distância (6 m). O Bryce, apesar de se chamar “canyon”, tecnicamente não devia ser, pois a sua génese não resulta da erosão provocada por um rio, mas sim do forte efeito provocado pela chuva, gelo e ventos ao longo de milhões de anos.

Ambos pertencem ao sistema do rio Colorado encontrando-se na sua vasta área de influência.

Quando se visitam em sequência, uma vez que distam aproximadamente 125 quilómetros, não há exclamação mais óbvia, do que: O que mais nos espera! Como é possível tal diversidade e beleza a tão curta distância!

O que fascina em cada um destes parques:

O Zion NP impressiona pela altura do desfiladeiro (muitas vezes superior a 1500 m), pela beleza das enormes formas rochosas esculpidas pelos elementos naturais (praça dos patriarcas, o grande trono branco, a rocha que choraminga, o templo de Sinawava, etc), pelos belos percursos com dificuldades várias, como a subida/descida do rio Virgin, leito escavado ao longo de 25 ou mais quilómetros. Este percurso é feito quase sempre atravessando o rio em ziguezague, com banhos obrigatórios em águas geladas. O caminho é o rio! Rafting, canoying, kayaking são actividades comuns neste parque. O trekking ao Observatório (6 quilómetros com um desnível de mais de 600 m) é de uma enorme beleza. No percurso atravessa-se o Echo Canyon com quedas de água onde os veados vêm matar a sede. Por tal motivo, é chamado, vulgarmente, armadilha de veados. No seu ponto mais elevado (cerca de 2000 m), podemos admirar o parque em toda a sua extensão.

Ao pôr-do-sol este panorama é magnífico!

O Bryce Canyon, ao primeiro relance, é de pura estupefacção e fascínio: uma floresta de pináculos e castelos rochosos entre o laranja e o vermelho (The Hoodoos) que desafiam a imaginação. Chegamos a pensar se não estaremos noutro planeta! Parece que o escultor universal usou como modelos a acrópole, Partenon e cariátides incluídas, colunas de templos egípcios ou mesmo algumas esculturas barrocas. Devido à erosão contínua, arcos darão lugar a pináculos e agulhas desaparecerão, tal o dinamismo do sistema! Uma espécie de Capadócia vermelha...Ao pôr-do-sol estas formas mágicas revelam uma transparência inesquecível! O trekking que fizemos é considerado o mais belo de pequena rota: Queens garden + Navajo loop, 4,5 quilómetros culminando numa subida íngreme entre altíssimas paredes rochosas a que chamam acertadamente Wall Street.

Com esta crónica pretendo prestar humilde homenagem aos belíssimos parques norte-americanos manifestando o desejo de voltar um dia!

Álvaro Barcelos

Dolor
06-12-12, 22:12
Por correio ou pessoalmente?

9070

sexta-feira, 21 de Setembro de 2012

Tinha comprado postais e selos. A escrita estava feita, só faltava colocá-los no marco do correio. – “Ponho-os na fronteira de Tijuana!” – pensei!

A fila era imensa e nós lá íamos andando a passo de caracol. Passa por nós um polícia de fronteira, de nacionalidade Estado Unidense, levando um individuo algemado, para o entregar a um polícia Mexicano. Achei insólito. Parecia a entrega de mercadoria despachada pela UPS (empresa transportadora de mercadorias). Não havia posto fronteiriço Mexicano, mas somente a fronteira dos EUA. O guarda achou esquisito que eu entrasse a pé e questionou-me? Respondi-lhe que aos 67 anos não vinha trabalhar para o seu país, estava a passear. Com um encolher de ombros mandou-me passar.

Tínhamos um encontro marcado na fronteira de San Diego, no Mac Donalds. Estávamos a tentar localizar o restaurante, quando uma senhora se lança nos braços do Álvaro, com a alegria dos bons encontros - a sua prima Margarida que nos levou para casa onde ficámos principescamente alojados.

A Margarida, Hal, Manuel Nunes, Zélinha e família trataram-me como se fosse um deles, um ente querido, muito chegado. O meu eterno obrigado. Levaram-nos a conhecer vários locais, que registámos fotograficamente e que farão parte do nosso livro, por duas razões: pela beleza dos locais em si e como forma de agradecer, a quem optando por outro país, não esquece e perpetua a nossa maneira de receber. Uma das coisas boas, entre muitas, que nos distingue e faz com que sejamos Portugueses....

Com tudo isto os postais serão entregues por mão própria quando regressar....

Alexandre Costa

Dolor
08-12-12, 08:44
Passeando em Vancouver

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sábado, 24 de Novembro de 2012

O comboio levou-nos a Vancouver. Os Estados Unidos da América ficaram para trás, mas a ele voltaremos, em breve, e aos seus parques naturais.

Vancouver é uma cidade onde me sinto bem, onde se respira um ar leve, onde a alegria de viver anda de mãos dadas com um passado não muito remoto, mas não renegando as origens.

No Hosteling International, na Granville Street, tivemos o nosso porto de abrigo nesta cidade. Partimos à sua descoberta: Water Street, iluminada a gás; na esquina das ruas Water e Cambie, o relógio a vapor, do século XIX, lembra a sua existência de 15 em 15 minutos, aproveitando os passeantes para o registo fotográfico junto deste marco histórico da relojoaria; Jack Gastown, marinheiro inglês que, em 1867, abriu um bar na Carrall Street está imortalizado numa estátua em bronze, sobre um barril que marca a sua área de negócio; o Museu de Antropologia, os Tótemes no seu exterior, mas também no interior do Grande Salão; o Corvo e os Primeiros Homens, trabalho escultórico de Bill Reid; os jardins, os parques, a praia e o mar.

O som de fundo é nos dado pelos acordes do “Vancouver International Jazz Festival”. Foi ao som destes que partimos para “Beautiful British Columbia”.

Os Parque Naturais esperavam-nos. Entre eles Yoho National Park, Banff National Park e Jasper National Park.


Alexandre Costa

Dolor
08-12-12, 19:11
Continuar a viajar....

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segunda-feira, 26 de Novembro de 2012

O Alaska e a cidade de Anchorage, onde chegámos de avião, contingência de longa viagem com alguns percalços pelo meio, eram o ponto limite do nosso projecto.

Verão com temperaturas baixas, rondando os dez graus centigrados. Sinto a falta do nosso sol.

“Parque Natural Denali”, nosso destino mais a Norte. Chuva intensa e frio, limita-nos o horizonte deixando a amargura das fotos por fazer. Onde está a luz, matéria prima de uma boa foto?

Partimos para Seward, o dia sorriu-nos um pouco. Passeio de barco durante um dia no “Parque Nacional Kenai Fjords”, viagem que nos levou até ao Glaciar “Harding Icefield”. Durante o percurso partilhámos, à distancia, a companhia de leões marinhos e baleias deixando-se fotografar, assumindo a postura de modelos não contratados, mesmo assim simpáticos.

“Alaska Native Heritage Center”- neste museu são contados e demonstrados hábitos de vida, trabalho, jogos e danças dos nativos do Alaska. Memórias nem sempre lembradas pelas mais nobres razões.

Esta viagem foi longa. Durante dez meses vivi intensamente. Tal como escrevi na segunda crónica, “...a maior viagem será ao interior de mim...” e é certo que o foi, sem qualquer margem para dúvida.

Como a sede de conhecer não se extinguiu, vou continuar a viajar dentro e fora de mim...


Alexandre Costa