Página 1 de 9 123 ... ÚltimoÚltimo
Resultados 1 a 10 de 85
  1. #1
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728

    No Vento com o Sonho

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         01.jpg
Visualizações:	242
Tamanho: 	41,6 KB
ID:      	3434

    Prefácio

    Bem, finalmente aconteceu aquilo que vinha sendo prorrogado já não sei há quanto tempo e pelas mais variadas razões, entre as quais destaco a preguiça e principalmente a inspiração, é que este encontro foi sendo postergado.

    Momento desejado, aguardado, porém nunca realizado, talvez represente o passo decisivo para que esta nossa ligação se torne mais íntima, mais intensa e principalmente mais frequente.

    Da minha parte vou caprichar para que tal aconteça e mesmo que lutando contra as razões já apontadas, o contato já está feito, foi gostoso e, de agora em diante, já que nossa relação começou, não há mais o que esconder, até porque a partir de hoje torna-se pública.

    Penso que nos tornaremos grandes amigos e porque não dizer íntimos e confidentes, uma vez que será através desta relação que conseguirei conversar e contatar com um Universo que me cerca, que sei existir, que consigo tocar, e que pela alquimia das suas formas, conseguirei ser tocado.

    Não nos afastaremos nem um minuto sequer por estes próximos meses!

    Diuturnamente estaremos juntos, mesmo que por vezes, por longas horas não nos toquemos, toda a minha atenção, toda minha energia estará voltada para os momentos em que a sós, tomarás conhecimento da minh’alma e, juntos, a levaremos para dentro dos corações daqueles que, em querendo nos conhecer um pouquinho, estarão abertos para receberem todo este bombardeio de positividades, de amor e de vida, que a partir de hoje, compartilharemos.

    Obrigado por teres me aguardado tanto tempo, por teres sido paciente e por permitires que te use como um instrumento maravilhoso de comunicação. Por estas tuas formas delicadas, sinuosas e silenciosas, estarei podendo, a partir de hoje, pela magia dos novos tempos, navegar.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         1_18_11_08_10_57_25_3.jpg
Visualizações:	185
Tamanho: 	75,1 KB
ID:      	3433

    Ah! e como navegaremos, MEU TECLADO.

    E para começar, nada melhor do que se falar de sonhos. De sonhos doces, sonhados ao longo de uma existência e que hoje, impulsionados pelo vento, força maravilhosa da natureza, que com sua capacidade de ir e vir, de levar e de trazer, nos seduz, nos amedronta, nos encanta e, que em batendo, acaricia, impulsionando nossos pensamentos, desejos e sonhos de liberdade para onde eles nos permitirem.

    E neste vento os levaremos.

    Impulsionados por ele, orientados pelo teclado e guiados por estes sonhos, é que nos lançamos numa aventura maior, iniciada nesta quarta-feira, dia 26 de fevereiro deste ano de 2003, em Itajaí - SC, tendo como destino final o estado do Alasca, no extremo norte do continente Norte Americano.

    Depois de todo o amadurecimento e preparação para que esta aventura passasse a coabitar nossa rotina, finalmente chegou o dia, ou melhor, chegou a semana da contagem regressiva e, obviamente junto com ela, o momento das despedidas, e antes das delas, da avaliação de tudo aquilo que fizemos nos nossos quase trinta anos de casamento, de convivência, dos negócios, e finalmente, da Família, da nossa Família, dos nossos filhos, das suas novas vidas hoje compartilhadas por aqueles que seus leitos dividem, até chegarmos a nossa já terceira geração, representada pelo nosso neto.

    São avaliações evidentemente feitas em cima já dos frutos que, pela generosidade de Deus, são saudáveis, perfumados e saborosos.

    Sim e como são saborosos!

    E que esta benção divina que entrou em nossa casa, nos completando, nos alimentando e nos enchendo de alegria e de paz perdure para sempre.

    Bem, agora já começamos nossa viagem, e junto com vocês, plugados por este mundo de Deus afora, nos apoiando e nos incentivando, estarão vivendo conosco, nosso desafio maior que é o de estarmos juntos, em nossa moto,
    NO VENTO COM O SONHO.

    Boa viagem.
    Dolor e Ângela
    Última edição por Dolor; 01-08-12 às 17:16.

  2. #2
    Data de Ingresso
    Jul 2011
    Localização
    Itajaí, Brazil
    Posts
    412
    Dolor, com certeza esta experiência sua e da Angela tem muito a contribuir a todos os Grandes Caciques, Caciques e a todos sonhadores que apenas querem este sonho. Mas todos podem conquistá-lo!

  3. #3
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728

    Capítulo 2 - Primeiros Ventos

    Capítulo 2 - Primeiros Ventos

    Com as primeiras lágrimas sendo secadas pelo teclado, nosso novo companheiro de viagem,
    oriundas das despedidas junto aos nossos funcionários, que nos encheram de boas vibrações e bênçãos,
    foi a vez dos últimos abraços e beijos dos filhos, do neto, das mães e dos amigos.

    Foram momentos que já estão impressos em nossos corações para sempre!

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC00792.jpg
Visualizações:	238
Tamanho: 	101,4 KB
ID:      	3435

    São ondas de energia positiva, que várias vezes por dia nos invadem de forma "energizante" e tenra.

    Este almoço, de certa forma, foi diferente dos almoços festivos de todos os dias, porque se sentia nos gestos,
    movimentos e risos, a carga emotiva que aquele encontro proporcionava.

    Tem sido para a Ângela e para mim, os melhores momentos de todos os dias.

    Aguardamos a hora do almoço, sempre com a ganância de não se perder nem um minuto na chegada,
    para podermos aproveitar todos os segundos destas festas diárias, em que se tornaram os nossos almoços.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC00779.jpg
Visualizações:	234
Tamanho: 	100,5 KB
ID:      	3436

    Hora com as avós, hoje travestidas de bisavós, hora com alguns amigos, com os quais temos o privilégio de partilhar a mesa, hora com parentes recém chegados, com irmãos de sangue e também com aqueles que a vida nos
    aproximou e nos estreitou, mas sempre, sempre com a Família reunida, e como costumo dizer,
    nem que seja para brigar.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Dsc00825.jpg
Visualizações:	234
Tamanho: 	25,7 KB
ID:      	3437

    E assim transcorreu nossa manhã de preparação das bagagens, das suas locações
    e de todo o frenesi de encilhar a Bonitona, forma carinhosa como nos referimos a nossa moto,
    uma Honda F6 modelo Valkyrie, ano 98, amadurecida nos seus quase 125.000 km de estradas por este mundo afora.

    Uma bela companheira!

    Tudo devidamente no lugar, arrumado, preparado, porém com uma pontinha de decepção,
    uma vez que o cartão com saída "USB" para o nosso notebook não havia chegado de São Paulo e,
    dentro da nossa concepção e expectativa de se tentar fazer um bom trabalho de informação diária,
    esta peça é fundamental para que possamos fazer se comunicarem a máquina fotográfica e o computador.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC00785.jpg
Visualizações:	182
Tamanho: 	92,4 KB
ID:      	3438

    Com as despedidas devidamente feitas, confidenciamos aos nossos filhos que este primeiro dia de uma viagem,
    que programamos para fazer em 10 meses e por mais de 80.000 km,
    teria em seu primeiro dia de estrada não mais de 40 e poucos quilômetros,
    pois pensávamos em nos hospedar em Gaspar, onde aguardaríamos o Black,
    especialista em computação e figura muito querida, para fazer a instalação do tal cartão,
    que deveria chegar no dia seguinte.

    E como tal fizemos.

    Domando nossas ansiedades e apetite por vento, completamos nosso primeiro dia de viagem no Fazenda Park Hotel,onde muito bem instalados, acalmamos nossos espíritos, aquietamos nossa ansiedade e, pacientemente,
    sabedores de que temos ainda alguma coisa como 79.950 km a serem percorridos, aguardamos para amanhã,
    quinta-feira, a vinda do Black com o bendito cartão.
    Última edição por Dolor; 01-08-12 às 17:22.

  4. #4
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728
    Capítulo 3 - Dia de Lagarto - 26 a 28-02-2003

    Tenho de reconhecer, que qualquer semelhança, não é mera coincidência.

    Os modos, a vontade e o jeito de ser, lembra em muito este réptil, que sem querer, faz escola.

    Hoje, sem dúvida nenhuma, foi um dia dedicado à esta bela espécie, pois desde a hora em que acordamos até o
    final do dia, tudo o que fizemos foi "ene a de a", ou seja, nada.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Dsc00829.jpg
Visualizações:	238
Tamanho: 	29,2 KB
ID:      	3443

    Benditos sejam os lagartos, que nos legaram este modo de vida fantástico, do comer e dormir entremeados por nada.

    Como é bom não fazer nada!

    Que exercício maravilhoso este do não fazer nada, colocando a "HD" em stand by, sem pensar em nada, sem se
    ocupar com nada, esperando somente a batida do sino anunciando a hora da boia.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Dsc00826.jpg
Visualizações:	238
Tamanho: 	24,5 KB
ID:      	3439

    E assim foi com as primeiras badaladas às 7.30 h da manhã anunciando o serviço do desjejum, com frutas, frios,
    pães e doces os mais variados possíveis, regados a bons sucos com o tradicional café com leite.

    Após encher o porão, convés e passadiço, nos transferimos para a piscina,onde com mais propriedade, literalmente, "lagarteamos" até as novas badaladas anunciando o já antigo e famoso, meio dia panela cheia barriga vazia.

    Preocupações?

    Nenhuma.

    Informações chegaram que a nossa placa, o famoso cartão com saída "USB", ainda não havia chegado, isto é, havia ido para Mafra, aqui no norte de Santa Catarina.

    Isto posto, com o rigor das Leis de Murphy, podemos sugerir uma outra que poderia ser mais ou menos assim:
    quanto maior for a pressa que tens em receber uma encomenda de São Paulo, maiores são as chances dela chegar em Mafra.

    Pois foi exatamente isto que aconteceu.

    Houve um erro no CEP e a bendita encomenda foi parar em Mafra.

    Mas, Murphy não para por aí: pois se a tua pressa for maior ainda, teu fornecedor te remeterá novo material e te
    enviará via aérea, pasmem, para Joinville, também aqui no estado.

    Foi o que acabou acontecendo.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Dsc00833.jpg
Visualizações:	228
Tamanho: 	25,1 KB
ID:      	3440

    E nós? Olha nós aí, que nem lagarto, fazendo o que?

    "Lagarteando".

    Nesta altura do campeonato, só estou com medo que quando ela chegar nós já estejamos tão grandes e gordos, que possamos ser confundidos com jacarés, abatidos e transformados em cintos e bolsas.

    Seria um fim muito interessante, foram para o Alasca e terminaram em couro.

    E antes que isto aconteça, sugiro que elejamos o dia 27 de fevereiro como o DIA DO LAGARTO.

    Penso que seria uma justa homenagem, sem entretanto alterarmos o título deste relato, que continua sendo: DIA DE LAGARTO.

    Como o tempo continua passando, a Ângela acaba de me perguntar a que horas será servido o lanche, pois temos
    um novo encontro com a mesa, justo às cinco horas.

    Alasca? Oras bolas, a mesa é o que interessa.

    Calma lagarta, ainda tem algum tempo, e como dizia meu avô, "para esquentarmos o sol".

    Pressa?

    Nenhuma.

    Alasca?

    De novo?

    Ele que nos aguarde, porque o amanhã chegará e, com ele, nosso reencontro com nosso amigo vento.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Dsc00831.jpg
Visualizações:	229
Tamanho: 	19,2 KB
ID:      	3441

    Desculpem, mas sou obrigado a me virar de lado, porque ficar sempre com a direita para cima não dá.

    Agora é chegada a hora de tostarmos e darmos a vez à esquerda, que espera sua vez faz muito tempo.

    Só espero não tostá-la demais.

    Finalmente o sino soou e, obedientes que somos, cumpriremos com a nossa obrigação biológica de nos
    alimentarmos de novo.

    Estão vendo como é divertido ir para o Alasca?

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Captura de tela 2012-08-01 às 17.03.19.jpg
Visualizações:	233
Tamanho: 	20,0 KB
ID:      	3442

    Total percorrido : 45 km
    Última edição por Dolor; 01-08-12 às 18:31.

  5. #5
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728
    Capítulo 4 - Boca Santa - 28-02-2003

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         04.jpg
Visualizações:	234
Tamanho: 	25,5 KB
ID:      	3444

    Com o espírito devidamente apaziguado, fomos dormir o sono dos anjos.

    Foi uma noite tranquila, reparadora, entremeada somente pela expectativa da chegada da bendita peça, que tinha ido parar em Joinville.

    Mas não foi isto o que aconteceu.

    Mandamos um motoboy até o aeroporto daquela cidade, munido do conhecimento, tudo certinho etc. e tal, não
    contando entretanto, com a possibilidade de que a triste não tivesse chegado.

    Bem, o que importa é que finalmente começamos a sentir nossos corações batendo no compasso acelerado da
    contagem regressiva, porque agora, com a placa ou sem ela, para nós, nesta sexta-feira, 28 de fevereiro,
    efetivamente começaria nossa viagem.

    Porém, neste meio tempo, recebemos a informação de que o Black viria logo no inicio da tarde para a devida
    instalação e quiçá, funcionamento desta porta de comunicação entre nosso notebook e a máquina fotográfica.

    “Êta” casamento difícil!

    Esperamos que seja duradouro e com muitos filhos.

    Para não continuarmos imitando nosso amigo lagarto, mas também não o desprezando totalmente, fizemos algumas
    ligações, propusemos algumas alterações no nosso site, e contando com a ajuda sempre discreta porém presente e
    eficiente do Cesar, nosso homem da internet, chegamos a algumas conclusões que em breve estarão sendo disponibilizadas.

    O calor é intenso, lembrando que estamos nesta estação maravilhosa que é o verão, talvez não a mais adequada para a montoeira de equipamentos que somos obrigados a utilizar para uma pilotagem mais segura, mas sem sombra de dúvidas, um período especial para se aproveitar as delícias de uma boa lagarteada.


    Agora, com relação ao casamento duradouro e com uma grande prole, lamento informar que já aconteceu a
    separação, e a partir de hoje, tanto nosso notebook, como a máquina fotográfica estão apartados, e ainda por cima
    numa lambança desgraçada, como manda a tradição quando a separação é litigiosa.

    Depois de inúmeras tentativas de conciliação, as partes foram cada uma para o seu lado, e nós num frenesi enorme para pegarmos a estrada, nos trocamos no toalete do restaurante, onde a temperatura beirava os 300 graus, e nos mandamos, impulsionados pela nossa adrenalina, que a esta altura do campeonato já estava sendo transpirada por
    tudo quanto é poro.

    Levantamos acampamento e pegamos aquela mancha infinita de piche que nos enfeitiça, empurrados pela Bonitona,
    torrados pelo sol e embalados por aquela música envolvente que somente o vento sabe cantar: vem, vem, vem...e
    nós, ébrios, obedecendo.

    Que sensação maravilhosa esta de seguir nossos instintos, que sensação maravilhosa esta de trocarmos com o vento, carícias, que sensação maravilhosa esta de disputarmos o equilíbrio com a nossa moto e que sensação maravilhosa
    esta de vivermos tão próximos desta linha que divide o que é vida e o que é morte.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC00845.jpg
Visualizações:	257
Tamanho: 	15,1 KB
ID:      	3446

    Bem, com relação ao título da matéria de hoje, vale pela intuição da Ângela, quando há alguns meses atrás ao
    escolhermos a data para saída, previu que a mais provável seria o dia 28 e eu com a minha agonia, antecipei a
    partida para o dia 26, daí então...um a zero para ela.

    E já que estamos falando de boca, aproveitamos uma boca livre aqui em Curitibanos, quando ao ligarmos para o
    nosso amigo Boca, que estava participando de uma "Jeepada" na Serra da Canastra, felizes, nos cumprimentamos, nos abraçamos, nos beijamos, e o danado, ligando para o dono do restaurante, mandou liberar a conta.

    Valeu Boca e em homenagem a estas bocas livres, fica instituído o dia de hoje, como o Dia da Boca Livre.

    Um beijo para todo mundo e obrigado pelos e-mails que temos recebido, o que sem sombra de dúvidas nos motiva,
    nos encoraja, mas acima de tudo, nos emociona.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Captura de tela 2012-08-01 às 17.16.19.jpg
Visualizações:	227
Tamanho: 	21,9 KB
ID:      	3445

    Total percorrido : 241 km - Total geral : 286 km
    Última edição por Dolor; 01-08-12 às 18:21.

  6. #6
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728
    Capítulo 5 - A Cabana - 01-03-2003

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC00836.jpg
Visualizações:	257
Tamanho: 	25,7 KB
ID:      	3451

    Amanheceu um dia como há muito não víamos.

    Calmo, limpo, com uma luminosidade toda especial.

    Aliás, esta região do centro-oeste e oeste catarinense, com suas incríveis variações de verde, nos oferece um espetáculo à parte.

    Com uma topografia bem acidentada, rodovia sinuosa, tal qual uma serpente, iluminada por um sol muito particular, não queríamos outra coisa senão montar em nossa moto e pegar o mais rapidamente possível a estrada.

    Manhã fresca para esta época do ano, aproveitamos para nos fartar nestas curvas desenhadas especialmente para quem está com vontade de pilotar.

    E nós estávamos!

    Era uma beleza a tocada , ora para esquerda, ora para direita, levantando e deitando a Bonitona, freando, acelerando, e abusando da caixa de troca.

    Que delícia!

    No sistema de som rolava Eagles, que cantavam somente para nós, no nosso ritmo e na nossa balada redonda, redonda, numa sensação que somente os iniciados podem compreender toda a extensão deste prazer.

    E nesta tocada, acenos e abanos eram trocados a todo instante com aqueles que cruzávamos ou ultrapassávamos como se nos dissessem, boa viagem até o Alasca, que sigam bem, estamos torcendo por vocês, estamos juntos com vocês, e nós extremamente sintonizados com todos estes acontecimentos, sentíamos que já não viajávamos sozinhos, porque todos estes sentimentos estavam se incorporando a um comboio que imaginariamente nos acompanhava.

    Que mágica tem as motos, que conseguem somente elas, incorporarem tantos sentimentos de pessoas tão diferentes, de formações diferentes, de origens diferentes, que suscita tanto paixão como temor, medo e ousadia, desejos e repulsas, porém, todos cúmplices de uma vontade enorme de disputarem com o vento um lugar no pódio dos sentimentos de liberdade, de ousadia e de rebeldia que as motos com seus brilhos, roncos e formas insinuantes nos seduzem.

    E se juntarmos a tudo isto, um pouco de fronteiras latino-americanas, a fórmula fica completa para que não se morra de tédio.

    Para quem já teve oportunidade de viajar de moto, ou mesmo, de carro, concordará que é extremamente monótono aquele primeiro mundo evoluído, sem fronteiras e sem carimbos, onde as divisas não são mais do que linhas imaginárias, dividindo o igual pelo semelhante.

    Que coisa mais sem graça!

    Das sete fronteiras que cruzamos de moto na Europa, recebemos somente um carimbo, mais precisamente quando atravessamos o Canal da Mancha e entramos em território real inglês.

    Que falta nos fizeram os carimbos!

    Imaginávamos, pelas contas às quais estamos acostumados, no mínimo, entre idas e vindas e novas idas e novas vindas, pelo menos umas “parari”, “parará”, 2197 carimbadas.

    Não troco por nada deste mundo a meia dúzia de carimbos que somos obrigados a obter em nossas fronteiras latino-americanas. É pura emoção, se saber que a simples falta de um carimbo, num pequeno papel de 6 x 6 cm pode ser decisiva para abrir ou fechar a porta de entrada de um País.

    É "frissionante".

    Já em território argentino, e com o astro rei tinindo, tivemos a impressão de ter visto um camelo com a língua de fora a pedir água, muita água.

    A esta altura do campeonato acredito a temperatura já havia passado de novo dos 300 graus e a sensação de calor começava a ganhar contornos de que iria nos vencer.

    Mas para vencer uma "pareja" de verdadeiros papa-siris, agora já embalados no ritmo do quero mais, mandamos ver, e praticamente planávamos por estas terras portenhas, agora em busca de Posadas, quando no horizonte começamos a vislumbrar, a presença, normalmente inoportuna de uma invejosa, que se chama chuva.

    Mas hoje foi diferente!

    Quando percebemos seus contornos escuros, fortes, pensamos: Posadas deve ficar para aquelas bandas e nós iremos atrás, já antevendo um belo banho, uma vez que não portávamos nosso equipamento de chuva e nem iríamos coloca-lo, porque o que queríamos sinceramente, era um banho de verdade.

    Daqueles de levantar água e de molhar até a alma.

    E foi o que aconteceu.

    Literalmente penetramos no meio daquela tormenta, e com as rodas a substituírem nossos pés, e a estrada no lugar das sarjetas, levantamos água até Deus ver.

    Foi pura traquinagem!

    Foi a mesma sensação que se tem, quando se sai de uma sauna super quente e se mergulha de cabeça numa piscina fresca, muito fresca.

    Molhamos capacetes, jaquetas, calças e chutamos com a moto a água das nossas infâncias, dos nossos banhos de chuva proibidos e dos temores paternos das gripes que nunca vinham.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC00837.jpg
Visualizações:	254
Tamanho: 	22,2 KB
ID:      	3452

    Nos fartamos com tanta generosidade divina, que tivemos que entrar em Puerto Rico, deixando Posadas para amanhã, até por que, quem tem pressa?

    E para encerrar este sábado farto de alegrias, fiz uma surpresa para a Ângela, alugando no Hotel em que nos hospedamos, uma cabana de madeira no meio do mato para terminarmos nosso dia brincando de cabaninha.

    Acho que isso não vai acabar bem...

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Captura de tela 2012-08-01 às 18.10.48.jpg
Visualizações:	229
Tamanho: 	23,4 KB
ID:      	3453

    Total percorrido : 435 km

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         112760830.jpg
Visualizações:	227
Tamanho: 	32,7 KB
ID:      	3454

    Total percorrido : 203 km - Total geral : 924 km
    Última edição por Dolor; 01-08-12 às 19:56.

  7. #7
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728
    Capítulo 6 – Dia de Fartura - 02-03-2003

    Mais um dia magnífico amanhece neste primeiro domingo desta jornada rumo ao Alasca, e depois de uma excelente noite hospedados na Hosteria Suiza, em Puerto Rico, Província de Missiones, iniciada com uma bela milanesa e no que concerne a Ângela, regada com um bom vinho brindando a calmaria reinante depois da trovoada de verão, nos levantamos para acompanhar o que Deus fez no sétimo dia, descansar.

    Até acho que não é muito justo para com o Senhor, que trabalhou duro durante seis dias, enquanto nós...bem, façamos de conta que fizemos por merecer este dia de descanso.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         Dsc00879.jpg
Visualizações:	227
Tamanho: 	19,1 KB
ID:      	3458

    E aproveitamos esta folga, para fazer o que mais gostamos, andar de moto.

    Felizes, nos dirigimos à “carreteira” que para nos brindar, estava tingida de vermelho como se quisesse nos prestar uma homenagem. Pensamos: puxa vida, este pessoal de Puerto Rico é mesmo especial nos fazendo uma gentileza deste tamanho, digna das pessoas coroadas. Evidentemente que a coloração avermelhada desta terra que este povo mexe e vive, é típica das terras altamente produtivas, fato que fomos comprovando enquanto avançávamos rumo a Corrientes, nosso objetivo do dia.

    Claro que nada para nos estressar, pois era nosso dia de folga, logo um “tirinho” de 450 km seria o suficiente para brincarmos neste domingo preguiçoso e silencioso.

    Caminhamos boa parte dele, desta maneira, absortos nos nossos pensamentos, que procuravam se refrescar do intenso calor, nos frescores dos bons momentos que temos vivido juntos, do que temos feito, dos negócios, e claro, sempre, dos filhos.

    E me lembrei deles à medida que o tempo passava, pensando em quando eram pequenos, diria até para ser mais preciso, pouco mais que recém nascidos quando ao deitar-me ao lado deles, por ordem de chegada, chamava a Ângela quase todo instante para que os olhasse, pois enquanto os observava, torrentes de preocupações me tomavam de assalto, pois hora faziam caretas, ora reviravam os olhinhos, respiravam diferente, riam, faziam expressões de dor, enfim, um tormento quando se tem filhos bebezinhos e resolvemos lhes acompanhar o sono.

    Quem tem filhos sabe muito bem do que falo.

    E hoje não foi diferente, só que desta vez com a moto, pois com todo aquele silêncio, com retas agora quase que contínuas, característica da maioria das rodovias argentinas, me pus a escutar, observar e a sentir a moto em toda a sua movimentação. Ora sentia vibrações diferentes, ora ruídos estranhos, ora isso, ora aquilo, pensei, é muita neura para um dia tão lindo e discretamente me virei para ver a Ângela e surpreso a flagrei num sono daquele de babar capacete, descansada e segura, como somente as mães se sentem, quando veem que os rebentos dormem o sono dos anjos.

    Então disse, Dolor, pare de ficar acompanhando o sono das crianças porque tudo está muito bem.

    Relaxe e flutue!

    E assim, agora com este novo comportamento, chegamos a Corrientes após algumas paradas junto aos postos policiais, que curiosos e apaixonados como são os argentinos por motores e motos, faziam questão de fazer uma verificação oficial sobre as características da Bonitona, nos questionando sobre a cilindrada, a quantidade de cilindros, de onde viemos, para onde vamos, deixando normalmente a verificação da documentação para uma próxima oportunidade.

    Faz parte do negócio!

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         DSC03045.jpg
Visualizações:	171
Tamanho: 	98,0 KB
ID:      	3460

    Depois de bem instalados fomos tomar um café na cidade de Resistência, capital do Chaco, onde esperamos passar mais uma trovoada de verão, cercados pela gente simpática e hospitaleira desta cidade do outro lado do rio Paraná.

    Com nossa HD literalmente parada, da maneira como gostamos, demos uma namoradinha e sem economizarmos tempo, respondemos aos inúmeros e- mails que temos recebido de todas as partes do Brasil e que tem nos servido como um combustível de alta octanagem para esta empreitada que estamos vivendo.

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         casa25.jpg
Visualizações:	175
Tamanho: 	78,4 KB
ID:      	3459

    E para encerrar, lembro que se existe um elemento que é absolutamente democrático, talvez o único no planeta, que é o mesmo para todos, rigorosamente todos, sem exceção, seja rico ou pobre, feio ou bonito, trabalhador ou vadio, é o TEMPO, aqui limitado nas suas 24 horas do dia.

    E neste quesito que nos nivela de forma rasa, gostaria de lançar um desafio a todos, para que o gastem da melhor maneira possível, que sejam extremamente esbanjadores e perdulários com o TEMPO, porque uma vez passado, não se consegue mais recuperar. E não nos esqueçamos de que temos todos, todos mesmo, 31.536.000 segundos por ano para gastarmos sem preocupações, uma vez eles serão disponibilizados um a um, e não adianta querer guarda-los ou economiza-los, porque não existe poupança que aceite este tipo de depósito.

    Portanto, mãos à massa milionários!

    OBS: Me esqueci de falar que ainda podemos fazer as contas de mais 86.400 segundos referente ao ano bi-sexto.

    Oba!

    Clique na imagem para uma versão maior

Nome:	         1127602750272.jpg
Visualizações:	223
Tamanho: 	37,8 KB
ID:      	3457

    Total percorrido : 500 km - Total geral : 1.424 km
    Última edição por Dolor; 01-08-12 às 20:42.

  8. #8
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728

    Capítulo 7 – A Procura de Juan


    Capítulo 7 – A Procura de Juan - 03-03-2003


    Se tivéssemos encomendado um dia assim, com certeza não teríamos conseguido.

    De onde estávamos, podíamos ver que a luminosidade do dia nos dava um ar intimista, a temperatura, diríamos que estava fresca, a arrumação da bagagem caminhando de vento em popa e a vontade de pegar a estrada crescente.

    Após um bom café da manhã, depois de termos deixado cada coisa no seu lugar, o que sempre é uma ginástica, fizemos as últimas consultas junto as pessoas que nos cercavam no salão, para definir exatamente que melhor caminho pegar para irmos daqui de Corrientes para Córdoba, distante 900 km.

    Opções dadas, a preferencia caiu sobre a “Ruta” 11, via Resistência, o que veio na continuação a comprovar, que fizemos a escolha certa.

    Depois de tantos dias de intenso calor, agora nos deparávamos com um dia que classificamos como excelente para a prática do motociclismo, não fora pela ameaça constante daquelas nuvens pesadas que resolveram pegar carona conosco e que de tempos em tempos mandavam aquela garoa fininha, que costumamos chamar de molha trouxa.

    O duro foi controlar, não a moto, o movimento, a estrada, enfim todo este conjunto de fatores que fazem parte da rotina daqueles que estão nesta vida, mas sim, a liberdade fugitiva dos pensamentos, que a todo instante caminhavam anos luzes na frente, indo xeretar tudo o que estava previsto para fazermos ao longo da viagem que planejamos.

    Ora estavam no Chile, em pleno deserto do Atacama, ora no altiplano andino, na região de Chungará, aos pés do vulcão Parinacota, ora de volta à Ushuaia e aos glaciais desta Tierra del Fuego única, ora bisbilhotando o desconhecido, portador dos temores e dos receios do ainda por nós inexplorado, para logo em seguida retornarem à cachola, para irem registrando toda a tranquilidade desta "ruta", que mantendo a característica da maioria das rodovias argentinas, é supertranquila, com pouca movimentação de caminhões e de carros, bem ao contrário daquilo a que estamos habituados a viver em nosso País.

    E dá-lhe sobrar tranquilidade, pois é comum, extremamente comum se verem os caminhoneiros estacionados nas áreas de descanso, preparando suas refeições ou tomando mate.

    Dá gosto de se ver!

    E nós o tempo todo negociando com o tempo, trocando temperatura mais amena por um ou outro chuvisco sem maior importância, mas sempre num ritmo muito bom, diria mesmo, de forte tocada.

    No soar das doze badaladas do sol a pino começamos a sonhar com uma boa milanesa, que ficou eleita como nossa prioridade principal e objeto de pesquisa a partir daquele momento.

    Finalmente, após algumas alternativas serem descartadas pelas mais variadas razões, acabamos chegando a Nelson, uma pequena cidade localizada um pouquinho além do meio do caminho, onde após lambermos os dedos, estávamos prontos para iniciar a segunda etapa deste dia.

    Durante o trajeto uma preocupação nos acompanhava, pois havíamos combinado com um casal de amigos, Juan e Eluise, ele argentino cordobês, que moram em Bal.Camboriú, de nos encontrarmos em Córdoba, a partir desta segunda-feira, pois apesar de terem saído alguns dias depois da nossa partida, também vieram de moto.

    O detalhe é que ficamos sem o endereço deles para manutenção do contato.

    Como acabamos desfazendo nosso trato com o tempo, este último terço da viagem foi feito de novo daquele jeitinho que o diabo gosta, agora sob um calor intenso, como o de uma sauna seca, a todo vapor.

    Entretanto, não podemos deixar de registrar os contrastes desta Argentina, por vezes pujante com o sangue verde no tom agrícola correndo dentro das suas veias arteriais, altamente oxigenado, irrigando uma parte importante da economia, nos enche os olhos pelas imensidões dos seus campos de soja, milho entre outros grãos nobres, que ficam ofuscados pela beleza dourada das espigas dos tapetes de trigo, nos dão uma sensação de conforto e de riqueza, somente superadas pelo sangue escuro, das vastidões petrolíferas da Patagônia, bombeando dia e noite petróleo nas beiras das praias de Comodoro Rivadávia e Caleta Olívia, outro capítulo à parte deste país muito particular, com a letargia de nos chamar atenção, destas pequenas e médias cidades que vamos encontrando ao largo das rodovias.

    É como se tivessem como a principal indústria destas cidades, o Lá Tinha Ilimitada, talvez o braço mais visível da ladeira abaixo a que se submeteu o país, que a curto prazo não vislumbramos saída, pois nos deparamos com um povo, que diferentemente do nosso, não habituado ao conforto e aos prazeres que o dinheiro pode oferecer, aparentemente se entrega ao desânimo, esperando que os fartos anos de um passado cada vez mais distante voltem como num passe de mágica, para resgatá-los desta prostração que os aprisionou e que mesmo assim, por mais paradoxal que possa parecer, continuam se mostrando alegres, receptivos, vibrantes e mais do que nunca identificados com nosso modo de vida, em cima de uma moto.

    Não sabem o que fazer para agradar, deixando isto registrado de uma forma sempre muito sincera, quando desejam que desfrutemos nossa aventura, como se fossem eles mesmos, os protagonistas.

    Sentimos e recebemos estas vibrações de forma muito positiva, fraterna e estimulante.

    Bem, e o nosso amigo Juan?

    Hospedados no Córdoba Plaza International Hotel, fomos direto à lista telefônica para entre os Sabatini e Sabattini, começar a loteria para identificação de algum parente que pudesse nos dar notícias do casal.

    Após pequeno período de incorporação de Sherlock, identificamos uma irmã de Juan, que muito alegre, ficou de repassar nosso endereço, fato que acabou acontecendo por volta das 9 h da noite, nos encontramos num restaurante simpático a poucos passos do Hotel, encontro este que virou confraternização por longas e agradáveis horas.

    Porém, nada mais apropriado que o título de hoje, porque depois que voltamos para o hotel, sentei-me como de hábito, na frente do teclado e após algum tempo dedilhando estas mal traçadas, por um destes mistérios da informática, principalmente para os poucos iniciados, como é o meu caso, cadê Juan e a história de hoje?

    Sumiram, entre os diretórios a,b,c, arquivos, pastas e lixeiras, tudo o que havia escrito e eu, alucinado, sem conseguir encontrar este Juan cibernético, fui deitar, arrasado, decepcionado e frustrado, sem entender que tipo de nó eu havia dado no computador.

    Após algumas pesquisas para tentar identificar este modelo, cheguei a conclusão para meu gáudio, de que eu havia inventado um novo nó, batizado imediatamente pela Ângela, como nó de burro.

    Valeu querida!
    Última edição por Dolor; 03-10-14 às 22:22.

  9. #9
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728

    Capítulo 8 – Praia Cordobesa


    Depois do nosso jantar-encontro de ontem a noite, combinamos de nos reencontrar por volta das 9:30 h em nosso Hotel, para passearmos juntos, uma vez que teríamos o prazer de conhecer Córdoba, com um verdadeiro guia cordobés.

    Na hora marcada, lá estávamos no salão de café, onde após os cumprimentos de praxe, fomos envolvidos por aquela sensação gostosa de se estar reunido com pessoas da casa da gente, não importa a extensão dela, se país, estado ou cidade, porque o que vale é a atmosfera deste tipo de aconchego.

    E literalmente em casa, fizemos aquela "mala" durante a arrumação da moto, estacionada na vitrine do Hotel, cumprimentando um, dando uma explicação para outro, sorrisos e fotos, fico pensando que realmente as celebridades precisam ter uma preparação psicológica muito grande para não começarem a pensar que podem mudar a rotação da terra, pois tenho a impressão que o próprio público, carente e por vezes acreditando que isto é possível, se projeta nos seus ídolos, que alimentado pela mídia, alimenta o personagem principal, e o círculo se fecha, faltando somente se saber qual a intensidade do foco deste tipo de luz, e o tempo, que pacientemente aguarda o fim desta queda de braço, nunca poupando vítimas.

    Após nossa exposição embaixo deste foco de luz, digamos, de uma lanterninha, e "posudos" tais quais os reis da cocada preta, seguimos Juan, até a casa do Bébi e da Marta, ele uma figura bastante conhecida pelos motociclistas de toda a região, porque é o mecânico mais antigo de Córdoba, com todas aquelas características peculiares dos profissionais argentinos, de uma época que infelizmente não deverá voltar mais.

    Talvez pudéssemos dizer que é neste campo, um tipo..., "o último dos moicanos".

    Tranquilo, de fala mansa, detalhista, mãos e oficina limpas, como convém a um bom profissional, de imediato me trouxe à lembrança, observações que meu Pai fazia, há mais de quarenta anos, quando afirmava que um bom mecânico deveria trabalhar de terno branco, que com as devidas adequações, é a teoria colocada na prática pelas fábricas da Honda pelo mundo afora, assim como a sua rede de concessionárias autorizadas, que tem como cor dos seus uniformes, o branco.

    Valeu meu Pai!

    Seguimos então, os três casais, rumo a região serrana de Córdoba, mais precisamente a um conjunto de cidades, dique e lago que compõem o Valle de Punilla, de uma beleza ímpar e que durante o verão, feriados e finais de semana, se transforma na "praia" dos cordobeses, com um movimento de dar inveja à nossa Balneário Camboriú.

    Boas lembranças, também, nos vieram durante este percurso, como por exemplo, a apresentação de uma dupla de tradicionalistas argentinos que tivemos a oportunidade de assistir em Bariloche, que havia ganho o primeiro lugar no famoso festival da tradição Argentina, de Cosquín, que arrancou somente com esta menção, aplausos extras de reconhecimento da plateia que naquela casa de espetáculo se encontrava, e nós, infelizmente sem o devido conhecimento deste detalhe, de repente, nos deparamos depois de alguns milhares de quilômetros, com o palco, objeto de desejo de todos os artistas desta área, sabem onde?

    Em Cosquín, que faz parte deste vale, juntamente com outras pequenas cidades cujos limites se perderam há muito, formando um só bloco, quando não se percebe se estamos em Cosquin, que voltaremos um dia durante o mês de janeiro para acompanharmos este festival, ou Valle Hermoso, ou La Falda, entre outras, tendo certeza, porém, dos limites da cidade de Carlos Paz, estrela que mais brilha neste conjunto, ou melhor se dizendo, é a "melhor praia" da região.

    É uma profusão de gente, de todas as idades e origens, de bares, restaurantes, cyber cafés , confeitarias e muita alegria, ficando difícil de se imaginar que fora deste círculo, é a impressão que se tem, que o circo está pegando fogo, ou melhor ainda, que já está faltando fogo para o circo queimar.

    Com todas estas opções, fomos parar num pequeno restaurante a beira da estrada, que somente os nativos conhecem, onde entre empanadas únicas e um bom "pollo asado", nos esbaldamos a "charlar" de abobrinhas, sexo dos anjos, e é claro, de motos, lembrando que o Bébi fez um horário especial de trabalho para poder ficar conosco, extremamente puxado, abrindo a sua oficina as 6: 00 h da tarde, e trabalhando o coitado, que nem louco, sem praticamente intervalo para descanso, a não ser por umas três ou quatros rodadas de chimarrão, até as 7:00h.

    Ufa!

    E assim, por estes e outros exemplos, a Ângela e eu já chegamos a uma conclusão; os argentinos mamaram a vaca toda.

    E gostando de verdade desta gente, terminamos nosso dia depois de outros bons papos pelos barzinhos e sorveterias, outra mania dos argentinos, na casa do Bébi e da Marta, que ainda nos serviu empanadas para que pudéssemos encerrar o dia, quer dizer noite, pois já era praticamente 11: 00 h e exaustos, pegamos o caminho de casa para podermos descansar e começar tudo isto de novo no dia seguinte.

    Bem, aí é outra trabalheira danada!

    Olha gente, vocês não sabem como é bom ir para o Alasca!

    Está aí uma coisa que eu recomendo pra todo mundo.

    Coisinha boa mesmo!
    Miniaturas Anexas Miniaturas Anexas DSC00856.JPG  
    Última edição por Dolor; 15-10-11 às 16:24.

  10. #10
    Data de Ingresso
    Mar 2011
    Localização
    A, A
    Posts
    2.728


    Capítulo 9 - A Estrada do Céu

    Digamos que foi uma saída um tanto quanto tumultuada porque as ameaças que vinham sendo feitas, e de certa forma sendo cumpridas, ainda que em partes, acabou acontecendo e o céu aproveitando um descuido, veio abaixo, num pé d'água como há muito não víamos.

    Como estávamos programados para cobrir o trajeto que nos separava de Mendoza, deu pra sentir a responsabilidade?

    Não nos atemorizamos e devidamente equipados, encilhamos a Bonitona e pé na estrada, quer dizer dentro d'água, uma vez que o sistema pluvial de Córdoba sentia uma dificuldade imensa em fazer escoar todo aquele "aguaredo".

    Alias, é bom que se frise, que se nada de melhor acontecer, tenho a sensação de que estarei enriquecendo a nossa já milionária língua pátria, com a criação de novas palavras, como por exemplo: "aguaredo", que nada mais é do que um bando de água, louca para estragar o que vê pela frente e incomodar a vida de um monte de pessoas.

    Imaginem só o que é um bando de água e vejam onde é que estávamos metidos.

    Com meia embreagem acionada e meio acelerador roncando, nos metemos dentro daquele aguaredo, agora sem aspas, conseguindo vencer o percurso, que foi acompanhado com suspiros de pânico pela Ângela, que sempre valente e companheirona enfrentou mais esta parada com muita fibra.

    Confesso que pensei durante aquela travessia, estamos ..., bem este é um espaço liberado para todas as idades e não convém se baixar o nível.

    Graças a Deus, já livres do perigo maior, continuamos nossa viagem com destino a Mendoza, não rodando como convém, mas sim, eu diria que deslizando e por vezes escorregando, uma vez que o asfalto que liga estas duas cidades e pela rota que escolhemos é pouco abrasivo e quando devidamente molhado pela chuva intermitente que nos acompanhava, transformava a rodovia quase que numa pista de patinação.

    E assim foi até praticamente metade do caminho, entre Rio Cuarto e Villa Mercedes, quando ao empalmarmos a ruta 7, lembranças do nosso velho Road Captain Tex nos vieram à tona, pelos bons momentos que nesta rodovia vivemos em companhia do Della, quando da minha primeira ida à Santiago.

    E foi justamente neste trecho da 7, quando se têm a impressão de que se houvesse um caminho rodoviário para o céu, sem dúvida nenhuma ele passaria por aqui, não só pelo seu azul celeste, por este sol poente que resplandece enquanto se deita como que querendo bem sinalizar este caminho celestial, esta Ruta 7 se perde no horizonte, justamente quando toca este céu, que um dia todos gostaríamos de habitar.

    E é aqui que ainda encontramos a terceira via, ou melhor, a terceira veia da Argentina, esta pulsando de verdade o sangue na sua cor tradicional, composto por glóbulos vermelhos e brancos das melhores cepas do mundo, e que como testemunhas oculares, presenciamos incontáveis caminhões carregados destes glóbulos, que em plena festa da vindima, apressavam-se em transformar frutas tão preciosas em néctares saboreados e apreciados em praticamente todas as mesas da Argentina e deste mundo de Deus afora.

    E Mendoza estava ali, novamente a nossa frente, suscitando de novo o questionamento que me faço sobre esta cidade, todas as vezes que aqui chego, para saber e tentar chegar a uma conclusão: se Mendoza foi criada dentro de uma floresta ou uma floresta é que se criou dentro da cidade, nos dando sempre a sensação de se estar dentro de um bosque, a procura da melhor árvore para ali estendermos nossa toalha xadrez, abrirmos a cesta de lanche e deixarmos o tempo passar.

    Pode ter coisa melhor na vida?

    A lamentar somente que nossa estadia neste bosque seja tão curta, pois necessitaríamos de pelo menos uns três dias para melhor aproveitarmos esta pérola, ou melhor, esta uva Argentina, justamente agora, quando festeja a sua vindima, atraindo gente de todo o território nacional, brasileiros em profusão e irmãos de vários países, aqui da nossa América.

    Mas a agonia de se por a bunda na estrada é tão grande que não nos permite um dia sequer a mais para se aproveitar estes festejos que também acontecem em praça pública, como por exemplo, nesta noite, na Praça Itália, acompanhados de desfiles pelas principais avenidas da cidade.

    Um espetáculo que merece ser visto e agendado para o ano que vem, e nós, olha "nóis" aqui, sentados numa confortável mesa no lindo Restaurante Estância La Florência, a saborear talvez, o melhor bife de chorizo que já comemos em nossa vida, e a Ângela me cutucando e perguntando?

    Querido, podes me dar um pouco mais de sangue?

    E eu...hã, hã...vou é te fazer uma transfusão logo, logo.
    Miniaturas Anexas Miniaturas Anexas Dsc00879.jpg  
    Última edição por Dolor; 11-10-11 às 15:11.

Página 1 de 9 123 ... ÚltimoÚltimo

Tags para este Tópico

Permissões de Postagem

  • Você não pode iniciar novos tópicos
  • Você não pode enviar respostas
  • Você não pode enviar anexos
  • Você não pode editar suas mensagens
  •