O calvário do Cardeal

[Dolor]

A idéia de conhecer os extremos do Brasil, confesso, nunca havia sido aventada em nenhum momento quando das nossas viagens, diga-se de passagem lamentável, especialmente o do sul, pois além de havermos cruzado a fronteira através de Chuí, RS, várias vezes também foram as noites dormidas nesta cidade que diz onde começa ou termina o nosso país sem nunca termos visto um marco, uma informação ou divulgação desta cerca imaginária.

Tivemos o prazer e o privilégio em nossas cruzadas através dos vários estados, de dormir em João Pessoa, PB, sem também nunca termos levantado a possibilidade de visitar a Ponta do Seixas, onde se encontra o nosso extremo oriental e aqui vai uma confissão, não sabíamos ou não havíamos prestado atenção neste grande detalhe.



Por último, outra vergonha, pois já entramos no Brasil através da Venezuela, portanto, pelo seu extremo norte, em Roraíma, e ninguém também nunca nos alertou para este detalhe, mesmo que o Oiapoque nesta época fosse o nosso ponto final e fizesse parte da nossa rotina de educação desde os primeiros passos na escola.

Sempre ficou mais como uma referência de retórica, do Oiapoque ao Chuí, do que um desejo de percorre-los. Isto nunca foi "vendido" como um produto, uma atração e consequentemente, nunca foi despertada a curiosidade, ficando corrigido como o marco final neste quadrante o Monte Caburaí.

Quando estávamos idealizando os desafios dos Fazedores de Chuva, por um daqueles momentos de inspiração, o Cardeal saiu da cartola e desde então se transformou num grande objeto de desejo tanto da Angela quanto meu, cuja contagem regressiva iniciou naquele mesmo instante e a ansiedade para percorrer os quatro pontos extremados, passou a fazer parte da nossa rotina.

A utilização da cruz, com toda a sua complexidade de interpretação, nos remete aos extremos do universo e dos seres humanos, portanto, da vida, pois traz nos seus vetores cardeais o infinito através da conjunção dos opostos, seja, homem e mulher, noite e dia, passivo e ativo até o seu limite final, de vida e morte.



Não temos também nenhuma configuração religiosa pois os Fazedores de Chuva, abraçando como símbolo a caveira, diz "que estamos aqui de passagem, sempre em caráter transitório, quando não somos donos do segundo seguinte neste planeta, mostrando ainda que as nossas estruturas internas são exatamente iguais uns aos outros, sem distinções sociais, sexo, cor ou preferências, e enquanto vivos, impiedosamente nos diz, que somos reféns da democracia do tempo, dando para qualquer um desses viventes os mesmos segundos em cada minuto, que ousam abreviar o momento da partida a cada pôr do sol."

E assim, com estes pensamentos nos corações saímos neste último dia primeiro, deste novo ano, com a devida permissão da nossa língua pátria, em direção ao sul, para Chuí, como se fosse a nossa primeira grande viagem de moto, loucos para fazermos o Pai, desta nossa cruz que deverá ser o nosso bom calvário. Se tornou mais leve ainda pois contamos com a companhia do GCFC Elton e a sua mulher Márcia, perfeitos e totalmente integrados neste mesmo viés de alegria e ansiedade, como se fôssemos dois casais em tenra idade, quando a realidade, a somatória dos anos vividos, passava dos dois séculos, com uma certa folga.



Para variar tomamos o café da manhã na Tutti's Pão, na Av. Brasil, em Bal. Camboriú, SC, em cujas areias faltava praia de tanta gente, para em seguida tomarmos, desta vez, a BR 101, curiosamente calma para esta época do ano e lá fomos nós em busca do nosso sonho, temperado pelo mau humor do clima, do ano recém iniciado, nos ameaçando o tempo todo, com aquela chuva fingida chamada de molha trouxa.

Como saímos relativamente tarde, a fome foi se fazendo presente até a nossa parada para o almoço nas proximidades de Araranguá, na Churrascaria Boi na Brasa, por módicos R$25,00 por pessoa, justo para o que oferece.



Nossa primeira parada seria em Capão da Canoa, no litoral do Rio Grande do Sul, onde nos esperava o casal Craig e Rose, amigos da Califórnia, Estados Unidos, que aproveitam a bela propriedade de veraneio que possuem bem em frente a esta famosa praia, cuja churrasqueira foi posta a prova pelos vizinhos e também queridos amigos Roger e Jaque, um grande piloto com um espeto lotado de picanha na mão.



Rimos, comemos e confraternizamos até tarde e pouco tempo depois uma bela mesa com um delicioso café da manhã nos aguardava e faceiros da vida partimos para a pernada final, com direito a outros "pit stops" para fazermos uma boquinha cada vez que as nossas lombrigas se assanhavam.



Chegamos em Chuí no entardecer e obviamente, fomos direto para o ponto mais meridional do nosso país, claro, após perguntar daqui e dali e com os olhos mais do que abertos, já esbugalhados, não encontramos nenhuma indicação de onde ficava o fim do Brasil, por esta ótica de marco e não de fronteira seca como esta da Avenida Brasil, que separa os dois países. Isto não queríamos e não nos interessava.



Finalmente tomamos a rodovia estadual ERS 699 por 8 km, mais uma informação e finalmente após 1,5 km em direção ao sul, chegamos ao seu extremo e bem na cabeceira da ponte que cruza o Arroio Chuí, fizemos as fotos de comprovação do nosso desafio.



Uma grande ponta de decepção se instalou em nossos corações!



Impressionante a falta de estrutura de Chuí e após as primeiras investidas para hospedagem...digamos...injustas na relação custo benefício pelos preços pedidos, injustamente fomos dormir num pulgueiro chamado Hospedaje Madruga, na Chuy, agora com sotaque uruguaio, por absurdos R$120,00 por casal, claro, sem direito nem a café da manhã e no nosso caso, sem água quente, quando "cinquentão" seria o correto.

Enfim, cada um sabe do seu bolso e das suas necessidades!



Mesmo assim como somos bons de cama, dormimos o sono dos folgados e na manhã seguinte alguma coisa nos dizia que a missão estava incompleta e seguindo uma orientação recebida na véspera e claro, naquela oportunidade desprezada de pronto, haja vista a quantidade de dificuldades que os nossos informantes nos passaram, resolvemos encara-la pois no final da picada estava o primeiro marco demarcatório comemorativo do nosso país em Chuí.



Rolou uma dose extra de adrenalina pois as nossas motos, tanto a Bonitona, uma Valkyrie e a Gold Wing, pilotada pelo Elton, não são equipamentos adequados para se andar por caminhos de areia, daquele tipo fina, em partes levemente compactadas e em outras solta, dificultando bastante as suas conduções, não fora a pequena distância a ser percorrida, o atenuante.



Finalmente, chegamos ao marco de fronteira e fora a decepção causada pelo abandono e pela oportunidade que mais uma vez o nosso país joga no lixo de mostrar aos seus filhos e vizinhos a sua preocupação com os seus "landmarks", restou a satisfação do dever cumprido nesta primeira etapa do Cardeal Fazedor de Chuva.



Total percorrido : 2.347 km

[Cezar Riva]

Parabéns Dolor, primeira etapa concluida.
Vamos fazer juntos o Caburaí?

[Dolor]

FC Cezar, seria um prazer e uma honra poder rodar até o fim do Brasil contigo. Durante esta semana estarei tentando me liberar das amarras para ver se conseguimos subir a terra. Vamos mantendo contato sobre a previsão da nossa chegada em Roraíma, mas enquanto isso, temos o GCFC Osmar e Terezinha, saindo de Bal.Camboriú na próxima semana, proados para o teu estado com o objetivo de continuarem o Cardeal FC.

Caso não possamos chegar a tempo, melhor companhia do que a deles não há!

Vamos conversando e obrigado pela gentileza.
Dolor e Angela

[Cezar Riva]

Estou em QAP esperando por eles.
GCFC Osmar e Terezinha se precisarem de apoio em Manaus, é só gritar que temos grandes amigos na capital manaura.
E, chegando em Roraima, terei o maior prazer em recebe-los.
Boas estradas, lembrando que de Manaus a Boa Vista/RR são 780 km de BR 174 com praticamente toda rodovia recuperada.
Apenas tres pequenos trechos entre Rorainópolis e Caracarai com uns 5 km ainda estão na piçarra mas dá para rodar tranquilo.
Depois, de Boa Vista a Uiramutã (Caburai) o bicho vai pegar.

[Osmar]

Olá Cesar, boa noite!
Como dito, estamos nos preparando para sair dia 15, terça-feira próxima. Acho que chegaremos a Manaus lá pelo final do mês. E toda ajuda será muito bem vinda. Agradecemos antecipadamente. Adicionalmente, ressalto que nossa intenção será, depois de Roraima, seguirmos para o Amapá, via Guianas. Muita expectativa!
Ao GCFC Dolor, nossos agradecimentos pelas generosas palavras a nosso respeito. É uma honra pertencermos a tão seleto grupo.
Grande e forte abraço,
GCFC Osmar e Terezinha

[Dolor]

E assim vamos ampliando os nossos círculos de relacionamentos, tudo sob o patrocínio desta maravilha chamada moto.



Voltando do Chuí e ainda neste viés, encontramos na saída rumando para o norte, dois casais de conterrâneos retornando de Punta del Este, o Fabiano e a Karina, pilotando uma veloz Hayabusa, e o Cliverson mais a Tayana, instalados numa Harley.

Foi um prazer e esperamos encontra-los novamente em Itajaí.



Outra confraternização e com isso a viagem vai se alongando, foi o encontro com uma turma de São Bento do Sul, voando em direção a Punta para um final de semana prolongado.



Importante também se registrar a passagem pela Reserva Ecológica do Taim, que continua sem nenhuma infra estrutura, nem de apoio e muito menos de esclarecimento sobre a própria, como se todos nós tivéssemos conhecimento da flora e fauna existentes.



A ignorância do nosso país sobre como não aproveitar as suas atrações é uma constante e assim vamos deixando escorrer por entre os dedos as oportunidades.



Simplesmente se cruza a reserva sem praticamente nenhuma possibilidade de apreciar com calma a tranqüilidade do lugar, pois é praticamente impossível estacionar os carros ou motos sem os riscos de acidente pela falta de estacionamento, mesmo que a maior população seja de gado, seguido de capivaras, populares até no centro de Itajaí, se encaminhando para o padrão praga, alguns jacarés e outro tanto de aves.

Acorda Brasil!

[Cezar Riva]

Obrigado Osmar,
A propósito, tirou o visto para a Guiana Francesa?

[Dolor]

FC Cezar, acabei de almoçar com o GCFC Osmar e a Terezinha, conversamos sobre esta exigência e o mesmo falou ter uma informação, diferente das vividas por outros FC, a respeito da obtenção do visto.

Segundo os relatos de outros viajantes, salvo melhor juízo e facilidades, o visto para a Guiana Francesa é obtido em Brasília.

Seguramente o GCFC Osmar deverá procurar informações mais consistentes para evitar aborrecimentos quando da chegada na fronteira.

Caso o amigo tenha outra realidade, agradeceria muito a orientação.

[Cezar Riva]

GCFC Dolor,
Realmente, pelo que me informaram, o visto é obtido na embaixada, consulados e mais facilmente em Belem que mantem voos de Belem para Cayenne via Macapá).
O GCFC Omena, quando passou por aqui, tirou o visto em Paramaribo, Suriname. Acredito que ele poderá dar mais detalhes.
Tenho um guia (pdf) com informações sobre Suriname e Guiana Francesa. Só não consigo anexar em pdf. Terei que enviar via e-mail.
Caso outros queiram, fv informar o e-mail.

[Jacob Bussmann Filho]

Boa viagem Osmar, estarei acompanhando e torcendo por voces.....abraço