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Dolor
09-01-13, 16:06
Numa manhã ensolarada e calorenta em São José do Rio Preto/SP, comecei a sobrepor na minha motoneta, malas e acessórios que comigo carrego. Totalmente decidido a explorar mais algumas atrações mineiras, meu objetivo era chegar a São Roque de Minas, maior cidade da região da Serra da Canastra e distante aproximadamente 500 quilômetros de onde eu estava.

Como todo dia é dia de aprendizado, logo às oito horas da manhã ao pegar as malas laterais da moto senti uma forte dor na base da coluna, na região lombar. Os 30 anos cobram seu preço e sim, uma má postura ao lidar com os pesos da motocicleta e seus acessórios podem sim interromper ou ao menos exigir uma parada durante uma viagem. O ideal é sempre flexionarmos as pernas ao agachar para pegar malas ou até mesmo levantar a moto após uma queda, mantendo a coluna reta. No meu caso o descuido me custou sofrimento e muita dificuldade em sentar e saltar da motoneta. Sim, se formos atentos e seguirmos o rigorismo semântico do nosso Código de Trânsito Brasileiro, o que eu estou pilotando é uma motoneta e não uma motocicleta. A diferença está na posição sentada da motoneta e na posição montada de motocicleta.

Procuro posto na saída, abasteço, paro num caixa eletrônico para sacar uns trocados já pensando que na diminuta cidade para a qual eu me dirigia não estaria disponível tal tecnologia. Pelo que pesquisei, São Roque de Minas tem menos de sete mil habitantes.

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Moto na estrada, tudo dentro do padrão mínimo das rodovias brasileiras apesar de estar no estado de São Paulo, que sempre me deixou a percepção de ser detentor das melhores rodovias, até que após passar por Barretos, entro para a direita na Rodovia Prefeito Fábio Talarico. Esse Sr. foi vereador em 2 legislaturas e presidente da Câmara em 2 períodos, e também Vice Prefeito. Foi eleito Prefeito no dia 1º de fevereiro de 1983 no município de Guaíra, mais ao norte de Barretos e por onde passa a rodovia. Se meu nome fosse dado a uma estrada como essa eu realmente iria sentir-me ofendido e solicitaria a mudança dele. A estrada não tem buracos, é ao contrário, ela é o próprio buraco com alguns raros centímetros de asfalto e sem acostamento. Minha motoneta, com pneus de perfis baixos, carregada e aros 16, realmente não foi feita para aquela estrada e por isso minha velocidade quando muito alta chegava a 40 quilômetros por hora.

Depois do martírio na estrada, a única atração do caminho foram os lagos formados pela represa de Furnas já em Minas Gerais. Abasteci em Piumhi e segui, chegando ainda à tarde em São Roque. Hospedei-me na primeira e melhor pousada da cidade. Procurar hotel cansado e torrando de calor é o mesmo que ir ao restaurante ou mercado morrendo de fome. Vi uma piscina e decidi na hora que era ali mesmo que ia ficar.

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A pousada ficava na entrada do caminho para a subida do Parque Nacional da Serra da Canastra. Nem mesmo tirei a bagagem da moto e resolvi me aventurar serra a cima. No caminho me arrependi da pressa, pois havia lama e a subida era realmente forte e com pedras, chegando a 1.200 metros de altitude, onde se encontra a chamada nascente histórica, a qual por muito tempo se pensou ser a nascente real. Conhecido como rio da unidade nacional, que em sua primeira queda despenca de uma escarpa da serra de 186 metros de altura formando a Cachoeira Casca D´Anta e percorrendo mais de 3.000 Km banhando cinco estado do Brasil e desaguando no mar entre Alagoas e Sergipe. Tal cachoeira seria meu atrativo do dia seguinte.

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Depois de voltar do passeio off road, claro que fui para a piscina, uma sauna quentinha para relaxar, papo com alguns hóspedes, banho e peguei a moto para dar uma volta no centro da cidadezinha à noite. Encontrei um casal de amigos que estavam hospedados na mesma pousada e ficamos sentado num barzinho no entorno da praça que claro fica na frente da igreja e é isso ai o atrativo de sábado à noite por lá. Cervejinha e uns espetinhos.

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Depois da boa noite de sono, café repleto de frutas, energias recarregadas, moto ainda carregada, pois assim ela passou a noite na rua, sem preocupações, acelerei em direção a base da Cachoeira Casca D’anta. Foram 40 quilômetros intermináveis de muita poeira, estrada de terra seca e aceleração forte, pois meu objetivo era no mesmo dia chegar a Brumadinho. Essa cachoeira é a maior de todo o Rio São Francisco, com 186 metros de queda, e muito interessante pois eu estive na foz do mesmo rio, em Alagoas, quando rodei de moto pelo nordeste e realmente é um rio muito extenso com 2.863 quilômetros, cruzando vários estados.

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Algumas paradas para fotos das escarpas da serra com um visual maravilhoso, chego na portaria onde pago seis reais de ingresso e deixo a moto carregada e com capacete sobre as malas. Faço uma rápida caminhada e antes mesmo de avistar a queda já sentia o frescor, o som e o cheiro da água caindo e velocidade. Foi animador, e extremamente gratificante encontrar a cachoeira. Maravilhosa, enorme, gelada, impossível resisitir a um banho no seu poço, onde fiquei algum tempo boiando olhando para cima e curtindo a vertiginosa visão dos 186 metros de queda, aliados ao estrondoso som do impacto com a água.

Voltando para a pousada curti bastante a pilotagem em alguns trechos onde foi possível acelerar na estrada de terra a 90 quilômetros por hora. A Citycom tem se mostrado muito valente e eu muito empolgado no uso off road. Na pousada tomei banho, vesti o equipamento completo e peguei estrada em direção a Brumadinho, distante 310 quilômetros, onde cheguei à noite e os relatos da minha estadia estão no post anterior.

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Certamente deixei para trás um atrativo da Serra da Canastra, que seria percorrer todo o alto da serra, com a moto descarregada, curtindo a paisagem do chapadão, já que a nascente do rio em sí não tem nada de atrativo que não seja o marco ou a história. Ter feito todo esse trajeto de mais de 110 quilômetros por estradas de terra com toda carga na moto também causou desconforto na pilotagem e com uma meia hora a mais eu teria retirado tudo e colocado de volta, mas a preguiça não deixou. Sinais de exaustão, dor, calor, impaciência afloram.

Por Márcio Silveira em 05/01/2013

Jacob Bussmann Filho
09-01-13, 16:43
Bela viagem, belas paisagens, Minas tem lugares maravilhosos, parabéns pelas fotos e narrativa, boas estradas, abraço
FC Jacob

Elton
09-01-13, 17:50
Gostei do aproveitamento de espaco na motoneta. Legal viajar com economia! :)